sábado, 29 de dezembro de 2012

Ainda sobre o fim do mundo


DE:astuciadeulisses.
Há sempre espaços para a renovação de profecias. Não se fica, apenas, nas tradições, relembrando paraísos perdidos, revoluções desgovernadas. Ninguém deixa de olhar as mudanças constantes. Difícil é avaliar se a sociedade se encontra com o prazer ou festeja o coletivo. Os desenganos são muitos, mas  pessoas promovem  debates, surpresas, acertos  em pactos e conflitos na luta pela dominação. A confusão não é incomum. As religiões ganham lugares nos mercados da fé. Já se foi o tempo dos sacrifícios. Poucos optam pela generosidade, muitos vão para TV arrecadar grana para salvações particulares.
Os anúncios de um calendário maia têm conturbando os ansiosos. Transformam-se as expectativas diante do juízo final. Não se trata mais de  ler a Bíblia e procurar escutar os segredos de Deus. Muitas crenças estão soltas, não existe aquela hegemonia do catolicismo. Surgem igrejas com objetivos obscuros, com adeptos entusiasmados. Não custa acrescentar que o mundo do capitalismo gosta mesmo é das novidades. Não cessa de empolgar seus compradores e trazê-los para curtir sonhos fabricados com a ajuda de tecnologias. Portanto, o espetáculo do final do mundo se monta. Ele revira o mercado, chama especialistas para o debate, ocupa páginas de jornal, alimenta excursões esotéricas.
Há desmentidos, pois as interpretações não são uniformes. O pior é que a sociedade passa por dificuldades imensas. Mortes na Palestina, intranquilidade frequente nos Estados Unidos, denúncias de corrupção em negócios públicos, trabalho escravo continuando a explorar os miseráveis. A lista é imensa. No entanto, sobram notícias. Há quem cultive o mistério com finalidades objetivas de acumular riqueza. Por isso as referências se desmancham, os valores não se fixam, nem as escolhas conseguem definir o caminho. Pensar no coletivo é um desafio. No mundo globalizado, os bancos ditam normas e tudo se inventa para se concentrar privilégios.
A atmosfera de suspeita está presente. Quem pode caminhar com sossego? As armadilhas são bem articuladas, causam espanto, produzem ficções encantadoras. Nem todos querem convivência com a crítica. Enquanto a cartão de crédito respirar, seguem perdidos colecionando objetos. Não seria exagero afirmar que há uma diluição de tanta coisa que proclamar a chegada do fim do mundo convence muita gente. As quebras, as desilusões, as perdas, os desamparos tocam e intimidam. Há quem se recolha, tema o futuro. Os gurus argumentam.
O mito do fim do mundo não é recente. Observe a história. Estamos sempre indo ao passado, criando fantasias de comunidades felizes. As interpretações circulam desde os primórdios. A modernidade sacudiu as tradições e as redefiniu. Exaltou o progresso. Tivemos duas guerras mundiais, fascismos, golpes de Estado sangrentos. Não veio o tão ambicionado o território dos saberes dignos de uma razão soberana e justa. Há quem se desespere e jogue qualquer sinal de transformação radical. Muitos pedem para o mundo cair no abismo. Há um cansaço visível que se entrelaça com a euforia. Não dá para acreditar em profecias, nem esquecer os desmantelos. Os desconfortos nos tornam vulneráveis. Buscamos reconstruções. Mas o que está próximo de nós, atiçando o desejo, nos empurrando para o futuro?


Professor Edgar Bom Jardim - PE

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