sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Madeira e barro ganham vida pelas mãos de artesãos de Petrolina

Oficinas e espaços culturais servem de ponto de produção e de venda.
Nas margens do Rio São Francisco, diversão também é garantida.

Roque Santeiro (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Roque Santeiro é um dos artesãos residentes da Oficina Mestre Quincas, em Petrolina (Foto: Katherine Coutinho / G1)

A cidade de Petrolina, em Pernambuco, fica às margens do Rio São Francisco e desfruta de paisagens naturais ricas e marcantes, que servem de inspiração para artistas de toda a região. Junto com Juazeiro, na Bahia, a cidade forma o maior aglomerado urbano do semiárido nordestino, segundo dados do Censo 2010. Essa característica atraiu, ao longo dos anos, migrantes de toda a região em busca de melhores condições de vida. Para aqueles em que o talento artístico se manifestou, a Oficina do Artesão Mestre Quincas serviu como ponto de partida para abraçar o artesanato como forma de sobrevivência.

A oficina existe há 22 anos e reúne artesãos que trabalham com madeira, tecido e também pintura. É um espaço democrático, coordenado com a doçura e a firmeza de uma mãe por Maria da Paz Araújo, 68 anos. Há 55 trabalhando com bordado e costura, Da Paz, como é chamada, foi uma das primeiras artesãs do espaço. “Eu morava em Souza, na Paraíba, quando fiquei viúva. Tinha cinco filhos para criar”, relembra.

A vida acabou levando-a até Petrolina e o artesanato vem sendo seu sustento desde então. “Hoje, me sinto realizada de ver quantas famílias sobrevivem da arte aqui nesse espaço”, conta. A oficina foi fundada por um grupo de 40 artesãos que se mobilizaram para criar, na cidade, um espaço para trabalhar e expor sua arte.


No começo, as peças não podiam ser vendidas no local, que era apenas para produção das obras, mas os artistas conquistaram o direito a comercializar seus produtos lá mesmo. Só que para poder vender na oficina, Da Paz avisa: tem que ter preço e qualidade. “Eu sou firme no meu trabalho, temos que zelar por nosso nome”, defende.

mapa petrolina (Foto: Editoria de Arte/G1)

O espaço reservado para os artesãos de madeira é dividido em nove áreas, onde cada um trabalha em suas obras. Roque Gomes da Rocha, o Roque Santeiro, foi um dos que encontrou na oficina um lar e no São Francisco, uma inspiração. “Eu vim de Afrânio [cidade vizinha], com 15 anos, para estudar aqui em Petrolina. Tive que fazer um trabalho sobre o São Francisco e então conheci as carrancas”, relembra Roque.

Depois disso, o então estudante procurou um artesão e começou a trabalhar lixando as peças, até aprender a fazê-las. “Trabalhei dez anos com carrancas, mas eu queria mais. A missão do artista é fazer algo que ninguém nunca fez”, acredita. A partir daí, Roque se encantou com a arte sacra, que lhe rendeu o nome pelo qual hoje é conhecido.

Defensor de que o maior mestre da vida é a necessidade, Roque sabe que a vida de escultor não é fácil, mas ao longo dos anos conquistou seu espaço e uma parede inteira de fotos, certificados e locais por onde já passou. “A emoção de um escultor é realizar um sonho, eu venho realizando o meu”, filosofa.

A necessidade foi o motivo que levou José Nildo da Silva a deixar o Crato, no Ceará, em busca de emprego nas lavouras de Petrolina. Porém, não era ser agricultor que Nildo, como assina suas obras, queria ser. “Desde criança eu fazia brinquedos para mim e meus irmãos. Eu já estava há cinco anos trabalhando como agricultor, quando me disseram que eu seria acolhido aqui no Mestre Quincas. Me encontrei aqui e resolvi sobreviver da minha arte”, explica.

Fazendo de tudo um pouco, as obras de Nildo passam pelas tradicionais carrancas, fauna e flora da região, mas um dos xodós do ex-agricultor são os brinquedos, em especial carros e aeronaves em miniatura, que respeitam proporções e modelos. A riqueza de detalhes dos trabalhos impressiona. “Tem colecionador que me procura”, conta, orgulhoso. Outro trabalho são as representações de São Francisco. “Eu busco retratar diferentes fases da vida dele, pesquiso bastante. Tento fugir do cotidiano”, ensina.

Uma das coisas que a oficina preza, e isso com o olhar atento de Da Paz, é a questão da sustentabilidade. Nada se perde, tudo se reaproveita, inclusive madeiras não aproveitadas em obras. “Aprendemos a saber a reconhecer as madeiras e saber como cuidar delas. Não queremos que ninguém saia daqui dizendo que comprou algo que veio com cupim”, avisa Nildo.

Os visitantes da Oficina do Artesão Mestre Quincas têm a oportunidade de acompanhar o trabalho dos artesãos, fazer encomendas e negociar as peças diretamente com seus autores. O local funciona de segunda a sábado, de 8h às 18h, e aos domingos, com agendamento.

Ana das Carrancas
Outro ponto onde se pode conhecer a arte produzida em Petrolina é o Centro de Arte Ana das Carrancas, que conta a trajetória de Ana Leopoldina Santos, mais conhecida como Ana das Carrancas, falecida em 2008. A artista é conhecida pelas carrancas de barro, com olhos vazados, uma referência ao marido cego.

A história que se conta é que Ana teria recebido, às margens do rio São Francisco, um sinal divino de que seu futuro estava no barro. “Conta-se que ela foi até o prefeito pedir autorização para tirar barro do leito do rio”, conta o pesquisador Aroldi Araújo Benvindo.

São várias as versões que explicam a figura da carranca, a principal delas carregada de lendas: o que a história oral conta é que, colocadas nas proas das barcas, serviam de proteção para os barqueiros, viajantes e moradores contra os perigos do Rio São Francisco. Os olhos esbugalhados e as bocas escancaradas conseguiriam, então, espantar as criaturas do rio, que voltavam para seus esconderijos.

O ateliê produz e comercializa peças de barro, especialmente as carrancas de olhos vazados, e também em cerâmica. As filhas de Ana, Ângela Lima e Maria da Cruz, cuidam do espaço, que recebe visitas apenas com agendamento, de segundo a sábado, das 8h às 12h e das 14h às 18h, pelo telefone (87) 3031-8319.
Nas águas do São Francisco
Quem vai fazer turismo em Petrolina não pode deixar de lado o Rio São Francisco, é claro. A Ilha do Rodeadouro, localizada a cerca de 15 quilômetros do centro do município, é um dos principais pontos de lazer da cidade. A praia conta com areias finas e águas claras e rasas, sendo acessível apenas de barco.

Uma das formas de chegar até a ilha é pela Travessia do Juarez, na estrada Petrolina-Tapera, próximo ao quilômetro 12 da via, ao lado do restaurante Carranca Gulosa. Quem coordena a travessia é o próprio Juarez Coelho de Amorim, que organizou o transporte há 18 anos e, hoje, dispõe de três três barcos para a atividade. “Esse é um trabalho que faço com muito amor”, explica Juarez.

Os barcos fazem o percurso em apenas cinco minutos, funcionando de 8h às 18h, todos os
dias. Ida e volta custa apenas R$ 3. “Os barqueiros não moram perto, por isso a gente precisa encerrar no pôr do sol”, explica Juarez.

Ilha do Fogo - Petrolina (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Fonte: g1.globo.com Por Blog Professor Edgar Bom Jardim - PE

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