domingo, 24 de setembro de 2017

Como a eleição de Angela Merkel na Alemanha influencia o futuro da América Latina


Angela MerkelDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisas apontam a reeleição de Merkel, mas também para uma ascensão do nacionalismo

Apesar de seu peso econômico, as eleições na Alemanha parecem gerar pouca agitação política. No entanto, poucas votações como esta podem ter consequências tão importantes.
A vitória da atual chanceler Angela Merkel, se confirmadas as pesquisas de boca de urna, significa que ela comandará o governo alemão pelo quarto mandato consecutivo. Ela está no cargo desde 2005 e pode ficar pelo menos até 2021.
No entanto, sua permanência não garante a continuidade de um governo de coalização com o principal partido da oposição, os social-democratas do SPD, com quem dividiu o poder nos últimos anos.
Na Alemanha, nenhum partido tem - ou terá após essas eleições - uma maioria suficiente para formar um governo sozinho. Nem mesmo a poderosa União da Democracia Cristã, a legenda de Merkel.
A decisão tomada pelos 61 milhões de eleitores neste domingo sobre quem guiará a quarta economia do mundo e a maior da União Europeia terá consequências no continente e e outras regiões do planeta, inclusive na América Latina.
Entenda a seguir como o pleito impacta os países latino-americanos.
Vínculos e acordos
A Alemanha e a América Latina têm vários vínculos. Do ponto de vista comercial, o país europeu está entre os maiores exportadores para algumas das principais economias da região, como Brasil, Argentina, México, Colômbia e Chile.
Levando em conta toda a América Latina, é o terceiro principal exportador, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Merkel com Mauricio Macri, presidente da ArgentinaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSob o comando de Angela Merkel, a Alemanha forjou vínculos com países latino-americanos

Do ponto de vista político, o papel alemão como motor da União Europeia faz com que as dependências mútuas sejam enormes.
"O que temos vistos nos últimos anos é que o bloco sofre com muitas crises e instabilidades internas. Por isso, é essecial que a Alemanha, junto com a França consigam definir um caminho comum para levar adiante a União Europeia rumo a um projeto internacional que dê estabilidade a ela", diz Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão para Política Internacional e Segurança, um centro de estudos independente.
"A ênfase continua a ser em organizar a economia mundial por meio de um esforço multilateral e não se deixar levar por um protecionismo nacionalista: buscar fortalecer acordos po meio de tratados e livre comércio, especialmente com o Mercosul."
Relação com a América Latina
Neste sentido, apontam analistas, a chegada de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos pode reforçar de forma indireta as relações entre Alemanha e América Latina.
Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornou o principal aliado da Alemanha fora da Europa.

Donald Trump e Angela MerkelDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstados Unidos continua a ser o mais importante parceiro comercial da Alemanha, ainda que a relação esteja estremecida

Ainda que isso dificilmente mude, nos últimos meses, essa "relação especial" já foi afetada. "Em campanha, Merkel não fez oficialmente nenhum discurso controverso. Admite dificuldades, mas diz que os Estados Unidos segue como um parceiro muito importante", diz Stefan Reith, diretor do departamento para América Latina da Fundação Konrad Adenauer.
"Ainda assim, antes da cúpula do G20, realizada em Hamburgo em agosto, Merkel fez uma viagem ao México e à Argentina. É um sinal claro de que vê a América Latina, especialmente os membros do G20, como aliados importantes."
Com a vitória de Merkel, a tendência é que sejam mantidas suas principais políticas de Estado, como a defesa do livre comércio, e o compromisso com a União Europeia. No entanto, há questões em aberto.

Influência da direita

Um deles será saber até que ponto a Alemanha será afetada pelo crescimento dos movimentos populistas de extrema direita que já se fazem presentes em outros países como a França, onde a Frente Nacional disputou o segundo turno da eleição presidencial em julho.
As mais recentes pesquisas de boca de urna apontam que os democratas cristãos e seu partido-irmão na região da Baviera, a União Cristã (CSU) obtiveram cerca de 32,9% dos votos, frente a 20% para os social-democratas. Atual parceiro de coalizão de Merkel, o SPD disse que agora atuará na oposição.
Na terceira posição, com 13%, está o Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), um partido de extrema-direita fundado em 2013,
"Há movimentações populistas em todo o mundo. Existem na América Latina e na Europa, como na França, na Holanda e também aqui na Alemanha", diz Reith.
"O AfD está em alguns parlamentos regionais, e estas eleições mostram que vão ter mais influência no momento em que se conta com a Alemanha para ser um parceiro estável e confiável no campo das relações internacionais e também como aliado da América Latina."
Esse grupo começou a ganhar adeptos questionando a política de resgates financeiros a países do sul da Europa em plena crise do euro. No entanto, dizem analistas, a chamada crise de refugiados de 2015 e 2016 fez com que ganhasse força nas pesquisas de intenção de voto e em eleições regionais.

Cartazes de Martin Schulz e Angela MerkelDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs tradições coalizões de governo estão em risco diante de um Parlamento muito fragmentado

Nesse período, a Alemanha recebeu mais de 1 milhão de pedidos de asilo. O discurso xenófobo do partido encontrou um terreno fértil na política inicial de abrir as portas a refugiados defendida por Merkel, e o AfD chegou a ter 15% nas pesquisas de voto.
A questão dos refugiados - junto com temas relacionados como imigração, o direito a asilo e a integração - dominaram a campanha. Mas, dois anos após o início da crise, com uma redução drástica no número de pedidos de asilo, Merkel recuperou apoio, e a tendência de alta do AfD se inverteu.

Coalizão complicada

Ainda assim, o Parlamento resultante dessas eleições será o mais fragmentado dos últimos 60 anos. "O partido A Esquerda, os liberais, os verdes, o AfD, os social-democratas e o democratas cristãos estão presentes. É o Parlamento com o maior número de partidos desde 1957", garante Matthias Dilling, pesquisador de Ciência Política da Universidad de Oxford, no Reino Unido.
"Isso é importante e fará com que a formação de coalizões seja algo muito mais complicado e imprevisível."
"Há a questão de se continuaremos a ter uma grande coalização ente os democratas cristãos e os social-democratas, se haverá apoio suficiente para uma coalizão entre o CDU e os liberais ou se assistiremos pela primeira vez desde a reunificação a uma coalização de mais de dois partidos. Isso seria uma grande mudança na política alemã a nível nacional", diz o especialista.
Diferentemente da vizinha França, onde a inesperada vitória de Emmanuel Macron sacudiu o sistema partidário, na Alemanha, as duas principais legendas se mantém à frente.
Sem grandes surpresas eleitorais, o futuro do governo da locomotiva da Europa - e seus aliados - será definido tanto pelo resultado das eleições quanto pela forma como as cartas serão repartidas a partir de agora.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Nego Bala será sepultado neste domingo em Bom Jardim

O corpo do Senhor José João da Silva, agricultor e pedreiro, 59 anos de idade, será sepultado neste domingo 24 de setembro 2017, às 14:30 horas, no cemitério de Bom Jardim. Seu corpo está sendo velado no Velório Municipal, localizado  no Alto do Carmo. Os familiares agradecem a solidariedade e  presença de todos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 23 de setembro de 2017

O general em seu mundinho

Hamilton Mourão ,geral (Foto:  Diego Vara/RBS)
Havia mais de uma hora e meia que o general de Exército Hamilton Mourão desfrutava posição de convidado de honra da Loja Maçônica Grande Oriente do Brasil, em Brasília. Com uniforme de gala, todas aquelas medalhas ornamentando o lado esquerdo do peito, discorrera perante fãs sobre o tema Análise da Conjuntura Mundial, da América do Sul e do Brasil, no qual tocara em assuntos diversos, como O Mundo Atual, Os Principais Conflitos, O Mundo no Início do Terceiro Milênio, Política: Esquerda x Direita, O Foro de São Paulo, O Brasil: Baixa Representatividade Política, Crise Psicossocial, Ruptura, Lula 2 e Dilma, Padrões de Governança, Sarneyzação... Até que a exposição acabou e vieram as perguntas. Como sempre acontece nesses ambientes saudosistas do regime militar, apareceu a inevitável: diante do descalabro da corrupção, por que não ocorre uma intervenção militar? Mourão estava em seu mundo.
“Excelente pergunta”, disse Mourão. E aproveitou para discorrer. “Quando nós olhamos com temor e com tristeza os fatos que estão nos cercando, a gente diz ‘por que não vamos derrubar esse troço todo?’. Na minha visão, que coincide com a dos meus companheiros do Alto-Comando do Exército, estamos numa situação de aproximações sucessivas, até chegar no momento em que ou as instituições solucionam os problemas políticos, com o Judiciário retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícios, ou então nós teremos que impor isso”, disse. Mourão foi aplaudido, satisfez aqueles que o marechal Castelo Branco, o primeiro presidente da ditadura militar (1964-1985), chamou de “vivandeiras alvoroçadas” que clamavam por “extravagâncias” dos militares. Cada um pode dizer o que quiser diante de plateias amigas, mas Mourão cometeu um ato de insubordinação, desrespeitou a hierarquia que obriga militares a obedecer às ordens do governo civil e os proí­be de manifestar-se sobre política. Militares, obviamente, não têm o direito de fazer ameaças aos Três Poderes, nem dizer que, caso as coisas são saiam como querem, chegarão para colocar ordem na casa.
Não há nenhuma surpresa no comportamento de Mourão. Ele é veterano em arroubos verbais de viés golpista. Em outubro de 2015, quando o impeachment já era assunto em Brasília, Mourão disse em uma palestra a oficiais da reserva que a substituição da então presidente Dilma Rousseff não traria “mudança significativa no statu quo” e que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. Aproveitou a chance para pedir o “despertar da luta patriótica”. Fechou o pacote com uma homenagem póstuma ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um medalhão da tortura durante o período da ditadura militar (1964-1985) como comandante do DOI-Codi de São Paulo em seu período mais prolífico em violência e abusos. A trinca de atos tresloucados custou a Mourão o cargo mais reluzente de sua carreira, a chefia do Comando Militar do Sul – que reúne tropas de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mourão foi transferido para o comando da Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília. Deixou de comandar uma tropa enorme para comandar uma mesa.
O marechal Castelo Branco (de terno`) primeiro presidente do regime militar em São Paulo,em 1964 (Foto:  DOMICIO PINHEIRO/ESTADÃO CONTEÚDO)
Desta vez, no entanto, sua insubordinação saiu praticamente de graça. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, que o punira em 2015, desautorizou Mourão como porta-voz do comando do Exército, mas optou por acomodar as coisas, sem punição. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, convocou Villas Boas para dar explicações. Mas terminou aderindo ao deixa-disso. Como Mourão, um militar que ocupou posições de destaque, está no ostracismo funcional há dois anos num cargo burocrático e deverá encerrar a carreira em 31 de março do ano que vem, Villas Boas e Jungmann disseram preferir não lhe dar uma razão para sair da história como herói de uma minoria. Acomodações assim dão certo na política, mas aconteceram no passado entre militares e o resultado foi diverso. Militares são regidos por um respeito rígido à hierarquia; quando ela é desrespeitada e nada acontece, abre-se um precedente ruim. O vírus da insubordinação nas Forças Armadas guarda perigo dos grandes. Levou ao golpe militar de 1964 e resultou num regime ditatorial encerrado só em 1985. Agravante disso, a anarquia entre os militares espalhou-se após o golpe e colaborou para corroer o próprio regime. Quando um militar, ainda que seja um general no mais alto degrau da hierarquia, desrespeita os limites constitucionais, desperta uma avaria no sistema.
Além da leniência, o episódio de Mourão foi agravado pela entrevista dada por seu comandante, o general Villas Boas. Ao tentar amaciar as coisas, Villas Boas citou o Artigo 142 da Constituição, pelo qual as Forças Armadas podem ser convocadas por qualquer um dos Três Poderes na garantia da lei e da ordem. Sua fala foi confundida com o termo usado por fãs de Mourão, entre eles os que o adulavam em Brasília, que acreditam que isso permite às Forças Armadas governar. Alguns usam até o termo “intervenção militar constitucional”, um malabarismo verbal, uma contradição em si. A Constituição não prevê uma intervenção militar nos moldes que apregoam as vivandeiras. As Forças Armadas podem ser chamadas pelo governo a atuar em casos específicos, como no reforço da segurança no Rio de Janeiro. Não existe a possibilidade de os militares serem convocados a intervir no exercício do governo, parar tudo e limpar o país de corruptos. Soluções simplistas assim só existem em sonhos de quem não conhece a Constituição, se incomoda com a democracia, flerta com o autoritarismo ou não aceita a complexidade do mundo. As palavras de Mourão, de tão absurdas, só ganham alguma repercussão devido ao contexto delicado pelo qual passa o Brasil, de acirramento de ânimos após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, as descobertas da Operação Lava Jato e o fato de o presidente Michel Temer ser acusado de crime comum no Supremo Tribunal Federal.
A ideia de que as Forças Armadas podem extirpar a corrupção embasou o golpe de 1964. Não funcionou
A desilusão com a política, diante da descoberta do alcance da corrupção, pode gerar desassossego, mas soluções mágicas como a de Mourão só param de pé em discursos. A promessa de que a força militar seria capaz de limpar o país dos corruptos foi umas das justificativas para o golpe de 1964. O governo do marechal Humberto Castelo Branco cassou dezenas de mandatos com a justificativa de punir políticos acusados de corrupção. Prometia entregar um país limpo em pouco tempo, a partir do qual a política seria feita por novos elementos a ser eleitos. Não houve eleição alguma por 25 anos. O marechal Costa e Silva, sucessor de Castelo, foi “eleito” pelo Congresso, assim como seus três sucessores militares. Como se vê pelo tanto que já foi exposto pela Operação Lava Jato e por outras investigações, nem cinco presidentes em 21 anos foram suficientes para acabar com a corrupção. Acreditar na mesma ideia que deu errado, 50 anos depois, soa no mínimo ingênuo. Prestes a deixar o serviço ativo, Mourão já é adulado como pré-candidato a presidente do Clube Militar, instituição na qual debates caem bem. Provavelmente esse é o melhor caminho.
Com informação de Época.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Americanos voam perto da Coreia do Norte


Bombardeiros e caças americanos voaram neste sábado (23) perto do litoral da Coreia do Norte para mostrar que os Estados Unidos possuem "opções militares" para qualquer ameaça, informou o Pentágono. As informações são da agência de notícias EFE.


"Esta missão é uma demonstração da determinação dos Estados Unidos. É uma mensagem clara de que o presidente, Donald Trump, tem muitas opções militares para derrotar qualquer ameaça", afirmou a porta-voz do Pentágono, Dana W. White, em comunicado.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

XVI Festival da Cultura de João Alfredo PE

Prefeita Maria divulga a  Programação do Festival da Cultura 2017.

Este ano, uma homenagem a Dimas Santos. Serão 4 dias de cultura popular em vários pontos da cidade, feira de artesanato e grandes nomes da música. Ah, também vamos celebrar os 82 anos de Emancipação Política com um grande desfile. Convide os amigos, reúna a família e venha fazer dessa grande festa da cultura regional. João Alfredo espera você de braços abertos, disse Maria Sebastiana.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Traficante, 'primeira-dama' e ex-guarda-costas em guerra por poder na Rocinha: a visão de biógrafo de Nem


Danúbia Rangel
Image captionDanúbia é mulher e 'herdeira' de Nem | Foto: Reprodução/ Facebook

De um lado, o antigo guarda-costas e atual desafeto, que assumiu o poder do morro depois da prisão do mentor. De outro, a mulher do ex-chefe, condenada por tráfico, foragida, mas que, nas redes sociais, ostenta os cabelos pintados bem louros, o corpo bronzeado com biquínis e decotes, óculos escuros de grife e colares de ouro com pingente de coroa.
Ainda é cedo para concluir que a disputa de poder na Rocinha, zona sul do Rio, e a violência detonada na área, que culminou em novo tiroteio na manhã desta sexta-feira e com a decisão de intervenção do Exército, tenham sido ordenadas pelo traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, vulgo Nem, de dentro de uma prisão de segurança máxima, considera o jornalista britânico especializado em crime organizado Misha Glenny.
Mas o racha interno e a crescente tensão entre a mulher e "herdeira" de Nem, Danúbia Rangel, e seu ex-aliado e sucessor, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, precedem o conflito, em uma disputa de protagonismo que pode ajudar a explicar o embate - que gerou fortes tiroteios e imagens de guerra de domingo para cá na maior favela do Rio.
Glenny conta a história de Nem no livro O Dono do Morro: um homem e a batalha pelo Rio (Companhia das Letras), lançado no ano passado.
Em entrevista à BBC Brasil, ele considera que ainda há lacunas a se preencher sobre o papel que o ex-chefe do morro, preso em 2011 e atualmente em um presídio de segurança máxima em Porto Velho, Rondônia, teve no episódio.
Mas diz que Nem continua sendo "extremamente influente" na Rocinha e que Danúbia vinha buscando maior protagonismo na comunidade, com uma divisão de forças entre ela e Rogério 157.
"Claramente havia muita tensão entre o Rogério e a Danúbia. A única coisa que eu ainda não entendi é se a Danúbia estava agindo motivada por sua própria ambição, ou se estava representando, de fato, o Nem", considera Glenny. "Eu suspeito que se trate mais da primeira opção, mas essa é só uma interpretação minha."

O jornalista Misha Glenny
Image captionGlenny aponta para tensão entre Danúbia e Rogério 157, ex-aliado de Nem | Foto: Divulgação/ Ivan Gouveia

Danúbia teria sido expulsa da Rocinha a mando de Rogério, e ambos estão foragidos. Ela, porém, parece se manter ativa nas redes sociais, onde, na segunda-feira, em uma conta que acredita-se ser dela, gabou-se de um perfil publicado no jornal O Globo. Postou o link da matéria destacando um trecho que a compara com a Bibi Perigosa vivida por Juliana Paes na novela A Força do Querer. "Viu só como estou poderzão ainda?", escreveu com um emoji de sorriso escancarado.
Na semana anterior, essa conta postou um panfleto do disque-denúncia com sua foto e de outras mulheres procuradas pela polícia, fazendo troça: "Eu e minha coleguinhas bombando por aí", diz, ao lado de carinhas chorando de tanto rir.
Glenny diz que Danúbia não é muito popular na Rocinha, sendo uma "forasteira" que veio da Maré, complexo de favelas na zona norte do Rio. Teria autoridade na favela não por sua personalidade, mas por ser mulher de Nem, tornando-se uma rara liderança feminina no mundo do tráfico - que lhe rendeu a alcunha de "Xerife da Rocinha". Ela é a quarta esposa de Nem - que, segundo Glenny, sempre se mostrou "muito apaixonado" por ela. Antes, foi mulher de dois traficantes na Maré, ambos mortos pela polícia. Daí também o apelido de "viúva negra".
No domingo, a Rocinha foi invadida por dezenas de traficantes de morros como o São Carlos e o Vila Vintém, favelas controladas, assim como a Rocinha, pela facção criminosa conhecida como Amigos dos Amigos (ADA). O bando estaria, a pedido de Nem - segundo os jornais -, tentando tomar o controle das mãos de Rogério 157, em uma disputa interna da favela por integrantes da mesma organização.
Glenny, que se encontra em Londres, diz que segue acompanhando de perto a escalada de violência no Rio e considera que os governos estadual e federal tem sido "incapazes" de lidar com a guerra de facções no Rio, que as Unidades de Polícia Pacificadora só continuam existindo "no papel" e que o envio do Exército para o Rio "não teve qualquer impacto na redução da criminalidade".
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - O seu livro narra desde a ascensão de Nem a "dono do morro" à sua prisão em 2011. Ele agora está em um presídio de segurança máxima em Rondônia - que papel você acha que ele desempenhou nessa disputa?
Misha Glenny - Citando fontes da polícia e do sistema prisional, os jornais dos últimos dias têm dado como certo que Nem comandou a invasão da Rocinha através da Danúbia (Rangel, sua mulher). Para mim, isso ainda é uma questão em aberto. Não digo que não aconteceu, mas não está comprovado.
O Nem continua sendo uma figura incrivelmente influente e popular na Rocinha, e as pessoas o ouvem muito, mas não sabemos ainda até que ponto ele está envolvido.
Se a ordem partiu dele, para quem teria dado a mensagem? Desde o início do mês ele não teve visitas da família, e só na terça desta semana foi visitado por seu advogado.

Postagem de conta atribuída a Danúbia no Facebook
Image captionDanúbia, que aparece em conta no Facebook que seria sua, é a quarta esposa de Nem | Foto: Reprodução/Facebook

BBC Brasil - Sempre vemos disputas entre facções rivais no Rio, mas o que parece notável neste caso é que a disputa é entre integrantes da mesma facção (a ADA). O que precipitou esse conflito interno?
Glenny - Na última vez que estive no Rio, em dezembro, já tinha havido um racha entre a Danúbia e o Rogério (Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, sucessor de Nem no comando do tráfico da Rocinha). A Danúbia havia criado seu próprio bonde e tinha seus próprios seguranças. E havia um terceiro protagonista nessa história, o Perninha (Ítalo Jesus Campos), que era braço direito do Nem e foi assassinado no dia 13 de agosto (investigações apontam que Perninha planejava tomar a favela a mando de Nem). Há indícios de que ele estava se aproximando da Danúbia, queria abrir suas próprias bocas de fumo, e por isso foi assassinado.
Então antes de se falar em uma ofensiva comandada pelo Nem a partir da prisão, é preciso considerar que já havia essa disputa interna dentro da Rocinha. Havia divisões internas, com a Danúbia aparentemente querendo ter mais protagonismo, e a comunidade se dividindo sobretudo entre ela e o Rogério.
BBC Brasil - A Danúbia agora está foragida e teria sido expulsa da comunidade pelo Rogério. Qual é a importância e o papel desempenhado por ela na Rocinha? Você a conheceu?
Glenny - Eu conheci a Danúbia. O Antônio (Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem) sempre me deu a entender que é muito apaixonado por ela. Ela é sua quarta esposa e se tornou uma figura muito poderosa na Rocinha, embora não seja muito popular na comunidade.
Sua autoridade vem do fato de ser casada com o Nem, não de sua personalidade. Ela vem do Complexo da Maré, é uma forasteira. E, sobretudo, é uma mulher. Do ponto de vista sociológico, sua história é muito interessante. A tradição no tráfico de drogas no Rio não é particularmente amigável a mulheres. E certamente não em posições de liderança. Então é uma situação incomum.
Claramente havia muita tensão entre o Rogério e a Danúbia. A única coisa que eu ainda não entendi é se a Danúbia estava agindo motivada por sua própria ambição ou se estava representando de fato o Nem. Eu suspeito que se trate mais da primeira opção, mas essa é só uma interpretação minha.
BBC Brasil - Como a operação da ADA se distingue das outras? Há muito foco na personalidade dos líderes, como vemos até hoje na influência da figura do Nem, mesmo preso desde 2011?
Glenny - A ADA nasceu com muito sangue, a partir de uma ruptura no Comando Vermelho (CV) nos anos 1990, que se deu com muitas mortes. É a mais jovem facção das três (cariocas). Quando o Nem assumiu o controle da Rocinha, ele adotou o estilo de um de seus antecessores, o Lulu (Luciano Barbosa da Silva, que chefiou a comunidade antes dele e foi morto pelo Bope em 2004).
A sua marca foi usar menos violência e se concentrar mais em corromper a polícia e construir uma rede de serviços sociais para assegurar o apoio da comunidade. Essa é uma das marcas da ADA, mas em outras favelas a facção é mais violenta, por causa das ameaças do CV e do Terceiro Comando Puro (TCP).
A desvantagem é que a Rocinha é uma das maiores, se não a maior, distribuidora de cocaína do Rio. É muito valorizada e disputada. Por outro lado, é uma comunidade difícil de invadir se você não tem apoio interno e um contingente grande o suficiente.

A favela da RocinhaDireito de imagemREUTERS
Image captionSegundo jornalista, Rocinha é uma das maiores, se não a maior, distribuidora de cocaína do Rio

BBC Brasil - Nos últimos dias, moradores da Rocinha disseram que o Rogério vinha impondo a cobrança de taxas por serviços como distribuição de gás, métodos associados a milícias. Você acha que o Nem poderia querer tirá-lo por isso?
Glenny - Como eu disse, não estou certo de que o Nem estivesse ativamente tentando se livrar dele. Não temos provas disso ainda. Mas certamente o Nem não aprovaria a troca do modelo que ele implementou por outro mais adotado pelas milícias, contrariando o que foi tradição na Rocinha nos últimos 18 ou 19 anos.
Depois de um período muito violento entre os anos 1990 e o começo dos anos 2000, a Rocinha teve o que os moradores consideram seus anos de ouro, com o sistema introduzido por Lulu e seguido e ampliado por Nem.
O Rogério não se fez nenhum favor ao impor novas taxas de pagamento aos moradores, cobrando taxas para mototaxistas operarem, pela distribuição de gás, esse tipo de serviço. Há muita insatisfação dentro da Rocinha com o Rogério e com a maneira como ele vinha chefiando a favela.
BBC Brasil - Você teve uma série de conversas com o Nem nas entrevistas que deram origem ao seu livro. Como o descreve?
Glenny - Eu passei um total de 31 horas com ele. O Nem é uma pessoa que não age espontaneamente. Ele pensa muito antes de tomar qualquer decisão e gosta de discutir as opções com outras pessoas. Fica ansioso no processo, mas quando chega a uma decisão tende a levá-la adiante. Ele é calmo.
Se tivesse tido uma educação melhor, acho que seria uma empresário bem-sucedido, porque tem carisma e sabe tomar decisões. Mas a tese do meu livro é que ele se permitiu ser preso porque achou excessiva a tensão de ser dono do morro.
BBC Brasil - Você diz que tem estado em contato constante com moradores da Rocinha. Que sensação que eles têm te passado?
Glenny - O sentimento é de preocupação generalizada. As pessoas estão extremamente assustadas e apreensivas. Não sabem como a situação vai se desenrolar, mas sabem que ainda não terminou.
Está na natureza dos conflitos em favelas que, quando eles acontecem, explodem sem aviso prévio. Podem ocorrer a qualquer hora. Os períodos de disputas podem ser longos ou curtos, mas eles geralmente são sangrentos. Isso está na memória coletiva da Rocinha. E quando você tem tiroteios dentro de uma favela, as chances de danos colaterais são enormes.
E o pano de fundo é que, como todo mundo sabe, o Estado não está funcionando direito. Isso cria muita tensão para a polícia. Nas imagens de domingo, vimos que os policiais da UPP estavam se escondendo e evitando confronto.

Postagem de Danúbia no Facebook
Image captionEsposa de Nem aparentemente se mantém ativa nas redes sociais e faz piada com sua situação criminal | Foto: Reprodução/ Facebook

BBC Brasil - Que tipo de mensagem isso transmite para os criminosos?
Glenny - Significa que o Estado está cedendo o monopólio da violência para os traficantes na favela. É difícil não sentir raiva da administração Sérgio Cabral (ex-governador do Rio, preso em Bangu e condenado nesta semana a 45 anos de prisão por um esquema que teria movimentado R$ 220 milhões em propina entre 2007 e 2014).
Quando Cabral era governador, o Beltrame (o ex-secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame) fez um bom trabalho em estabelecer a UPP policial. E o governo do Rio falhou consistentemente em investir em uma UPP social. Esse era o combinado, com as UPPs você teria a polícia nas favelas e a partir daí incrementaria o investimento social nas comunidades.
Mas esse investimento social nunca aconteceu, e isso levou o Estado a perder ainda mais credibilidade nas favelas. Atualmente o governo do Estado, do (governador Luiz Fernando) Pezão, do (secretário de Segurança) Roberto Sá não tem qualquer credibilidade dentro das favelas, porque as UPPs já não existem mais, a não ser no nome.
BBC Brasil - Essa crise é o pano de fundo para o confronto que estamos vendo na Rocinha?
Glenny - Há dois panos de fundo que precisam ser considerados. O primeiro é a instabilidade nas relações entre o Comando Vermelho (CV), o Terceiro Comando Puro (TCP) e a Amigos dos Amigos (as três maiores facções criminosas do Rio), e o papel que o Primeiro Comando da Capital (o PCC, fundado em São Paulo) vem desempenhando no Estado.
O PCC está envolvido nessa luta entre as facções, fornecendo armamentos à ADA e ao TCP. Você deve lembrar as rebeliões que explodiram nas prisões neste ano, incluindo decapitações. Foram fruto de uma disputa entre o PCC e o Comando Vermelho. E uma das formas de o PCC atingir o CV é fortalecendo seus inimigos, fornecendo armas para suas facções rivais no Rio.
O outro contexto importante é o colapso absoluto das UPPs. É aqui que vemos o verdadeiro impacto da falência efetiva do Estado do Rio. Não há recursos para segurança, e a ajuda federal, com o envio do Exército para o Rio, não teve qualquer impacto na redução da criminalidade. A comunicação entre as lideranças militares e as polícias do Rio é atroz. Não há uma estratégia de segurança integrada.
O Rio enfrenta uma crise econômica e política severa, há enorme tensão em Brasília com a Lava Jato, há o escândalo da JBS, há tudo isso ao mesmo tempo. Estamos vendo uma guerra de facções irromper, que considero ainda pequena - mas as instâncias estaduais e federais são incapazes de lidar com ela.

Danúbia Rangel posa para foto
Image captionSegundo britânico, na Rocinha Danúbia é vista como forasteira | Foto: Reprodução/Facebook

Tradicionalmente, e particularmente desde que o Nem passou a chefiar a favela em 2005, a Rocinha tem níveis de criminalidade e homicídio muito mais baixos que outras favelas. Se as coisas estão ruins na Rocinha, você sabe que a situação é grave.
BBC Brasil - No ano passado, quando você esteve na Flip, você considerou que o Rio não teria problemas de segurança até as Olimpíadas, mas depois disso a coisa tendia a piorar.
Glenny - A Olimpíada foi um buraco negro de atividades corruptas. Quando a Copa e a Olimpíada passaram, ficou evidente que o Brasil tinha navegado nos preços altos das commodities sem fazer melhorias estruturais à economia e ao sistema político. Então a Olimpíada pôde ser vista pelo que foi: uma brincadeira muito danosa à cidade do Rio de Janeiro.
A UPP foi introduzida em parte para mostrar para o mundo lá fora que o Rio seria uma sede segura para os jogos. E muitos diziam que quando a atenção internacional se desviasse, a situação se deterioraria rapidamente. E é isso que estamos vendo.
BBC Brasil - Você vê alguma saída para o problema?
Glenny - No momento, temos a atuação do Exército no Rio, mas isso não resolve o problema. A solução é colocar as finanças do Rio nos trilhos e adotar políticas sérias - na verdade, acho que o Brasil precisa considerar seriamente a descriminalização e legalização da posse de drogas por uso pessoal, seguindo o exemplo de outros países do continente americano.
Isso não vai resolver o problema do varejo de drogas, mas vai tirar uma quantidade enorme de pressão de cima da polícia, em um momento em que a polícia precisa de apoio, dada a instabilidade da situação.
BBC Brasil - Depois de passar tanto tempo fazendo pesquisa na Rocinha, como você se sentiu ao ver as imagens dos conflitos nos últimos dias?
Glenny - Não fiquei surpreso. Mas fiquei muito entristecido. E apreensivo por estar longe. Gostaria de estar lá para acompanhar melhor o que está acontecendo e tentar comunicá-lo para o resto do mundo, porque não tem a atenção que merece.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Rocinha em pânico

Operação na Rocinha RJ (Foto:  Fábio Guimarães / Extra / Agencia O Globo)
A favela da Rocinha vive dias de pânico desde o domingo passado (17), quando mais de 50 bandidos armados com fuzis invadiram a comunidade para tomar o poder de traficantes rivais. Localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, a Rocinha é uma das maiores favelas do Brasil, com 70 mil habitantes, e abriga alguns dos pontos mais rentáveis de venda de drogas. O tiroteio de cinco horas deixou muros, casas e carros crivados de bala. Em número inferior, os policiais da Unidade Polícia Pacificadora (UPP) se esconderam. A polícia só iniciou a caçada aos bandidos no dia seguinte. Prendeu R., de 19 anos, que estava com duas granadas e roupas camufladas em sua casa na parte alta da favela. Ele resolveu colaborar e, numa espécie de delação, deu os nomes de boa parte dos invasores. Com base no relato e nas informações da UPP, a Polícia Civil apontou que a ordem para o ataque partiu do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, conhecido como Nem, preso desde 2011, atualmente no presídio federal de segurança máxima em Rondônia, a 3.500 quilômetros de distância da Rocinha.
O relato de R. levou a Justiça a decretar a prisão de 11 acusados de integrar o bando. A medida também alcança Nem, já enclausurado, que passará a responder a mais um processo, além das condenações a 96 anos de prisão que já tem. A polícia segue atrás de outros envolvidos com a ajuda de R. “Seu relato trouxe um substancial norte à investigação”, diz documento da Justiça.

Como os invasores ainda não foram presos, os tiroteios continuam a aterrorizar a comunidade. Na manhã desta sexta-feira (22), uma intensa troca de tiros fechou as principais vias que ligam a Zona Sul à Zona Oeste da cidade. Moradores se jogaram no chão para se proteger de balas perdidas. Os bandidos lançaram uma granada contra os policiais, mas a bomba não explodiu. As ruas da região ficaram desertas. Escolas, postos de saúde e creches fecharam as portas. O governador Luiz Fernando Pezão pediu socorro às Forças Armadas, que enviou 950 militares para fazer um cerco à comunidade.
Pivô da guerra na Rocinha, Nem comandou o tráfico na favela de 2007 até novembro de 2011, quando a PM o capturou no porta-malas de um Corolla preto no qual tentava fugir. A comunidade estava prestes a ser retomada dos bandidos com ajuda dos tanques da Marinha. Foi a mais importante prisão no processo de pacificação das favelas cariocas. Agora, o violento traficante impõe uma derrota à pacificação ao levar terror à maior comunidade com UPP.
Documento da Justiça Federal de Rondônia mostra que, pelo menos desde maio de 2015, a Secretaria de Segurança Pública sabia que Nem transmitia ordens de dentro do presídio para bandidos ainda em liberdade na Rocinha. O serviço de inteligência tinha conhecimento que o traficante mandara seu ex-segurança Rogério Avelino da Silva, conhecido por Rogério 157, entregar o comando do tráfico para Ítalo de Jesus Campos, chamado de Perninha. Rogério 157 desobedeceu. Em agosto passado, a polícia encontrou o corpo de Perninha crivado de balas no porta-malas de um carro. Depois disso, Rogério 157 expulsou a mulher de Nem da comunidade. Os mais de 50 homens com fuzis enviados por Nem para retomar o poder saíram do complexo de favelas de São Carlos e percorreram 13 quilômetros sem que a polícia os parasse.
Criados a partir de 2006, os cinco presídios federais foram destinados a chefes de organizações criminosas que deveriam ficar isolados, mas isso não acontece na prática. Entre julho de 2015 e setembro de 2016, Nem recebeu 171 visitas no presídio de Porto Velho, em Rondônia. Pagou passagens aéreas, alimentação e hospedagem dos parentes que vieram do Rio. Não se sabe a origem do dinheiro que bancou as despesas. O juiz federal Walisson Gonçalves Cunha afirma que vários presos recebem visitas ao mesmo tempo no pátio do presídio, o que dificulta a fiscalização. Os criminosos podem transmitir recados dentro dos banheiros, onde não há qualquer monitoramento.
Professor Edgar Bom Jardim - PE
Com ÉPOCA.