segunda-feira, 23 de julho de 2018

Eleições 2018: Por que as próximas duas semanas serão cruciais para Bolsonaro, Marina, Ciro e Alckmin

Composição com os rostos de Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina SilvaDireito de imagemAGÊNCIA BRASIL, CNI E GOVERNO DE SP
Image captionPretensões presidenciais ganharão força ou sofrerão abalos nos próximos dias
"Guerreiros vitoriosos vencem antes de ir à guerra", escreveu o general e filósofo chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C). No Brasil de 2018, as campanhas políticas não tomam decisões baseadas em livros como A Arte da Guerra, escrito por Sun. Mas para quem pretende se eleger presidente da República é crucial chegar ao começo da propaganda eleitoral, em 31 de agosto, com o apoio do maior número possível de partidos. Nos próximos 15 dias, Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) farão de tudo para fechar alianças com o maior número possível de legendas.
O calendário traçado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de 2018 determina que as legendas realizem suas convenções partidárias no período entre a sexta-feira passada, 20, e 5 de agosto. É nas convenções que os partidos devem tomar a principal decisão da campanha: se vão disputar com candidato presidencial próprio, apoiar um nome de outro partido, ou se permanecerão neutros.
Junto com o apoio dos partidos vêm o tempo de TV e rádio; o dinheiro dos fundos Eleitoral e Partidário e a "máquina" das legendas - governadores, prefeitos, cabos eleitorais etc.. É com essas armas que os candidatos começam a ganhar a eleição antes da abertura oficial da disputa.
Nesta quinta-feira, o grupo de partidos conhecido como "centrão" deve oficializar o apoio ao candidato do PSDB ao Planalto, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. São cinco partidos: DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade. Juntos, os partidos somam 164 deputados federais (número usado no cálculo do tempo de TV e rádio), R$ 440,4 milhões no Fundo Eleitoral e 1.221 prefeitos eleitos em 2016.
A pré-candidata presidencial Marina SilvaDireito de imagemANDRÉ CARVALHO / CNI
Image captionMarina Silva será oficializada candidata em 4 de agosto, em evento em Brasília
No dia 1º de agosto, o PCdoB da pré-candidata Manuela D'Ávila realiza sua convenção em Brasília. A candidatura da deputada gaúcha ao Planalto corre risco: dirigentes do partido estão conversando tanto com Ciro Gomes (PDT) quanto com o PT. Neste fim de semana, a cúpula do partido se reuniu em São Paulo para debater a conjuntura eleitoral - e o encontro terminou com a presidente do partido, Luciana Santos, fazendo um apelo pela unidade dos partidos de esquerda.

'Ele nos encolhe e nos envergonha'

Outro que enfrenta alguma resistência dentro do próprio partido para concorrer é o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Nesta segunda feira, ele foi ao Paraná pedir votos dos delegados que decidirão seu destino no encontro do MDB - o diretório do MDB no Estado, sob influência do senador Roberto Requião, é um dos cinco onde há objeções à candidatura de Meirelles, junto com Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará.
"Não podemos permitir que o MDB se preste a servir de legenda de aluguel para a anticandidatura de Henrique Meirelles (...). Com menos de 1% nas pesquisas e uma agenda contra o povo, ela nos encolhe e envergonha", escreveu o senador emedebista Renan Calheiros (AL), numa carta enviada na última sexta-feira aos votantes da convenção do MDB, marcada para o dia 2 em Brasília.
Na mensagem, Calheiros pede que o partido libere seus quadros e negue legenda a Meirelles. Este tem o apoio do senador Romero Jucá (RR), do presidente Michel Temer e de outros caciques da sigla - o cálculo da cúpula do partido é o de que Meirelles tenha 443 dos 629 votos na convenção. O partido tem a segunda maior bancada na Câmara (51 deputados) e a maior fatia do Fundo Eleitoral: R$ 234 milhões.
A BBC News Brasil procurou a campanha de Meirelles, mas ele preferiu não responder diretamente às críticas de Calheiros.

Desafios dos candidatos em Pernambuco

Para Ciro Gomes, a definição mais importante será a do PSB. No dia 30, o partido fará uma reunião de seu Diretório Nacional, em Brasília, que na prática definirá quem a legenda apoiará (a convenção oficial será em 5 de agosto). Os socialistas têm a oferecer uma bancada de 26 deputados e R$ 118 milhões no Fundo Eleitoral. Para comparação, o PDT de Ciro tem R$ 61 milhões neste fundo.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, está apoiando abertamente Ciro. O pedetista também conta com o apoio público do governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg.
A principal resistência a Ciro no PSB está em Pernambuco. O Estado nordestino é o "berço" da legenda, e o diretório local defende que o partido fique neutro. O atual governador, Paulo Câmara, quer o apoio do PT local para tentar a reeleição - ou pelo menos que o partido retire a candidatura estadual de Marília Arraes, prima do ex-governador e candidato pelo PSB em 2014, Eduardo Campos (1965-2014).
"A nossa posição é tentar a aliança com o PT em Pernambuco. E eles (PT) têm dito que só admitem apoiar as nossas candidaturas se houver aliança nacional. O nosso interesse é esse, mas Pernambuco não resolve as coisas sozinho", admite o deputado Tadeu Alencar (PSB-PE).
Ciro Gomes no lançamento de sua candidatura presidencialDireito de imagemMARCELO CAMARGO / AGÊNCIA BRASIL
Image captionCiro se lançou candidato pelo PDT na última sexta-feira, em Brasília

Para que serve uma coligação?

Segundo a cientista política Lara Mesquita, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), uma coligação grande traz três vantagens importantes para o candidato presidencial: mais tempo de propaganda eleitoral, estrutura partidária com abrangência nacional maior e uma imagem de maior capacidade de governar caso eleito.
As coligações também são fundamentais para aumentar a capilaridade da campanha - devido às dimensões continentais do Brasil, é difícil que os candidatos presidenciais consigam percorrer todo o país durante a campanha. Com uma aliança ampla, o concorrente presidencial terá mais candidatos desses partidos em todo o país pedindo votos em seu nome.
Mesquita ressalta que a proibição das doações de empresas para campanhas aumentou ainda mais a relevância das máquinas partidárias. "O único apoio dos partidos que muitos candidatos a deputado recebem é o material impresso para campanha. Esse santinho do candidato já virá com o nome do candidato presidencial que a coligação está apoiando", exemplifica a pesquisadora.

Qual candidato sai na frente com o cenário atual?

Se o quadro atual se mantiver, o grande beneficiado é o candidato do PSDB, Alckmin.
O apoio do "centrão" - DEM, PP, PR, PRB e SD - foi definido na última quinta-feira. A aliança foi selada após um café da manhã na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) em Brasília, seguida de uma reunião à tarde no bairro dos Jardins, em São Paulo.
O deputado Efraim Filho (DEM-PB) diz que o grupo "até fez um esforço" para fechar com Ciro Gomes (PDT), mas a falta de identidade ideológica com o pedetista acabou falando mais alto. "A posição de Ciro é mais à esquerda do que aquilo que o centrão desejava", diz ele. "No fim, optou-se pela alternativa que gera o menor ruído", disse Efraim à BBC News Brasil na noite da quinta-feira.
Em troca do apoio, Alckmin teria se comprometido com algumas demandas do "centrão": apoio a alguns candidatos do grupo nos Estados; suporte à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao comando da Câmara dos Deputados em 2019; e a vaga de vice-presidente na chapa para o empresário mineiro Josué Alencar (PR).
O presidente da República Michel Temer (esq.) e o ex-ministro Henrique Meirelles (dir.)Direito de imagemFILIPE CARDOSO
Image captionMeirelles terá de enfrentar resistências dentro do MDB para oficializar sua candidatura
No fim da semana passada, o tucano também recebeu promessas de apoio do PTB, do PPS e do PSD. Com o PSDB, o grupo de nove partidos soma 275 deputados federais, mais que a metade dos 513 integrantes da Câmara - o número de deputados é o que determina o tempo de TV de cada candidato.
A super-aliança de Alckmin também controlaria R$ 829 milhões de R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral - 48% do total. Além disso, os partidos elegeram 2.933 prefeitos em 2016: uma multidão de possíveis cabos eleitorais para o ex-governador paulista.
Para Deysi Cioccari, cientista política da PUC-SP, a ampla aliança construída por Alckmin lhe dá "uma possibilidade concreta de estar no segundo turno".
Na sua avaliação, embora as redes sociais tenham relevância crescente como meio de informação, elas ainda não terão peso determinante na eleição, porque boa parte da população brasileira vive em pequenas cidades ou no meio rural, onde o uso da internet não é tão intenso.
"No interior, muitas pessoas só ouvem rádio, veem TV. Não tem Twitter, Facebook", ressalta. Cioccari acredita que o tempo amplo de propaganda eleitoral pode ser uma oportunidade para Alckmin recuperar parte dos votos, de um eleitor mais conservador de direita, que perdeu para Bolsonaro.
Geraldo Alckmin fala pelo microfoneDireito de imagemAFP
Image captionPara a cientista política Deysi Cioccari, ampla aliança construída por Alckmin lhe dá 'uma possibilidade concreta de estar no segundo turno'

O que Marina e Bolsonaro podem fazer sem aliados?

Apesar do tempo de propaganda ser importante, nem sempre ele é definitivo para a vitória eleitoral. Lula, por exemplo, venceu as eleições de 2002 e 2006 mesmo não sendo o candidato com mais tempo de rádio e TV.
Nas últimas duas semanas, Jair Bolsonaro (PSL) falhou em construir alianças com o PR e, mais tarde, com o nanico PRP. Já Marina Silva tenta alianças com partidos pequenos, como o PROS, o PMN, o PHS e o PPL (este último indica que lançará como candidato presidencial João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart).
O pré-candidato Jair BolsonaroDireito de imagemREUTERS
Image captionNas últimas semanas, Bolsonaro teve dificuldade em formar alianças
Para Lara Mesquita, da FGV, candidatos com pouco tempo de propaganda, como Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) podem se beneficiar caso o voto de oposição ao governo atual prevaleça nessa eleição.
"Bolsonaro e Marina não foram atingidos pela Lava Jato. Se o fator anticorrupção for importante na definição do voto do eleitor, isso pode beneficiá-los", lembra ainda Mesquita. A reportagem da BBC News Brasil procurou as campanhas dos dois candidatos, mas não houve resposta.

Como são as regras para a formação de alianças?

O calendário do TSE determina que as candidaturas e coligações devem ser registradas até o dia 15 de agosto.
Segundo o advogado eleitoral Gustavo Guedes, os partidos têm adotado como prática usar as convenções para oficializar só os pontos mais importantes - como as alianças presidenciais e os nomes dos candidatos a governador, por exemplo. Definições menos relevantes (como os candidatos a deputados), costumam ser repassadas para comissões eleitorais ou para as Executivas dos partidos.
"A convenção, via de regra, define só os aspectos mais relevantes", diz Guedes. Para definir o número de candidatos a deputado federal, por exemplo, os partidos precisam saber quantos serão os partidos de sua coligação - portanto, esta decisão só pode ser tomada depois de todos os partidos fecharem uma posição, diz o advogado.
As coligações também vão determinar o tempo de TV e rádio para cada candidato presidencial - o número exato é calculado pelo TSE com base nas bancadas dos partidos da Câmara dos Deputados, considerando quais foram as coligações formadas. Isto porque só o número de deputados dos seis maiores partidos na coligação é considerado para o cálculo do tempo de TV do candidato.
Além disso, em maio, alguns partidos questionaram o TSE e o STF a respeito do critério a ser usado: a bancada eleita pelo partido para a Câmara em 2014 ou a bancada atual das siglas na Casa. O cálculo final do tempo de TV de cada candidato também dependerá desta definição.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Golpe':Governo Temer aposta na reforma da Previdência pós-eleição

A frustração em não aprovar a reforma no início deste ano deixou uma lacuna que o governo ainda não conseguiu superar. Foto:  Evaristo Sa/AFP
A frustração em não aprovar a reforma no início deste ano deixou uma lacuna que o governo ainda não conseguiu superar. Foto: Evaristo Sa/AFP
O governo federal está esperançoso com a possibilidade de Geraldo Alckmin, do PSDB, se fortalecer nas eleições com o apoio do centrão. Não por apreço da cúpula governista aos tucanos, que não desejam vincular a imagem com o presidente Michel Temer por considerá-la “tóxica” — e isso, como era de se esperar, desagrada os emedebistas. O único desejo do Palácio do Planalto é aprovar a reforma da Previdência depois das eleições. E a possibilidade disso acontecer ainda este ano é com uma vitória tucana apoiada pelo blocão nas urnas.

A frustração em não aprovar a reforma no início deste ano deixou uma lacuna que o governo ainda não conseguiu superar. Mas isso não significa que jogou a toalha. O grande sonho de Temer continua sendo atualizar as regras para aposentadoria e se consolidar como um presidente reformista que recuperou a economia após dois anos de recessão. Como ele mesmo diz, a “história é que vai dizer” como foi o governo emedebista.

Os sinais de intenção da aprovação da reforma não são recentes. Em diferentes situações ao longo do ano, Temer indicou a possibilidade de se retomar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) este ano depois das eleições. Em 5 de julho, em uma das últimas cerimônias realizadas no Planalto antes de o governo ficar impossibilitado de fazer propagandas institucionais em função da legislação eleitoral, o emedebista declarou que, após a corrida eleitoral, cria-se um momento propício para todos se unirem em busca do “bem comum”.

“Na vida do Estado, há dois momentos distintos. Um momento chamado político-eleitoral, que as pessoas se contestam, se controvertem, discutem, apresentam planos. Às vezes exacerbam as palavras e temos que compreender isso, mas é um momento pré-eleitoral. Há um outro momento, que é logo depois das eleições do momento político-administrativo, em que todos devem se unir em busca do bem comum”, declarou.

O “bem comum” do governo não é outro além da reforma da Previdência. O Planalto já sinalizou em outras ocasiões a disponibilidade de articular junto ao Congresso a retomada da votação da PEC, caso seja um assunto de interesse expressado pelo próprio vencedor das eleições. As discussões em torno de uma votação ocorrerão depois das eleições, sustenta o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS), vice-líder do governo na Câmara.

O governista adverte, no entanto, que a costura depende do resultado. “Só dá para saber depois das eleições. Ninguém vai governar sem a reforma da Previdência. E, se mais cedo (aprovada) for, melhor será para todos os brasileiros”, pondera. Para Perondi, Alckmin é “um bom quadro”, mas garante que o MDB segue disposto a correr nas eleições presidenciais com Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda.

A possibilidade de uma aprovação da reforma da Previdência ainda este ano é bem avaliada pela equipe de Alckmin. Interlocutores ligados à coordenação política do presidenciável ponderam que seria um desgaste a menos para lidar no governo. “Aproveitar um fim melancólico do governo Temer para aprovar algo que o país precisa seria oportuno. Sem a reforma, não tem como governar”, pondera um deles. As próprias negociações para fechar com o centrão podem ajudar no processo. Ele explica que, na visão de Alckmin, tão ou mais importante do que ganhar as eleições é vencer com uma base ampla.

“Desde o princípio, trabalham nessa perspectiva para que garantisse governabilidade. A aliança construída entre o blocão e o PSDB aponta para uma união que não é apenas competitiva para assegurar estrutura nos estados e tempo de televisão, mas também para ter governabilidade a ponto de fazer uma discussão até sobre antecipar a reforma da Previdência para este mandato, pois teria os votos necessários. A lógica da formação da chapa sempre foi essa”, sustenta o interlocutor.

Renovação

O deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder da legenda na Câmara, adverte que o apoio a uma aprovação da reforma da Previdência após as eleições depende da renovação do Congresso. “Pode haver uma mudança grande de reeleição e tudo isso influencia no voto”, pondera. Ele avalia, no entanto, ser difícil aprovar neste governo, que não detém votos e legitimidade. Para ele, é preciso que Executivo e Legislativo federal cortem da própria carne para servir de exemplo à população. “E eu não vejo como isso pode ser feito ainda neste governo.”

A votação da PEC que atualiza as regras de aposentadoria após as eleições não seria uma tarefa simples. A vitória de Alckmin apenas abriria as chances para se votar o texto ainda este ano, avalia o analista político Cristiano Noronha, sócio da Arko Advice. Mas o prazo para se aprovar é pequeno. “Não há muito espaço para se articular a matéria com outros presidenciáveis. E a probabilidade maior não significa facilidade. No melhor cenário, seria aprovada só na Câmara”, alerta.

O provável segundo turno das eleições cairá em 28 de outubro. O recesso parlamentar do fim de ano se inicia em 23 de dezembro. Logo, restaria pouco menos de dois meses para se aprovar. Nesse período, Noronha reforça que há dois feriados em novembro. “No meio de tudo isso terão negociações internas sobre formação do novo governo. É um período muito confuso e curto”, adverte. Ele reforça também que, para se colocar em pauta, seria necessário revogar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. “Não sabemos como estará a situação no estado.”
Com informações do Diário de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 22 de julho de 2018

Nas metáforas de Kafka: o humano de muitas formas


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Quem se prende no homogêneo esgota a imaginação. O sossego é sempre passageiro. A vida contemporânea pede inquietação. Há mistura de formas, o invisível atiça a subjetividade e os dias ganham uma velocidade inesperada. Nem todos percebem. Daí, a história possuir atmosfera de acaso, mas não assombrar os apáticos. Há quem se debruce sobre o passado como algo morto. Não quer a nostalgia, porém resmunga com as intromissões da tecnologia. A literatura ajuda a desfazer o comum. Ela puxa a imaginação, inventa palavras, exalta a heterogeneidade, sacode a memória.
Há escritores que surpreendem, nos deixam extáticos. Quem nunca leu Kafka perde muito das emboscadas da vida. Não estou caindo no negativo, celebrando o pessimismo. Desejo fugir do lugar comum. Leia A metamorfose e pense. Kafka transcendeu seu tempo. Os homens não são sonhos terminados. As metáforas criam significados, vestem roupas fora da moda. De repente, sou um isento.Tenho que abrir outras portas, visualizar pesadelos que pareciam findos, escutar lágrimas e apelos nunca vistos. Sinal fechado? Juízo final?
A vida muda não, necessariamente, nas dimensões corporais. A imaginação nos leva para abismos. Sentimos angústias, nudez dos desamparos, ouvindo ruídos de carros ou conversando com o amigo na esquina. O controle dos atos não é fácil. Desperdiçamos tempos acreditando numa paixão, entramos em avenidas inóspitas, sem observar o que realmente acontece. Kafka não hesitou. Desmitificou, mostrou o humano absorvido em peripécias, desfazendo-se de horrores inutilmente. O mar das incertezas pode inundar seu quarto,  estimular voos.
A morte, talvez, seja o último medo. Não sei, nem a A metamorfose me responde. Uma história são muitas histórias. Não há covardia que silencie o movimento do humano. Ele é teimoso. lança-se em onipotências, não dispensa afetos. A literatura traz espelhos. Se não quiser vê-los, cairá na banalidade. Portanto, corra o risco. O pior é congelar a ansiedade e procurar traçar fronteiras. Elas não existem. Aprenda com Kafka que tudo não é tudo e que nada não e nada. Estique-se fora das previsões. As baratas sobrevivem sem divindades, na danação dos esgotos.
Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Jerônimo Galvão será candidato a deputado estadual pelo PSOL

O professor  Jerônimo confirmou neste sábado (21) sua decisão quanto a  candidatura ao cargo de deputado estadual nas eleições de 2018. 
A confirmação ocorreu em atividade partidária objetivando  empossar a nova direção do PSOL em Bom Jardim.  Já são quatro pré-candidatos bonjardinenses nas eleições deste ano: Jerônimo, Jonas do Conselho , Miguel Barbosa. e considerando Valda  Sedícias. 

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Política:PSL confirma Bolsonaro e ouve de advogada cotada para vice que seguidores 'buscam pensamento uniformizado'


Janaína Paschoal ao lado de Jair Bolsonaro em convenção partidária no RioDireito de imagemREUTERS
Image captionBolsonaro minimizou incômodo gerado em dirigentes do PSL com discurso de Janaína Paschoal
"Nossa lagoa é muito pequena para pescar um vice, mas vamos pescar", resumiu o presidenciável Jair Bolsonaro, do PSL, em coletiva ao final da convenção partidária que o chancelou como candidato ao Planalto pela legenda.
A indefinição sobre quem comporá com o deputado federal a chapa presidencial se desenrolou ao longo da última semana: primeiro com a recusa do senador Magno Malta (PR), depois com a negativa do General Heleno (PRP).
Neste domingo, a cúpula do PSL tentou uma saída honrosa para o imbróglio: o anúncio para o posto da advogada e autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Janaína Paschoal.
O humor de bolsonaristas, no entanto, era diferente do da própria Janaína, que já nas primeiras horas da manhã, a caminho do evento, revelou seu desconforto com a situação à BBC News Brasil.

Chegada de Janaína foi celebrada por militantes

Recebida pelos cerca de 2 mil militantes que lotavam o salão do centro de convenções, no Rio, sob gritos de "vice, vice", ela foi rápida em anunciar o anticlímax.
"Não aplaudam, não gritem, eu quero conversar com os senhores", anunciou Janaína, esfriando o clima de aplausos, gritos de "mito", dedos emulando armas, selfies e algazarra que dominavam o ambiente.
Diante do silêncio estabelecido, Janaína anunciou que "não é possível tomar uma decisão em dois dias" e afirmou que "estamos dialogando".
Convenção partidária do PSL no Rio de JaneiroDireito de imagemAFP
Image captionJanaína Paschoal foi recebida por mil militantes que lotavam centro de convenções no Rio sob gritos de 'vice, vice'
Janaína foi a penúltima a falar. Sentada ao lado de Bolsonaro, ela viu o ex-futuro vice, o senador Magno Malta, dizer que "fazia muito gosto" que ela assumisse o posto deixado por ele. "Espero que eu possa lhe chamar logo de vice-presidente da República".
Pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidenciável, foi comparada ao Coronel Alberto Brilhante Ustra, Chefe do DOI-Codi de São Paulo e considerado responsável pela tortura de presos políticos na ditadura, defendido por Bolsonaro em seu voto pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
"Soldado nosso não fica para trás. Não permitam que demonizem a Dra. Janaína para que ela se torne um novo Ustra."

'Minha fidelidade é ao meu país'

O discurso de Janaína destoava do clima de "já ganhou no primeiro turno" do evento.
"Não se ganha eleição com pensamento único. Não se governa uma nação com pensamento único. Os seguidores, muitas vezes, do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário", disse Janaína.
"Minha fidelidade não é ao deputado Jair Bolsonaro, é ao meu país", arrematou.
Janaína Paschoal discursa em convenção partidária no Rio de JaneiroDireito de imagemREUTERS
Image captionDiscurso de Janaína destoou do clima de 'já ganhou no primeiro turno' do evento'
O mal-estar nos dirigentes do PSL foi evidente. O discurso foi considerado "desalinhado". Janaína devolveu um público frio a Bolsonaro, que fez um discurso menos aguerrido que a média.
"Ela é muito transparente, mas não achei que ela fosse ser tão incisiva, daquele jeito de professora que dá bronca em aluno. A militância sentiu", avaliou o deputado federal Major Olímpio.
"Não se pode ter fogo amigo dentro da chapa. Não vamos levar a noiva para o altar discutindo os termos do divórcio", completou.

Bolsonaro minimizou desforto de dirigentes com Janaína

Bolsonaro tentou minimizar o incômodo: "Ela tem a opinião dela, não posso ter uma vice que vai concordar 100% comigo".
O próprio candidato, no entanto, cogitou a substituição de Janaína por Luciano Bivar, presidente licenciado do PSL, durante coletiva de imprensa. Aliados aventam ainda a possibilidade de que o PROS feche acordo com o PSL e indique o vice.
Jair Bolsonaro em convenção partidária no Rio de JaneiroDireito de imagemAFP
Image captionBolsonaro foi muito celebrado pelos 2 mil militantes presentes no evento
Se for confirmada, Janaína será a primeira mulher a compor a cúpula de poder de Bolsonaro.
Uma das fragilidades eleitorais do deputado é a rejeição do público feminino, a quem ele acenou diversas vezes em seu discurso.
"Todos nós viemos do ventre de uma mulher. Sequer teríamos nascido sem o amor delas". Ele prometeu governar "pelas mulheres, que são em grande parte responsáveis pela criação das nossas crianças".
Questionado sobre a ausência de mulheres em sua equipe, disse que não fará esforço para integrá-las ao time, já que o critério para empregar pessoas é "competência". E disse que seu mau desempenho no grupo se deve aos "rótulos" colados nele pela imprensa.

Privatizações e ministros com 'perfil de Sergio Moro'

Em relação a propostas de governo, defendeu privatizar braços da Petrobras e elogiou a venda da Embraer. "Queremos mais do que privatizar, quem sabe, extinguir a maioria das estatais", disse.
Afirmou que o "Supremo está mais desgastado do que o Congresso" e que gostaria de alterar a Constituição para poder indicar mais dez ministros "com o perfil do Sergio Moro".
Defendeu que não é possível, por falta de recursos, instituir escola em tempo integral, mas que a educação melhoraria com a aprovação da lei "Escola Sem Partido", que prevê punição a professores que expressem opiniões políticas em sala de aula.
Sobre pautas identitárias, afirmou que, "se for feita uma pesquisa entre afrodescendentes, a maioria é contrária às cotas". E criticou o que considera "politicamente correto".
"Não tenho mais a alegria de contar uma piada de cearense, de baiano, de carioca esperto".

'Se estamos em guerra, os dois lados podem atirar'

Na segurança pública, afirmou que manteria a intervenção do Exército no Rio, mas excluiria a possibilidade de punição aos soldados que matassem civis em operações de segurança.
Militante em convenção partidária com foto de Jair Bolsonaro ao fundoDireito de imagemAFP
Image captionBolsonaro tem até 5 de agosto para definir quem estará ao seu lado na corrida presidencial
"Se estamos em guerra, os dois lados podem atirar. Quero dar meios para o policial não morrer. Se ele não pode atirar, vamos tirar a arma do PM e dar um buquê de rosas pra ele carregar".
Bolsonaro voltou a defender ainda a redução ou mesmo extinção da maioridade penal, pauta da qual Janaína discorda.
O deputado terá até o dia 5 de agosto para definir quem estará ao seu lado na corrida presidencial.
Ciente de que pode ajudar o candidato a melhorar seu desempenho entre mulheres e setores menos radicais da direita, Janaína se mostrou tranquila diante da má repercussão de suas palavras na convenção.
Disse ainda que, para ela, vice deve sim interferir na gestão do presidente. "Talvez o discurso tenha sido mais contundente do que eles esperavam. Se as pessoas se sentiram desagradadas, não há problema, isso é inerente à democracia", afirmou.
E completou: "Não posso trazer os votos e depois não ter liberdade para atuar".
Professor Edgar Bom Jardim - PE