terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Paulo Câmara convoca 290 profissionais para reforçar rede estadual de Saúde






Mais de 290 profissionais da área de saúde, aprovados em concurso público, foram convocados nesta segunda-feira (17) pelo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, para a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). A seleção pública para a secretaria ainda está aberta, sendo o prazo final de inscrição até esta quinta-feira (20).

Dos 290 aprovados, são 101 médicos, 56 profissionais de nível superior (analistas em saúde) e 128 de nível médio (assistentes em saúde), além de cinco fiscais de vigilância sanitária.

Para estes profissionais aprovados, o secretário de Saúde, André Longo, afirma que os convocados terão um prazo de cinco dias úteis para tomar posse e dois dias úteis depois de empossados para se apresentar no local de exercício funcional indicado pela SES-PE. 

Os convocados irão atuar em áreas técnicas da sede do órgão, como as Gerências Regionais de Saúde (Geres), Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE) e da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa). 

Diversos hospitais também estão na lista de locais de atuação dos convocados, como o Jaboatão Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes; Correia Picanço e da restauração. A lista completa pode ser conferida no Diário Oficial da União desta terça (18).
 

Inscrições para seleção pública
Para os interessados na inscrição com 240 vagas para a SES, As inscrições devem ser feitas através do site de seleção da secretaria. O edital está disponível no Diário Oficial do último sábado (15), além de publicado no portal da secretaria de Saúde do estado

Lembrando que as inscrições vão até esta quinta-feira (20). Do total, serão contratados temporariamente 189 médicos, 44 de outras profissões de nível superior e dois de nível médio, além de quatro arquitetos e um engenheiro civil para a Agência Pernambucana de Vigilância em Saúde (Apevisa).

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Por que tuíte de Anitta gerou controvérsia sobre ajuda a Angola



Anitta

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Anitta se apresentou em Angola em 2019 e se manifestou recentemente preocupada com angolanos e a crise de coronavírus

Um tuíte da cantora Anitta prometendo fazer doações a Angola devido à crise da pandemia de covid-19 viralizou no país e desencadeou manifestações virtuais de jovens angolanos que protestam contra o governo local.

Anitta se apresentou em Angola em maio de 2019. Na semana passada, ela escreveu no Twitter: "Ontem estava comentando com algumas pessoas sobre o show que fiz em Angola e me veio na cabeça uma coisa. Como está Angola em relação à pandemia? Alguma forma que posso ajudar? Doações ou algo? Gostaria de retribuir todo o amor que recebi quando fui. Entrem em contato quero ajudar".

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O tuíte viralizou em Angola e foi compartilhado por jovens como Baptista Miranda, um dos maiores youtubers angolanos, com mais de 400 mil inscritos na plataforma. Muitos de seus seguidores são brasileiros.

"Obrigado por demonstrar preocupação pelo nosso país. A situação da pandemia aqui aumentou o desemprego, esse governo atual não tem feito nada a favor da população e tem sido cada vez mais complicado para as pessoas que vivem em situação de rua", escreveu Miranda.

"Se você conseguir ajudar, fale com as pessoas certas porque certamente irão aparecer muitos aproveitadores e as ajudas podem não chegar para as pessoas que realmente precisam."


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Ao longo dos últimos anos, jovens têm se engajado politicamente contra o governo, sem uma organização centralizada, em plataformas como Facebook, YouTube e mais recentemente no Twitter. Alguns internautas responderam a Anitta com críticas ao governo: "se quiser ajudar, é só denunciar publicamente o partido no poder em Angola" ou "esse governo atual não tem feito nada a favor da população".

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O tuíte de Anitta recebeu destaque na imprensa local, especialmente nos portais de informação mais populares de Angola. O Xé Agora Aguenta descreveu como um "belo gesto" a intenção da cantora brasileira, acrescentando que a postagem teve muita repercussão no país.

Mas em muitos comentários dos fãs angolanos de Anitta era comum a preocupação de que os eventuais fundos doados pela cantora fossem desviados por autoridades angolanas.

Anitta respondeu a uma dessas mensagens: "Já estou fazendo diferente, querida. Agora mandarei os materiais já comprados".

Não é muito comum no país grandes figuras da música se posicionarem sobre a situação política ou criticarem abertamente o regime de Angola. Muitos temem sofrer algum tipo de represália por parte do governo.

Em 2012 o relatório anual da Human Right Watch dizia que em Angola "as classes urbanas educadas costumavam usar a internet e as redes sociais como canais para criticar o governo devido às restrições da mídia tradicional".

Presidente João Lourenço tem sido alvo de protestos de jovens

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Presidente João Lourenço tem sido alvo de protestos de jovens

E muitos críticos do regime angolano insistem que a situação hoje continua a mesma, apesar do atual presidente, João Lourenço, afirmar constantemente que a liberdade de expressão e imprensa são pilares importantes do seu governo que começou em 2017.

"Tendo em conta a dimensão internacional da Anitta, os angolanos viram nela um canal para expressar a sua insatisfação com o governo em Angola", diz Edmilson Ângelo, analista angolano, do Instituto de Estudos de Desenvolvimento do Reino Unido.

Anitta teria contatado a ONG Atos Angola, uma organização não-governamental brasileira que opera no país desde 2011, para fazer chegar as doações.

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O que está acontecendo em Angola?

Angola, um país independente de Portugal desde 1975, vive hoje graves problemas políticos, econômicos e sociais.

Com uma população estimada em 33 milhões de habitantes, mais de 18 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 54,3% da população, vivem em extrema pobreza - com menos de US$ 1,90 (R$ 10) por dia -, de acordo com dados do World Poverty Clock.

Mas apesar dos números alarmantes, o país africano, rico em recursos naturais, abriga uma elite de milionários africanos, entre eles Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos, que já foi considerada a mulher mais rica da África pela revista Forbes, com uma riqueza estimada US$ 3,5 bilhões (R$ 19 bilhões).

Isabel dos Santos

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Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola, já foi considerada a mulher mais rica da África


"Estamos falando de um país que já teve uma economia considerada a segunda maior do continente, mas este crescimento abismal da economia não resultou num desenvolvimento social de Angola", diz Ângelo.

"O desenvolvimento econômico em Angola só serviu para a criação de uma pequena elite que acabou por ser o maior beneficiário desse crescimento histórico, para a tristeza da maioria da população", ele acrescenta.

Angola é um dos maiores produtores de petróleo de África, perdendo só para a Nigéria. O petróleo é a principal fonte de receitas do país. Só em 2019, Angola produziu mais de 1.4 milhões de barris de petróleo por dia.

Mas os recursos provenientes da exploração petrolífera não se refletem na vida de grande parte da população. Críticos do governo costumam apontar a má gestão e a corrupção como elementos que fomentam a desigualdade social no país.

Com uma população jovem de 47%, um dos grandes desafios de Angola hoje é o desemprego juvenil. O país tem altas taxas de desemprego, estimando-se que mais de 52% dos jovens angolanos se encontram desempregados.

Isso tem desencadeado protestos de jovens contra o governo do presidente angolano, João Lourenço, que na sua campanha eleitoral em 2017 prometeu gerar mais 500 mil empregos para os jovens.

Segundo um relatório do Unicef de 2017, Angola integra a lista de países com maior taxa de mortalidade infantil até aos 5 anos. Segundo os dados do documento, em 2016 morreram 83 crianças por cada mil nascimentos, enquanto que no Brasil registaram-se 15 mortes por cada mil nascimentos.

A principal causa de morte em Angola é a malária, uma doença que já foi erradicada na Europa. Mas os desafios da saúde em Angola vão para além das doenças, e estendem-se à falta de condições sanitárias, serviços hospitalares deficientes e pouco investimento público no setor da saúde.

Em dezembro de 2021, os médicos angolanos entraram em greve por quase duas semanas para exigirem melhores condições de trabalho e melhores salários. Um médico em Angola pode ganhar menos de US$ 520 (cerca de R$ 3 mil).

Além disso o país enfrenta problemas crônicos devido à fome. Em setembro de 2021, o Programa Mundial de Alimentação da ONU estimou que mais de 1,3 milhões de pessoas no sul de Angola enfrentaram "fome severa, pois a pior seca em 40 anos deixou campos estéreis, pastagens secas e reservas de alimentos esgotadas".

Em um discurso recente que viralizou nas redes sociais, o presidente João Lourenço disse que "a fome em Angola é relativa", gerando repúdio de organizações da sociedade angolana.

Protestos

Nos últimos quatro anos, Angola tem registado uma grande onda de manifestações antigoverno. São na sua maioria jovens que se reúnem em várias praças da cidade, sobretudo em Luanda, a capital do país, para reivindicarem promessas eleitorais não cumpridas e exigirem melhores condições de vida.

"A população está muito mais ativa do que no passado e quer fazer sentir a sua voz para a resolução dos seus maiores problemas", alega Edmilson.

"Estamos perante um contexto de uma juventude que já não teme a guerra civil que se viveu em Angola e quer que as promessas eleitorais sejam cumpridas", ele acrescenta.

A maioria dos protestos acabam com repressão policial, e em alguns casos com mortos e feridos. Algumas vezes, são os manifestantes que usam violência para para fazer passar a sua mensagem de descontentamento com o partido MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que governa Angola desde 1975.

Foi o que aconteceu na semana passada durante uma greve dos taxistas em Luanda, em que um grupo de manifestantes botou fogo em um edifício do MPLA e arrancou bandeiras do partido espalhadas pela cidade. As autoridades policiais detiveram 33 pessoas na sequência dos atos.

O presidente angolano condenou na quarta-feira os protestos e disse que eles são parte de um plano para se criar instabilidade em Angola.

Eleições de 2022

Angola realiza eleições de cinco em cinco anos. As últimas eleições, em agosto de 2017, elegeram como presidente João Lourenço, um ex-ministro da Defesa do governo de José Eduardo dos Santos, que foi indicado a posição pelo seu antecessor que governou Angola durante 36 anos.

João Lourenço, que vê hoje a sua popularidade em Angola questionada por causa dos problemas que o país enfrenta, pretende concorrer para um segundo mandato nas eleições marcadas para agosto.

Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), o maior partido da oposição, deverá ser o seu principal adversário.

Na visão de Edmilson Ângelo, os últimos protestos em Angola devem servir de alerta para aquele que será o processo eleitoral em Angola.

"Muitos populares olham para 2022 como um ano de mudança, onde vão fazer sentir a sua voz e vontade política. Há uma possibilidade dos protestos radicais continuarem e estes últimos protestos podem ser um sinal daquilo que teremos durante este ano."

  • Israel Campos — @ICampos2000
  • Da BBC News Brasil em Londres

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Onda de choque gerada pela erupção do Vulcão Tonga deu a volta ao mundo




erupção do vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai, na nação polinésia de Tonga, que aconteceu no sábado (15), foi um evento de escala global. Conforme destaca o MetSul, a violenta explosão gerou uma nuvem de cinzas que chegou a 30 km de altura, alcançando a estratosfera do planeta – segunda camada da atmosfera, depois da troposfera.

De tão violento que foi o estouro provocado pela erupção, ele gerou uma enorme onda de choque visível nas imagens de satélites meteorológicos que estão entre as mais impressionantes desde que a ciência passou a observar o planeta a partir do espaço. 

De acordo com o diretor técnico do Serviço Brasileiro de Observação de Meteoros (Bramon, na sigla em inglês) e colaborador do Olhar DigitalMarcelo Zurita, a onda de choque, basicamente, é o som da explosão do vulcão. “Provavelmente, em uma frequência inaudível para a gente, mas é a propagação dessa explosão pela atmosfera”.

Imagens de satélite mostram onda de choque se espalhando

É possível ver a enorme coluna de cinzas eclodindo no meio do Pacífico e se expandindo ao alcançar altitudes mais elevadas enquanto uma onda de choque se espalha radialmente a partir do centro da erupção.

Segundo o MetSul, o evento foi tão significativo que o som da explosão do vulcão em Tonga acabou sendo ouvido a centenas de quilômetros de distância. Moradores de Fiji, a 800 km do vulcão, gravaram vídeos dos ruídos gerados pelo processo eruptivo.

Meteorologistas em vários lugares do mundo observaram em estações de monitoramento meteorológico uma súbita mudança de pressão atmosférica com a chegada da onda e publicaram os dados em redes sociais. O mesmo padrão foi observado na Nova Zelândia, Japão, Alasca, Nova York, Porto Rico, Los Angeles, Oklahoma, Miami, Zurique e até na Finlândia, país do norte europeu que fica a 15 mil km de distância do vulcão.

Para calcular a onda de choque com anomalia de pressão atmosférica, os cientistas usaram como dados: o horário de sua chegada, a distância para a erupção e o horário do evento eruptivo em cerca de 1.300 km/h no Hemisfério Norte.

Como a erupção foi pouco depois da 1h deste sábado, pelo horário de Brasília, e a velocidade estimada de propagação na maioria dos locais foi de 1.000 km/h, a onda de choque provavelmente alcançaria o Brasil cerca de 12 a 13 horas depois. 

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E foi exatamente o que ocorreu. Repetindo o padrão observado em estações meteorológicas de diferentes países e continentes, o levantamento da MetSul Meteorologia indicou um pico de pressão atmosférica do Sul ao Norte do Brasil nos dados das estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Explosão do vulcão de Tonga altera pressão atmosférica

Um pico de pressão atmosférica de ~1,0 a ~1,5 hPa foi registrado em estações do Inmet entre 14UTC e 16UTC (11h a 13h pelo fuso de Brasília) em estações do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Amazonas, Mato Grosso e outros estados, a maioria na faixa das 15UTC a 16UTC, logo em torno do meio-dia.

Segundo a meteorologista Estael Sias, sócia-diretora da MetSul Meteorologia, pancadas de chuva e temporais, comuns nesta época do ano, geram correntes descendentes e com resfriamento da atmosfera que eleva a pressão. “Isso poderia explicar a subida da pressão atmosférica em uma estação ou outra com chuva na localidade ou nas proximidades, contudo jamais no mesmo horário, em uma centena de estações, em tantos estados e distantes, do Sul ao Norte do Brasil”. 

Para ela, o que produziu o padrão de incremento súbito da pressão ao redor das 12h deste sábado foi a chegada da onda expansiva que se propagou pelo planeta a partir da explosão do vulcão no Pacífico Sul.

Olhar Digital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Presença de Eslovênia no BBB vai parar em portal esloveno; em PE, consulado fará convite à sister





A participante pernambucana do BBB 22Eslovênia Marques, virou notícia em um dos principais portais da Eslovênia, país do leste europeu, por conta do seu nome. A presença dela no programa chegou também nos ouvidos do Consulado da Eslovênia em Pernambuco, que fará convite à sister para conhecer sua sede no Recife.



O portal 24UR.com, um dos mais importantes do país, escreveu: "Os competidores já atraíram a atenção do público, principalmente a concorrente de nome inusitado, Eslovênia Marques, que vem de Pernambuco". A reportagem seguiu comentando sobre o anúncio dos participantes, ocorrido ao longo dessa sexta-feira, pela TV Globo


Somente em Pernambuco há cerca de 50 eslovenos e descendentes.

A conta oficial da Embaixada da Eslovênia no Brasil no Twitter repostou uma foto da participante a desejando boa sorte. "Nome mais lindo do mundo", escreveu. 

O Portal Folha de Pernambuco conversou com Rainier Michael, cônsul da Eslovênia em Pernambuco, que declarou sua torcida pela modelo. "Vamos acompanhar e torcer pela sister Eslovênia, pois não apenas tem um nome lindo, mas é do Nordeste e Pernambuco, região e estado que acolheu tão bem o Consulado da Eslovênia".

Michael, que nasceu em São Paulo e assina a coluna Diplomacia Econômica neste portal, mas é "pernambucano de Coração e Cidadão Honorário Recifense" disse ainda que, em um futuro próximo, o consulado iria tentar um contato para convidar a sister, que possui "alma eslovena" para uma visita no Consulado no Recife, que se localiza no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da capital pernambucana.


Origem do nome

Os pais da participante do BBB 22, publicaram um vídeo no instagram da Miss Pernambuco 2018 explicando a decisão de nomeá-la com o nome do país.

"Na realidade, não seria Eslovênia, seria Bósnia Herzegovina, mas eu optei por Eslovênia", explica seu pai.

Folha de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 16 de janeiro de 2022

Como diabetes sem controle pode causar impotência e cegueira

Prato com a palavra diabetes escrita com guloseimas

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Doença ligada à taxa de açúcar no sangue afeta 17 milhões de pessoas no Brasil com idades entre 20 e 79 anos e pode impactar diversos órgãos do corpo

O diabetes costuma ser chamado de doença silenciosa porque metade dos pacientes não sabem da presença dele e muitas vezes só descobrem isso tarde demais. Não é incomum que a pergunta "você tem diabetes?" interrompa a fundoscopia (exame de fundo de olho) em consultório oftalmológico e a resposta seja um "não que eu saiba, doutor". "E nesse momento o paciente é salvo pelo oftalmologista", conta à BBC News Brasil a médica endocrinologista Rosane Kupfer, membro do departamento de doenças oculares da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Outro caso comum de descoberta por acaso do diabetes silencioso é a disfunção erétil (ou impotência sexual). Há diversos fatores associados à dificuldade de o pênis ficar ou permanecer ereto, mas o excesso de glicose no sangue também pode lesionar pequenos vasos e dificultar a circulação de sangue no corpo todo, inclusive no pênis. Estima-se que esse mal afete metade dos homens com diabetes e seja a principal causa de disfunção sexual.

Mas por que o diabetes, um problema ligado à taxa de açúcar no sangue que afeta 17 milhões de pessoas no Brasil com idades entre 20 e 79 anos, pode impactar diversos órgãos do corpo, como os olhos e o pênis?

Primeiro, é preciso entender o que é o diabetes, mas em seguida a BBC News Brasil trará detalhes de sintomas e tratamentos dos impactos da doença na saúde sexual de homens e de mulheres também, além daquela que talvez seja a mais temida das consequências pelos pacientes: a cegueira.

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e a Sociedade Brasileira de Diabetes, um pâncreas em condições normais produz hormônios que regulam o nível de açúcar no sangue. Essa taxa varia quando se ingere um alimento, por exemplo. Mas no caso do diabetes mellitus, o corpo se torna incapaz de controlar esses níveis de glicose no sangue por não ter o suficiente ou não conseguir usar direito o hormônio que faz essa regulação, a famosa insulina. Isso leva a diversos desdobramentos problemáticos no corpo, entre eles doenças nos olhos que podem levar à cegueira e a disfunção sexual em homens e mulheres.


Os dois tipos principais de diabetes são o tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 frequentemente é diagnosticado na infância e na adolescência por fatores genéticos e sintomáticos, como sede e fome constantes, vontade frequente de urinar, cansaço, fraqueza, perda de peso e mudança de humor.

O tipo 2, que afeta 90% das pessoas com diabetes, têm poucos sintomas ou até nenhum e se caracteriza geralmente por seu surgimento mais lento e gradual. Por praticamente não ter sintomas, este é o tipo considerado silencioso que pode ser descoberto por acaso num exame oftalmológico ou por episódios de disfunção sexual. A principal causa (ou fator de risco) do tipo 2 é a obesidade.


O diabetes pode interferir de várias formas no funcionamento do organismo humano, mas isso se dá principalmente por duas vias: neurológica, porque o diabetes mexe com os nervos que regulam o funcionamento do corpo, e cardiovascular, pois piora a circulação do sangue — danos nos vasos sanguíneos podem provocar complicações nos olhos e também na função sexual.

"O diabetes é uma doença que afeta as estruturas vasculares do organismo, e essas estruturas vasculares são responsáveis por levar oxigênio para as células. Então, quando você tem a oclusão (bloqueio) de um vaso, vai faltar oxigênio para um determinado órgão, para um determinado tipo de célula, para todo o organismo", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Especialistas lembram que, em 90% dos casos, todas essas doenças e consequências poderiam ser prevenidas ou atenuadas com mudanças na alimentação inadequada e sedentarismo. Ou seja, com alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos.

Mão masculina segura punhado de açúcar

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Os dois tipos principais de diabetes são o tipo 1 e o tipo 2

Diabetes e disfunção sexual masculina e feminina

Como citado acima, o diabetes pode interferir de várias formas no funcionamento do pênis, mas em linhas gerais são duas: a primeira é a neurológica porque o diabetes pode mexer com os nervos que regulam o funcionamento de órgãos como o pênis, por exemplo.

A segunda é a cardiovascular, devido a uma piora da circulação sanguínea que leva a um pior funcionamento do bombeamento de sangue para dentro do pênis, o que aumenta a pressão e gera a rigidez no ato sexual.

A disfunção erétil (a incapacidade que o homem tem de ter ou manter uma ereção suficiente para atividade sexual satisfatória) afeta mais da metade dos homens com diabetes, segundo uma análise de 145 estudos sobre o tema que foi publicada em 2017 na revista científica Diabetic Medicine. O diabetes é a principal causa de disfunção erétil em adultos.

"O homem pode ter uma falha, brochar (como se diz popularmente) de vez em quando. É normal porque ninguém é uma máquina", diz à BBC News Brasil o médico Eduardo de Paula Miranda, diretor do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia. Quando isso pode ser um problema de saúde? "Quando começa a ser persistente, falhas umas atrás da outra, ao longo tempo e começa a interferir na qualidade de vida do sujeito", responde ele.

No caso dos homens, quando acontecem alterações nesses vasos sanguíneos e nos nervos do pênis, a ereção enfrenta obstáculos por causa do estreitamento das artérias e da diminuição da circulação do sangue — e as terminações nervosas responsáveis pelo desejo sexual também podem ser afetadas.

Nesse caso de problemas de irrigação sanguínea, o pênis acaba com dificuldades de ficar e permanecer ereto. E a partir de então é recomendado que esse paciente também procure um médico especialista para avaliar o aparelho cardiovascular, explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes. "Ali pode haver pista para outros acometimentos do diabetes."

A excitação sexual, é importante ressaltar, está ligada aos mais diversos aspectos, como estímulo visual, imaginação, toque e cheiro. Quando há um problema recorrente de impotência, especialistas ressaltam a importância de que seja feita também uma consulta médica a dois, quando se é um casal, pois as causas, além do diabetes, geralmente são orgânicas, psicogênicas (transtornos mentais) ou sexuais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a sexualidade é influenciada pela interação de alguns fatores, como biológicos, psicológicos, socioeconômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais. Há também outras questões envolvidas, segundo especialistas, como identidades de gênero, sexo, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução.

Além de efeitos colaterais de remédios (como alguns para hipertensão) e de procedimentos cirúrgicos na bexiga ou na próstata. Recomenda-se que o diagnóstico seja feito apenas por médicos especializados.

Esse problema, porém, não afeta apenas homens e pênis. As mulheres também sofrem com o impacto do diabetes na função sexual, mas esse tema raramente é discutido, estudado ou divulgado.

Para Nick Oliver, especialista em metabolismo e diabetes da Universidade Imperial College London, no Reino Unido, há diversas razões para isso. Em editorial publicado na Diabetic Medicine, explica que há falta de compreensão sobre mudanças na função sexual feminina em decorrência do diabetes, desconforto em abordar o tema, tanto pela paciente quanto pelo profissional de saúde, e, por fim, falta de intervenções médicas com comprovação científica para tratar a disfunção sexual feminina.

Um estudo assinado por sete pesquisadores da Bélgica, Holanda e Austrália, publicado em 2021 pela mesma Diabetic Medicine, apontou que 36% das mulheres com diabetes tipo 1 relataram disfunção sexual, número maior que mulheres com diabetes tipo 2 e muito próximo ao número de homens com diabetes e impotência. Um estudo na Noruega, com menos pacientes, chegou a apontar a incidência de disfunção sexual em mais de 50% das mulheres com diabetes do tipo 1.

Mão pega bolachas de um pote

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No caso do diabetes mellitus, corpo se torna incapaz de controlar esses níveis de glicose no sangue por não ter o suficiente ou não conseguir usar direito hormônio que faz essa regulação, a famosa insulina

Tratamentos para disfunção sexual ligada ao diabetes

Para Miranda, da Sociedade Brasileira de Urologia, "o controle estrito e rigoroso do diabetes é fundamental para prevenir complicações da saúde sexual do homem e da mulher". Ele explica que a saúde sexual tanto masculina quanto feminina está associada à saúde geral deles, e a prevenção passa pelo controle de comorbidades e da saúde física e emocional do paciente (mais especificamente alimentação saudável, atividade física regular, sono de qualidade e redução do estresse).

"A saúde mental também é um dos grandes determinantes da saúde sexual", afirma Miranda. "Existe um problema na disfunção erétil que é: não importa o que levou o paciente a falhar, mas uma vez que ele falha, isso começa a afetar muito a autoestima e a autoconfiança dele, e então entra um componente psicológico muito importante que agrava ainda mais o problema."

Os tratamentos da disfunção erétil podem ser de dois tipos: os não medicamentosos e os medicamentosos.

Os primeiros giram em torno de terapias. É sempre indicado que esse paciente tenha suporte terapêutico para lhe ajudar a lidar com o estresse, excesso de adrenalina e preocupação, que atrapalham a ereção.

No caso das abordagens medicamentosas, para homens há remédios disponíveis no mercado que são capazes de melhorar a duração, rigidez e capacidade de manter a ereção por mais tempo. "Eles melhoraram a circulação de sangue no pênis e aumentam a pressão dentro dos corpos cavernosos que são as câmeras da ereção", explica Miranda.

Há pelo menos sete medicamentos disponíveis com diferentes características, sendo o mais comum o sildenafil (Viagra). Miranda alerta, no entanto, que esse comprimidos podem não funcionar no caso de pacientes com diabetes descontrolados e problemas mais severos nos nervos. "Muitas vezes esse paciente precisa ir para tratamentos farmacológicos mais intensivos ou invasivos, como as injeções que são administradas no próprio pênis na hora da relação sexual para poder ter uma ereção."

A disfunção erétil aumenta com o passar da idade, mesmo sem diabetes. Em geral, a partir dos 45 anos, há maior ocorrência de homens com problemas de ereção. No caso do paciente com diabetes, quanto mais tempo ele enfrenta essa doença, maior é a chance de ele desenvolver problemas de ereção mais cedo ou mais severo. Isso pode ser atenuado caso o diabetes esteja sob controle.

Mulher aplica insulina

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Uma pessoa com diabetes têm duas vezes mais chances de ter catarata e glaucoma

Por que diabetes pode causar doenças nos olhos e até cegueira

Segundo o Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais dos Estados Unidos, o diabetes afeta os olhos quando a taxa de glicose no sangue está muito alta e pode causar quatro doenças oculares: retinopatia diabética, edema macular diabético, catarata e glaucoma.

Uma pessoa com diabetes têm duas vezes mais chances de ter catarata e glaucoma, que pode ser uma complicação da retinopatia diabética que danifica o nervo óptico (estrutura do sistema nervoso que conecta o olho ao cérebro). Ambas as doenças, quando não tratadas, podem levar à perda de visão.

A cegueira é considerada uma das complicações mais graves e temidas do diabetes. "Se você perguntar para esse paciente qual é o seu maior temor, a maioria vai dizer 'eu não quero ficar cego'", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Mas como a lesão chega a esse ponto? No caso da retinopatia diabética, Rodrigo Jorge, professor da USP Ribeirão Preto, explica que a glicose em excesso no sangue machuca uma célula chamada pericito, que dá suporte ao menor vaso presente na retina, o capilar. Essa é uma das primeiras alterações nos tecidos humanos causadas pela doença.

Perdendo esse suporte e com a morte dessas células, ocorre uma alteração nesse capilar da retina, revestimento interno no fundo do olho responsável por transformar a luz em sinais que o cérebro interpreta para que enxergamos e compreendamos as coisas.

"A hiperglicemia machuca a parede do capilar, e nesse movimento a retina é machucada, mas não somente e a partir daí tem microangiopatias. Ou seja, um machucado na circulação: os vasos ficam frágeis e rompem", explica o oftalmologista. "O primeiro sinal que se encontra no fundo do olho são pequenos pontos hemorrágicos ou os microaneurismas que são as dilatações na parede dos capilares da retina."

Para compreensão da apresentação do aneurisma, Jorge faz uma analogia com uma bola de futebol. "Quando ela perde um gomo, forma uma protuberância e a câmera sai para fora. O aneurisma é isso."

Kupfer, da Sociedade Brasileira de Diabetes, acrescenta que "o diabetes acelera o processo de envelhecimento dos vasos sanguíneos e pode provocar então pequenas isquemias (falta de oxigênio no tecido) na retina". Uma das consequências da retinopatia diabética é um edema macular diabético (inchaço), principal causa de baixa de visão no paciente com diabetes. Outra é que a visão pode ficar turva.

Mas como se detecta tudo isso? Pelo exame do fundo do olho (ou fundoscopia) relatado no início desta reportagem. A retinopatia diabética é dividida principalmente em duas fases.

1.Não proliferativa - Sem novos vasos formados. No começo da retinopatia diabética, esses vasos podem inchar, vazar para a retina. Aqui podem ocorrer pequenas dilatações, isquemias (falta de oxigênio no tecido). Se a mácula (responsável por nos fazer enxergar com maior riqueza de detalhes, cores e nitidez) não for atingida, pode nem apresentar sintomas.

2.Proliferativa - Com novos vasos formados - "Se você abrir a retina e esticar, ela vai ficar que nem uma pizza. No meio dela há o nervo óptico, com a mácula ao lado. A circulação sai do nervo e vai para a periferia, a borda da 'pizza'. Essa borda começa a sofrer com a falta de nutrição. As paredes dos vasos, as células se desunem e formam novos canais e vasos e esses novos vasos tentam nutrir essa retina que está sem suprimento", explica Jorge, da USP Ribeirão Preto.

A cegueira, por fim, é causada pelo descolamento da retina. Os novos vasos que surgem têm poder contrátil. "Imagine uma folha de papel em uma mesa e de repente começa a crescer um tecido em cima dela e ele retrai. A folha de papel fica enrugada e algumas partes vão se separar da mesa, essa parte que separa é o descolamento. Só que é um tecido que está forrando o fundo do olho", explica o professor e oftalmologista.

É possível prevenir essa evolução devastadora da retinopatia? Segundo especialistas, sim, com controle rigoroso da taxa de glicose no sangue e, por extensão, do diabetes. Recomenda-se também reduzir a taxa de colesterol elevada, controlar a hipertensão arterial e evitar o tabagismo, que aumentam o risco de doenças oculares e outros problemas de saúde.

"Se o paciente é hipertenso, tem que tratar a hipertensão. E se ele tem uma retinopatia, ele tem que ter um tratamento oftalmológico rigoroso para evitar que essa retinopatia evolua mal", afirma Kupfer. Além disso, ela ressalta a importância do controle da taxa glicêmica: "A glicose bem controlada não vai acelerar o processo de envelhecimento das artérias".

Jorge, da USP de Ribeirão Preto, reforça essa recomendação. "O paciente que controla melhor tem mais anos de doença sem complicação. As complicações estão relacionadas com a duração da doença. Quanto melhor você controla, mais tempo passa sem complicações. Por exemplo, há paciente com diabetes tipo 2 que em cinco anos desenvolve as complicações e há paciente que passa 20 anos e praticamente não tem complicação nenhuma. Isso com certeza se deve ao controle, com uma pequena percentagem ligada a características genéticas também. Mas o principal fator é o controle da glicemia."

Mulher afere indice de açúcar no sangue com aparelho

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Melhor forma de proteger a visão e a função sexual é manter o controle do nível glicêmico, dos níveis de colesterol e pressão arterial

E quando a retinopatia diabética evolui, há tratamento possível? Jorge afirma que atualmente as duas principais estratégias são o laser e a farmacológica.

"No caso do laser, ele destrói a retina periférica (a borda da pizza). Como na retina não é possível amputar, a saída é queimar com o laser. Ao destruir uma retina que está produzindo o agente causador das alterações, o VEGF (que estimula a formação de novos vasos) diminui."

A saída farmacológica é injetar um anticorpo contra a formação de novos vasos (VEGF). Essa opção é bem mais rápida, porém bem mais cara que o laser. "Os medicamentos intra oculares são uma realidade para poucos. Eles são caros e somente agora estão começando a entrar no SUS (Sistema Único de Saúde)", explica Kupfer, da Sociedade Brasileira do Diabetes.

A endocrinologista explica que os medicamentos, por outro lado, têm um efeito indireto: manter o paciente sob vigilância médica. "Isso porque os medicamentos são administrados em geral várias vezes. Então, essa é uma forma também de manter o paciente ligado à sua saúde e de evitar o caminho para um desfecho da cegueira. Mas há um longo caminho até chegar nisso."

E em que momentos as pessoas devem procurar um médico para avaliar a suspeita de retinopatia diabética? Há o surgimento de sintomas? Sim. Especialistas afirmam que pacientes com diabetes devem fazer consultas oftalmológicas todos os anos. Além disso, mudanças bruscas e repentinas na visão, pontos e flashes de luz indicam a necessidade de se buscar atendimento médico com urgência, pois podem estar ligados a um descolamento de retina.

Mas nem sempre os pacientes que dependem do SUS (sete em cada 10 brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE) conseguem acesso a consultas, acompanhamentos e tratamentos oftalmológicos.

"No SUS, por exemplo, essa especialidade é cada vez mais rara. O paciente que é tratado na rede particular ou por convênios de saúde, tendo mais conhecimento e mais acesso, têm mais chances ao fazer exames com um oftalmologista e evitar a evolução para uma retinopatia muito grave. Já o paciente que não tem acesso ao sistema de saúde ou tem, mas é um sistema de saúde sem oftalmologistas suficientes para atender a demanda, esse paciente vai ser muito prejudicado", diz Kuper.

A melhor forma de proteger a visão e a função sexual é manter o controle do nível glicêmico, dos níveis de colesterol e pressão arterial. Aliados a uma boa dieta e exercícios físicos.

  • Cristiane Martins
  • De Londres para BBC News Brasil

Professor Edgar Bom Jardim - PE