Construído em 1991 para abrigar 90 mil pessoas, Dadaab tem hoje 380 mil.
Há 20 anos, a rotina se repete: eles chegam sem nada além da roupa do corpo, exaustos das caminhadas de semanas, às vezes meses, famintos em busca de abrigo. Os portões de Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, no Quênia, nunca se fecham - e o complexo, projetado para abrigar 90 mil moradores, está lotado. Nos últimos meses, superlotado: a pior seca no Chifre da África em 60 anos está levando diariamente ao menos 800 pessoas a bater nas portas de Dadaab. O G1 esteve no campo entre os dias 1º e 3 de agosto e mostra numa série de reportagens a estrutura, o dia a dia e as dificuldades de quem vive de forma permanente numa casa temporária.
Passar pela porta de entrada do complexo é uma vitória. Quem conseguiu chegar aqui sobreviveu à saída de sua terra natal, a dias de caminhada sob um calor de 40ºC, passou por estupradores e animais selvagens, enfrentou a fome e a sede. Os recém-chegados são cadastrados, avaliados por um médico e recebem uma cesta básica suficiente para até 21 dias – podendo ser renovada. Depois, a dificuldade é achar um teto: desde 2008, quando o campo foi declarado lotado, não há mais distribuição oficial de barracas. Cada um faz uma casa com o que encontra, de gravetos a sacos plásticos.
Dadaab foi construído em 1991, quando estourou a guerra civil na vizinha Somália, após a queda do ditador Mohamed Siad Barre. A Organização das Nações Unidas (ONU), com a aprovação do governo do Quênia, montou na região fronteiriça (onde já viviam quenianos de origem somali) um complexo de três campos: Ifo, Dagahaley e Hagadera – cada um capaz de abrigar até 30 mil pessoas. A previsão era que o campo servisse de acampamento temporário para aqueles que fugiam, e que eles pudessem voltar para suas casas assim que o conflito terminasse. Mas, 20 anos depois, nada mudou.
"A solução é providenciar a paz na Somália, e o Quênia sozinho não consegue a paz na Somália! Então precisamos ter estratégias deliberadas e comprometidas sobre como levar esse assunto para a ONU, talvez até para o Conselho de Segurança. Porque o número de pessoas é muito grande. Não sei por quanto tempo podemos tomar conta dessas pessoas", explica o encarregado do Departamento de Assuntos de Refugiados do governo queniano, Badu Katelo.
As dificuldades para alimentar e ajudar os somalis na própria Somália são muitas. Desde 1991, o país está dividido por comandos tribais que lutam pelo poder. O principal deles é o al-Shabaab, que quer impor um regime islâmico no país. Ligado à rede al-Qaeda, o grupo controla a parte sul da Somália, onde, por sua determinação, poucas agências humanitárias trabalham.
As entidades que coordenam o campo recebem ajuda do mundo todo. Para esta crise atual, por exemplo, um apelo internacional foi feito em julho, e até o dia 3 de agosto, ao menos US$ 24 milhões foram arrecadados de países europeus, dos EUA e do setor privado.
Depósito de pessoas
Mas ainda falta muita coisa em Dadaab: esgoto, água encanada, pavimentação, luz, dignidade e reconhecimento. O governo queniano não dá cidadania aos refugiados e eles não podem deixar o campo sem permissão – dada, em 2010, para apenas 2% dos moradores.
"O primeiro motivo para Dadaab ter se tornado o maior campo do mundo é que o conflito na Somália dura duas décadas", explica o professor Dulo Nyaoro, do Departamento de Estudos para Refugiados da Universidade Moi, no Quênia. "Mas há também o fato de que um campo só pode ser temporário se a comunidade internacional procurar soluções duradouras para o problema somali. [...] É uma enorme população cuja vida foi 'suspensa'. Eles não podem tomar decisões para si mesmos, não podem usar suas habilidades e nem participar na economia de seus países de origem", diz o professor.
Fonte:g1.globo.com Por Blog Professor Edgar Bom Jardim - PE
sábado, 15 de outubro de 2011
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