segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Francisco Julião, o bonjardinense do século xx

 Vou tentar fazer uma cirurgia nesta sociedade que está enferma, e ver se é possível rasgar esse tumor, que é o camponês pobre, sem terra, abandonado, sem justiça, sem nada, pensava Julião.
Julião, Fidel e Alexina

Francisco Julião Arruda de Paula nasceu a 16 de fevereiro de 1915, filho de Adauto Barbosa de Paula e Maria Lídia Arruda de Paula. Bacharelou-se em Direito em 1939 e no ano seguinte montou um escritório de advocacia em Recife. Com o fim do Estado Novo e a redemocratização do país, ingressou no Partido Republicano (PR).
Em 1947 desligou-se do PR, aderindo pouco depois ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
A presença de Julião conferiu dinamismo à seção pernambucana do PSB. Em 1954 foi o primeiro parlamentar eleito por essa legenda no estado, ao conquistar uma cadeira na Assembléia Legislativa.
Em 1948 foi convidado a assumir a defesa jurídica dos membros da Sociedade Agrícola e Pecuária de Pernambuco (Sapp), primeira associação camponesa do estado organizada pelos moradores do engenho Galiléia, situado no município de Vitória de Santo Antão. Nos anos seguintes o tipo de associação adotada no engenho da Galiléia se multiplicou no estado de Pernambuco. As associações camponesas formadas depois da Sapp ficaram conhecidas como Ligas Camponesas. Segundo Julião, a fase inicial de organização das ligas foi marcada por uma intensa repressão do governo estadual. Apesar disso o movimento cresceu rapidamente.
Em agosto de 1955, representantes das ligas participaram do Congresso pela Salvação do Nordeste, organizado pela Prefeitura de Recife, que teve Julião como presidente de honra, num contexto em que já defendia a necessidade de uma mudança radical no sistema de propriedade da terra e de produção agrícola no Nordeste.
Em 1958 foi reeleito com expressiva votação para mais um mandato na Assembléia Legislativa de Pernambuco, na legenda do PSB. Em 1959, venceu o processo judicial que garantiu a posse das terras do engenho da Galiléia para seus moradores, baseando-se em uma lei recém-promulgada que determinava a desapropriação da propriedade com pagamento de indenização ao antigo dono.
As ligas camponesas começaram a obter repercussão nacional e a despertar o interesse da imprensa. O movimento ultrapassou efetivamente as fronteiras de Pernambuco a partir de 1959 com a fundação da primeira Liga Camponesa paraibana. Em 1960, o jornal The New York Timespublicou uma série de artigos sobre as Ligas, apresentando Julião como líder do campesinato brasileiro, e apontando a gravidade da situação econômica e social do Nordeste.
No início de 1961, Julião encontrou no Rio de Janeiro o líder comunista Luís Carlos Prestes para discutir a possibilidade de união das forças do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com as ligas camponesas. Prestes propôs a fusão das ligas com a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), fundada pelo PCB em 1954. Através dos delegados da Ultab o PCB defendia um programa baseado na melhoria das condições de vida dos trabalhadores agrícolas, enquanto as ligas, representadas por cerca de 600 delegados e tendo Julião como seu principal porta-voz, advogavam uma reforma agrária radical.
A força das ligas começou a decrescer em 1962, ao mesmo tempo em que se acelerava o processo de enquadramento institucional do movimento camponês, patrocinado pelo governo federal. Na Paraíba, a influência de Julião diminuiu dentro das próprias ligas depois do assassinato de seu companheiro Pedro Teixeira a mando de proprietários de terras, em março de 1962. Em outubro, Julião foi eleito deputado federal por Pernambuco, apoiado pela coligação do PSB com o Partido Social Trabalhista (PST).
No início de 1963 recomendou a seus seguidores que se abstivessem de votar no plebiscito convocado por João Goulart para definir a permanência do regime parlamentarista ou a volta do presidencialismo. Essa atitude contribuiu para seu isolamento dentro da esquerda. Em 1979, declarou ter sido sempre contrário às propostas que conduziam o movimento camponês à revolução armada e se opôs sistematicamente às ocupações de terras realizadas em Pernambuco em 1962 e 1963.
Julião foi um dos atingidos pelo movimento militar de 1964. Preso e exilado, deixou o país em 28 de dezembro de 1965 com destino ao México. Com a anistia, retornou ao Brasil em 1979.
Em 1986 concorreu a uma vaga de deputado constituinte por Pernambuco, na legenda do Partido Democrático Trabalhista (PDT), não tendo sido eleito. Em dezembro do mesmo ano, viajou para o México, onde faleceu em julho de 1999. Julião teve quatro filhos com Alexina Arruda de Paula. Contraiu segundas núpcias com Regina de Castro, com que teve uma filha, tendo ainda mais um filho de uma terceira união.
[Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001]


 Francisco Julião Arruda de Paula nasceu em 16 de fevereiro de 1915, no Município de Bom Jardim, em Pernambuco, e passou a sua infância na fazenda Boa Esperança ou Espera.
                               Estudou em colégio interno no Recife e ingressou na Faculdade de Direito do Recife aos 18 anos, embora considerasse a medicina como a sua vocação. Na mesma época, comprou, junto com um colega, o Colégio Monsenhor Fabrício, em Olinda, tendo atuado como diretor e professor primário.

                  As idéias progressistas e revolucionárias que encontrou na Faculdade o influenciaram, fazendo-o começar a pensar em defender os camponeses. Já que não pude fazer cirurgia em um hospital, vou tentar fazer uma cirurgia nesta sociedade que está enferma, e ver se é possível rasgar esse tumor, que é o camponês pobre, sem terra, abandonado, sem justiça, sem nada, pensava Julião. Ele considerava que sem a participação dos camponeses, não se poderia imaginar uma transformação da sociedade brasileira.

                  Antes de deixar a universidade, em 1939, convidou alguns colegas para montar um escritório de advocacia e trabalhar em defesa dos camponeses. Nenhum aceitou a proposta, e, em 1940, Francisco Julião foi sozinho para o campo, com a idéia de que era preciso criar entre os camponeses a consciência de seus direitos.

                  Na zona canavieira nordestina, constatou que muitos senhores de engenho alugavam terras. Uma parte delas era destinada aos que deviam trabalhá-la todos os dias. Esse tipo de trabalhador era chamado de eiteiro e recebia um pagamento em dinheiro. Outros alugavam a terra, pagando uma importância em dinheiro por ano, ficando ainda na obrigação de trabalhar certos dias para o senhor da terra, sendo denominados de foreiros. No Nordeste, a palavra “cambão“ expressa o dia de trabalho que o foreiro dá ao patrão sem receber nada em troca.

                  Num trabalho persistente, Francisco Julião procurava convencer os camponeses de que eles não deveriam mais trabalhar sem pagamento, por ser ilegal, comprometendo-se a defendê-los na Justiça, se fosse necessário. Para ele, era evidente a necessidade de organizar e unificar os camponeses. Foi eleito Deputado Estadual, em 1954, pelo Partido Socialista Brasileiro. Em janeiro de 1955, foi procurado por camponeses do Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão, fundadores da Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco, que precisavam de um advogado. Julião assumiu, então, o compromisso de defendê-los. Em breve, a Sociedade se tornaria a primeira Liga Camponesa.

                  A expressão Ligas Camponesas surgiu nos jornais e representava a reação dos usineiros e latifundiários, que queriam colocar essas associações na ilegalidade. Foi um movimento importante, que sensibilizou as massas em toda parte do Nordeste. Julião preocupava-se em incorporar os camponeses ao processo de desenvolvimento da democracia brasileira. Os primeiros sindicatos foram organizados pelas Ligas, e Francisco Julião preparou diversos processos, possibilitando a fundação de inúmeros sindicatos em toda a zona canavieira.

                  Em 1962, elegeu-se Deputado Federal. Após o golpe de 31 de março de 1964, permaneceu três meses na clandestinidade, antes de ser preso perto de Brasília. Permaneceu em diversas prisões durante 18 meses. Exilado, deixou o Brasil em 30 de dezembro de 1965.

                  Durante 15 anos, foi exilado político no México, após ver recusado pedidos de asilo na antiga Iugoslávia (devido a um conflito entre o país e Cuba, uma vez que eram conhecidas as relações cordiais que Julião mantinha com o dirigente cubano) e no Chile. Julião ainda procurou a embaixada da Argélia, mas problemas internos de ordem política iriam retardar uma decisão. Finalmente, com a ajuda do amigo e escritor Antônio Calado, conseguiu fazer contato com a embaixada mexicana e ser aceito pelo país.    

                  No México, sentiu a forte presença camponesa e chegou a realizar pesquisa, no Estado de Morelos, com os velhos soldados de Zapata, sobreviventes da Revolução Mexicana de 1910.

                  A anistia política, decretada em 1979, possibilitou a sua volta ao Brasil.  Na década de 1980, participou das lutas pela redemocratização do país. Por meio das Ligas Camponesas, inspirou o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e outros movimentos políticos e sociais empenhados na melhoria de vida do povo brasileiro.

                  Francisco Julião escreveu vários livros: Cachaça (contos, 1951),Irmão Juazeiro (romance, 1961), Que são as Ligas Camponesas (1962), Até quarta, Isabela (1964), Cambão (1975), Guia do camponês, ABC do camponês, Cartilha do camponês, Carta de alforria do camponês, Bença, mãe. Diversos foram traduzidos para outros idiomas.   

                  Julião foi pioneiro em combater o tipo de estrutura latifundiária existente no Brasil e procurou criar uma consciência nacional sobre o problema agrário. De suas metas destacam-se: as lutas pela reforma agrária e pela libertação do camponês.

                    A partir de 1990, passou a morar no Rio de Janeiro e, posteriormente, voltou ao México. Era casado e teve seis filhos. Faleceu, vítima de um enfarte agudo, no dia 10 de julho de 1999, aos 84 anos, no povoado mexicano de Tepoztlán, perto de Cuernavaca. Sua morte repercutiu intensamente no Brasil e no exterior.


Recife, 29 de março de 2005.
(Atualizado em 28 de agosto de 2009).

FONTES CONSULTADAS:

FRANCISCO Julião: depoimento. Rio de janeiro: Fundação Getúlio Vargas. CPDOC. História Contemporânea do Brasil, 1982.

FRANCISCO Julião: A luta continua! Dados biográficos retirados do convite para o ato público “Das Ligas ao MST: uma homenagem a Francisco Julião". Recife: APAP, 2003.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: GASPAR, Lúcia. Francisco Julião. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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