quarta-feira, 6 de setembro de 2017

PRIVATIZAÇÕES:Temer e seus aliados irão colocar o vermelho, a foice e o martelo na bandeira do Brasil. A China vai comprar o Brasil.


 No China, Temer apresentou o conjunto de 57 projetos que serão concedidos à iniciativa privada em busca de atrair investidores chineses.
O presidente também busca ampliar o comércio com a China, que é atualmente o maior parceiro comercial do Brasil. Temer viajou acompanhado por ministros, governadores e cerca de 10 parlamentares.
No dia 1° de setembro, em Pequim, o presidente fez visita de Estado a convite do presidente Xi Jinping. Ele se reuniu também com o primeiro-ministro Li Keqiang. Com a visita, o governo espera promover a diversificação da pauta de exportação para a China e atrair novos investimentos. Em Pequim, foram assinados acordos em áreas como infraestrutura, saúde, cultura e tecnologia.
Temer conclui a visita à capital com a participação no Seminário Empresarial Brasil-China, organizado pela Apex-Brasil, para  líderes empresariais chineses que já investem ou têm interesse em investir no Brasil.
Com informações de Agencia Brasil. Foto Bandeira da  Internet 
Professor Edgar Bom Jardim - PE

'Pacto de sangue': As acusações de Palocci contra Lula e Odebrecht

Palocci em depoimento em Curitiba
Image captionPalocci dá depoimento a juiz Sergio Moro e diz que Lula pediu dinheiro para PT
A relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a empreiteira Odebrecht envolvia um "pacto de sangue" que consistia em presentes pessoais ao líder petista - o sítio de Atibaia (SP) -, a doação do prédio de um museu dedicado a seu legado, palestras no valor de R$ 200 mil, uma reserva de R$ 300 milhões de reais.
A afirmação, que já pipocou em acusações de delatores e testemunhas da operação Lava Jato, pela primeira vez partiu de um dos homens próximos a Lula: seu ex-ministro da Fazenda, o petista Antonio Palocci.
Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro na tarde desta quarta-feira, em ação penal que investiga a acusação de que a Odebrecht doou um terreno para a construção de prédio do Instituto Lula como propina, Palocci afirmou que o ex-presidente tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras e se preocupou no início, mas depois pediu que os diretores da estatal fizessem reservas partidárias a partir dos desvios.
Palocci está preso desde setembro de 2016. Em junho passado, foi condenado por Moro a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No depoimento, também acusa de crimes a ex-presidente Dilma Rousseff, o pecuarista José Carlos Bumlai e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, entre outros nomes.
Confira os pontos mais importantes do depoimento:
LulaDireito de imagemAFP
Image captionSegundo Palocci, acordo com Odebrecht envolvia presente pessoal a Lula

1. Sítios, palestras e museu: o pacto de sangue com a Odebrecht

Durante o depoimento, Palocci afirma que Emilio Odebrecht procurou Lula no fim de 2010, no fim de seu governo, para fazer um "pacto de sangue".
"Eu chamei de pacto de sangue porque envolvia um presente pessoal, que era um sítio, envolvia um prédio de um museu pago pela empresa, envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, combinadas com a Odebrecht para o próximo ano, várias palestras, envolvia uma reserva de 300 milhões de reais", diz.
Emilio é pai de Marcelo Odebrecht, que era presidente da empreiteira e está preso desde junho de 2015 - ele deve deixar o regime fechado no fim deste ano, como parte do acordo de delação premiada fechado entre os advogados da empreiteira e o Ministério Público Federal.
Segundo Palocci, Lula o procurou após a conversa com Emilio e ordenou que não brigasse com a Odebrecht - "ele mandou eu recolher os valores".
Ao detalhar a relação entre Odebrecht e Lula, o ex-ministro afirma que a corrupção era longeva e conhecida dos mais íntimos do ex-presidente. "A Odebrecht era uma colaboradora", afirma.
Na sequência, no entanto, ele corrige o uso do termo "colaboradora": "O senhor (Moro) desculpa, às vezes eu... 30 anos treinando para falar dessa forma, que a Odebrecht dava propinas frequentes ao presidente Lula e ao PT".
Palocci classifica a ligação entre a empresa e os governos de Lula e Dilma como "intensa".
"Foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1, caixa 2", diz. "Eu tenho conhecimento porque participei de boa parte desses entendimentos na qualidade de ministro da Fazenda do presidente Lula e de ministro da Casa Civil da presidente Dilma."
O ex-ministro diz que conhecia os Odebrecht desde antes do primeiro governo petista. "Eu estive com eles desde 1994 quando o presidente Lula os conheceu", conta. "Então eu tratava de todo tipo de tema com eles (Odebrecht), inclusive de temas ilícitos. Inclusive."
Segundo ele, o "pacto de sangue" oferecido a Lula por Emilio Odebrecht surgiu de "certo pânico" da companhia com a posse de Dilma - como ministra da Casa Civil, ela teria liderado um embate com a empreiteira e impedido que conquistasse as obras das duas usinas do Rio Madeira - no fim, ficou apenas com uma, e "a um preço muito ruim".
"Ele procurou o presidente Lula nos últimos dias do seu mandato e levou um pacote de propinas (...) que envolvia esse terreno do instituto, que já estava comprado e o seu Emílio apresentou (...), o sítio pra uso da família do presidente Lula - que ele já estava fazendo a reforma, que já estava em fase final, e disse (...) que já estava pronto - e também disse (...) que ele tinha à disposição dele para o próximo período, para fazer as atividades políticas dele, R$ 300 milhões."
Palocci diz ter ficado "chocado" com a oferta, que representava uma guinada no relacionamento com a empreiteira - e conta como ficou sabendo dela.
"No dia seguinte, de manhã, o presidente Lula me chamou no Palácio da Alvorada, e me conta da reunião. Ele também se mostrou um pouco surpreso e disse: 'Olha, ele só fez isso porque ele tem muito receio da Dilma. Porque ele nunca tratou de recursos comigo e dessa vez ele tratou de um pacote de coisas e é um recursos muito alto'. E ele pediu pra tratar desse recurso com o Marcelo Odebrecht."
No Twitter, Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, afirmou que "Palocci compareceu ato pronto para emitir frases de efeito como 'pacto de sangue', esta última anotada em papéis por ele usados na audiência". Para o advogado, "Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusações do MP (Ministério Público) para obter redução de pena."
Em nota, por sua vez, a Odebrecht afirmou que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua".
"Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas."
Lula e Palocci
Image captionPalocci foi um dos homens-fortes do governo Lula | Foto: Ag. Brasil

2. Conta corrente com o PT

De acordo com Palocci, as vantagens indevidas pagas pelas empreiteiras ao PT não se destinavam a retribuir benesses específicas obtidas em um ou outro contrato público. Tratava-se de manter uma relação amigável e constante com os mandatários para estar sempre em posição privilegiada em concorrências públicas.
Por isso, segundo o ex-ministro, a Odebrecht e outras construtoras mantinham uma conta corrente ativa com o PT, frequentemente abastecida com propina. "A vantagem (repassada ao partido) dá vantagens para a empresa. Essa empresa cria uma conta para destinar aos políticos que a apoiaram", explica.
Em contrapartida, de acordo com o raciocínio de Palocci, Lula e o PT criariam ambiente propício na Petrobras para que as empresas obtivessem gordos contratos:
"O presidente mantém lá (na Petrobras) diretores que apoiam a empresa, para dar a ela contratos. Esses contratos geram dinheiro. Algumas (empresas) criam operações estruturadas, outras criam caixas dois, outras criam doleiros, e com esse dinheiro pagam propina aos políticos. É isso. Isso aconteceu durante esse período".
Palocci não especifica o período, mas infere-se que ele está falando dos governos Lula e Dilma.
Os detalhes da conta-corrente com a Odebrecht foram tratadas em reuniões entre Emílio Odebrecht e Lula. De acordo com Palocci, Emílio se comprometera a fazer um repasse ao ex-presidente de R$ 300 milhões no final de 2010 e acenara com a possibilidade de ser mais. Ao conversar com Marcelo Odebrecht, no entanto, ouviu que houve uma "divergência de valores".
"Ele falou: 'não é R$ 300 milhões, meu pai se enganou, R$ 300 milhões é a soma daquilo que foi dado com aquilo que ainda tem disponível'", diz o ex-ministro.
Embora tenha se envolvido na negociação sobre a conta corrente, Palocci afirma ter sido contra essa ideia:
"Não queria ter contas com a Odebrecht. Insisto, doutor, não por santidade, eu achava que não devia ter conta corrente, eu achava que devia continuar tendo uma relação de confiança, onde a gente buscava os recursos quando necessário. Eu tinha essa postura."
Palocci, no entanto, foi voto vencido diante do interesse do próprio Lula em viabilizar a conta corrente:
"Não era prática do Emílio tratar de reservas e recursos com o presidente Lula. Esse assunto não era pauta das reuniões. Mas nessa foi. Esse foi o espanto do presidente Lula. Não o espanto de ter disponível R$ 300 milhões, ele gostou disso. Tanto que na segunda vez falou que o dr. Emílio tinha confirmado os 300 e que poderia ser mais, pra eu cuidar disso. Não é pra cuidar do espanto dele, é pra cuidar do dinheiro", disse.
Emílio Odebrecht fez parte do mega acordo de delação premiada negociada em 2016 com o Ministério Público Federal. Em seus depoimentos, confirmou o repasse de propinas para o PT, a pedido do próprio Lula. Mas não citou a reunião dos R$ 300 milhões da conta corrente. Marcelo Odebrecht, no entanto, mencionou o assunto em depoimentos da colaboração firmada.

3. Dilma como beneficiária do esquema

De acordo com Palocci, Dilma não apenas sabia do esquema corrupto entre PT, Odebrecht e outras empreiteiras, como foi beneficiária e mantenedora dos arranjos. Segundo ele, tanto as campanhas presidenciais de Lula quanto as de sua sucessora foram custeadas com dinheiro ilícito.
"Várias vezes eu falei para empresas: o senhor, pode fazer doações para a campanha do presidente tal e da presidente tal?", relata, e continua:
"Eu sabia que depois os tesoureiros iam lá e (as empresas) faziam pagamento lícitos e ilícitos, caixa 1 e caixa 2. Muitas vezes era caixa 1 para simular pagamento legal, mas a origem do dinheiro era ilegal."
Na sequência, Palocci dá como exemplo da mecânica de doações ilegais à campanha de reeleição de Dilma, em 2014.
"Essa foi a campanha que mais teve caixa 1 e foi uma das que mais teve ilicitudes. Por quê? Porque o crime se sofisticou no campo eleitoral, as pessoas viram que o problema era o caixa 2, então transformaram tudo em caixa 1. O ponto é a origem criminosa dos valores, a Lava Jato desvendou esse mistério", afirma Palocci.
A ex-presidente Dilma e o PT sempre negaram caixa 2 ou ilegalidades no financiamento da campanha. No entanto, Palocci dá exemplos de situações em que tais temas foram tratados na presença dela ou dependeram de sua chancela.
Segundo o ex-ministro, em meados de 2010 ele participou de uma reunião com Lula, Dilma e o então presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. No encontro, realizado na biblioteca do Palácio da Alvorada, o então presidente tratava da exploração do pré-sal.
De acordo com Palocci, Lula teria dito:
"O Palocci está aqui porque ele vai lhe acompanhar nesses projetos, para que eles tenham total sucesso, e para que ele garanta que uma parcela desses projetos financie a campanha dessa companheira aqui (Dilma), que eu quero ver eleita presidente do Brasil."
Ainda naquele ano, mas após a eleição de Dilma, teria havido uma nova reunião. Dessa vez, além de ambos, estavariam Lula e Emílio Odebrecht. O objetivo do encontro, afirma o ex-ministro, era colocar Dilma a par das relações entre o PT e a empresa, para que ela conservasse todos os acordos - "lícitos e ilícitos", nas palavras dele.
Palocci diz que Dilma cumpriu o papel a contento, "em diversas ocasiões".
"Na área de aviação, por exemplo. Odebrecht desejava muito ter um aeroporto de porte sob seu comando, na medida que o governo privatizou os aeroportos. Na primeira leva, Garulhos, Viracopos, Brasília, a Odebrecht perdeu os três. Ela queria muito o de Campinas, mas perdeu. Entrou com o recurso contra o consórcio vencedor Triunfo/UTC, entrou tentando derrubar na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)", diz Palocci.
Como a presidência da Anac àquela altura era uma nomeação de Palocci, a empresa teria pedido a ele que intercedesse a seu favor, o que o ex-ministro nega ter feito. Ele, no entanto, não tardou em arrumar uma solução administrativa que beneficiasse a Odebrecht, em 2013, com a anuência de Dilma.
"Eu fui à presidente Dilma e ela disse que eles deviam ficar calmos que em uma próxima licitação ela cuidaria desse assunto. Retiraram o recurso que tinham na Anac e foram beneficiados na licitação do Galeão. Como foram beneficiados? Houve uma cláusula nessa licitação que impedia o vencedor da licitação de Cumbica de participar da licitação do Galeão", diz.
Ele reforça: "(A cláusula) foi colocada por solicitação da Odebrecht. E eu tive participação nisso".
Dilma não se pronunciou até a publicação deste texto.
BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Qual será o impacto do revés na delação da JBS no legado de Janot e no futuro da Lava Jato?

Rodrigo JanotDireito de imagemREUTERS
Image captionProcurador-geral da República enfrenta um dos momentos mais delicados de seu segundo mandato a poucos dias de deixar o cargo
"Enquanto houver bambu, lá vai flecha", prometeu em julho o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a menos de três meses do fim do seu mandato. Faltando agora poucos dias para deixar o cargo, em 17 de setembro, ele tem cumprido a promessa. Nesta terça, foi a vez dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e outros petistas serem alvo de uma denúncia por crime de organização criminosa.
Mas bem no momento em que Janot reforça sua artilharia, ele próprio sofreu um grande revés com a revelação de possíveis ilegalidades na condução do acordo de delação premiada firmado com o grupo JBS, justamente aquele que deu origem à primeira denúncia contra o presidente Michel Temer e, acredita-se, ainda será usado em uma segunda, ao lado da colaboração de Lúcio Funaro (tido como operador de propina do PMDB), que acaba de ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
O revés de Janot dará fôlego para o discurso anti-Lava Jato no Congresso e reforçará a defesa de Temer e outros políticos investigados, mas o impacto para seu legado "anticorrupção" e o futuro da operação pode não ser de todo negativo, avaliam estudiosos do Direito e da política ouvidos pela BBC Brasil.
Marcus Melo, professor titular de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco, acredita que "o episódio traz um custo 'reputacional' considerável para Janot, que já havia sofrido danos não triviais com o episódio da delação superpremiada do Joesley Batista" - o executivo havia se livrado de qualquer hipótese de prisão, o que gerou certa indignação em setores da sociedade.
Ele vê, porém, um impacto modesto na tramitação da esperada segunda denúncia contra Temer, pois mesmo sem o novo escândalo envolvendo o acordo, o "saldo líquido já era positivo" para Temer e "a possibilidade de a denúncia ser até arquivada já estava posta".
"A derrubada da primeira denúncia já havia sinalizado que a base parlamentar do presidente Temer estava coesa, dentre outras razões pelo próprio comportamento defensivo dos parlamentares em relação à Lava Jato. E mais: na medida em que o tempo passa os ânimos arrefecem, na opinião pública e entre parlamentares, por razões estritamente pragmáticas: o governo tem pouco mais de 12 meses pela frente e há uma certa reversão de expectativas sobre a economia", nota ele.
Já para o futuro da Lava Jato em si, embora considere que as revelações comprometedoras sobre o acordo com a JBS tenham potencial para alimentar iniciativas contra a operação no Congresso, Melo avalia que hoje a maioria do STF tem dado sustentação ao Ministério Público e que a entrada de Raquel Dodge no lugar de Janot também tende a "zerar a dimensão mais personalizada dos conflitos".
A futura procuradora-geral vem sendo apontada como mais discreta que Janot.
O cientista político acredita que mais cautela, a partir desse episódio da JBS, pode ser positivo para a operação. "Os impactos (das novas revelações sobre o acordo da JBS) serão significativos, não diria para a continuidade da Lava Jato, mas para seu padrão de atuação que provavelmente será menos açodado e mais cauteloso", disse.
"A Lava Jato é muito maior do que o PGR, embora ela seja um autor institucional central. A operação compreende a Justiça Federal no país como um todo, o STF e a Polícia Federal. Imagino que haverá um aprendizado institucional a partir do episódio, e que não decorra daí descontinuidades importantes", reforça.
"A Arca do Tesouro do Geddel (Vieira Lima), da entourage do Temer e ex-ministro do Lula também tem dimensão simbólica importante: aponta para a necessidade de fortalecimento ainda maior das instituições de controle", acrescenta ainda, em referência aos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento supostamente ligado ao peemedebista.

Risco de anulação de provas?

Joesley Batista deixa a sede da PF em SPDireito de imagemREUTERS
Image captionGravação levou a investigação de possíveis ilegalidades na condução do acordo de delação premiada com o grupo JBS
O efeito mais prático do controverso acordo com a JBS - agora sob a suspeita de atuação ilegal de um dos procuradores próximos a Janot, Marcelo Miller, que deixou a PGR em abril para advogar para a empresa - é o risco de as provas levantadas na delação serem anuladas, aponta o magistrado André Bezerra, membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD).
Embora Janot tenha anunciado que o apenas os benefícios dos delatores podem vir a serem revisto, preservando-se as provas, Bezerra afirma que, se tiver havido de fato um ilegalidade na condução do acordo, há espaço para descartar as provas, dentro da tese dos "frutos da árvore envenenada", que já levou à anulação, por exemplo, da Operação Satiagraha.
"O Supremo Tribunal Federal já tem uma jurisprudência bastante forte no sentido de que qualquer irregularidade cometida numa investigação criminal é capaz de anular tudo que foi feito. A delação não é uma prova, é um caminho para a investigação. Mas, se esse caminho foi encontrado irregularmente, segundo essa jurisprudência, isso pode anular tudo", diz.
"O fruto da árvore envenenada envenena a árvore inteira. Isso deve ser o grande temor do Ministério Público Federal hoje."
O ministro do STF Gilmar Mendes, por sua vez, acusou nesta quarta-feira a PGR te ter feito "contratos criminosos" com delatores da Lava Jato.
"Eu imagino que o procurador-geral pensou em fazer um grand finale, oferecer várias denúncias, inclusive a última contra o presidente da República. Mas acho que ele conseguiu coroar dignamente o encerramento de sua gestão com esse episódio Joesley", ironizou Mendes.
"Ele fez jus a tudo o que plantou ao longo de todos esses anos, e essa será a marca que nós vamos guardar dele, o procurador-geral da delação Joesley, desse contrato com criminosos, dessa fita."
O caso vem alimentar outras críticas já recorrentes sobre a aplicação da delação premiada, observa Bezerra, no sentido de que o instrumento acaba servindo para condenações "midiáticas", mesmo antes de o acusado poder se defender na Justiça.
Recentemente, relatório da PF apontou falta de provas para embasar a acusação de que Dilma teria tentado obstruir a Justiça, conforme havia sido levantado no acordo de delação do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT), por exemplo.

'Delação premiada pode sair fortalecida'

Presidente Michel TemerDireito de imagemREUTERS
Image captionCaso dá fôlego a discurso anti-Lava Jato no Congresso e reforça defesa de Temer contra segunda denúncia de Janot
Já Silvana Batini, procuradora regional da República e professora de direito da FGV-Rio, considera que o instrumento da delação pode sair fortalecido desse caso, mesmo que o acordo com a JBS venha a ser revogado.
Ela minimiza o risco de anulação de provas e diz que o que Janot está apontando é para a possibilidade de retirar os benefícios dados aos delatores, porque eles teriam omitido informações importantes da PGR.
"O que houve foi quebra contratual. Se você faz um contrato e a pessoa descumpriu uma cláusula desse contrato não significa que o contrato desde o início estava viciado", argumenta.
Ela reconhece que "politicamente os efeitos são negativos" e que as defesas de Temer e do senador tucano Aécio Neves (que recebeu R$ 2 milhões da JBS) irão explorar as controvérsias em torno do acordo de delação.
"Agora do ponto de vista técnico, jurídico, não vou dizer que encaro de forma positiva, porque não é bom, mas encaro de forma muito tranquila. A lei de delação premiada prevê expressamente essa possibilidade (de revogar o benefício)", diz.
"Se conseguirmos separar as coisas, o instituto sai fortalecido. Se a solução for aquela que a lei prevê, preservar a prova e cassar o benefício, será uma demonstração pública de que um colaborador, quando vier para fazer a colaboração, deve saber que não é vantajoso enganar o Estado."
Batini ressalta também que houve mais de 160 acordos dentro da Lava Jato e que eventuais problemas seriam pontuais.
"A delação é um instrumento que, embora antigo no Brasil, só foi regulamentado há muito pouco tempo, em 2015. É como se a gente tivesse tirado uma carteira de habilitação e nos fosse dado uma frota de carros de última geração para dirigir", afirma, em referência a grande dimensão do escândalo de corrupção investigado na Lava Jato.
"Não tivemos um período de maturação da delação premiada com a pequena criminalidade, aquela que é a tradição do Brasil de persecução, tráfico de drogas, assalto, roubo", observa.
Além de classificar a delação como "instrumento absolutamente indispensável para investigação de organização criminosa", Batini também faz fervorosa defesa de Janot.
"Acho que Janot entra para a história como o PGR que mais combateu a corrupção na história do Brasil. Ele modernizou e estruturou a Procuradoria para o combate à corrupção. Fez o que nenhum outro tinha feito até agora", defende.
Em meio ao turbilhão, o quase ex-procurador-geral da República reconheceu nesta terça que a situação lhe deu medo.
"Ontem (segunda) foi um dos dias mais tensos e um dos maiores desafios desse período. Alguém disse pra mim: 'Você realmente é um homem de muita coragem'. Aí eu parei e pensei: 'Será que sou um homem de coragem mesmo?' Cheguei à conclusão de que não tenho coragem alguma", declarou Janot.
"Na verdade, o que eu tenho é medo. E o medo nos faz alerta. E medo do quê? Medo de errar muito e decepcionar minha instituição. E todas as questões que eu enfrentei, eu enfrentei muito mais por medo, medo de errar, medo de me omitir, medo de decepcionar minha instituição do que por coragem de enfrentar esses enormes desafios."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Zero Hora - Charge

Zero Hora
Professor Edgar Bom Jardim - PE

51 milhões nas malas do ex-ministro dos governos Lula e Temer

A Polícia Federal terminou nesta quarta-feira, 6, a contagem dos valores apreendidos no bunker ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. Foram apreendidos R$ 51 milhões – R$ 42.643.500,00 e US$ 2.688.000,00. O dinheiro será depositado em uma conta judicial.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Lula, Dilma e ex-ministros denunciados por organização criminosa


A Procuradoria-Geral da República ofereceu nesta terça-feira denúncia por formação de organização criminosa contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, por crimes praticados contra a Petrobras no período entre 2002 e 2016.
Também foram denunciados os ex-ministros Antonio Palocci, Guido Mantega, Edinho Silva, Gleisi Hoffmann (hoje senadora pelo Paraná) e Paulo Bernardo, além do ex-tesoureiro do PT João Vaccari  Neto, que já está preso pela Operação Lava Jato.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Dinheiro atribuído a Geddel em 'bunker' já passa de R$ 22,5 milhões


A Polícia Federal já contabilizou mais de R$ 22,5 milhões nas malas apreendidas em um apartamento que seria utilizado como "bunker" pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), em Salvador.

A contagem, porém, ainda não havia terminado por volta das 18h, segundo apuração da reportagem. A operação, batizada de Tesouro Perdido, foi deflagrada na manhã desta terça-feira (5) e é desdobramento de outra investigação, sobre fraudes em liberações de empréstimos na Caixa, a Cui Bono.


Ex-ministro de Michel Temer, Geddel cumpre prisão domiciliar. Ele foi preso no dia 3 de julho, mas conseguiu um habeas corpus para cumprir a medida restritiva em sua residência, na capital baiana. Os valores apreendidos serão depositados em conta judicial.

Cui Bono
A operação apura a atuação de Geddel e outras pessoas na manipulação de créditos e recursos realizada em duas áreas da Caixa Econômica Federal. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o corretor de valores Lúcio Funaro são também alvos da investigação, que começou no ano passado.

Geddel é acusado de ter recebido R$ 20 milhões de propina em troca de aprovação de empréstimos no banco ou de liberação de créditos do FI-FGTS para beneficiar empresas.

Na decisão judicial que autorizou a busca e apreensão no apartamento em Salvador, o juiz Vallisney Oliveira cita que o "bunker" pertence a uma pessoa de nome Silvio Silveira, que teria cedido tal imóvel para que o ex-ministro de Michel Temer pudesse guardar caixas com documentos.

"Ademais, conforme consignado nas informações policiais, foram realizadas pesquisas de campo com moradores do prédio, confirmando a notícia de que uma pessoa teria feito uso do aludido imóvel para guardar 'pertences do pai', tratando-se provavelmente de Geddel, cujo pai faleceu em 10 de janeiro de 2016", afirma o juiz no mandado. Procurada, a defesa do ex-ministro ainda não se manifestou.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Dez perguntas e respostas sobre a Coreia do Norte

Kim Jong Un e Donald Trump.jpg
Kim e Trump. O que esperar?
O que a Guerra da Coreia tem a ver com o conflito atual?
A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, ainda está onipresente na consciência coletiva dos norte-coreanos, sobretudo porque Pyongyang não mede esforços em manter vivas as memórias do conflito. A propaganda da Coreia do Norte contra os EUA é tão eficaz porque as forças aliadas travaram uma guerra tendo pouca consideração pelos civis.
Em apenas três anos de luta, os EUA realizaram bombardeios contínuos contra a Coreia do Norte, matando um quinto de sua população. O comandante das Forças Aliadas, o general americano Douglas MacArthur, sugeriu o uso de "30 a 50 bombas atômicas", o que, na época, foi muito drástico para o então presidente dos EUA, Harry S. Truman.
Tecnicamente, a guerra ainda não acabou, já que nenhum tratado de paz foi assinado. Por outro lado, um cessar-fogo está vigente há 64 anos. A presença de 30 mil soldados americanos na Coreia do Sul e os exercícios militares regulares dos americanos com tropas sul-coreanas deixam os norte-coreanos com uma sensação permanente de ameaça.
Como é a vida das pessoas na Coreia do Norte?
Anos de isolamento prejudicaram seriamente a economia da Coreia do Norte, o que é motivo de sofrimento até hoje para a população. Em meados da década de 1990, o país sofreu com uma fome desvastadora que matou cerca de 300 mil pessoas. A ONU relata que mais de um terço da população está malnutrida e há falta de assistência médica e saneamento básico.
Um clima rigoroso e extremo, com períodos de inundações e secas, dificulta a autossuficiência de produtos agrícolas, o que faz o país depender das importações. No entanto, devido à tensa situação de política externa e sanções rigorosas, a Coreia do Norte tem negócios com poucos parceiros, como China e Irã. Mesmo assim, as organizações internacionais tentam prover ajuda humanitária ao país. Atualmente, a ONG internacional Ação contra a Fome ajuda a Coreia do Norte com mais de dois bilhões de euros.
O regime de Kim Jong-un é realmente irracional?
Não há dúvidas de que Kim Jong-un, de 33 anos, é um déspota que tem como objetivo manter seu poder a qualquer preço na única ditadura comunista familiar do mundo. Mas Kim não deve ser visto como o "louco de Pyongyang". Ao longo dos últimos seis anos, ele pode ter agido de forma imprudente, mas também estratégica. Kim fortaleceu seu poder no Estado, partido e Exército. Rivais potenciais como seu meio-irmão e tio foram eliminados. 
Seus programas nuclear e de mísseis são racionais em relação ao seu principal objetivo de manter o sistema. Kim não precisa de mísseis como armas de ataque. O que ele realmente quer é um efeito de dissuasão perfeito – e dialogar com os EUA em pé de igualdade, de uma potência nuclear para outra.
Como a Coreia do Sul avalia a situação?
A Constituição sul-coreana, de 1987, se compromete com a reunificação pacífica baseada na liberdade e democracia. Mas nem a chamada "Política do Sol" de Kim Dae Jung no início do novo milênio, nem as medidas mais duras de seus predecessores conseguiram alcançar algum sucesso na aproximação entre os dois países.
Após um período de turbulência doméstica, a Coreia do Sul elegeu um novo presidente – Moon Jae-in – em maio de 2017. Ele defende um entendimento com a Coreia do Norte e anunciou manter uma maior distância dos EUA. Até o momento, Pyongyang não respondeu às ofertas de Seul de sentar numa mesa de negociações.
A volátil política dos EUA para a Coreia do Norte é mais um fator que torna difícil o trabalho da Coreia do Sul. Moon parece se preocupar em garantir que seu país não se torne refém político de um conflito internacional.
Como aconteceria um conflito militar?
Por trás de ambas as Coreias altamente armadas estão os antigos aliados da Guerra da Coreia, que são também rivais: a China apoia Pyongyang, enquanto que os EUA apoiam Seul. Um conflito provavelmente envolveria o Japão, Rússia e, por causa da Otan, a Alemanha.
Se uma guerra entre as duas Coreias acontecer, milhões de vidas estariam em perigo imediato sem o uso de armas nucleares. A capital da Coreia do Sul, Seul, com uma população de cerca de 10 milhões de pessoas, fica a apenas 60 quilômetros da fronteira norte-coreana, e está ao alcance de milhares de peças de artilharia de Pyongyang. 
Pyongyang teve décadas para esconder e proteger suas instalações militares. Até mesmo a potência militar americana não seria capaz de eliminar todas as armas a tempo. Além de armas nucleares, Kim também possui toneladas de armas químicas e biológicas. A longo prazo, a Coreia do Norte não conseguiria ganhar uma guerra, mas toda a península coreana seria transformada literalmente em cinzas no caso de um conflito.  
Gráfico
(Fonte: DW)
Como Donald Trump mudou a política dos EUA em relação à Coreia do Norte?
Com a entrada de Trump na Casa Branca, a política dos EUA para a Coreia do Norte sofreu uma reviravolta. Logo no início de seu mandato, o caso do estudante americano Otto Warmbier causou grande preocupação. Após sair de uma prisão norte-coreana, o jovem apresentava sinais de abuso físico e morreu poucos dias depois de chegar aos EUA.
Sobre as mais recentes provocações, Trump reagiu com muita indignação, afirmando que reagiria com "fogo e fúria" caso a Coreia do Norte continuasse com seus testes de mísseis, usando uma retórica semelhante a de Kim Jong-un.
Após os apelos internacionais, ambos os lados atenuaram a retórica. Mas, apenas alguns dias depois, os EUA realizaram suas manobras militares anuais com a Coreia do Sul, apesar dos protestos de Pyangyong.
Por que a China hesita em pressionar a Coreia do Norte?
O Ocidente espera que a China endureça suas sanções contra a Coreia do Norte, especialmente quando se trata de exportações de petróleo. Mas Pequim rejeita e continua exportando petróleo e alimentos para Pyongyang dizendo se tratar de "ajuda humanitária".
Entretanto, Pequim aderiu às sanções previamente estabelecidas pela ONU que impedem a importação de carvão e outros produtos norte-coreanos. No geral, não está claro qual é a influência da China sobre a Coreia do Norte: por várias vezes, Pyongyang realizou testes atômicos, apesar de avisos intensos de Pequim.  
A China teme uma mudança de regime na Coreia do Norte, especialmente se isso levar a uma reunificação com a Coreia do Sul. Isso colocaria a península coreana completamente sob a influência dos EUA, e soldados americanos ficariam estacionados diretamente na fronteira com a China – um pesadelo para a liderança chinesa.
A Rússia é mais do que um observador silencioso?
Moscou afirma que os testes com mísseis balísticos são uma "séria ameaça para o tráfego aéreo e marítimo na região", bem como um perigo para os civis. A Rússia divide uma fronteira de apenas 17 quilômetros com a Coreia do Norte. Por outro lado, os russos também alertam os EUA contra uma ação militar, e querem contribuir com uma solução diplomática para os problemas na península coreana.
O Kremlin ainda é cauteloso sobre sanções à Coreia do Norte, mas em linha com as resoluções da ONU, suspendeu todos os seus projetos econômicos importantes com Pyongyang. No entanto, Moscou está preparada, caso seja necessário, para fortalecer o regime norte-coreano.
No final de agosto, pela primeira vez, uma agência de viagens russa ofereceu passeios na Coreia do Norte. Além disso, um programa matinal da televisão russa mostrou, por uma semana, reportagens que elogiavam a beleza da Coreia do Norte.
O que a ONU faz?
Apenas no ano passado, a ONU apresentou uma estratégia abrangente para sua futura cooperação com a Coreia do Norte nos próximos cinco anos: em estreita colaboração com o governo Kim, a organização gostaria de aproximar o país com seus objetivos de desenvolvimento, e apoiar seu progresso econômico. Desde as provocações mais recentes, a relação entre a ONU e o regime norte-coreano está tensa.
Somente no início de agosto que o Conselho de Segurança concordou com uma resolução da ONU que adota as sanções mais duras fechadas até hoje contra a Coreia do Norte. Por um lado, o país foi proibido de exportar carvão e ferro, mas também peixes e frutos do mar, deixando de vender produtos no valor de cerca de 1 bilhão de dólares. Além disso, várias organizações foram colocadas na lista negra da ONU, incluindo o banco de operações cambiais da Coreia do Norte.
Coreia do Sul
Funcionário do serviço meteorológico sul-coreano vê noticiário que destaca teste de Pyongyang, no sábado 3 (Foto: Jung Yeon-Je / AFP)
A diplomacia ainda pode funcionar?
A diplomacia com a Coreia do Norte é um desafio em si mesma. Nas chamadas "conversas de seis partes", a Coreia do Norte provou ser excepcional em colocar seus parceiros de negociação uns contra os outros para seu próprio proveito. Ao longo de seis anos, Pyongyang manteve conversas sobre seu programa nuclear com China, Rússia, EUA, Coreia do Sul e Japão.
Tendo em vista a situação atual, especialistas discutem sobre um "congelamento duplo": para isso, a Coreia do Norte congelaria seus programas nucleares e de mísseis; e os EUA e Coreia do Sul renunciariam às manobras militares conjuntas. Seul e Washington recusam a proposta.
Pyongyang cobraria um preço alto para interromper seu programa nuclear: negociações bilaterais com os EUA para um tratado de paz que substituiria o acordo de cessar-fogo de 1953. O problema é que a Coreia do Sul teria que reconhecer em sua Constituição um segundo Estado coreano. E, dessa forma, Washington não teria mais legitimidade de estacionar tropas americanas na Coreia do Sul, enfraquecendo seu papel de domínio na região da Ásia-Pacífico.
Professor Edgar Bom Jardim - PE