Por Antônio P. Rezende.
Quando tudo acontece nas proximidades, os sentimentos se mobilizam com muitas inquietações. É sempre difícil saber das medidas de suas insatisfações. Não temos controle sobre o futuro, nem somos profetas do juízo final. Por isso, há vacilações quando outras ordens são anunciadas. As análises históricas estão, na sua maioria, presas aos grandes acontecimentos. Perdemos vestígios significativos fascinados pelos ruídos mais agressivos. No entanto, a convivência se constrói com surpresas, sem fórmulas. Fugir do diálogo com o passado quebra possibilidade de compreender limites do nosso próprio tempo.
Há, também, um apego a objetividades como garantia de argumentar o definitivo. Os cientificismos mais atrapalham, quando criam expectativas do absoluto, da fixação de regras indiscutíveis. Desprezam o lado trágico da vida, assumem perfeições ou sedimentam discursos de poder. O olhar fixo nas mudanças confunde. As permanências nos cercam, trazem memórias, ensinam, porém a velocidade se espalha exigindo que a história corra e a novidade prevaleça. Não é à toa que as tensões se estabelecem, as hipocrisias ganham lugares especiais, as reflexões, às vezes, escondem a complexidade do social.
Não vivemos, apenas, compondo realidades visíveis. Daí, a importância de observar as andanças dos sentimentos. Se eles, para alguns, produzem emoções, perturbam a lucidez, eles tocam, também, nas fragilidades que sempre nos acompanham . Quem gosta de usar máscaras estimula negações dos tropeços. Não é que persista uma transparência em todos nossos atos. Os cinismos são frequentes e os perdões se vestem de uma piedade vazia. Portanto, não dá para codificar as relações, exaltando felicidades que têm preços e acumulam mercadorias. As incertezas caminham, pesam, alertam, mostram que a cultura não se reduz a mandamentos programados.
Negar os sentimentos traz uma sensação de que há ordem superior, que existem linearidades ocultas, de que somos incapazes de superar as adversidades. Sonhamos as utopias. Há os crentes que valorizam a fé em deuses ou num único deus. Não adianta resumir a história a uma sucessão de erros e pecados capitais. As idas e vindas são comuns, conversam com os sentimentos. Há reações de coragem e de medo, há covardias e arrogâncias. Uma história com medidas precisas desfaz as ousadias do humano.É na complexidade que atuamos, intuímos, reinventamos. A modernidade consolidou paradigmas que encantaram teóricos da supremacia da razão. Parece que a imperfeição e as lacunas se mantêm, porque mergulhamos no subjetivo. Vivê-lo é risco? Ele não está isolado, possui conexões e deslumbramentos..
Fico sem entender como a ideia de perfeição alucina tanta gente. As religiões se movem com as fantasias do paraíso. Possuem contradições imensas, contudo seduzem, ocultam as explorações, entram no jogo do mercado. As instituições não estão livres dos contrapontos. Nem mesmo as que prometem a salvação e um mundo sem dor. Há uma história que é narrada longe dos labirintos, anulando os sentimentos, fechando as portas dos encontros. Se naturalizarmos as divisões sociais, se menosprezarmos o afeto, as revoltas configuram-se nos limites do aqui e do agora. Os sinais da história apontam, porém, para desejos que navegam em sociabilidades inconstantes.
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