quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Um ano após reclamar que China 'compraria o Brasil', Bolsonaro quer vender estatais e commodities em visita a Xi Jinping


Retrato de Xi Jinping durante comemoração, em 1º de outubro, dos 70 anos da República Popular da ChinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRetrato de Xi Jinping durante comemoração, em 1º de outubro, dos 70 anos da República Popular da China; Brasil busca no país interessados em comprar estatais
O presidente Jair Bolsonaro chega nesta quarta-feira (23/10) ao momento mais importante de sua viagem pela Ásia e pelo Oriente Médio com o desafio de avançar em três grandes objetivos econômicos, ao mesmo tempo em que tenta minimizar obstáculos políticos e ideológicos que surgiram após sua posse.
Em sua estreia em solo chinês, o brasileiro aposta no eixo-chave do maior projeto de investimentos de seu governo: encontrar empresários dispostos a comprar estatais em processo de privatização, como a Eletrobras, os Correios e setores da Petrobras. Também quer mostrar um Brasil mais disposto do que nunca a vender soja, carne, petróleo e minério de ferro ao gigante asiático.
Por fim, busca convencer megainvestidores a construirem ferrovias, estradas, portos e usinas de energia na expectativa de destravar a economia brasileira, estacionada em problemas históricos de infraestrutura.
O cliente é um velho conhecido. Há 10 anos, a China é o principal parceiro comercial do Brasil no mundo. A relação entre os dois países vem se aprimorando com o passar do tempo: em 2018, a soma das importações e exportações entre os dois países alcançou um recorde inédito na América Latina — US$ 98,9 bilhões, ou quase R$ 400 bilhões, sinalizando um ápice na relação bilateral.
Mas o governo brasileiro também colocou pedras no caminho para atingir suas próprias metas
Há um ano, em outubro de 2018, Bolsonaro, ainda candidato à Presidência, subiu o tom contra o país asiático e ganhou manchetes no mundo inteiro ao dizer: "A China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil".
Cinco meses depois, em aula magna a formandos do Itamaraty, o chanceler bolsonarista Ernesto Araújo disse a diplomatas que o Brasil não iria "vender sua alma" para "exportar minério de ferro e soja" para a China comunista.
O cenário nesta semana é o oposto. Prestes a encontrar o presidente chinês, Xi Jinping, na capital do país com o maior Partido Comunista do planeta, o líder brasileiro tenta aproveitar o vácuo aberto pela guerra comercial entre China e EUA para ampliar ao máximo seus negócios com os chineses.
Em meio a tantos altos e baixos, quais devem ser os resultados práticos da visita e como os chineses reagirão à reaproximação bolsonarista? Que impactos ela pode ter na relação amistosa entre o brasileiro e o presidente americano, Donald Trump? E por que os brasileiros exportam apenas commodities a um dos mercado consumidores mais ávidos por produtos industrializados em todo o planeta?
Chineses na Praça da Paz CelestialDireito de imagemREUTERS
Image captionBolsonaro visitará capital chinesa em meio a giro pela Ásia e pelo Oriente Médio

Choque de realidade

A viagem é descrita por representantes do mercado, da academia e da diplomacia ouvidos pela BBC News Brasil na China como "controle de danos", "choque de realidade" e "correção entre o discurso eleitoral e o de governo".
"A gente passou por atritos profundos na relação bilateral durante a campanha eleitoral", avalia Tulio Cariello, coordenador do Conselho Empresarial Brasil-China, que reúne as principais empresas brasileiras do setor. "As frases polêmicas do governo não faziam o menor sentido por uma razão muito simples: a relação entre Brasil e China é hoje essencialmente econômica, e não política."
As exportações brasileiras para a China são compostas principalmente por produtos básicos, sem valor agregado. A soja ocupa o topo da lista, com 35% das exportações, seguida por óleos brutos de petróleo (24%) e minério de ferro (21%).
Do outro lado, segundo o Itamaraty, as importações brasileiras de produtos chineses "correspondem, em sua quase totalidade, a produtos manufaturados" — a maioria é formada por componentes elétricos e bens de consumo.
Representando o lado chinês, o especialista em infraestrutura Jesse Guimarães, diretor de uma das maiores multinacionais chinesas de construção pesada, classifica a viagem como uma oportunidade de "destravar mais de 200 projetos de projetos de infraestrutura apresentados pelo governo Bolsonaro para empresários chineses" e "aproveitar um momento recorde de otimismo no empresariado asiático com o Brasil".
Segundo Guimarães, que participou de reuniões em Pequim entre politicos chineses e o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, em maio deste ano, os principais projetos oferecidos pelos brasileiros se referem a aeroportos, ferrovias e portos. Eles estão em fase de finalização até que as concessões sejam oferecidas por meio de concorrências.
Para a professora Karin Vazquez, chefe do Centro de Estudos dos BRICS da Universidade Fudan, em Xangai, o presidente brasileiro desembarca na China após sofrer um "choque de realidade" posterior às eleições.
"Há uma diferença normal entre o discurso eleitoral e o de governo. O eleitoral usa um apelo popular, exageros, uma retórica para ganhar um eleitorado que não conhece a China ou o comércio internacional. É o que ganha voto", explica.
Bolsonaro durante visita ao Japão, em turnê pela ÁsiaDireito de imagemJOSÉ DIAS/PR
Image captionBolsonaro durante visita ao Japão, em turnê pela Ásia; em campanha, ele chegou a dizer que 'a China não compra no Brasil. A China está comprando o Brasil'
"Depois que assume, o presidente é imediatamente pressionado pelo lobby do agronegócio, pelas confederações de industria. Ele se dá conta que quase 30% da pauta de exportações se refere à China. E percebe que não fazer negócios com chineses em 2019 é inconcebível para qualquer país", prossegue.
A China é o principal destino das exportações brasileiras em todo o planeta. De janeiro a setembro de 2019, 27,6% do total das exportações brasileiras foram para o país asiático. No mesmo período, a China também ocupou o primeiro lugar entre os países de origem das importações brasileiras, com 19,9% do total das importações brasileiras.
Favorável ao Brasil há 10 anos, o superávit entre os dois países saltou de US$ 11,8 bilhões para US$ 29,5 bilhões entre 2016 e 2018, de acordo com dados oficiais.

'China quer namorar o Brasil'

O pragmatismo com que os chineses são conhecidos no mundo dos negócios fala mais alto que qualquer sentimento de rancor ou desconfiança, na opinião dos entrevistados.
"O chinês sempre observa calmamente o que acontece antes de fazer qualquer movimento. Eles não agem por emoção ou impulso, como fez Bolsonaro", diz Eduardo Ponticelli, um empresário brasileiro que vive há 12 anos na China intermediando importações de produtos brasileiros e exportações para o Brasil.
A visita do vice-presidente Mourão ao país, em maio, trouxe tranquilidade aos chineses, segundo diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil em condição de anonimato.
"Mourão acabou apertando as mãos e acalmando Xi Jinping em pessoa, meses antes do chefe de Estado chinês encontrar o presidente brasileiro", lembra um membro do Itamaraty. "É um protocolo torto, mas mostrou que o governo brasileiro não pensa daquela maneira."
Para Ponticelli, a experiência de Mourão e o prestígio do ministro Paulo Guedes (Economia) desfizeram qualquer má impressão.
"Hoje, o que ouço dos chineses é que a China quer namorar o Brasil e roubá-lo do Trump", brinca.
O comentário surge em meio à guerra comercial travada entre Washington e Pequim - um dos principais impulsionadores do recorde nas trocas comerciais registrada no ano passado entre chineses e brasileiros.
Xi JinpingDireito de imagemREUTERS
Image captionEncontro de Bolsonaro com Xi Jinping é descrito por representantes do mercado, da academia e da diplomacia como tentativa de 'correção entre o discurso eleitoral e o de governo'
"No curto prazo, os ganhos foram significativos principalmente no agronegócio e no mercado de soja", lembra o doutor em ciência política Mauricio Santoro, especialista em relações Brasil-China e professor do Departamento de Relações Internacionais da UERJ.
"Mas a guerra comercial cria uma instabilidade grande no sistema multilateral de comércio, cria desrespeito a regras da OMS, aumenta o protecionismo."
Chineses e americanos sinalizam uma possível trégua por meio de um novo acordo comercial — que traria dor de cabeça aos brasileiros. "Em uma situação de acordo, o Brasil perde, porque chineses vão precisar comprar mais produtos agrícolas dos americanos", diz Santoro.
Hoje, além de principal parceiro comercial, segundo o Banco Central, a China é o 9º maior investidor no Brasil. Os recursos chineses são destinados principalmente a energia (geração e transmissão, além de petróleo e gás) e infraestrutura (portuária e ferroviária), de acordo com o Ministério da Economia.

Honraria máxima a um Chefe de Estado

A estrutura organizada pelo governo chinês para receber o líder brasileiro mostra que não parece haver ressentimentos sobre os comentários de Bolsonaro na eleição.
Na tarde de sexta-feira (horário chinês), Bolsonaro será recebido no Grande Palácio do Povo pelo presidente Xi JinPing, pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, e pelo Presidente da Assembleia Popular da China, Li Zhanshu.
À noite, Xi Jinping oferece jantar ao presidente brasileiro junto aos principais CEOs chineses — entre os quais, especula-se, o magnata Jack Ma, fundador do império de vendas online AliBaba.
Além dos encontros com as autoridades chinesas, Bolsonaro também participa de um jantar organizado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, com empresários brasileiros que fazem negócios com a China.
"Se compararmos essa viagem com a abertura da Assembleia-Geral da ONU, veremos outro Bolsonaro. Nas Nações Unidas, ele mostrou seu lado mais extremo, com a retórica antiglobalista e um nacionalista extremado que não reconhece preocupações globais, como meio ambiente. Na China, ele vai se comportar de forma mais trivial, cordial, o que já é um ganho para o Brasil", avalia Mauricio Santoro, da UERJ.
Mas, junto a toda a cordialidade do encontro, obstáculos politicos podem dificultar a lua de mel econômica entre os presidentes.
Navio de mercadorias em porto chinêsDireito de imagemAFP
Image captionA China é o principal destino das exportações brasileiras em todo o planeta

Nova Rota da Seda

Avaliado como o maior projeto de política externa da China em 40 anos, a Nova Rota da Seda é um mega programa de investimentos em infraestrutura que deve movimentar mais de 1 trilhão de dólares vindos da China em mais de 70 países com a construção de portos, ferrovias, estradas, gasodutos e oleodutos.
O objetivo chinês é expandir o acesso de seus produtos a outros mercados, ao mesmo tempo em que multiplica a presença de suas multinacionais ao redor do mundo e amplia seu acesso a recursos naturais escassos em seu território.
O projeto, que inicialmente se concentrava na Ásia e na África, se expandiu para a América Latina, onde já tem a adesão de 19 países — o principal deles é o Chile, somado a economias menores no Caribe e na América Central.
A adesão formal de uma economia forte como a brasileira ao projeto seria uma enorme vitória política para os chineses e é um dos principais esforços da diplomacia de Pequim no momento.
O problema, no entanto, é a reação que isso causaria em Washington.
"O discurso do Brasil é de querer estes investimentos, mas pelo Programa de Parceria de Investimentos (PPI), e não pela Rota da Seda", explica Santoro.
"O Brasil quer evitar o ônus político na sua relação com os EUA. É uma preocupação legítima. Apoiar o projeto chinês é se posicionar diante de uma disputa comercial intensa entre o país asiático e Donald Trump, que é um parceiro-chave do Brasil neste momento", diz.
Para a professora Karin Vazquez, o Brasil precisaria de contrapartidas fortes para aderir ao projeto.
"Traria um ganho político imenso para a China, na medida em que a China tenta aumentar seu 'foot print' na América Latina. Mas, do lado do Brasil, não me parecem claras as vantagens para um país que já atrai investimentos do tipo há décadas e já é uma das maiores economias do continente."
Tulio Cariello, do Conselho Empresarial Brasil-China, concorda. "Uma eventual assinatura teria efeito mais político do que econômico. A vantagem teria que estar muito clara para o Brasil embarcar", afirma.
Trump e Bolsonaro na ONUDireito de imagemALAN SANTOS/PR
Image caption'Apoiar o projeto chinês é se posicionar diante de uma disputa comercial intensa entre o país asiático e Donald Trump, que é um parceiro-chave do Brasil neste momento'

Commodities, burocracia e o mercado consumidor chinês

Nos últimos anos, o governo chinês tem investido pesado na expansão da importância do consumo no seu PIB.
De 1978, com o processo de abertura da economia chinesa, até hoje, o PIB do país cresceu 172 vezes.
O analfabetismo, que alcançava 80% da população, hoje se aproxima de zero. A expectativa de vida saltou de 35 anos para 75.
Com isso, uma nova classe média, mais conectada aos costumes do ocidente e ávida por consumo, se consolidou no país.
"Muitos politicos e empresários no Brasil têm uma visão da China pré-revolução, ou o país que produzia artigos baratos e de baixa qualidade. É uma visão muito estigmatizada e antiga, que faz com o que o Brasil não aproveite as maiores oportunidades desse mercado", avalia a professora Vazquez.
"Estamos falando sobre um país que desenvolveu uma lua artificial para oferecer energia, que criou o trem-bala mais rápido do mundo, que lidera a quarta revolução industrial, pautada por tecnologia de ponta, cidades inteligentes, big data, ciber-segurança", diz.
Mas por que o Brasil não exporta produtos industrializados para essa sociedade em ebulição?
O caso do café oferece respostas interessantes.
"O Brasil é o maior exportador mundial de café bruto. Pela primeira vez na história, os chineses, tradicionais consumidores de chá, estão se tornando grandes bebedores de café. O mercado está crescendo a quase 40% ao ano. Seria ótimo para o Brasil", conta Mauricio Santoro.
O jovem chinês, no entanto, não procura o café ensacado tradicional do supermercado, mas variedades "gourmet".
"Este não é o café brasileiro. É um café com forte valor agregado em marketing. Um café para um consumidor que está ficando mais refinado, mais rico. O Brasil poderia entrar nesse mercado, mas ainda não associa seus produtos a esta imagem e acabamos ficando presos às matérias-primas,"
Do outro lado, os chineses reclamam da dificuldade de investir no Brasil — principalmente a burocracia estatal.
"O ICMS é um bom exemplo. Os chineses reclamam muito porque há uma regra diferente para cada Estado. No final das contas, são várias regras diferentes para pagamentos de impostos e isso dificulta muito o trabalho", diz Santoro.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 22 de outubro de 2019

De Hong Kong ao Chile, o que há em comum na nova onda de protestos em escala global



Três fotos de manifestantes no Chile, Hong Kong e LíbanoDireito de imagemAFP/GETTY/REUTERS
Image captionProtestos no Chile, em Hong Kong e no Líbano
Nas últimas semanas, o mundo assistiu à escalada de uma onda de protestos indo de Hong Kong ao Chile, passando por Líbano, Equador e outros países.
Eles são diferentes — com causas, métodos e objetivos distintos —, mas existem temas comuns que os conectam.
Com milhares de quilômetros de distância entre eles, os protestos começaram por razões semelhantes em vários locais, e alguns se inspiraram em outros em relação a como organizar e promover seus objetivos.
A seguir, a reportagem aponta os principais temas que estão em jogo e o que eles têm em comum.

Desigualdade

Muitos dos que protestam são pessoas que há muito tempo se sentem excluídas da riqueza de seu país. Em vários casos, um aumento em preços de serviços básicos foi a gota d'água.
No Equador, as manifestações começaram quando o governo decidiu eliminar os subsídios a combustíveis para conter o déficit fiscal. As medidas de austeridade foram implementadas pelo presidente Lenín Moreno com apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A mudança levou a um forte aumento nos preços da gasolina, que muitos disseram que não podiam pagar. Os grupos indígenas temiam que a medida resultasse em aumento dos custos de transporte público e da alimentação, e disseram que as comunidades rurais seriam as mais atingidas.
Os manifestantes bloquearam estradas, invadiram o Parlamento e entraram em conflito com as forças de segurança, exigindo o fim das medidas de austeridade e o retorno dos subsídios aos combustíveis. Para colocar fim nos protestos, o governo recuou após dias de manifestações.
Protestos em Quito: incêndios e confrontos
No Chile, foi uma alta nos preços dos transportes que provocou protestos. O governo disse que os custos mais altos de energia e uma moeda mais fraca levaram à decisão de aumentar as tarifas de ônibus e metrô. Os manifestantes, no entanto, disseram que a medida foi mais uma a pressionar a população mais pobre.
Quando os manifestantes entraram em conflito com as forças de segurança na noite de sexta-feira (18/10), o presidente Sebastián Piñera foi fotografado jantando em um restaurante italiano de luxo — um sinal, disseram alguns, do abismo entre a elite política do Chile e as pessoas que estavam nas ruas.
O Chile é um dos países mais ricos da América Latina, mas também um dos mais desiguais — tem os piores níveis de igualdade de renda entre os 36 países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com o mesmo índice do México.

Desigualdade de renda

Chile e México ocupam pior lugar entre países da OCDE em ranking de desigualdade
*Compara proporções cumulativas da população com proporções acumuladas da renda que recebem. Gráfico mostra alguns dos mais de 30 membros da OCDE.
Fonte: OCDE
Presentational white space
Como ocorreu no Equador, o governo do Chile recuou e suspendeu o aumento de preço, em um esforço para reprimir os protestos. No entanto, as manifestações continuaram e cresceram, com queixas mais amplas.
"Não se trata de um simples protesto contra o aumento das tarifas de metrô, mas de anos de opressão que atingiram principalmente os mais pobres", disse à Reuters um estudante que participou dos atos.
O Líbano passou por um movimento semelhante. A decisão de taxar as chamadas feitas por meio do WhatsApp provocou protestos, que também se tornaram mais amplos e passaram a reclamar de problemas econômicos, desigualdade e corrupção.
Manifestantes participam de um protesto contra o governo na cidade de Tiro, sul do Líbano, em 21 de outubro de 2019.Direito de imagemREUTERS
Image captionManifestantes no Líbano protestaram contra desigualdade e corrupção
Com o aumento do nível de endividamento, o governo vem tentando implementar reformas econômicas para garantir um pacote de ajuda internacional. Mas muitas pessoas dizem que estão sofrendo com as políticas econômicas do país e que a má administração do governo é responsável por seus problemas.
"Não estamos aqui pelo WhatsApp, estamos aqui por tudo: por combustível, comida, pão, por tudo", disse Abdullah, um manifestante em Beirute.

Corrupção

Reclamações contra a corrupção do governo estão no centro de vários dos protestos e estão intimamente ligadas à questão da desigualdade.
No Líbano, os manifestantes argumentam que, enquanto sofrem uma crise econômica, os líderes do país têm usado suas posições de poder para enriquecer, por meio de propinas e acordos.
"Vi muitas coisas aqui, mas nunca vi um governo tão corrupto no Líbano", disse Rabab, um manifestante de 50 anos.
O governo aprovou na segunda-feira um pacote de reformas, incluindo a redução dos salários dos políticos, em um esforço para conter a agitação.
No Iraque, manifestantes também pedem o fim de um sistema político que, segundo eles, fracassou.
Um dos principais pontos de reclamação é a maneira como as nomeações para o governo são feitas com base em cotas étnicas, em vez de mérito.
Os manifestantes argumentam que isso permitiu que os líderes abusassem dos fundos públicos para benefício próprio e de seus seguidores, com muito pouco benefício para a maioria dos cidadãos.
Manifestantes protestam contra a suposta corrupção do governo iraquiano e serviços públicos ruins na cidade sagrada de Karbala em 19 de outubro de 2019Direito de imagemEPA
Image captionManifestantes iraquianos dizem que o sistema político é corrupto e que a qualidade dos serviços públicos é ruim
Protestos contra suposta corrupção do governo também ocorreram no Egito. As raras manifestações de setembro foram motivadas por uma convocação de Mohamed Ali, um empresário egípcio que vive em exílio autoimposto na Espanha, que acusou o presidente Abdel Fattah al-Sisi e os militares de corrupção.
As alegações dele de que Sisi e seu governo estão fazendo má administração dos fundos ressoaram entre muitos egípcios, que ficaram cada vez mais descontentes com medidas de austeridade.

Liberdade política

Em alguns países, os manifestantes estão irritados com os sistemas políticos em que se sentem presos.
As manifestações em Hong Kong começaram neste ano devido a um projeto de lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para a China em determinadas circunstâncias. Hong Kong faz parte da China, mas seu povo desfruta de liberdades especiais e existe um profundo medo de que Pequim queira exercer maior controle sobre o território.
Como em outros países, a manifestação popular em Hong Kong levou à retirada da polêmica legislação. No entanto, os protestos continuaram.
Entre suas reivindicações, os manifestantes querem agora o sufrágio universal completo, um inquérito independente sobre suposta brutalidade policial e anistia para manifestantes que foram presos.
As táticas deles inspiraram ativistas políticos do outro lado do mundo. Centenas de milhares de pessoas se reuniram em Barcelona para protestar contra o encarceramento de líderes separatistas catalães.
Eles foram condenados em 14 de outubro por sedição (revolta) em uma tentativa frustrada de independência da região em 2017.
Logo após a sentença ser proferida, as pessoas em Barcelona receberam uma mensagem em um popular serviço de mensagens criptografadas dizendo para irem ao aeroporto El Prat, em Barcelona, reproduzindo uma tática usada pelos manifestantes de Hong Kong.
Manifestantes catalães e polícia se enfrentam no aeroporto de Barcelona
A caminho do aeroporto, um grupo de jovens gritou: "Vamos fazer uma Hong Kong", segundo a mídia local.
Manifestantes catalães também distribuíram infográficos feitos em Hong Kong que detalham como os manifestantes podem se proteger dos canhões de água e do gás lacrimogêneo da polícia.
"As pessoas devem ocupar as ruas, todas as revoltas começam lá, olhem para Hong Kong", disse um manifestante em Barcelona à agência de notícias AFP.

Mudança climática

Muitos dos protestos que têm ocorrido estão relacionados ao meio ambiente e às mudanças climáticas. Ativistas do movimento Extinction Rebellion têm protestado em diversas cidades do mundo, exigindo ações urgentes dos governos sobre a questão.
Os protestos ocorreram em países como EUA, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Áustria, França e Nova Zelândia. Os participantes se colaram e se acorrentaram às estradas e veículos e tentaram atrapalhar os movimentados centros das cidades.
"Extinction" significa extinção e, "rebellion", rebelião. Membros do grupo, que se identificam como "rebels" (rebeldes) dizem querer promover uma "rebelião contra a extinção das espécies", inclusive a humana, algo que, afirmam, vai acontecer se nada for feito agora por nossos representantes políticos para impedir a mudança climática.
No Brasil, já existe um grupo organizando uma versão brasileira do Extinction Rebellion, que será chamada de "Rebelião ou Extinção".
Ativistas durante manifestação do Extinction Rebellion em Whitehall, Londres, em 18 de outubro de 2019.Direito de imagemREUTERS
Image captionEm Londres, manifestantes contra as mudanças climáticas pedem ações urgentes
"Não temos escolha a não ser nos rebelar até que nosso governo declare uma emergência climática e ecológica e tome as medidas necessárias para nos salvar", disse a ativista australiana Jane Morton.
Jovens de todo o mundo também participam de greves escolares semanais, inspiradas pela ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos. No mês passado, milhões aderiram a uma greve climática global liderada por crianças em idade escolar: de alguns manifestantes nas ilhas do Pacífico a manifestações em massa em cidades como Melbourne, Mumbai, Berlim e Nova York.
"Estamos deixando nossas lições para ensinar uma a você", dizia uma placa.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Flávio, Carlos e Eduardo têm rede de fake news com 1.500 perfis, diz Joice. Quem vai comandar o laranjal?



Joice Hasselmann (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
Joice Hasselmann (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)Foto: Reprodução/Internet
Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro são líderes de uma rede especializada em campanhas de difamação e notícias falsas usando aplicativos de mensagens. A afirmação é da deputada federal Joice Hasselmann (PSL), que sempre trocou ataques com os filhos do presidente e recentemente se tornou alvo preferencial do clã.

Segundo a deputada, que conversou com o UOL antes de gravar o programa "Roda Viva", da TV Cultura, os filhos do presidente mantêm funcionários que criam perfis falsos em redes sociais, como Instagram, WhatsApp e Twitter.

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Joice diz que Eduardo Bolsonaro é um 'menino' que 'não consegue nada sozinho'
A atuação dos filhos de Jair Bolsonaro (PSL) se daria, de acordo com Joice, por meio de ao menos 1.500 perfis falsos que alimentam uma rede propulsora de informações, a chamada "milícia digital", nas palavras da parlamentar. "Não é só fake news, mas também campanhas de difamação".

Ela afirma que fará denúncia ao Ministério Público e apresentará queixa na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. "Não vou ficar apanhando e ficar quieta."

Procuradas, as assessorias de comunicação de Flávio, Eduardo e Carlos não atenderam às ligações da reportagem para apresentar o ponto de vista dos três sobre o assunto.

Já no Roda Viva, Joice declarou que "nunca houve tanta interferência de uma família dentro de um poder" como existe no governo do presidente Jair Bolsonaro.

Ela disse que concorda com uma declaração feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no início deste ano, quando opinou que o governo de Bolsonaro é a "volta de um tipo de monarquia".

"Eu não só concordo (com FHC) como disse a mesma coisa. Disse ao presidente: 'Me ajude a te ajudar'. Esse tipo de fazer um puxadinho do Palácio do Planalto familiar não vai funcionar, isso não é bom para ninguém. Nunca houve tanta interferência de família dentro de um poder, nem na época do Sarney. Isso é perigoso para o país", afirmou.

PARTINDO PARA O ATAQUE"As pequenas crises do PSL vêm desde a transição", afirma Joice. "Mourão (vice-presidente) foi atacado, Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo) foi atacado, Bebbiano (ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência)... Ter funcionários de agentes públicos, pagos com dinheiro do contribuinte, temos uma questão".

A deputada afirma que chegou ao limite na relação com os filhos de Jair Bolsonaro, porém diz manter sua relação com o presidente, inclusive trocando mensagens via WhatsApp.

ELEIÇÕES 2020O morde-assopra na briga interna do PSL tem motivo: o polpudo fundo eleitoral para as eleições que se avizinham. Joice é publicamente candidata à Prefeitura de São Paulo, mas agora se vê atacada dentro do próprio partido.

"O PSL nacional está comigo", garante. Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que tem trocado mensagens agressivas com a deputada, preside o partido no estado de São Paulo.
Com Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Aprovado texto-base da reforma da Previdência. Será o fim das aposentadorias?


Senado aprova texto-base da Reforma da Previdência
Senado aprova texto-base da Reforma da PrevidênciaFoto: Jefferson Rudy/Agência Senado Fonte: Agência Sena

O plenário do Senado aprovou, nesta terça-feira (22), em segundo turno, o texto-base da proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro (PSL).
Foram 60 votos a favor e 19 contra. Houve uma ausência, do senador Rodrigo Pacheco (DEM - MG).
O Senado terá que analisar ainda quatro destaques -votações de trechos específicos da proposta. Depois que o segundo turno for concluído, a reestruturação das regras de aposentadorias e pensões vai à promulgação, quando passará a valer. Tire suas dúvidas sobre a reforma da Previdência.
A reforma deve atingir mais de 72 milhões de pessoas, entre trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos. O governo espera concluir a votação da proposta ainda na noite desta terça. Mas a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) só deve ser promulgada quando Bolsonaro, que está em viagem internacional, retornar ao Brasil.
Bolsonaro enviou a proposta ao Congresso em 20 de fevereiro. Foi necessário, portanto, negociar por pouco mais de oito meses com o Congresso, responsável por aprovar a reforma da Previdência. O presidente, contudo, ficou distante da articulação e convencimento de parlamentares em favor do projeto.
O ministro Paulo Guedes (Economia) e o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, foram os principais interlocutores do governo para que a Câmara aprovasse a reforma, em agosto, e para que o Senado caminhe para concluir a análise nesta terça.
Marinho e sua equipe acompanham o segundo turno de dentro do plenário e tentam garantir que, na votação dos destaques, o governo não sofra derrotas. Até com o PT eles tentaram negociar. Apesar das concessões feitas durante a tramitação do projeto no Congresso, os principais pilares da reforma foram mantidos -até a votação do texto-base no Senado.
A estimativa da equipe econômica é que a versão atual da proposta represente um corte de gastos de aproximadamente R$ 800 bilhões em dez anos. A versão original da PEC, enviada por Bolsonaro, teria um impacto de R$ 1,2 trilhão em uma década.
Se conseguir concluir a votação no Senado nesta terça, o governo Bolsonaro ficará atrás apenas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, em 2003, aprovou uma reforma da Previdência em pouco mais de sete meses e meio. 
A restruturação de Lula, porém, foi focada no funcionalismo público. A proposta de Bolsonaro é mais ampla e atinge o setor público e privado. Assim que a reforma for promulgada, quem ainda vai entrar no mercado de trabalho terá que completar 65 anos, se homem, e 62 anos, se mulher, para cumprir o requisito de idade mínima para aposentadorias.
Quem já está na ativa poderá se aposentar antes da idade mínima. Há cinco regras de transição para a iniciativa privada. Para servidores públicos, há duas. O trabalhador poderá optar pela mais vantajosa. As regras de transição também entram em vigor assim que a PEC for promulgada.
O mesmo vale para o novo cálculo das aposentadorias, que passa a considerar todo o histórico de contribuições do trabalhador. A fórmula atual é mais vantajosa, pois considera apenas 80% das contribuições mais elevadas.
A reforma também torna mais rígido o cálculo de pensões por morte, que corta o valor do benefício para 60% mais 10% para cada dependente adicional. Hoje, não há esse redutor. As pensões, porém, não podem ficar abaixo de um salário mínimo (R$ 998).
Não é a primeira vez que o Congresso teve que decidir sobre a criação de uma idade mínima para aposentadorias. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) apresentou uma ampla proposta de reformulação da Previdência em 1995 que também previa essa exigência, mas numa faixa etária mais baixa que a de Bolsonaro.
O tucano levou mais de três anos e oito meses para aprovar a reforma e foi derrotado em relação a esse item. Por um voto, FHC não conseguiu aprovar a idade mínima na Câmara. Com esse histórico, os articuladores políticos de Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foram cautelosos no calendário de votação da reforma de 2019. Maia foi um dos principais fiadores da medida e está alinhado à agenda reformista e liberal de Guedes.
Além da PEC que altera as regras de aposentadoria da iniciativa privada e servidores públicos, o governo enviou ao Congresso um projeto para reestruturar o regime de Previdência dos militares. Essa proposta, porém, ainda está em análise da Câmara.
Com Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE