terça-feira, 9 de julho de 2013

O Jardim de Nelson Mandela – Pronunciamento do Senador Paulo Paim, em homenagem ao grande líder




Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores.


Há momentos na vida que o coração e o peito ficam apertados. Procuramos um horizonte que possa dar respostas as nossas dúvidas e angústias.


Os porquês estão por todos os lados. Em cada gesto, em cada olhar.  Tentamos de todas as formas e meios descobrir uma explicação para algo que não depende das nossas mãos...

...Que não compete a nós o sim ou o não.  Isso acompanha a humanidade desde o seu nascimento, dos mais longínquos tempos. Sempre o homem procura respostas para tudo...

... Não quer perder o convívio com seus entes queridos: não aceita, se rebela... Mostra todo o seu egoísmo. Já que ele não entende que a vida aqui na terra é uma



passagem e que cada um de nós tem uma missão.

A missão de Nelson Mandela é a de cultivar um grande jardim: com flores, plantas e árvores com muitos frutos...

... Regar diariamente, sem desejar algo em troca. Podar o necessário para abrir novos caminhos. Cuidar, acarinhar, fazer o despertar das consciências...

Um jardim onde os homens sejam iguais entre os seus iguais. Onde a liberdade cante suas cantigas de ninar. Onde o beijo resgate a essência das relações humanas...


...  E o abraço conviva lado a lado com as pessoas, com suas diferenças, raças, levando fé, respeito e esperança para o planeta que nos acolhe.

Esse é Nelson Mandela – um africano de todas as cores e sabedoria. Um homem que está no mundo com a feliz missão de cultivar um grande jardim.

Ele nasceu 1918, na pequena aldeia de Mvezo, no Transkei, região litorânea da África do Sul. Foi batizado  Rolihlahla – aquele que puxa o galho da árvore, na língua xhosa.

Seus pais talvez nem imaginassem que ao dar esse nome, futuramente, nasceria ali


uma simbologia a se espalhar pelo mundo, uma referência para todos aqueles que acreditam nos direitos humanos.

Quando eu estive na África, nos anos 80, as pessoas me diziam:...

... Eu puxo o galho da arvore por que quero paz, eu puxo o galho da árvore por que quero liberdade, eu puxo o galho da árvore por que quero direitos iguais e uma vida digna. 

Os seus pais não sabiam ler nem escrever. Mas fizeram de tudo para que o pequeno estudasse.


 Logo que entrou para a escola foi obrigado a trocar seu nome de nascimento para um nome inglês...

... Eis que surge Nelson, Nelson Mandela. Alguns anos depois, já na adolescência, muitos passaram a chamá-lo de Madiba, em referência ao nome do seu clã tribal.

Ele estuda, trabalha, termina os estudos primários, depois secundários, até chegar a universidade de Fort Hare para cursar Direito.

Nelson é o único estudante negro da sua turma. Faz amigos. Tem suas paixões. Não tem acesso à cantina e nem a quadras de esporte.


Participa de manifestações, é perseguido. E assim nesse ambiente começa a nascer o farol da verdade.

A África do Sul era um país que não olhava para o seu povo.

Tudo era separado:...

... ônibus para negros, ônibus para brancos, ônibus para indianos, ônibus para mestiços, bares para brancos, para negros, para indianos, para mestiços.





Postos de saúde não havia para negros e nem para indianos. Somente humilhação e muita pobreza. Nelson quer mudar as leis.

Em Alexandra (1943), cerca de dez mil pessoas marcham contra o aumento da passagem de ônibus. Nelson Mandela está à frente...

... E veio outra marcha, e mais outra, e outra mais... A vitória chega com o povo nas ruas. Nesse momento Mandela entende que somente a força das vozes nas ruas pode mudar o país.

Perseguido, procurado, preso, humilhado, libertado...


...Mandela vê o ‘apartheid’ o que significa ‘viver à parte’ chegar com toda a força para esmagar o sonho de milhões de sul-africanos.

Uma minoria branca governa a vida de milhões de negros, indianos, mestiços e brancos não racistas...

 É a não democracia. A maioria é proibida de circular livremente, precisam de passaporte em seu próprio país.

Muitos morrem.  Mandela é preso novamente.  Estamos em 1964. Ele fica 27 anos no cárcere...



... Lê muito, estuda, escreve cartas, conversa com seus colegas de prisão, há grandes debates, ergue as mãos aos céus e ora, ora com todas as suas forças...

... O meu povo e a minha África não merecem esse martírio.

Antes de ser transferido da Ilha Robben (inicio dos anos 80), um prisioneiro levou uma cópia das obras reunidas de Shakespeare para todos os prisioneiros políticos da ala C e pediu que marcassem suas mensagens favoritas...

... Mandela não hesitou. Foi até Júlio César, ato 2, cena 2, e marcou o trecho:...


... covardes morrem muitas vezes antes de suas mortes, o bravo sente o gosto  da morte uma única vez. De tudo que vi, o mais estranho é que os homens tenham medo, já que a morte, um fim necessário, vem quando vem. (Os caminhos de Mandela – Richard Stengel).

Esse é Nelson Mandela que na prisão aprendeu, segundo ele mesmo, a ter autocontrole, foco e disciplina.

Depois da sua libertação, em 11 de fevereiro de 1990, e o fim do ‘viver à parte’,  em 1991, Mandela e o presidente De Klerk, trabalham juntos pela reconciliação nacional.



Em 1993, os dois receberam o Prêmio ‘Nobel da Paz’. Mandela é eleito o primeiro negro presidente da África do Sul, e, em 1999 não concorre a reeleição.

Senhor Presidente,

Fiz essa homenagem a Nelson Mandela, como disse no inicio da minha fala, com o coração e o peito apertados.

Como todos aqui sabem ele está doente. Talvez pelo meu egoísmo eu não queira que ele nos deixe. Mas, de tudo isso, eu posso afirmar que agora eu entendo que a grande missão dele é a de cultivar um grande jardim.


Em homenagem a Nelson Mandela que daqui dez dias, 18 de julho, completará 95 anos, eu vou ler aqui os versos escritos, em 1875, pelo poeta britânico Willian Ernest Henley...

Mandela gosta muito desse poema – Invictus em latim, que significa Invencível:

“Emerjo das ondas negras da noite,
Escuras como o poço que liga os polos,
E agradeço aos deuses, sejam quais forem,
Por me haverem dotado de alma Indomável.

Prisioneiro dos fatos que me atormentam,
Não gemi nem chorei.


Sob o infortúnio dos golpes,
Estou acabado, mas de pé.

Além desse mundo de lágrimas e fúria,
Veja apenas o horror das trevas,
Mas a terrível ameaça dos anos
Não me atinge nem assusta.

Pouco me importa a estreiteza dos caminhos,
Os penosos castigos em minha senda,
Sou senhor do meu destino.
Sou capitão da minha alma.

Viva Nelson Mandela! Amandla, amandla, amandla (o poder é nosso).


Era o que tinha a dizer,


Senador Paulo Paim.
Agência Senado
www.professoredgar.com

0 >-->Escreva seu comentários >-->:

Postar um comentário

Amigos (as) poste seus comentarios no Blog