quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Papa Francisco cita "convulsão social e política" nas Américas em mensagem de Natal

Francisco faz benção natalina de sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano
Direito de imagemREUTERS
Image captionFrancisco faz benção natalina de sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano
Em sua benção natalina neste dia 25 de dezembro, em meio a uma série de mensagens políticas e uma menção a "muros de indiferença" enfrentados por migrantes, o papa Francisco pediu que o povo venezuelano "receba a ajuda que precisa".
O país latino-americano é alvo de embargos e sanções e vê indicadores sociais e econômicos despencarem em meio a uma disputa entre duas alas políticas opostas, representadas por Nicolás Maduro, de um lado, e Juan Guaidó, de outro.
"Que o menino de Belém traga esperança a todo o continente americano, onde várias nações estão passando por um período de convulsão social e política. Que ele encoraje o amado povo venezuelano, há muito tentado por suas tensões políticas e sociais, e garanta que eles recebam a ajuda de que precisam", afirmou.
A benção "urbi et orbi" ("para a cidade e para o mundo", em português) acontece duas vezes por ano - na Páscoa e no Natal. Em sua mensagem aos fiéis, o líder máximo da igreja católica também pediu orações pelos povos da Síria, do Líbano, do Iêmen, da República Democrática do Congo e da Ucrânia.
"Que Cristo leve sua luz às muitas crianças que sofrem em guerras e conflitos no Oriente Médio e em vários países do mundo", disse o papa a uma multidão na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Ele também fez menção à disputa de territórios entre israelenses e palestinos. "Que o Senhor Jesus traga luz à Terra Santa, onde nasceu como salvador da humanidade, e onde tantas pessoas - com dificuldades, mas sem desanimar - ainda aguardam um tempo de paz, segurança e prosperidade."
E pediu orações às vítimas de perseguição religiosa, "especialmente missionários e fiéis que foram seqüestrados", e às "vítimas de ataques de grupos extremistas, particularmente em Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria"

Migrantes

Os migrantes mais uma vez foram alvo de defesa e pedidos de orações pelo papa Francisco.
Em uma das frases mais fortes da benção, o católico disse que os mares e desertos atravessados pelos migrantes se transformam em "cemitérios".
Ele também se referiu a "muros de indiferença" como obstáculos aos homens e mulheres que deixam seus países em busca de segurança e oportunidades.
"Que o Filho de Deus desça à terra do céu, proteja e sustente todos aqueles que, devido a injustiças, são forçados a migrar na esperança de uma vida segura", afirmou.
"É a injustiça que os faz atravessar desertos e mares que se tornam cemitérios. É a injustiça que os obriga a viver formas indescritíveis de abuso, escravidão de todo tipo e tortura em campos de detenção desumanos".
Ele completou: "É a injustiça que os afasta de lugares onde eles podem ter esperança de uma vida digna, mas se vê diante de muros de indiferença".
Papa FranciscoDireito de imagemREUTERS
Image captionFrancisco faz benção 'urbi et orbi' (para a cidade e o mundo)

Missa do Galo

Horas antes, na noite de Natal, o papa liderou a Missa do Galo e disse que Deus ama a todos - "até os piores de nós".
"Você pode ter ideias equivocadas, pode ter feito um caos completo ... mas o Senhor continua a amar você", disse o pontífice.
O pronunciamento foi interpretado como uma referência aos escândalos da Igreja, incluindo abuso sexual.
Entre os presentes na missa, estavam crianças escolhidas de países como Venezuela, Iraque e Uganda.
Segundo o correspondente da BBC em Roma, Mark Lowen, foi um gesto claro em relação à situação de migrantes e vítimas de guerra, bem como o desejo de estender o alcance da Igreja à sua periferia.
Basílica de São Pedro (Vaticano)Direito de imagemREUTERS
Image captionBenção foi repleta de mensagens políticas

O que o Papa disse?

"O Natal nos lembra que Deus continua a amar todos nós, mesmo os piores de nós. Para mim, para você, para cada um de nós, ele diz hoje: 'Eu amo você e sempre amarei você, pois você é precioso aos meus olhos", disse o pontífice.
"Deus não ama você porque você pensa e age da maneira certa. Ele ama você, pura e simplesmente. Seu amor é incondicional; não depende de você".
E o Papa também aludiu aos abusos clericais e escândalos financeiros que afetam a Igreja.
"O que quer que dê errado em nossas vidas, o que não funciona na Igreja, quaisquer que sejam os problemas existentes no mundo, não servirão mais de desculpa".

Qual é o contexto?

De cidades australianas a escolas na Irlanda e cidades nos EUA, a Igreja Católica vem enfrentando uma série de acusações de abuso sexual infantil nas últimas décadas.
Casos de destaque e testemunhos contundentes de vítimas continuaram mantendo o assunto nas manchetes.
No mais recente deles, o cardeal George Pell foi condenado por abusar de dois garotos do coral em Melbourne em 1996. Pell era a principal figura da Igreja Católica na Austrália e havia sido tesoureiro do Vaticano - ou seja, ocupava o terceiro cargo mais poderoso da Santa Sé.
Na semana passada, o papa introduziu mudanças radicais para remover a regra do "sigilo pontifício" que permeou a questão do abuso de crianças clericais.
A Igreja anteriormente mantinha casos de abuso sexual em segredo, argumentando que se tratava de um esforço para proteger a privacidade das vítimas e a reputação dos acusados.
Mas novos documentos papais suspenderam restrições sobre aqueles que denunciam abusos ou dizem que foram vítimas.
O papa também mudou a definição de pornografia infantil do Vaticano, aumentando a idade de 14 ou menos para 18 ou menos.
Francisco enfrentou sérias pressões para liderar e gerar soluções viáveis para a crise, que tomou conta da Igreja nos últimos anos.
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Rússia anuncia sucesso em teste de internet 'desplugada' do resto do mundo


Vladimir Putin em eventoDireito de imagemREUTERS
Image captionO plano do governo de Putin é visto como uma maneira de a Rússia ter mais controle sobre a vida online
Rússia testou com sucesso a Runet, uma alternativa nacional à internet global, anunciou o governo do país.
Os detalhes divulgados sobre os testes são vagos, mas, de acordo com o Ministério das Comunicações, os usuários não notaram nenhuma alteração. Os resultados serão agora apresentados ao presidente Vladimir Putin.
Os especialistas continuam preocupados com a tendência de alguns países de criarem redes próprias desconectadas da internet global.
"Infelizmente, as medidas tomadas pela Rússia são apenas mais um passo no crescente desmembramento da internet", disse Alan Woodward, cientista da computação da Universidade de Surrey, no Reino Unido.
A internet é composta por milhares de redes digitais pelas quais a informação viaja. Essas redes estão conectadas por pontos de roteamento de dados - e eles são, sabidamente, o elo mais fraco desta cadeia.
O que a Rússia quer fazer é ter sob seu controle estes pontos pelos quais passam os dados que entram ou saem do país, de modo que possa bloquear o tráfego que vem de fora, se estiver sendo ameaçada - ou caso decida impedir o acesso a informações externas.
Isso permite criar um sistema de censura em massa semelhante ao que ocorre na China e no Irã, que tentam bloquear qualquer conteúdo considerado proibido.
"Cada vez mais, países autoritários que desejam controlar o que os cidadãos veem estão se espelhando no que Irã e China já fizeram. Isso significa que as pessoas não terão acesso ao diálogo sobre o que está acontecendo em seu próprio país, serão mantidas dentro de uma bolha", diz Woodward.

O que foi testado?

Pessoa digitando em computadorDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRússia quer ter sob seu controle os pontos pelos quais passem os dados que entram ou saem do país
A Rússia faz parte de um número crescente de nações insatisfeitas com uma internet construída e controlada pelo Ocidente. O país fala publicamente sobre uma "internet soberana" desde 2011.
No início deste ano, o país estabeleceu as mudanças técnicas necessárias e forneceu recursos para que as empresas as implementassem a fim de que a internet russa seja operada de forma independente.
Os testes previam que os provedores demonstrassem ser capazes de direcionar dados para pontos de roteamento controlados pelo governo e filtrar o tráfego para entre os cidadãos russos e para qualquer computador estrangeiro.
Agências de notícias locais noticiaram declarações do vice-ministro de Comunicações dizendo que os testes da Runet foram executados conforme o planejado.
"Os resultados mostraram que, em geral, tanto as autoridades quanto as operadoras de telecomunicações estão prontas para responder efetivamente a riscos e ameaças emergentes, para garantir o funcionamento estável da internet e da rede de telecomunicações unificada na Federação Russa", disse Alexey Sokolov.
A agência de notícias estatal Tass informou que os testes avaliaram a vulnerabilidade dos aparelhos ligados à internet e também testaram a capacidade da Runet de combater "influências negativas externas".

Como funcionará a Runet?

O uso da Runet significará que os dados enviados por cidadãos e organizações russas circularão apenas dentro do país, em vez de serem roteados internacionalmente.
A Rússia também está buscando desenvolver serviços de rede mais personalizados para seus cidadãos. A empresa anunciou planos para criar sua própria Wikipedia e aprovou uma lei que proíbe a venda de celulares que não possuem software russo pré-instalado.
Como a China, a Rússia espera criar serviços que sirvam de alternativas ao Google e Facebook a longo prazo.
"A ideia é que a internet na Rússia se interconecte com o resto do mundo apenas em alguns pontos específicos sobre os quais o governo possa exercer controle", disse Woodward.
"Isso efetivamente levaria os provedores de serviços de internet e as empresas de telecomunicações a operar dentro de uma intranet gigantesca."
BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Boas Festas, Feliz Natal!




Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Bolsonaro age para sufocar agricultura familiar e pequenos produtores

Encurralados. O pequeno agricultor perde renda e vira presa do grande. Foto Istockphoto
ENCURRALADOS. O PEQUENO AGRICULTOR PERDE RENDA E VIRA PRESA DO GRANDE. FOTO ISTOCKPHOTO

Cada vez mais desindustrializado, o Brasil está também à beira de um avanço sem precedentes da grande propriedade rural e da agricultura voltada para a exportação à custa do esmagamento da pequena propriedade, da agricultura familiar destinada à produção de alimentos para o mercado interno, da reforma agrária e dos movimentos dos sem-terra, tudo acompanhado de ameaças reais ao meio ambiente. O pacote de maldades está embalado em grande parte na Medida Provisória 910, da regularização fundiária, assinada na terça-feira 10 por Jair Bolsonaro, e um conjunto de leis e decretos editados desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. O País caminha agora, sob o comando do Palácio do Planalto e da bancada ruralista, para se transformar em uma imensa fazenda voltada de modo quase exclusivo para a exportação, concordam técnicos, economistas e políticos.

As mudanças feitas por meio da MP 910 ampliam e flexibilizam a regularização fundiária e dão maior concretude a duas grandes demandas estratégicas dos ruralistas contempladas pela lei. A primeira é facilitar e agilizar a transferência, para o mercado, do estoque de 88 milhões de hectares das terras da reforma agrária, que são públicas. A segunda é ‘passar a régua’ nas ocupações de terras da União, até o limite de 2,5 mil hectares, em todo o País, conforme definido pela Lei nº 13.465, pelo processo de autodeclaração de ocupações com áreas equivalentes a até 15 módulos fiscais”, resume o engenheiro agrônomo Gerson Teixeira, assessor parlamentar do PT na Câmara dos Deputados.
A ampliação de 4 para 15 módulos fiscais da extensão dos imóveis passíveis de legalização por simples autodeclaração dos requerentes significa que esse tipo de regularização, antes limitada a pequenas propriedades de até 440 hectares, agora é possível para áreas de até 1,5 mil hectares. O maior alcance das medidas se dará no território da Amazônia Legal, onde, ao legitimar terras ocupadas, tendem a prover segurança jurídica em relação à posse.
A Medida Provisória da regularização fundiária tende a intensificar o conflito agrário no País
E o que vai acontecer? “O proprietário pode dizer: esta terra é minha, e, como não há necessidade de comprovação de posse, ele pode se sobrepor a outras demandas no mesmo local, de áreas para demarcação indígena, de quilombolas, ou ainda de assentamentos. Ele, inclusive, pode declarar que é dele uma área com um acampamento de sem-terra. Imagine a situação explosiva no campo em relação à sobreposição, o conflito de interesses em uma mesma propriedade. Isso, somado à política de flexibilização do uso de armas no campo, nos faz temer que possa acontecer até um aumento de assassinatos no campo. É muito grave”, denuncia Kelli Mafort, da coordenação nacional do Movimento Sem Terra e doutora em Ciências Sociais pela Unesp. O MST reúne 450 mil das mais de 1 milhão de famílias assentadas no País e tem controle territorial de um total de 8 milhões de hectares de terras públicas.
A MP aumenta de maneira indevida e desmesurada o poder do latifúndio e isso asfixia as pequenas propriedades da agricultura familiar. “Eles utilizam uma prerrogativa do pequeno produtor e estendem, vão ampliando”, aponta Aristides Veras, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. “A ampliação do tamanho da propriedade passível de regularização só por autodeclaração é um problema. Fazer sem vistoria prévia é risco, inclusive, de deixar passar fazendas com situação análoga ao trabalho escravo, prática não encontrada nas pequenas propriedades. O Estado não pode abrir mão da vistoria, pois ninguém vai autodeclarar-se que escraviza alguém. Para piorar, suprimiram da lei o item que veta a regularização quando há a mencionada exploração de mão de obra em condição análoga ao trabalho escravo. A Contag apresentou ao Congresso emendas a essa Medida Provisória para corrigir esses e outros pontos”, afirma Veras.
GARCIA, DA UDR, NÃO TEM DO QUE RECLAMAR. FOTO: TÂNIA RÊGO/ABR
Há uma confluência de fatores favoráveis aos latifundiários e ao agronegócio e prejudiciais aos pequenos produtores e à agricultura familiar. A entrega de títulos aos assentados pela reforma agrária, apresentada pelo governo como algo positivo, combinada à política de dólar alto, que facilita as exportações do agronegócio, mas prejudica a agricultura familiar, além da redução dos programas governamentais de aquisição de alimentos, liberalização do uso de agrotóxicos em ritmo inédito, as limitações do crédito ao pequeno agricultor e o projeto que permite a compra de até 25% das áreas dos municípios, caracteriza “o maior ataque e a maior ameaça ao País”, analisa o economista Eduardo Moreira.
“Menos de 1% dos proprietários têm 50% das terras cultiváveis. Além disso, 0,05% têm 15% do total, enquanto 50% reúnem apenas 2%. Dez anos atrás, trabalhavam nas pequenas propriedades da agricultura familiar 3 em cada 4 brasileiros empregados no campo. Hoje são 2 em cada 3. Os pequenos agricultores diminuíram em 20% nos últimos anos as culturas temporárias que produzem alimentos, enquanto o número de latifúndios que produzem grãos e outros itens para exportação aumentaram em 45%”, descreve Moreira.
A porteira aberta ao latifúndio foi tratada, entretanto, como um avanço civilizatório pelo presidente e auxiliares. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, garantiu que as medidas representam o acerto de uma dívida de cem anos do Estado. O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, comparou o pacote a “um combo ambiental, fundiário e da libertação dos pequenos posseiros”.
LUTA DESIGUAL. O MST CORRE O RISCO DE SER EXCLUÍDO DE NOVOS ASSENTAMENTOS, ENQUANTO O AGRONEGÓCIO TERÁ MAIORES CHANCES DE ACUMULAR TERRAS NO BRASIL. FOTO: JÚLIA DOLCE
A ministra saudou a medida como a “libertação” dos assentados, que agora poderão se habilitar ao crédito rural dando a própria terra como garantia. “Trata-se mesmo de um ‘combo’, mas ele é composto de falácia, crueldade e manipulação”, acusa Teixeira. Primeiro, diz, os assentados têm acesso ao crédito rural com o risco assumido pelo Tesouro e que até agora funcionou normalmente. “Com as alterações feitas na Lei n° 11.952, a MP estabelece que as condições e a forma de pagamento serão previstas nos títulos de domínio e na concessão de direito real de uso, hipótese em que o imóvel será dado em garantia até a quitação integral do pagamento. A ministra não disse, entretanto, qual banco iria aceitar como garantia uma pequena gleba nessas condições. Além disso, ela sabe que, pelo artigo 5º da Constituição, a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva.”
Kelli Mafort acrescenta: “As medidas são um plano de entrega de terras públicas para proprietários muito ricos. Está organizado para seguir a regra daquilo que o secretário especial de assuntos fundiários do Ministério da Economia, Luiz Antonio Nabhan Garcia, por ser mais tosco, disse em público, que a regularização será por autodeclaração. Depois, a ministra Tereza Cristina e o próprio Bolsonaro douraram a pílula, afirmando que não se trata disso”. A adjetivação de Nabhan Garcia não parece descabida, a julgar pelo noticiário abundante a respeito de seu engajamento na formação de milícias armadas para intimidar trabalhadores rurais, projeto iniciado quando ele assumiu a presidência da União Democrática Ruralista, criada em 1985 para combater o MST.
Menos de 1% dos proprietários controlam 50% das terras agricultáveis. A concentração vai aumentar
“Essa MP demonstra que o governo não está preocupado em desapropriar nem 1 centímetro quadrado para fazer reforma agrária. Além disso, tentará capitalizar a possibilidade de obter titulação, um grande perigo para a reforma agrária, porque, sem as políticas de desapropriação e os programas de apoio aos assentamentos, essas terras podem voltar para o latifúndio. Com o abandono do programa de reforma agrária e a possibilidade de os posseiros receberem o título de propriedade, serão assediados pelo latifúndio. Esse é o significado, os territórios dos assentamentos poderão voltar ao mercado”, alerta o deputado petista Paulo Teixeira.
Segundo o deputado Ivan Valente, do PSOL, “essa é a MP da grilagem. Ao chegar ao poder, Bolsonaro e Ricardo Salles deram carta branca para o desmatamento de nossas florestas e para a escalada de grileiros sobre terras públicas. Após o avanço de sua horda de bárbaros, o presidente agora tenta legitimar a propriedade da terra ocupada a partir da derrubada de nossas florestas e do assassinato de lideranças indígenas. Com essa Medida Provisória, Bolsonaro legitima o desmatamento e a violência, impulsionando ainda mais a catástrofe ambiental empreendida por seu governo.”
PERSPECTIVA. ONDE SE INSTALA A GRILAGEM, A MINISTRA DA AGRICULTURA, TEREZA CRISTINA, ENXERGA UM AVANÇO CIVILIZATÓRIO. FOTO: MARCELO CAMARGO/ABR
A deputada Maria Perpétua de Almeida, do PCdoB do Acre, diz que a Medida Provisória regulariza até 2014. “Há, entretanto, muitas invasões mais recentes”, afirma. “Não estou me referindo às realizadas por pobres, porque, quando elas tomam a menor iniciativa nesse sentido, a polícia chega e a Justiça manda retirar, mas às cometidas por aqueles mais espertos, os grileiros, que contratam gente e vão para cima. Se o governo queria mesmo resolver o problema e regularizar, por que não começar por terras improdutivas? Por que não chama os movimentos organizados dos sem-terra e dos sem-teto que há anos lutam pela regularização dos locais em que vivem? Porque, da forma como está fazendo, premia o grileiro, aquele que invadiu ou incentivou a invasão. Acho muito perigoso isso. O governo Bolsonaro, se tiver mais três anos pela frente, e se até o fim dele ocorrerem mais invasões, aí ele vai premiar de novo?”
Gerson Teixeira concorda: “A extensão da data de corte das ocupações habilitadas ao programa de regularização, anterior à posição de 22 de julho de 2008 para 5 de maio de 2014, representa um estímulo objetivo à continuidade da grilagem das terras da União. Bastará uma ‘forcinha’ por parte da bancada ruralista, o que nem é necessário no atual governo, para que em pouco tempo outro ato passe a reconhecer a ‘legitimidade’ das ocupações ainda mais recentes”.
“As medidas são um plano de entrega de terras públicas para proprietários muito ricos”, diz Kelli Mafort, do MST
A mudança que ocorre na reforma agrária é dramática, prossegue Teixeira. Primeiro, conta o especialista, o governo manda emancipar, sair da tutela do Estado, os assentamentos que completaram 15 anos em 2017. Com isso, milhões de hectares vão para o mercado, pois a maior parte jamais recebeu um crédito de instalação, não tem infraestrutura, os agricultores que lá estão não têm a menor condição de mantê-los. O objetivo seria atender a uma demanda dos ruralistas, de privatizar os domínios. Não só. Existem dois instrumentos na reforma agrária para ceder a terra, um deles é o título definitivo, o outro é a concessão do direito real de uso. Neste caso, ele usufrui da área pelo resto da vida, passa aos descendentes, tem acesso ao crédito, mas permanece como bem público e ele não pode vender. Essa alternativa o governo eliminou, transformou tudo em título definitivo. Com título definitivo é possível comercializar.
“É a contrarreforma agrária”, destaca o assessor parlamentar. “Quase todos os assentamentos têm 15 anos e mais de 90% deles irão agora para o mercado. Atende a uma grande demanda da bancada ruralista, desde muito tempo atrás, pelas áreas públicas da reforma agrária, por redução das terras indígenas e pelo fim das unidades de conservação. Eles querem terra, sempre mais terra.”
Além disso, o governo e os latifundiários tentam acertar um golpe fatal no MST com a mudança dos critérios de pontuação para selecionar os beneficiários da reforma agrária. O sistema de pontos corresponde a vários critérios, entre eles quem mora no assentamento e se tem família mais numerosa. Um dos requisitos que pontuavam era estar acampado no local. Os sem-terra nessa condição praticamente desapareceram nas novas regras de pontuação. Esta foi a forma encontrada para banir da reforma agrária aqueles que estão na luta pela terra organizada pelo MST e outros movimentos, que perderão pontos e não terão acesso a propriedades. Um sonho para os latifundiários.
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Prefeitura do Recife cria restaurante para atender pessoas carentes



Inauguração do Restaurante Popular, no bairro de Santo Amaro
Inauguração do Restaurante Popular, no bairro de Santo AmaroFoto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco
Um Restaurante Popular destinado ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade foi inaugurado na manhã desta segunda-feira- (23) no bairro de Santo Amaro, Zona Central do Recife. A criação do espaço faz parte do Programa Chegando Junto da Prefeitura do Recife. Batizado em homenagem a Naíde Teodósio, médica natural de Sirinhaém, na Zona da Mata Sul pernambucana, e referência na área de nutrição e fisiologia, o restaurante vai oferecer diariamente 750 almoços gratuitos a partir desta terça-feira (24). 
Primeiro da capital pernambucana oferecido pela prefeitura, o restaurante atenderá a população em situação de rua que estiver acompanhada e cadastrada pelos serviços de assistência social oferecido pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife será atendida todos os dias das 11h às 14h - o cadastro pode ser feito nos Centros Pop - serviço oferecido às pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência - localizados na Rua Bernardo Guimarães, nº 135, em Santo Amaro, e na Rua Dr. João Coimbra, nº 66, na Madalena.

“Com a inauguração deste restaurante estamos fazemos história. Em meio à situação de fome que o país vive, vamos oferecer a quem precisa um prato de comida em um espaço humanizado, que tem o colorido da nossa cultura”, afirmou o prefeito Geraldo Julio.

Na sexta-feira (27), uma segunda unidade do restaurante popular será inaugurada no Recife. De acordo com a Prefeitura , foram gastos na construção e montagem dos dois espaços cerca de quatro milhões de reais.
Uma das responsáveis pela criação do programa, a secretária de Desenvolvimento Social e direitos humanos, Ana Rita Suassuna , destacou a importância do espaço. “Esse restaurante serve para trazer dignidade e a segurança alimentar para o morador de rua da cidade do Recife. Sabemos que o país está vivendo uma situação de desemprego muito grande e a população em situação de rua tem dificuldade em acessar isso", afirmou, informando que dois dos sete trabalhadores do local já viveram nas ruas.
Natural de Porto Alegre (RS), Emerson Kirst de Moraes, 50, é um exemplo de umas das pessoas que já estiveram em situação de vulnerabilidade e hoje faz parte da equipe que servirá os almoços. “Me mudei para Recife em busca de trabalho, mas não consegui e acabei tendo que ir parar nas ruas. Porém, fui acolhido pelo Centro Pop do Glória, fui encaminhado para o auxílio-aluguel, pude alugar um canto para ficar e conheci o responsável pelo almoço que será servido”. "É muito gratificante agora poder servir para eles uma almoço que muitas vezes me faltou. Vai ser um prato que sustentará pelo menos na hora do almoço e bem generoso para que todos saiam daqui bem alimentados”, concluiu Emerson.  

Com Informação de Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 22 de dezembro de 2019

As histórias se cruzam



Minha história tem singularidades. Nem tudo me toca, mas há coisas que batem nas agonias do mundo. Reações diferentes, amores desiguais, afetos fluentes giram em torno de momentos que passam com ritmos diferentes. O mundo é vasto e a heterogeneidade é imensa. Há estranhamentos. Quem já escutou notícias de intrigas sem soluções? A quantidade de ressentimentos cresce com a política fervendo ambições e mascarando interesses mesquinhos. Vivo minha história com certas dores e surpresas, porém não posso me isolar. As solidariedades aparecem, como também as invejas e antipatias. Confusões cotidianas.
As expectativas nunca estão ausentes. Não pense que controla as emoções e solta suas vaidades como um deus delirante. A história brinca com os tempos, não se resume a um calendário definido. Não se esconda, sacuda a poeira e inquiete suas verdades. Suas singularidades trazem seguranças e guardam temores. Portanto, o reino da ambiguidade existe desde Adão e Eva, mesmo que as teorias freudianas procurem decifrar as inúmeras ansiedades que nos cercam, A humanidade não sossega, no entanto segue questões que abalam sua paciência. Os espaços das esquizofrenias é perene.
Esperar uma história que converse com as utopias, sem acasos, é uma ilusão. Há pessoas que entram no meu coração e outras cheias de armaduras. Não me afasto dos espantos, nem amo todos os perdões. Observo os desfazeres, não deixo de olhar fantasmas , navego por mares sombrios. Não tento desenhar o mapa da história, nem conhecer a extensão de seus abismos. Há instantes medonhos e o paraíso é sempre um sonho. Estamos arrumando objetos que surgem no meio do caminho e expulsando medos que atrapalham o riso descompromissado.
Não abandone suas singularidades e analise os entrelaçamentos. Os outros estão pertos. Alguns tentam perturbar e diminuir os aconchegos. É isso. Não há muito o que dizer e o ciclo das palavras habita todos os escritos. Não o trate com despreze. Converse, risque, conte. O tamanho do que se vive não possui exatidão. Há desgraças ou horizontes repletos de luzes. Não se abrace com as pretensões. A história é sucessão e descontinuidade. A porta pode estar solta e a casa vazia. Não cabe traçar a arquitetura dos apocalipses. Despertença-se.
Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Menina encontra pedido de ajuda de trabalhador chinês em cartão de Natal


Florence Widdicombe
Image captionFlorence Widdicombe, de seis anos, diz que encontrar a mensagem a deixou chocada
A rede de supermercado Tesco suspendeu a produção de cartões de Natal em uma fábrica na China depois que uma menina de seis anos encontrou uma mensagem escrita em um deles.
O recado, encontrado por Florence Widdicombe, foi supostamente escrito por prisioneiros em Xangai, e dizia que eles haviam sido "forçados a trabalhar".
"Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos", dizia a mensagem.
A Tesco disse que ficou "chocada" com a notícia, acrescentando: "Nós nunca permitiríamos o trabalho forçado em nossa cadeia".
O supermercado disse que retiraria da lista de fornecedores dos cartões a Zheijiang Yunguang Printing, caso fosse constatado que eles usam trabalho de detentos.
Florence estava escrevendo cartões para seus amigos da escola quando descobriu que um deles - que tinha o desenho um gatinho com um chapéu de Papai Noel - já havia sido escrito.
The card opened by Florence Widdicombe
Image captionO conjunto de cartões custava £1.50,
Em letras maiúsculas, dizia: "Somos prisioneiros estrangeiros na prisão de Xangai Qingpu, na China. Somos forçados a trabalhar contra a nossa vontade. Por favor, ajude-nos e notifique uma organização de direitos humanos".
O bilhete pedia que quem encontrasse a mensagem entrasse em contato com Peter Humphrey, um jornalista britânico que foi preso lá quatro anos atrás.
Florence, que é de Tooting, no sul de Londres, disse à BBC News que estava escrevendo seu "sétimo ou oitavo cartão" quando viu "que alguém já havia escrito nele".
"Fiquei chocada", disse ela, acrescentando que, quando lhe foi explicado o que a mensagem significava, ela se sentiu "triste".
O pai dela, Ben Widdicombe, disse que primeiro sentiu "incredulidade" ao descobrir a mensagem, acrescentando que primeiro pensou que era "algum tipo de brincadeira".
"Mas, refletindo, percebemos que era algo potencialmente sério", disse ele. "Fiquei muito chocado, mas também senti a responsabilidade de passar o recado para Peter Humphrey, como o autor me pediu."
Ele disse: "Uma coisa dessas te afeta. Existem injustiças no mundo e existem pessoas em situações difíceis, e sabemos disso e lemos sobre isso todos os dias. Mas algo nesse episódio me afetou muito, especialmente por ter acontecido no Natal, o que realmente torna tudo muito comovente".
Ele acrescentou: "Poderia ter ido parar em qualquer lugar. Na nossa casa temos muitos cartões que, como em todas as famílias, sobram, ficam em uma gaveta, esquecidas. Há um elemento incrível de sorte em tudo isso: o cartão foi escrito, chegou até nós e o abrimos".
Uma porta-voz da Tesco disse: "Ficamos chocados com essas alegações e imediatamente interrompemos a produção na fábrica onde esses cartões são produzidos e iniciamos uma investigação".
O supermercado afirmou ter um sistema de fiscalização para garantir que os fornecedores não explorem o trabalho forçado.
A fábrica em questão foi verificada no mês passado e não foram encontradas evidências de que ela viole a proibição do trabalho nas prisões, disse o documento.
As vendas de cartões de Natal nos supermercados da empresa arrecadam 300.000 libras por ano para as instituições de caridade British Heart Foundation, a Cancer Research UK e a Diabetes UK.
O varejista não recebeu outras reclamações de clientes sobre mensagens nos cartões de Natal.

'Vida difícil'

A mensagem no cartão instava o destinatário a entrar em contato com Peter Humphrey, que esteve preso em Qingpu pelo que descreveu como "acusações falsas que nunca foram ouvidas num tribunal".
Depois que a família Widdicombe enviou a ele uma mensagem via Linkedin, Humphrey disse que entrou em contato com ex-prisioneiros que confirmaram que os presos foram forçados a trabalhar.
Ele então escreveu uma matéria para o jornal britânico Sunday Times.
Humphrey disse à BBC: "Passei dois anos em cativeiro em Xangai entre 2013 e 2015 e meus nove meses finais foram nesta mesma prisão, neste mesmo bloco de celas de onde esta mensagem veio, então isso foi escrito por alguns dos meus colegas daquele período que ainda estão lá cumprindo sentenças".
Peter Humphrey
Image captionPeter Humphrey deixou a prisão há quatro anos
"Tenho certeza de que foi escrito como uma mensagem coletiva. Obviamente, uma única mão escreveu, e acho que sei quem era, mas nunca divulgarei esse nome."
Ele disse que o bloco de celas de prisioneiros estrangeiros tem cerca de 250 pessoas, que vivem um "cotidiano muito sombrio", com 12 prisioneiros por cela.
"Eles dormem em beliches de ferro muito enferrujadas e com um colchão de cerca de 1 cm de espessura por baixo", disse ele.
"No inverno é extremamente frio, não há aquecimento no prédio e no verão é extremamente quente porque não há ar-condicionado. Eles acordam por volta das 5: 30-6: 00 da manhã todos os dias e têm que ir para a cama novamente por volta das 9h30."
Ele disse que quando estava lá, o trabalho era voluntário - para ganhar dinheiro para comprar sabão ou pasta de dente -, mas agora se tornou obrigatório.
"Todos que eu conheci estavam lá por razões muito questionáveis", disse ele. "Eu conheci muitas pessoas que considerava vítimas de prisão injusta ou pelo menos sentenças imprudentes por pequenos delitos."
Um preso estrangeiro seca roupas na prisão de Shanghai Qingpu em 2006Direito de imagemCHINA PHOTOS/GETTY IMAGES
Image captionUm preso estrangeiro seca roupas na prisão de Xangai Qingpu em 2006
Humphrey disse acreditar que aqueles que escreveram o recado "sabiam muito bem quais riscos estavam correndo e estavam preparados para corrê-los".
"Eles sabem muito bem que, se forem pegos, serão punidos. Eles podem ser punidos, por exemplo, perdendo alguns pontos de mérito, tendo algum tipo de privação de alimentos, sendo enviados para confinamento solitário por um mês ou algo assim."
Humphrey também disse que a censura na prisão aumentou, interrompendo seus métodos habituais de entrar em contato com prisioneiros que conheceu antes de sua libertação em 2015.
"Eles recorreram ao equivalente Qingpu de uma mensagem em uma garrafa, rabiscada em um cartão de Natal da Tesco", disse ele.
Não é a primeira vez que prisioneiros na China contrabandearam mensagens de produtos que foram forçados a produzir para os mercados ocidentais.
Em 2012, Julie Keith, de Portland, Oregon, descobriu um relato de tortura e perseguição feito por um prisioneiro que disse que foi forçado a fabricar os objetos de decoração de Halloween que ela havia comprado.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE