segunda-feira, 4 de março de 2013

As moradias da cidade: torres, ruas exílios:

Por: Antônio Paulo Rezende
As cidades prometiam liberdades e quebra de tradições. Sacudiam privilégios no lixo, desejando a inauguração de um novo mundo. Muitas celebrações festejam a modernidade. Havia seus teóricos, mas também aqueles que mostravam desconfianças. O feudalismo de desfazia, a nobreza procurava fôlego, o comércio agitava espaços desconhecidos. As cidades multiplicavam-se, anunciavam que os paraísos se espalhavam e as revoluções derrubariam hierarquias. Ninguém pode negar que houve uma época de entusiasmos. No entanto, os aglomerados urbanos existiram, com destaque, em tempos antigos, com discussões importantes e políticas desafiantes. Quem despreza Atenas e seus diálogos cotidianos?
As cidades continuam firmes com seus lugares históricos. Mobilizam-se. Cheias de máquinas garantem a chegada constante de novidades. Representam diversidades culturais incríveis. Estar em Paris é uma coisa e passar uns dias no Rio de Janeiro? Já ouviram falar das belezas de Praga? Diante de tantas opções o sossego se desarruma. As cidades modernizam-se numa velocidade que deixa seus moradores perplexos. O mito da liberdade, ajudando pelo fascínio do consumo, estica-se, com outros discursos e saudações ao desenvolvimentismo. As especulações imobiliárias tornam-se assuntos pertinentes, proclamam confortos, fermentam disputas. Uma questão incomoda: a quem pertence as cidades? Os especialistas conseguem decifrar certas amarguras urbanas, centram-se nas ambiguidades econômicas e, também, se mostram cofusos.
Algumas cidades apaixonam pelas modernizações radicais. Não seria melhor afirmar que grupos fazem opções que reforçam individualismos? As cidades não possuem uma população homogênea. Como viver em São Paulo, em Buenos Aires, no Recife? Não vamos transformar tudo num ninho de tipologia mal resolvidas. Mas há problemas que repercutem e balançam sentimentos. Muita gente, pouca atenção ao outro, multidões em busca de divertimentos, negociantes astuciosas e incansáveis. As cidades modernizadas convivem com desacertos frequentes. Os espaços de liberdades significam também espaços de desamparo. Não é estranho nos sintamos exilados numa cidade que nos traz recordações da infância. Um estranhamento incomum assanha sociabilidades que pareciam mortas.
As ruas congestionadas intimidam os mais precavidos. Nelas moram pessoas que não se localizam ou estão perdidas no mercado de trabalho. Criam-se famílias, retomam-se hábitos. A sobrevivência passa por violentos movimentos. O importante é comer, vestir-se, olhar os filhos, acostumar-se ou gritar contra a nudez. A coisificação é cresente, pois os objetos substituem as pessoas. Ampliam-se as contradições. Há quem ambicione as torres majestosas e quem não se afasta da precariedade. Não cessam a divulgação de encantos. O poder da minoria é sofisticado, totalmente seduzido pelos mandamentos do capital.
A modernização não abandonou o passado. Observem o tempo. Não menosprezem a simultaneidade, nem as permanências. As desigualdades não se foram, muitos exaltam a valor de uma vida sem tantas máquinas, as bicicletas circulam junto com as motos.  Os teóricos, os consultores, de hoje, gostam de fazer contas. Apostam em benefícios. Os políticos disputam apoio das grandes construtoras. Muita sedução, pragmatismo fluente e cidadania desqualificada. As cidades misturam-se, globalizam angústias. As praças são utilizadas como estacionamento e rebeldia se revela nas redes sociais. Outros tempos, com vícios e descontroles conhecidos, com a grana escondendo e armando golpes e as sociedades com seus templos de cimento e ferro.

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