segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Os rituais do tempo no meio do mundo do consumo

Antônio Rezende
A sociedade não vive sem seus rituais. Não podemos ficar num cotidiano sem surpresas e celebrações. Há o que festejar e ultrapassar os limites da mesmice. Cada cultura vive suas singularidades. As diferenças não se acabaram, mesmo sendo mínimas. Estamos num capitalismo com suas artimanhas que se espalham pelo mundo. Final de ano representa um cenário de reviravoltas. Há disfarces, mas se vende a novidade. O grito de esperança não deixa de ser dado. Muitos desejam e acreditam numa outra atmosfera e vivenciam a expectativa da paz.
É a famosa diversidade, com a marca das propagandas e dos discursos de exaltação. As vitrines não perdem seus coloridos. Eles são refeitos e os lucros trazem a necessidade de investimentos contabilizados com cuidado. É interessante que, apesar dos malabarismos e falsidades, se crie um ambiente que mexe com as pessoas. Quem desconfia, não vê como fugir de tantos encontros. Há certos recolhimentos, porém os ruídos não perdem seus lugares. A sociedade quer ampliar rituais e fermentar alegrias. O efêmero faz parte da agitação geral.
O consumo, então, ganha um espaço incomensurável. De repente, inventam-se formas de presentear, jogos, afetos. Tudo isso produz um vazio posterior para alguns que não entram para valer na folia. No entanto, a pressa toma conta das decisões, as lojas multiplicam ofertas, as mercadorias cumprem sua missão dentro do sistema. Muita comida, empréstimos, simpatias. Quem não participa dos privilégios busca outras forma de se enquadrar. É delirante. Há quem apague as evidentes desigualdades e se embriaguem com as promessas.
Será uma manifestação de uma loucura necessária para a cultura? Poderíamos ter aprendido outros comportamentos, ter assumido outros valores? Prevalece o que domina politicamente. Há a história oficial e as religiões cobram atitudes de seus adeptos. A sociedade está cheia de conflitos. As celebrações servem para amenizá-los. A concentração de riquezas não é uma fantasia. As minorias mantêm seus poderes, usam sofisticadas manipulações. Cada época com suas singularidades, porém vestidas de opressões e de ordens.
Portanto, estamos no meio de tecnologias que ajudam a fabricar os rituais. Existem as melancolias, algumas recordações pesam, porém as exigências de festas e flutuações não cedem. É difícil analisar cada momento ou decifrar seus esconderijos. Sempre há o que dizer, os risos buscam ofuscar os desmantelos. A sociedade busca memórias para justificar tradições. As críticas não impedem que a maioria comemore e solte seus sentimentos. As transformações ganham espaços, porém muitos hábitos permanecem como referências.
A confusão não traz a transparência. Ela é companheira da perplexidade. As aventuras não estão nas retrospectivas das Tvs. Nos cantos das ruas,  se negociam coisas de todas formas e perfumes de todas as ervas. Não importa que haja repetições. Vale a atmosfera de que o mundo talvez acabe no dia seguinte, porém o ânimo acontece hoje para salvação num paraíso de novidades sedutoras. O conceito de valor estremece. A ética estica-se, nem se lembra que existiram Platão, Kant, Nietzsche, Adorno… As simulações afetivas consagram os desejos de uma transcendência fragmentada.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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