Sem Terras sendo sepultados (Imagem MST)
Por
Vivian Fernandes
De Eldorado dos Carajás, no Pará
Da Radioagência NP
De Eldorado dos Carajás, no Pará
Da Radioagência NP
Ao se aproximar do local
conhecido como “curva do S”, na rodovia PA-150, próximo à cidade de Eldorado
dos Carajás (PA), é possível ver pneus com bandeiras vermelhas fincadas,
alertando que ali ocorre uma atividade. Neste lugar, no dia 17 de abril de 1996,
19 trabalhadores sem-terra foram assassinados em uma operação da Polícia
Militar, quando protestavam na estrada. Em 2012, jovens do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Pará relembram a data através do
Acampamento Pedagógico da Juventude, entre os dias 7 a 17 deste mês.
O “Massacre de Eldorado dos
Carajás” completa 16 anos em 2012 sem punições de responsáveis, com conquistas
dos trabalhadores na região e com a juventude sem-terra aprendendo com seus
lutadores e mártires a importância da luta popular. Desde 2006 o Acampamento de
jovens é realizado, como conta a integrante da direção estadual do MST, Maria
Raimunda César.
“Desde o Massacre de Eldorado
dos Carajás fazemos um ato aqui na ‘curva do S’. Um momento de denúncia, de
mobilização nacional e internacional em torno da impunidade no campo. E fomos
sentido como que a gente transformava isso, um imaginário de luta, de
continuidade dessa luta. Que não fosse um lugar que relembrasse a tristeza, mas
que trouxesse à memória uma perspectiva de continuidade”.
Segundo Maria Raimunda o
acampamento tem o objetivo de lembrar e denunciar a violência contra os
camponeses, mas também, construir a formação política e nutrir os sonhos e
desejos da juventude. Ela conta que, nestes dias, os jovens sem-terra paraenses
erguem seus próprios barracos de lona, se organizam para as tarefas e atividade,
além de promoverem ações de denúncia no local.
Em todos os dias do
Acampamento, por volta das 17h horas, eles param os dois sentidos da rodovia
por 19 minutos e realizam um protesto cultural, em memória daqueles que ali
foram mortos. A atividade faz parte da Jornada Nacional de Lutas por Reforma
Agrária, conhecida como Abril Vermelho.
Juventude
Sem Terra
Um dos organizadores do
Acampamento é o jovem dirigente estadual do MST, Cleiton Conceição Almeida.
Filho de assentados do Assentamento Palmares, na cidade de Parauapebas, ele
explica que muitas crianças que viveram a época do Massacre hoje são jovens. E
que a intenção desse encontro é contribuir para a organização dessa nova
geração de sem-terra, além de lembrar a história da região.
“E também deixar viva a memória
da luta. E, de certa forma, relembrar os companheiros que foram mortos nessa
luta, que derramaram sangue para que hoje as pessoas tenham uma residência de
qualidade, uma terra para poder trabalhar e tirar seu sustento dali”.
Os temas que os jovens
trabalham no encontro são distintos aos que veem na escola. Entre eles está a
produção de alimentos saudáveis, com o combate ao uso de agrotóxicos e a favor
da agroecologia.
Simbologias
Dois fortes símbolos das lutas
e conquistas do local são o monumento em memória dos mártires e, também, o
Assentamento 17 de abril. No local onde houve o massacre, 19 troncos de
castanheira queimados, que vistos do alto formam o mapa do Brasil, foram
erguidos em 1999 em homenagem aos que ali lutaram, como explica Raimunda.
“Cada castanheira representa um
companheiro tombado [na luta], mas também a natureza, que está sendo queimada a
cada dia pelas grandes empresas, pelo latifúndio. Mesmo para nós que vivemos
nessa região, que estamos aqui, sempre é muito forte passar pelo monumento das
castanheiras, porque é o contato direto com essa realidade, essa materialidade
da luta pela terra aqui na região”.
O monumento das castanheiras
foi idealizado pelos sem-terra do sudeste do Pará e desenhado por um artista
plástico.
Já o Assentamento 17 de abril,
em Eldorado dos Carajás, é fruto da luta desses camponeses. O assentado na área
e presidente da associação do local, Ildimar Rodrigues, conta que ali estão 690
casas e estruturas de quadra de esportes, luz elétrica, entre outros; além das
plantações dos agricultores.
Um dos orgulhos do local é a
escola, construída em 2010, ela atende cerca de 1,1 mil alunos e vai até o 3º
ano do ensino médio. Grande, bem cuidada e equipada, a escola recebe crianças e
adolescentes do “17 de abril” e de assentamentos vizinhos. O seu nome “Oziel
Alves Pereira, é uma homenagem ao jovem de 17 anos morto no massacre, como
relata Rodrigues em meio a um grande quarteirão descampado onde será feita uma
praça para a comunidade.
“A nossa escola é chamada Oziel
Alves Pereira, é um dos nossos militantes que tombou no dia do Massacre. Esse
local onde nós estamos é para construir uma praça, Mártires de Abril vai se
chamar a praça. Um Projeto de Lei foi enviado à Câmara Municipal, então
são 19 ruas, são 19 nomes das pessoas que tombaram na ‘curva do S’. Os nomes
das ruas em memória de cada um que morreu no massacre de Eldorado”.
A principal produção do
Assentamento 17 de abril é de gado leiteiro, além de outras atividades
agrícolas dos moradores.
Memória
da cidade
Na cidade de Eldorado dos
Carajás, muitos dos habitantes atuais viviam ali quando o massacre ocorreu.
Entre eles está a proprietária de uma pensão, Dona Derci, que vinda do estado
de Goiás, decidiu nas terras paraense construir sua vida. Ela conta que nunca
pensou em deixar Eldorado dos Carajás, com exceção de um único momento: o dia
17 de abril de 1996. Além de marcada na memória dos que por ali vivem e passam,
esta também é a data em que se celebra o Dia Internacional de Luta pela Terra. Fonte:MST
Conteúdo Curricular - ARTE:Fotografia; HISTÓRIA :A Questão da Terra; SOCIOLOGIA:Conflito Social / Modo de Produção/ Movimentos Sociais.
Por:Professor Edgar Bom Jardim - PE
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