terça-feira, 27 de julho de 2021

O símbolo universal que conecta Jesus, Buda e Apolo



Figura religiosa

CRÉDITO,ALAMY

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Depois de aparecer pela primeira vez na arte religiosa do antigo Irã, a auréola migrou por meio de diferentes culturas em um ritmo surpreendente

O cristianismo, o budismo, o hinduísmo, o zoroastrismo e a mitologia grega são geralmente vistos como religiões totalmente distintas entre si, amplamente definidas por suas diferenças.

Mas se você analisar cada uma delas, verá um símbolo que conecta todas: a auréola.

Esta aura em torno da cabeça de uma figura sagrada expressa sua glória ou divindade e pode ser vista na arte do mundo todo.

Há muitas variações, incluindo auréolas formadas por raios (como a da Estátua da Liberdade) e auréolas flamejantes (que aparecem em algumas artes islâmicas otomanas, mongóis e persas), mas a mais característica e onipresente é a auréola em forma de disco circular.

Mas por que esse símbolo foi inventado? Especula-se que poderia ter sido originalmente um tipo de design de coroa. Ou que poderia ser símbolo de uma aura divina emanando da mente de uma divindade. Talvez apenas um simples adereço decorativo.


Uma hipótese curiosa é a de que deriva de placas de proteção colocadas em estátuas de deuses para proteger suas cabeças de excrementos de pássaros.

Investigar a função original da auréola circular na arte religiosa nos remete ao século 1 a.C.

Ela não havia aparecido em nenhuma religião antes e, ainda assim, se tornou uma peça permanente da iconografia religiosa em toda a Eurásia por alguns séculos.

A divindade egípcia Rá retratada com um círculo representando o Sol

CRÉDITO,ALAMY

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A antiga divindade egípcia Rá era retratada com um círculo representando o Sol

É provável que tenha evoluído a partir de tradições artísticas muito antigas. No antigo Egito, o deus solar Rá era comumente retratado com um disco circular representando o Sol — embora estivesse acima de sua cabeça, e não atrás dele.

Enquanto isso, alguns artefatos da cidade de Mohenjo-daro (no vale do Indo), criados em 2000 a.C., apresentam o que parecem ser auréolas com raios. No entanto, elas estão gravadas ao redor de todo o corpo das figuras sagradas, ao invés de apenas em suas cabeças.

Da mesma forma, na arte da Grécia antiga, há representações eventuais de coroas com raios de luz em volta das cabeças de heróis mitológicos para sugerir seus poderes divinos.

Mas a auréola em forma de disco circular é uma invenção posterior e, supostamente, resultado de ideias religiosas únicas.

Os primeiros exemplos desse tipo de auréola são vistos em 300 a.C, na arte religiosa do antigo Irã. Ela parece ter sido concebida como uma característica marcante de Mitra, divindade da luz no zoroastrismo.

Há controvérsias de que o conceito de glória divina (conhecido como 'Khvarenah') no zoroastrismo esteja intimamente conectado com o brilho do sol, e que a auréola era a forma iconográfica de relacionar esta qualidade a Mitra, assim como haviam feito com Rá.

Em termos de história da arte, a velocidade absoluta com que a auréola em forma de disco migrou entre as culturas a torna particularmente notável como uma peça de iconografia religiosa.

Por volta dos anos 100 d.C — algumas centenas de anos após sua criação —, ela podia ser vista em locais tão distantes quanto a cidade tunisiana de El Djem, a cidade turca de Samosata e a cidade paquistanesa de Sahri-Bahlol.

Nos anos 400, as auréolas foram incorporadas à arte cristã em Roma e à arte budista na China.

De alguma forma, em questão de poucos séculos, se tornaram o símbolo religioso universal da divindade na Eurásia.

Mas como a influência da auréola se espalhou pelo mundo e entre as religiões?

A movimentação inicial dessa peça de iconografia religiosa se deu em direção a leste e oeste de seu local de nascimento no Irã, pelas mãos de alguns dos impérios mais poderosos do passado.

No primeiro século d.C, os indo-citas (nômades do Irã) e os kushans (da Báctria, no Afeganistão) invadiram as regiões a sudeste, territórios agora abrangidos pelo atual Paquistão, Afeganistão e norte da Índia.

Ambos os impérios, imersos na antiga história cultural iraniana, levaram moedas que representavam Mitra com uma auréola.

Essa divindade jovem e atraente com seu esplendor divino tinha um apelo evidente para um número cada vez maior de pessoas ao redor da região do Hindu Kush (ou Indocuche).

Tanto é verdade que a iconografia de Buda — inclusive desde as primeiras representações visuais dele, como o relicário de Bimaran (que pode datar do fim do século 1 d.C), mostra ele com uma auréola mitraica.

Enquanto isso, Mitra também estava conquistando os corações do Império Romano invasor a oeste — a tal ponto que o mitraísmo evoluiu para uma das principais religiões romanas.

Pintura de Buda representado com auréola

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Buda é representado com uma auréola em imagens no mundo todo, como neste afresco de um templo cambojano

Mitra mais tarde influenciou a iconografia de outra divindade romana — o Sol Invictus ("sol invencível").

Ambos os deuses combinavam físicos masculinos graciosos com poderes divinos, ligados ao esplendor e à autoridade do Sol, e por isso eram adorados pelos membros mais poderosos da sociedade, sobretudo os imperadores romanos.

O imperador Constantino reconheceu o poder iconográfico da auréola, então ele e seus sucessores arrogantemente se apropriaram dela e usaram em representações artísticas de si mesmos.

Depois, com a crescente aceitação do cristianismo no Império Romano, os artistas começaram a representar Jesus com uma auréola.

Sua chegada à iconografia cristã ocorreu por volta de 300 d.C, mais de dois séculos depois de ter surgido no budismo.

Jesus representado em pintura com auréola cruciforme

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Jesus, às vezes, é representado com uma auréola cruciforme, como neste antigo afresco cristão nas catacumbas de Ponzianus, em Roma

Foi um sinal da metamorfose do cristianismo — de uma religião marginalizada para uma estrutura de poder oficial no Ocidente.

A auréola se manteve presente na arte cristã desde então, embora tenha sofrido alguma adaptação ao longo dos anos.

Deus, o Pai, às vezes pode ser visto coroado com uma auréola triangular; Jesus, com uma auréola em forma de cruz; e os santos, com uma auréola quadrada.

O budismo, o jainismo e o hinduísmo coexistiram pacificamente na Índia no primeiro milênio d.C, e as três religiões compartilharam ideias e iconografia artística, incluindo as auréolas.

As primeiras representações esculpidas de auréolas na arte religiosa indiana são provenientes de dois grandes centros de produção artística, Gandhara (na fronteira do Paquistão e Afeganistão) e Mathura (145 km ao sul de Déli).

Troca de ideias

No fim da Antiguidade e na Idade Média, Gandhara estava no centro de uma imensa rede de rotas comerciais que se estendia até a China a leste e o Mediterrâneo a oeste.

Os mosteiros budistas surgiram ao longo dos principais entroncamentos das rodovias comerciais para servir como versões religiosas dos caravançarais (hospedarias para os mercadores viajantes).

Eles ofereciam um lugar para os mercadores descansarem, orarem e se recuperarem, e se tornaram os trampolins a partir dos quais o budismo se espalhou por terra para a China, onde artistas replicaram a iconografia da religião.

Por volta de 500 d.C., as auréolas apareceram na arte da Coreia e do Japão, indicando a chegada do budismo também nessas regiões.

A mesma disseminação ocorreu com o hinduísmo, que se espalhou pela Ásia por meio de rotas comerciais terrestres e marítimas, levando o comportamento religioso e o estilo artístico para a Indonésia, Malásia e outros territórios do sudeste asiático.

Essas extensas artérias comerciais, que ligavam o leste ao oeste no fim da Antiguidade e na Idade Média, costumam ser chamadas de "Rota da Seda", por causa dos produtos de luxo que costumavam ser transportados ao longo delas.

Mas, ao lado de mercadorias exóticas, essas rotas também transportaram religiões, conhecimento e iconografia.

A auréola em forma de disco é um ícone desse intercâmbio dinâmico de ideias que existiu em um passado distante.

Ela surgiu como um sinal zoroastriano da divindade solar, mas se espalhou pela Eurásia por meio de impérios antigos e redes comerciais que conectavam os limites do mundo conhecido.

No século 21, é também um poderoso lembrete da herança cultural compartilhada da humanidade.

  • Matthew Wilson
  • BBC Culture
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Domingo tem show de viola: Live dos Meninos de Guriatã



No próximo domingo,01 de agosto 2021, os "Meninos de Guriatã," farão uma grande encontro de cultura popular com a participação de  repentistas e poetas cancioneiros, com transmissão no Youtube, Instagram e Facebook. Tudo começa às 16 horas. Participam do grande show Manoel Mariano, Ramos da Saudade,  Ivanildo Vilanova e Iponax Vilanova. Não percam!

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Museu de Bom Jardim busca apoio para manter Escola de Dança



O Museu de Bom Jardim lançou uma campanha para arrecadar recursos financeiros para o Projeto Escola de Dança. A iniciativa busca patrocinadores e padrinhos para doações mensais que vão beneficiar 30 crianças e adolescentes do município. O valor arrecadado será revertido para o pagamento de dois professores, além da manutenção da estrutura do curso e dos protocolos de saúde exigidos por causa da pandemia do coronavírus. As aulas acontecerão no salão do Museu, com divisão das turmas em datas e horários diferenciados.


“Precisamos do seu apoio, solidariedade e patrocínio financeiro para transformar a vida das pessoas por meio da arte, cultura, alegria e paz. Seu esforço e sua doação vão gerar muita felicidade e poderá salvar vidas, estimular e despertar o projeto de vida de nossa juventude, tornar nossa comunidade melhor”, destacou o presidente do Museu de Bom Jardim, Edgar Santos. Clique neste link para preencher o formulário de “padrinho patrocinador”. Nele também estão disponíveis valores de doação, melhor data para doação e outras informações.

Deu no Blog do Agreste - Alfredo Neto
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Rayssa Leal, 13 anos de idade, conquista medalha de prata para o Brasil


Rayssa Leal, 13, medalha de prata no skate street em TóquioRayssa Leal, 13, medalha de prata no skate street em Tóquio - Foto: JEFF PACHOUD / AFP

Rayssa Leal, de 13 anos, teve uma recepção calorosa ao chegar na base do Brasil, dentro da Vila Olímpica. A medalhista de prata foi recebida pela seleção feminina de vôlei, que interrompeu o treino que estava sendo realizado para parabenizar a jovem. 

 

 

Além das atletas do vôlei, as jogadoras da Seleção Feminina de futebol foram registradas comemorando a conquista de Rayssa. No vídeo, as atletas brasileiras gritam “Fadinha”, apelido que a skatista ganhou por um vídeo seu de quando era mais nova, enquanto assistem a conquista da medalha de prata. 

O DAZN, maior serviço de streaming esportivo do mundo, apresenta o melhor das competições esportivas nacionais e internacionais por uma assinatura mensal pelo custo de R$ 19,90. Para quem já é assinante da basta acessar o site ou o app da plataforma. Para quem ainda não tem conta, o serviço disponibiliza 30 dias grátis, bastando clicar neste link para se cadastrar. Você pode acompanhar os eventos pelo computador, no celular, tablet ou até no console do videogame.   

Folha de Pernambuco


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 25 de julho de 2021

Museu de Bom Jardim pede ajuda de padrinhos e patrocinadores para manter escola de dança




O Museu de Bom Jardim precisa de sua doação como patrocinador e padrinho do Projeto Escola de Dança.
Ajude, faça sua doação para beneficiar 30 crianças e adolescentes de Bom Jardim. Precisamos pagar 2 professores, manter a estrutura do curso e os protocolos de saúde.
A aulas acontecerão no salão do museu com divisão das turmas em datas e horários diferenciados.
Precisamos do seu apoio, solidariedade e patrocínio financeiro para transformar a vida das pessoas por meio da arte, cultura, alegria e paz.
Seu esforço, sua doação vai gerar muita felicidade e poderá salvar vidas, estimular e despertar o projeto de vida de nossa juventude, tornar nossa comunidade melhor.
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Bom Jardim 150 anos: Múltiplas leituras da nossa história. Parte 2 - A feira livre





Bom Jardim 150 anos: Múltiplas leituras da nossa história. Parte 2 - A feira livre. A feira é o que há de mais expressivo em qualquer cidade do interior do Brasil. É um fenômeno social, cultural e econômico. Neste cenário a história acontece. Pessoas de classes sociais frequentam a feira, pobres e ricos podem se encontrar. Múltiplas histórias e leituras acontecem. Lugar de relações humanas, trocas comerciais, gente criativa e trabalhadora. Para muitos feirantes esse lugar toma conta do seu tempo. A vida é a feira. Acordar na madrugada, ficar em pé o dia todo esperando o freguês, enfrentar sol, frio e chuva. Cada feira é um desafio, um apelo para as vendas. O Museu de Bom Jardim nestes 150 anos de Emancipação Política registra a história da feira. Faz homenagem aos feirantes, produtores e todos os trabalhadores que fazem a história deste patrimônio imaterial. Reiteramos o incentivo a reflexão da vida real pensando no coletivo da nossa sociedade. Para onde caminha a feira de Bom Jardim? Existirá feira livre em Bom Jardim no futuro? Como será? Que produtos serão comercializados? Qual a origem desses produtos? Que tecnologia será utilizada para produzir os alimentos do futuro? Ainda existirá sítio, agricultor, laranja cravo, laranja bahia, manga espada, manga rosa, caju, jabuticaba, ingá, goiaba, araçá, sapoti, pitomba, carambola, abacate, galinha capoeira, carne bovina no açougue criada exclusivamente no pasto, farinha de mandioca caseira feita na comunidade? Os alimentos da terra serão produzidos com mais ou menos adubos químicos, fertilizantes industrializados? Haverá agroecologia? Haverá água no município de Bom Jardim? Que valor e reconhecimento serão dados aos feirantes? Essa história continua!

Assista também: Bom jardim 150 anos: Múltiplas leituras da nossa história. Parte 1. https://www.youtube.com/watch?v=oGwgU1Ck0gg&ab_channel=MuseudeBomJardim FICHA TÉCNICA Projeto Múltiplas Leituras de Bom Jardim - PARTE 2 Autor/Produtor Cultural: Edgar Severino dos Santos Cinegrafista/ Editor de Imagens: Akires Sabino Roteiro/Direção: Edgar Severino dos Santos Criação de Logo: Edgar Severino dos Santos/Rodrigo Lima Música: Saudade de Bom Jardim- Autora/ Intérprete: Teca Pessoa Bom Jardim, 19 de Julho 2021. Realização: Museu de Bom Jardim.

Assista também: Bom jardim 150 anos: Múltiplas leituras da nossa história. Parte 1. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=oGwgU1Ck0gg&ab_channel=MuseudeBomJardim

Professor Edgar Bom Jardim - PE

País regrediu 20 anos na educação com pandemia, diz secretário

O Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Maurício Cunha

O Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente defendeu a volta das crianças ao ensino presencial, sobretudo nas escolas públicas. Segundo Maurício Cunha, que é o entrevistado do programa Brasil em Pauta deste domingo (25), mais de 3 milhões de crianças brasileiras não tem acesso ao ensino remoto.

“Com a pandemia, regredimos 20 anos na educação brasileira”, disse ele. Além disso, fora da escola, essas crianças estão convivendo com problemas nutricionais (muitos tinham a merenda como única refeição do dia), psicológicos, de violência (os professores são uns dos principais denunciantes de violências domésticas praticadas contra crianças) e de socialização.  

O secretário disse, inclusive, que no retorno às aulas presenciais a equipe escolar deverá estar mais preocupada com o acolhimento dessas crianças do que com a administração de conteúdo didático. “Nesse momento o apelo é que as crianças tenham acesso à educação presencial de uma forma planejada, escalonada, respeitando os protocolos de saúde, respeitando as escolhas das famílias, mas que não se prive as crianças desse direito”, disse.
 

Na conversa, o secretário também abordou sobre os 31 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) comemorados neste mês. Segundo ele, o ECA foi um marco na legislação que trata desse público com a inauguração da doutrina da proteção integral, na qual a criança passa a ser vista como sujeito de direitos e não apenas objeto de intervenção.

O estatuto também trouxe o conceito da criança em especial situação de desenvolvimento: ela tem de ser protegida e amada. “A criança não é um pequeno adulto. Ela não tem de ser submetida às regras do mercado de trabalho. Ela tem de estudar, ser protegida e brincar. Temos de semear para que ela floresça na vida adulta”, disse.

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 24 de julho de 2021

O que cidades que já vivem racionamento revelam sobre futuro da crise da água



Represa vazia

CRÉDITO,AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARANÁ

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Baixo nível de represas que abastecem Curitiba tem limitado a oferta de água aos moradores

Com ao menos dois meses de período seco ainda pela frente, pelo menos oito cidades nas regiões Sul e Sudeste já estão limitando a oferta de água à população para lidar com a baixa dos reservatórios.

Estão sendo implantados esquemas de rodízio de água em Curitiba (PR), Santo Antônio do Sudoeste (PR), Pranchita (PR), Itu (SP), Salto (SP), São José do Rio Preto (SP), Bauru (SP) e Bagé (RS).

Em Curitiba, que está sob racionamento desde março de 2020, órgãos estaduais chegaram a contratar aviões para induzir precipitações sobre a cidade.

As medidas emergenciais são adotadas enquanto muitos reservatórios nas regiões Sul e Sudeste registram seus menores índices em várias décadas.

O quadro afeta tanto a distribuição de água quanto a produção de eletricidade, pois as hidrelétricas respondem por cerca de 60% da capacidade de geração do país.


Com os reservatórios das usinas também em baixa, o governo recorre a termelétricas, que são mais caras, elevando o preço da energia para os consumidores.

E o cenário tende a se agravar, já que o período chuvoso não costuma se iniciar antes de outubro.

Em maio, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta de emergência hídrica para a região hidrográfica da Bacia do Paraná entre junho e setembro de 2021.

A bacia abarca boa parte dos Estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, além do Distrito Federal.

Ações de curto e longo prazo

Várias cidades já têm adotado medidas pontuais para lidar com a crise — como obras em reservatórios e a busca por outras fontes de água.

Em Curitiba, a companhia paranaense de saneamento testou um método ainda pouco usado no Brasil.

Um avião passou a borrifar água em nuvens para induzir precipitações nos reservatórios da cidade. A empresa não informou se a estratégia teve sucesso.

Para Angelo Lima, secretário-executivo do Observatório da Governança das Águas — entidade formada por 60 instituições e 17 pesquisadores que acompanham a gestão hídrica no Brasil —, o cenário exige ações tanto emergenciais quanto de médio a longo prazo.

Ele diz que, no curto prazo, os órgãos que compõem o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, como os comitês de bacias hidrográficas, deveriam se reunir para debater soluções para a crise.

Imagens de satélite mostram a seca no Lago das Brisas

CRÉDITO,NASA

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Comparação mostra impacto da seca no Lago das Brisas (MG): a imagem à esquerda foi registrada em 12 de junho de 2019 e a imagem à direita, em 17 de junho deste ano

As medidas emergenciais, segundo Lima, devem garantir a oferta de água para a população e para a alimentação de animais — ações que devem ser priorizadas em situação de escassez, conforme determina a Lei das Águas, de 1997.

No entanto, no fim de junho, o governo federal publicou uma Medida Provisória (MP) que dá ao Ministério de Minas e Energia peso maior de decisão sobre as ações a serem tomadas para lidar com a crise hídrica.

A MP 1055 tem como fim "garantir a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético no país".

A medida criou um grupo interministerial, chefiado pelo Ministério de Minas e Energia, para coordenar a resposta do governo à crise.

Para Lima, ao colocar o Ministério de Minas e Energia na liderança do grupo, o governo sinaliza que priorizará a geração de eletricidade, o que pode prejudicar ainda mais o abastecimento da população.

Ele afirma que nem mesmo a Agência Nacional de Águas (ANA), órgão federal responsável por regular os serviços de abastecimento, foi colocada no grupo.

A composição do grupo pode ter cálculo eleitoral. Analistas consideram que um apagão no sistema elétrico brasileiro seria uma grande ameaça à candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição.

Lima afirma, porém, que o setor elétrico não aprendeu com crises anteriores e deixou de adotar medidas que poderiam atenuar a emergência atual, como aprimorar a rede de distribuição para reduzir as perdas de energia.

Em 2019, segundo um relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as perdas representaram 13,8% de toda energia consumida.

Metade das perdas se deveu a falhas técnicas, e a outra metade, a furtos (ligações clandestinas e desvios da rede).

O índice de perdas tem se mantido estável nas últimas décadas. Em 2008, segundo a ANEEL, as perdas respondiam por 13,6% da energia consumida.

Cataratas do Iguaçu

CRÉDITO,KARINE FELIPE/BBC

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As Cataratas do Iguaçu foram impactadas pela baixa vazão dos rios na Bacia do Paraná

Conflitos por água

Angelo Lima diz que também são necessárias medidas para garantir a oferta de água no médio e longo prazo.

Uma das ações prioritárias, segundo Lima, é zerar o desmatamento na Amazônia para assegurar a manutenção do fenômeno conhecido como "rios voadores".

O fenômeno se deve à àgua que as árvores da floresta bombeiam na atmosfera por meio da evapotranspiração. Segundo especialistas, parte dessa água se transforma em chuva e ajuda a irrigar o centro-sul do Brasil.

Conforme a floresta é derrubada, no entanto, os "rios voadores" escasseiam, reduzindo as chuvas ao sul do bioma.

Lima defende ainda a preservação das florestas no próprio centro-sul do país — neste caso, para garantir o bom funcionamento do sistema hídrico local.

Quando a floresta está preservada, diz ele, a água das chuvas tende a infiltrar no solo e a alcançar depósitos subterrâneos, os lençóis freáticos e aquíferos.

São esses depósitos que alimentam as nascentes dos rios durante o ano todo, inclusive no período seco.

Já quando a floresta é derrubada, e o solo fica desprotegido, a água tem mais dificuldade para penetrar no solo, o que dificulta a recarga dos depósitos e diminui a vazão dos rios na seca.

Outra ação importante, diz Lima, é despoluir rios e cuidar de suas margens para evitar assoreamento.

O caso de duas cidades hoje sob racionamento mostra como essas ações poderiam ter impactos benéficos.

Itu e Salto são atravessadas pelo Tietê, um dos maiores rios de São Paulo. Mas, como o rio chega às duas cidades poluído por dejetos despejados em sua maioria na Grande São Paulo, o aproveitamento das águas para o abastecimento público fica prejudicado.

Rio Tietê poluído em São Paulo

CRÉDITO,AGÊNCIA BRASIL

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Despoluição do rio Tietê, na Grande São Paulo, poderia atenuar falta de água em cidades ao longo de seu curso, como Itu e Salto

O que leva a outro ponto importante: para Lima, a gestão das águas (e dos rios) deve ser feita de modo integrado.

Cidades que poluem um rio prejudicam não só seus moradores, como também os que estão rio abaixo. Por isso todas as prefeituras deveriam se sentar à mesma mesa para discutir como gerenciá-lo, diz ele.

Lima afirma que já existem instâncias aptas a lidar com questões desse tipo e mediar conflitos por água: os comitês de bacias hidrográficas.

Os comitês reúnem representantes da comunidade e do poder público (inclusive prefeituras) para deliberar sobre a gestão das águas em cada bacia.

Porém, Lima afirma que muitas vezes faltam recursos para implantar as ações definidas pelos grupos.

"Acredito que a gente precisa discutir a garantia de um orçamento mínimo para esses órgãos, assim como já existe para a Saúde e a Educação", defende.

Também é importante, segundo ele, que a questão hídrica se torne uma agenda política permanente — e não só nos períodos de escassez.

Lima afirma que, se o país continuar a empurrar o problema com a barriga, os conflitos por água tendem a se agravar — especialmente à medida que as mudanças climáticas mudarem os padrões de chuvas no país, como previsto.

O número de conflitos já está em alta. Em 2020, segundo um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), havia 350 conflitos por água no país.

O número é quase cinco vezes maior do que em 2011 (68), quando o órgão começou a monitorar o tema.

  • João Fellet - 
  • Da BBC News Brasil em São Paulo


Professor Edgar Bom Jardim - PE