quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Rede, segundo Marina Silva

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Sobre meu almoço com a Marina Silva para falarmos sobre A RedeNatália Garcia - 04/04/2013 às 17:10



“Você tem disponibilidade para um almoço amanhã com ativistas convidados para conversar com a Marina Silva sobre a criação da Rede?”. Ao telefone, Rafael Poço me explicou que o intuito do encontro era estabelecer diálogos e conexões. “Estamos chamando gente, em geral quem tem pé atrás com o movimento, para conversar e entender as inquietações e dúvidas de cada um em relação à Rede”, disse ele.
Eu pouco sabia do projeto. Acompanhava, de longe, que Marina Silva queria criar um novo partido político, mas pouco sabia dos detalhes.
Cheguei cedo ao restaurante Goa Vegetariano, em São Paulo. As mesas de almoço estavam arranjadas em formato de círculo, para que o grupo de aproximadamente 20 pessoas pudesse se ver e se ouvir durante a conversa. Marina Silva estava lá, não no centro, mas ao meu lado, compondo a roda. Cada um dos participantes se apresentou brevemente, cada um com uma formação, classe social e carga ideológica bem diferente do outro. “Um grupo unido pelas diferenças”, na definição de Marina.
“Muita gente me pergunta por que criar um partido político, começar tudo de novo aos 55 anos, sendo 30 deles dedicados à política”, começou Marina. “Trata-se de começar de novo sim, mas um novo processo”, explicou ela. A Rede, segundo Marina, é um movimento que nasce da crise mundial que aponta para a falência das instituições industriais, políticas e corporativas. “Nem os países que foram o berço dos modelos econômico, político e urbanístico que nos inspiraram, como a Inglaterra e os Estados Unidos, têm a resposta para essa crise”, afirmou ela. É nesse contexto que define a Rede como um movimento “de borda”. “Não estamos no centro, não representamos os modelos vigentes, centralizadores de poder, alinhados com um velho paradigma de mundo”, explicou. “Ao contrário, a Rede nasce na borda, a partir da junção de pessoas que não se identificam com esse centro estagnado e procuram por um movimento de mudança horizontal e sem uma proposta centralizadora”, explica ela. Marina vê a Rede como um projeto de transição: “não se trata de um partido político clássico nem da nova ferramenta democrática que precisa ser inventada para mudar a estrutura vigente, mas do processo que leva uma coisa à outra”. O maior objetivo desse movimento, segundo ela, é provocar uma fissura no atual modelo político, ultrapassado em sua visão. O partido político A Rede, que está em processo de aprovação (saiba mais aqui) seria apenas um braço institucional do movimento.
Um lindo discurso, mas que levanta uma porção de dúvidas.
Como isso vai funcionar na prática?
Como fazer frente às corporações que norteiam muitas das decisões políticas?
Como distribuir a representatividade política em quantidade e qualidade, para que as decisões não continuem a beneficiar a minoria?
Por que a Rede escolheu como braço institucional um partido político, uma entidade apontada por seus próprios fundadores como ultrapassada?
Marina ouviu atentamente a todas as perguntas, respeitando o tempo e o discurso de cada um, e então respondeu “estamos aqui para construir esses ‘como’ juntos”. Em sua visão, a política atual é norteada por uma briga pelo poder e a proposta da Rede não é se construir dentro desse modelo, mas criar um novo. “Não acredito em fazer política para as pessoas, mas com as pessoas”, diz Marina. “É por isso que estamos juntos nesse almoço, em primeiro lugar para nos ouvirmos e entendermos nossas demandas e inquietações”, disse ela. Marina explica que o movimento optou por um braço institucional em forma de partido político para estar presente no atual cenário político vigente, mas tentando agir de uma maneira nova.
A Rede já começa a desenhar algumas arestas desse novo projeto político. Por exemplo, eles terão conselhos civis, formados por pessoas não filiadas ao partido, para manter uma visão crítica constante em relação à sua atuação política. Algumas regras de financiamento de campanhas também começaram a ser definidas, como tetos de doações e veto a apoios que venham de empresas não alinhadas ideologicamente com o partido (como empresas de armas, agrotóxicos, álcool, entre outras). “Sabemos que as restrições atuais ainda não dão conta de todos os problemas ligados aos modelos clássicos de partidos políticos e que precisamos expandir essas normas”, disse Rebeca Lerer, uma das integrantes da Rede.
“É importante entender que esse o discurso da Rede é fruto de um tempo em que os processos em rede podem nortear um novo modelo político”, defende Marina. Ela lembra que “o homem usou a energia dos ventos antes de descobrir a energia eólica, assim como já estamos usando a força da rede sem ainda termos inventado um novo modelo de gestão política”. Para ela, a realidade não se rompe abruptamente, mas com quebras de paradigmas internas e individuais.
Não sou nem saí desse almoço sendo partidária da Rede. Mas compreendi o que a imprensa não tinha conseguido me explicar em sua cobertura desse processo e me senti na obrigação de disseminar essas ideias. Independentemente de ter meu apoio político, trata-se de um discurso novo e acredito que ideias novas em um mundo tão saturado de velhos paradigmas merecem, ao menos, ser ouvidas. A Rede me pareceu um movimento com muito mais dúvidas do que certezas. Com mais vontade de construir do que de aderir. Com um projeto de mudança de paradigmas, não de poder político.
Saí de lá de bicicleta. Fiz sinal com o braço direito para mostrar que faria uma curva e ouvi o motorista do carro ao lado gritar “depois decepam seu braço e você reclama”. Em uma coisa ao menos Marina tem razão: velhos paradigmas individuais (e individualistas, eu diria) precisam ser quebrados. De: Planeta sustentável.
www.professoredgar.com

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