O assunto é antigo, mas não deixa de se ampliar. Nem parece que existiram vários movimentos contra as desigualdades, nem tampouco que o afeto se constitui como fundamento da sociabilidade. Hesito, muitas vezes, a escrever, de novo, sobre a violência. O cerco é grande e as tendências a banalização não se vão. A violência mora em praticamente todas as épocas históricas. Havia esperanças de que os desenhos das utopias trouxessem formas de convivências leves e fluentes. Os fantasmas, no entanto, não estão para brincadeiras. Matar, humilhar, desprezar tornaram-se verbos comuns, figuras assustadoras.
É difícil fechar os olhos, buscar sonhos para substituir pesadelos, quando o cotidiano é invadido por comportamentos que geram medo e intimidam. Os atos preconceituosos ganham sofisticação, continuam com seus significados que surpreendem quem cultiva a ingenuidade. Não custa lembrar, sempre, que a globalização soltou uma cultura de novidades, sem abandonar as raivas, os etnocentrismos, as hierarquias crescentes, o apego ao feitiço das mercadorias. Os benefícios devem merecer suspeitas, com celebrações que não escondam a crítica.
O mundo das ruas guarda esconderijos, armadilhas, não compartilha com o sossego, faz do outro um inimigo, estende os exílios urbanos. O estímulo à violência está na pedagogia da competição. Quem perde se ressente, trama se recuperar das perdas, não simpatiza com o perdão. Portanto, com exceções, a tendência é derrubar barreiras e desmontar ordens. Há limites. Uma sociedade sem regras sucumbe. No entanto, as regras estão embaralhadas e as teorias confusas. A perplexidade sobrevive para que não se anulem as indignações. Não faltam exemplos próximos e recentes.
A simulação entra no jogo dos dominantes. As máscaras dos cinismo possuem brilhos especiais. Representam um poder que fabrica contrapontos. Duvide das alegrias das diversões, das astúcias, das lutas sangrentas, dos programas que desmancham a privacidade, dos salvadores da opinião pública com suas filantropias coloridas. As suspeitas não são exageradas, pois as notícias se ampliam, as imagens fixam crimes e assanham a multiplicidade do desengano. Misturam-se com anúncios de produtos fabulosos sinalizadores de status invejados. A instabilidade se instala com seus perigos.
Insistir em assinalar as violência não é exagero. Ela se afirma destruindo valores e desfazendo as estratégias de reinventar a história. O cotidiano tenso esvazia a criatividade do afeto e testemunha que os debates estão na superfície. Se a violência ganha espaços contínuos é um aviso que a política trama jogos de poder falaciosos. É preciso acrescentar saberes e reflexões que substituam esquemas de exaltação de glórias, meramente, pragmáticas.O tempo se redefine quando o diálogo está não restrito às vivências contemporâneas. Aprender com que foi vivido desnuda o mito do progresso.
Se a sociedade não olha os excessos, não procura refletir sobre as idas e vindas da história, ela perde o caminho do limite. Há uma confusão que penetra nas instituições e desfaz confianças. Não podemos viver só convivendo com dúvidas e oportunismos. Transformar o cotidiano num lugar de tensão é um sinal de que algo está quebrado e faltam possibilidades de sedimentar a reconstrução. A sociedade do consumo promove valores que cortam sentimentos e multiplicam descontroles. www.astuciadeulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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