sexta-feira, 5 de maio de 2017

PL do trabalho rural “revoga a Lei Áurea”, diz procurador

canavial
Projeto ignora reais condições do trabalho no campo e pretende estender a jornada para 12 horas


Caso avance na Câmara dos Deputados, o PL 6442/2016 – que altera a regulamentação do trabalho rural – pode significar o maior retrocesso da história do País quando se fala em trabalhadores, uma perda de direitos ainda mais severa do que aquela pretendida pela reforma trabalhista. “Esse projeto revoga a Lei Áurea”, resume o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury.
O projeto, de autoria do presidente da bancada ruralista na Câmara, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), foi protocolado em novembro na Casa e constituído para não “sobrecarregar” o texto da já polêmica reforma trabalhista. É uma espécie de filhote do PL mãe.
O principal ponto é a possibilidade do trabalhador rural receber "remuneração de qualquer espécie", o que significa que o empregador rural poderá pagar seus empregados com habitação ou comida, e não com salário. A remuneração também poderá ser feita com parte da produção e concessão de terras.
Esse projeto de lei significa uma volta ao passado, significa levar o trabalhador de volta ao século XIX, quando se trabalhava em troca de comida”, compara Antônio Lucas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar).
Assim como a reforma trabalhista, este projeto de lei reforça pontos como a prevalência do negociado sobre o legislado, a jornada intermitente e a exclusão das horas usadas no itinerário da jornada de trabalho.
Casa e comida?
Ronaldo Fleury, que atua há cerca de 20 anos no combate ao trabalho escravo, explica que o projeto de lei tenta legalizar requisitos que hoje são considerados justamente para determinar se um trabalhador está em condição análoga à de escravo. “Fazer pagamento com comida e moradia é uma das condições que a gente coloca como escravidão moderna, a escravidão por dívida”, compara.
“Evidentemente, fazer um pagamento só com casa e comida não faz sentido”, concorda Otávio Pinto e Silva, sócio do setor trabalhista do escritório de advogados Siqueira Castro e professor de Direito Trabalhista na Universidade de São Paulo. Ele lembra que a Constituição Federal trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, em seu artigo sétimo, enumera uma série de direitos, incluindo o salário mínimo. “O salário mínimo não é definido pela lei do trabalho rural e o que esse PL muda é exclusivamente a lei do trabalho rural”, reforça. 

Segundo o advogado, o salário mínimo, por sua vez, é definido pela CLT e tem que ser composto por uma série de benefícios que estão atrelados a esse valor, entre eles, alimentação e moradia. Mas esses são alguns dos componentes. A CLT, quando fala no pagamento em bens e produtos, afirma que pelo menos 30% da remuneração tem que ser em dinheiro. “Por uma combinação do que está na CLT e do que está no texto da Constituição, eu entendo que não é possível estabelecer uma remuneração só com casa e comida”, reforça o advogado trabalhista.
O PL, porém, contempla esses limites, pois afirma que só poderão ser descontados do empregado rural o limite de 20% pela moradia e 25% pela alimentação. Isso torna, então, o projeto constitucional?
Fleury, procurador-geral do Trabalho, diz que não. “O que a CLT fala é que a remuneração pode se dar, além do pagamento em espécie, com produtos e outras formas de benefício. Agora, quando o fornecimento da moradia e da comida são condições essenciais para a realização do trabalho, não pode ser uma forma de remuneração”, explica.
Um exemplo é o executivo que tem como parte de sua remuneração um carro. “Ele ganhou o carro para fazer o trabalho ou por ser diretor? Não é condição essencial”, compara o procurador-geral. “A realidade do meio rural é o latifúndio. Há fazendas em que a cidade mais próxima fica a 300 quilômetros, não tem como o trabalhador ir para casa. Então a moradia é condição para que a pessoa trabalhe lá”, conclui.
A parte mais interessada nessa história, a dos trabalhadores rurais, ouviu do autor do projeto uma explicação inusitada e que pouco tem a ver com o que diz a Constituição ou a CLT. “O deputado Nilson Leitão disse que entendemos errado, que o que ele quer é presentear o trabalhador no fim da safra com parte da produção”, conta Antônio Lucas, presidente da Contar.
Para Lucas, um presente real seria a retirada do projeto de lei. Um segundo presente, uma ação para reduzir a informalidade, que passa dos 60% entre os trabalhadores do campo. “Queremos nossos direitos como estão na lei, o salário combinado. Do jeito que está esse projeto não temos nem como sugerir emendas”, afirma. 
Jornada estendida
A perda de direitos não para por aí. O texto prevê jornadas de até 12 horas e o fim do descanso semanal, uma vez que passa a ser permitido o trabalho contínuo por até 18 dias. Fica permitida, ainda, a venda integral das férias para os trabalhadores que residirem no local de trabalho e o trabalho em domingos e feriados sem a apresentação de laudos de necessidade.
Hoje, a jornada rural segue a mesma regra da urbana, limitada a 44 horas semanais. No campo, para essa conta fechar, são turnos de oito horas de segunda a sexta e de quatro horas aos sábados. Mas quando se fala em trabalho rural – uma atividade braçal e muitas vezes ao ar livre – oito horas já são extenuantes. Por isso, como explica Antônio Lucas, são comuns acordos de jornadas de 36 horas semanais, especialmente no plantio e na colheita. “Daí ir para 12 horas é um completo absurdo”.
Para Otávio Pinto e Silva, alterar jornada e descanso semanal desconsidera segurança e medicina do trabalho. “Fazer uma prestação de serviços contínua, sem a previsão do descanso e em longas jornadas é algo que, caso uma lei dessas venha a ser aprovada, certamente poderia ser contestada no Supremo Tribunal Federal por inconstitucionalidade”.
Isso porque, segundo o advogado, o mesmo artigo sétimo da Constituição, que trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, determina a limitação da jornada, intervalo e descanso semanal remunerado.
cortador de cana
PL coloca interesse econômico na frente do interesse da manutenção da vida, diz procurador
Mercado sobre a vida
Na opinião de Pinto e Silva, a existência de um projeto de lei como o 6442/2016 mostra a articulação da bancada ruralista para reduzir o custo do trabalho no setor rural. “Evidentemente, isso é um recado: existe a possibilidade desse Congresso, com a composição hoje existente, estabelecer mecanismos de contratação que se mostrem mais adequados para atender as necessidades do empregador.”

Uma lei dessas, ainda segundo o advogado, eliminaria a chances de um trabalhador buscar seus direitos na Justiça. Mesmo mantendo seus empregados na informalidade, o empregador teria defesa em caso de reclamação trabalhista, já que a jornada e o descanso, por exemplo, estariam de acordo com a lei.
“É um processo de desconstrução do direito social. É tratar a sociedade como uma máquina, apenas sob o ponto de vista econômico”, defende Ronaldo Fleury. Para ele, sob essa ótica, os direitos sociais se tornam empecilho para que a máquina funcione.
“Então tira-se aposentadoria, direitos trabalhistas e criam-se formas de contratação que desnaturam totalmente o direito do trabalho. Com isso, se desmonta o direito social até o ponto de alguém ter coragem de apresentar um projeto nesse patamar”, afirma se referindo ao PL do deputado Nilson Leitão. “Primeiro assegura-se a colheita e depois vamos ver se sobrou algum trabalhador vivo. Isso é botar o interesse econômico na frente do interesse da manutenção da vida”, conclui o procurador-geral. 
Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Cinco motivos que levaram o Rio à pior crise de segurança em mais de uma década


Policiais armadosDireito de imagemREUTERS
Image captionCinco pessoas morreram em confronto no Complexo do Alemão na quinta-feira

As últimas semanas no Rio de Janeiro foram marcadas por uma sucessão de episódios de violência que expôs a grave crise que atinge a segurança pública na cidade.
Houve tiroteios e mortes em favelas cariocas; incêndios de ônibus bloqueando vias e gerando saques; confrontos e mortes em torno da construção de uma torre blindada "de guerra" em uma das principais vias da comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão - onde cinco pessoas foram mortas em mais um confronto, apenas na quinta-feira.
Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a cidade vive a maior crise de segurança pública em mais de uma década, com indicadores de violência se aproximando do patamar dos anos anteriores às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), que começaram a ser estabelecidas em 2008.
O estado não chegou ao mesmo patamar de homicídios de dez anos atrás, mas caminha rapidamente nesta direção, diz o sociólogo Ignacio Cano, sociólogo e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
"Como passamos por alguns anos de otimismo, o golpe é muito maior", diz ele, referindo-se à melhora nos indicadores de violência nos anos posteriores à instalação das UPPs e anteriores à Copa do Mundo. "Não apenas não conseguimos chegar aonde queríamos, mas estamos caminhando para uma situação ainda pior", considera Cano.
Nesta semana, o governo federal anunciou que enviará reforços ao Rio depois de a cidade ter parado na terça-feira, quando bandidos atearam fogo a nove ônibus e dois caminhões em algumas das principais vias de acesso à cidade - represália de facções criminosas contra operações policiais em uma comunidade.
O Ministério da Justiça prometera mandar cem homens da Força Nacional de Segurança e agora diz que o número pode chegar a 300, após críticas de que o aceno havia sido por demais tímido.

Motociclistas protestam no Complexo do AlemãoDireito de imagemREUTERS
Image captionNúmero de confrontos em favelas com UPPs subiu de 13, em 2011, para 1.555, em 2016

A recessão, a grave crise financeira do Estado do Rio, a escassez de recursos para a polícia e o desemprego estão entre os fatores que contribuem para a atual crise de segurança.
Para o antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares, o quadro atual resulta da intensificação de práticas e circunstâncias que estão em curso há muito tempo.
"O padrão tem sido o mesmo: confronto com 'o tráfico', adotando incursões bélicas às favelas, que matam inocentes, suspeitos e até mesmo policiais. A velha 'política' da conhecida - e derrotada - guerra às drogas", lamenta.
Entenda quais são os principais fatores estão por trás da atual crise de segurança no Rio.

Deterioração das UPPs

Nos últimos cinco anos, o número de tiroteios em comunidades com UPPs aumentou 13.746%, de acordo com um estudo feito pela própria Polícia Militar. O número de confrontos nas favelas com UPPs passou de 13, em 2011, para 1.555, em 2016. As trocas de tiros se intensificaram nas últimas semanas, notadamente no Complexo do Alemão, onde a PM atua para instalar uma cabine blindada numa das principais vias da comunidade Nova Brasília.
O entusiasmo em torno da política das UPPs foi inicialmente justificado por uma queda vertiginosa nos índices de criminalidade nas comunidades. Com o tempo e a expansão do programa para comunidades maiores e mais complexas - como a Rocinha e o próprio Complexo da Maré -, a situação começou a se deteriorar.
Um dos problemas, segundo a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Cândido Mendes (Cesec), foi apostar primordialmente nas UPPs, que tinham foco claro na capital e nunca foram uma política de segurança pública para todo o Estado - das 38 UPPs implantadas, apenas uma, no Complexo da Mangueirinha, fica fora dos limites do município, na Baixada Fluminense.
"Quando a política das UPPs entrou em falência, o Estado não conseguiu se movimentar rapidamente para se reestruturar", diz Lemgruber.
Para ela, os episódios violentos que a cidade tem presenciado são "reações pontuais para apagar incêndios", levando o Rio de volta à situação de "anos atrás".
"Isso não é uma política de segurança pública. Isso são ações violentas que não levam a lugar nenhum. Temos visto uma média de quatro mortes provocadas pela polícia por dia, e mais de 60 policiais já morreram no Rio só neste ano. Isso seria um escândalo em qualquer parte do mundo. Aqui, faz parte da paisagem."
Para Ignacio Cano, pesquisador da Uerj, o Estado se ancorou nos bons resultados iniciais das UPPs sem que as políticas fossem "ampliadas, corrigidas, modificadas ou complementadas por novas políticas".
"Os gestores se limitaram a uma expansão quase automática das UPPs e do pagamento de bonificações a policias", considera Cano. Ele diz que as UPPs viraram o "fetiche" da segurança pública no Rio; convencionou-se atribuir a elas tudo de bom que acontecia, ou tomar todos os problemas como indicativos de seu fracasso. A situação, porém, envolve muitos outros fatores.

Crise financeira no estado e na polícia

O cenário de recessão e grave crise financeira no Estado do Rio tem castigado servidores públicos estaduais de vários setores - e não é diferente com a Polícia Militar. Turistas desavisados que chegavam ao aeroporto do Galeão para a Olimpíada no ano passado foram recebidos por um grupo de policiais em protesto empunhando bandeiras dando as boas vindas ao "inferno" - "welcome to hell", dizia em inglês, avisando que policiais e bombeiros não estavam recebendo seus salários, e quem chegasse ao Rio não estaria seguro.
De lá para cá, a situação se tornou mais crítica. Devido à crise, policiais ainda não receberam 13º salário nem as bonificações a que têm direito. Maria Isabel Couto, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP), diz que a escassez de recursos vem prejudicando a infraestrutura e as condições de trabalho da polícia, aumentando a situação de vulnerabilidade.

Policiais do Bope armadosDireito de imagemEPA/ MARCELO SAYAO
Image captionNeste ano, mais de 60 policiais já foram mortos no Rio de Janeiro

"O aumento dos indicadores de violência significa que os policiais na ponta estão sendo colocados sob muito mais pressão - isso enquanto o Estado passa por uma crise financeira violentíssima que gera ansiedade sobre se vão receber salários, e boatos de que o Estado não tem dinheiro para comprar gasolina, de que as viaturas estão sucateadas, de que coletes a prova de bala estão vencidos e armas estão sem manutenção. Tudo isso gera um cenário de muito estresse para um funcionário cuja função é ir para a rua e proteger a população."
Neste ano, mais de 60 policiais já foram mortos no Rio. "A sociedade precisa responsabilizar o policial quando ele precisar ser responsabilizado, mas também precisa entender que policiais estão sob extrema pressão e profundo estresse, e que eles também são vítimas desse processo."

Expansão da mancha de criminalidade

A década entre 2006 e 2016 foi marcada por um período de otimismo que teve seu ápice em 2011, ano que apresentou os melhores indicadores de segurança. Em seguida, a situação começou a se deteriorar. Ao fim do período, a violência não voltou ao que era; mas se reconfigurou e se espalhou geograficamente pelo Estado.
Uma pesquisa realizada pela FGV/DAPP com base nos dados compilados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostrou que, quando a violência voltou a aumentar, ela se distribuiu pelo Estado.
"Antes, a capital sempre acumulava os maiores números de violência", diz Maria Isabel Couto, uma das autoras da pesquisa. Isso foi mudando ao longo dos últimos anos, com o aumento do crime no interior do Estado e na Baixada Fluminense (região metropolitana do Rio, já fora das fronteiras do município).
"A concentração na capital significava que, do ponto de vista da segurança pública, os esforços e o contingente também podiam ser concentrados. Hoje, a violência está muito mais dispersa, e é preciso distribuir esforços, recursos e adotar estratégias mais complexas", diz Couto.
A distribuição criminal pode ser atribuída, em parte, à fuga de traficantes de áreas ocupadas por UPPs para consolidar o domínio e outros territórios. Mas Couto considera também que o descrédito das UPPs teve um importante papel. "As UPPs trouxeram a sensação de que o Rio ia finalmente dar conta do problema do tráfico. Os primeiros episódios de violência fizeram essa ideia desmantelar e mostraram que as UPPs não eram infalíveis."

Fortalecimento de facções criminosas

Se na fase inicial as UPPs pareciam estar sufocando a atuação de criminosos em algumas favelas, as disputas de territórios vistas recentemente mostram que os danos causados não foram permanentes. A disputa de territórios tem sido constante no Rio, e facções criminosas aproveitam a crise para agir de forma mais agressiva.
"A criminalidade percebe que há um descontrole na segurança pública, que não há rumo, orientação", diz Julita Lemgruber.
"Você acha que a criminalidade não percebe que o Rio está à deriva, com um ex-governador preso, o mandato do atual correndo risco (referência a acusações de corrupção contra o governador Luiz Fernando Pezão), um Tribunal de Contas que está na cadeia? É uma situação de falta de legitimidade do Estado, um Estado que está um pouco à deriva, e a criminalidade percebe isso claramente", argumenta Lemgruber.
Mais do que isso, a desigualdade social e a falta de oportunidade para jovens nas comunidades continua a contribuir para atrair meninos e adolescentes para o tráfico e munir as facções de recursos humanos.
Sem outra porta de saída que ofereça outras oportunidades, jovens pobres de comunidades idem são atraídos pelos benefícios "sedutores" do tráfico - que não se reduzem a bens materiais, diz o antropólogo e especialista em segurança pública Luiz Eduardo Soares. "Mais do que isso, estão em jogo acolhimento, reconhecimento, valorização e pertencimento", afirma.
"É possível disputar menino a menino com a fonte de recrutamento criminosa. Disputar significa oferecer pelo menos os mesmos benefícios, com sinal invertido, evidentemente", considera Soares, dando o exemplo do campo de políticas culturais, que tem muitas experiências bem sucedidas no Brasil e no mundo.
Maria Isabel Couto, da FGV/DAPP, diz que a falta de uma política nacional de segurança também ajuda a fortalecer as facções - que substituíram a disputa de uma ou outra favela por disputas mais amplas e ambiciosas.

Ônibus queimadoDireito de imagemAFP / YASUYOSHI CHIBA
Image captionIncêndios de ônibus marcaram onda de violência nas últimas semanas

"A gestão do crime não respeita fronteiras", diz Maria Isabel Couto. "As facções estão se comunicando, criando parcerias, buscando expandir sua influência e suas rotas. Há uma clara disputa nacional e internacional por territórios."
Em contraposição, ela diz ser urgente elaborar uma política nacional de segurança pública. "O governo federal precisa entender que se trata de uma questão nacional e que é seu dever lidar com isso. Nenhum Estado tem condições de dar conta desse controle sozinho."

'Pacificação' versus confronto

Com a "falência" da política de pacificação e o aumento da criminalidade, especialistas dizem que a doutrina policial que preconiza o confronto armado está voltando a ganhar força. A política das UPPs foi baseada em estratégias de policiamento comunitária - embora, considera Julita Lemgruber, elas não tenham sido bem sucedidas em consolidar esse vínculo com as comunidades.
Porém, o velho modelo das operações policiais em favelas para confrontar o tráfico não foi abandonado, e, com o acirramento da crise e da violência, volta a se intensificar.
O aumento do número de pessoas mortas pela polícia reflete o aumento de confrontos. Nos últimos cinco anos (2012-2016), o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial aumentou 120%, chegando a 920. Em 2012, o patamar mais baixo na última década, foram 419 mortes. Já em 2007, antes das UPPs, o número de mortos por policiais chegou a 1.330.
"As perdas de vida decorrentes desse conjunto de ações são definidas, cinicamente, como casualties, efeitos colaterais de medidas 'necessárias'. Como dizia (o ex-secretário de Segurança Pública José Mariano) Beltrame, e outros antes dele: 'Não se fazem omeletes sem quebrar ovos'", diz Luiz Eduardo Soares.
"Eu acrescento: desde que não sejam seus filhos. Os efeitos dessa orientação irresponsável, mesmo criminosa, são trágicos."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O que sei é o que sei e você?

Não compartilho com a famosa afirmação de que o que sei é que nada sei. Sócrates tinha razões, vivia outros tempos, firmava suas confidências. Sei e vejo muitas coisas, embora não negue as fragilidades. Há interpretações múltiplas. Vagamos no meio de tantos conhecimentos. E as novidades das informações? Portanto, as certezas querem se manter, mas sofrem ataques contínuos. Temos referências e não destinos. Querem destruir o passado para apagar a história ou inventar desesperos? As disputas não cessarão, porque somos invejosos e não profetas de tudo. As suposições fazem parte do cotidiano.Disfarçamos com voos espetaculares e enganosos.
A viagem é longa. Desconhecer as origens é doloroso. Se o futuro transformará o mundo é um enigma. Tropeçamos, porém os perigos são imensos e alguns superáveis. É preciso não jogar com as palavras, sem mergulhar nos seus significados. Lembro-me dos sofistas. Gosto do relativismo. Não me sinto solto, sem nada para dizer. Busco me equilibrar. A felicidade aparece em momentos passageiros. Os desprazeres existem, o pessimismo se amplia, mas há risos, brincadeiras, coloridos, mares azuis, livros de Kundera. Quem não se envolve com paixões?
O mundo é complexo. A morte amedronta. Ficamos perplexos com tantas dúvidas. Os deuses fazem suas apostas. Não acredito em julgamentos finais. Há muitos mistérios. Naveguemos. Camus tinha intuições singulares. Escreveu um livro fantástico O mito de Sífiso. Reflete sobre o suicídio, sobre os limites, os desencantos. Morreu tragicamente. Ninguém domina os saberes de forma absoluta. Mas aprecio quem lança questões, visualiza os danos do absurdo. Tudo produz polêmica, provoca andanças, traça ameaças, funda crenças, enfrenta dissabores.
Sei que estou numa sociedade turbulenta. As regras vacilam, as pessoas se drogam, os casamentos se desfazem, as guerras não se vão, a complexidade é um desafio. Escrever é conversar. Quem não retoma nostalgias, quem quer  naufragar em pesadelos? Definir os caminhos é quase incomum. Prometeu revoltou-se. Mostrou que não há nada estabelecido para sempre. As ilusões ajudam a diminuir as dores e arquitetar sonhos. O ponto final é um símbolo. Tudo está voando, com tempestades repentinas e fogos vermelhos enlouquecidos. A tensão desmonta lentidões.
O que sei é que pouco sei. Desconheço se há um encontro derradeiro ou se corpo apodrece inutilmente. As especulações frequentam cada desejo de pular o cerco das impossibilidades. Sócrates foi condenado. Já havia delação premiada. Nossa sociabilidade é escandalosa. Quem admite transcendências e se julga amigo dos anjos? Não se acanhe. Há quem roube, quem chore, quem fuja, quem se abandone. A confusão não é uma mentira, nem a vida uma aflição profunda. Siga com seus saberes e suas experiências. Um dia, casa cresce ou cai. E você levitará ous seus olhos ficarão vermelhos.
astuciadeulisses.com.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

A droga barata que pode evitar um terço das mortes de mulheres após o parto


Mãe logo após o partoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionHemorragia pós-parto é a principal causa de mortes em casos de gravidez e de maternidade precoce

Um medicamento barato criado em 1960 por um casal de japoneses pode evitar um terço as mortes causadas por hemorragias pós-parto, sugere um estudo publicado na revista científica Lancet.
Cerca de 100 mil mulheres morrem todos os anos por causa de sangramentos intensos momentos após o parto, o que torna a hemorragia pós-parto a principal causa de mortes decorrentes da gravidez e da maternidade precoce.
Pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres afirmam que o ácido tranexâmico seria eficaz em inibir a dissolução de coágulos, auxiliando o corpo a estancar os sangramentos.
De acordo com a pesquisa, realizada em parceria com 193 hospitais principalmente da Ásia e África e que envolveu 20 mil pacientes, o uso do ácido tranexâmico reduziu as mortes em um quinto. Entre as mulheres que tomaram o medicamento em até três horas após o parto, a redução foi ainda maior: 31%.
"Nós conseguimos um resultado importante. Descobrimos que um medicamento barato, tomado em dose única, reduz o risco de hemorragia severa e pode ter um papel significativo em diminuir a mortalidade maternal ao redor do mundo", disse Ian Roberts, que participou da pesquisa.
Após a publicação dos resultados, a Organização Mundial da Saúde afirmou que mudaria a recomendação de uso do medicamento para incluir os casos de hemorragia pós-parto.

O remédio


Utako OkamotoDireito de imagemFAMÍLIA OKAMOTO
Image captionUtako Okamoto no seu laboratório em 1961

As descobertas não seriam uma surpresa para Utako Okamoto, que inventou o medicamento ao lado do marido, Shosuke, na década de 60 no Japão.
A pesquisa do casal Okamoto começou durante a pobreza do período pós-guerra no Japão. Eles decidiram começar a estudar o sangue porque poderiam colher amostras próprias para a pesquisa.
"Queremos que nosso trabalho seja internacional, queremos descobrir novos medicamentos para mostrar nossa gratidão à humanidade", disse ela.
Na época, o casal não conseguiu convencer os médicos locais a testarem o ácido em casos de hemorragia pós-parto. O medicamento então foi comprado por uma empresa farmacêutica e usado contra fluxos menstruais intensos.
A história quase parou por aí. Mas o casal começou uma parceria com hospitais ao redor do mundo e contou com 20 mil inscritos para testar o medicamento.
A professora morreu, aos 98 anos, logo antes de os testes feitos com 20 mil voluntários comprovarem que suas suspeitas sobre a eficácia do remédio em hemorragias pós-parto se confirmavam.

Mulher grávidaDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionEmbora medicamento seja barato, levá-lo a hospitais é desafio, diz pesquisador

Em um vídeo filmado antes do final dos testes, ela afirmou já ter certeza da eficácia do remédio nesses casos.
"Mesmo antes da pesquisa, eu sei que vai ser eficiente", disse Okamoto.

Auxílio

O pesquisador Ian Roberts afirmou que se sentiu absolutamente inspirado por ela e que a descoberta a respeito da eficácia do medicamento não é o fim da jornada.
Segundo ele, apesar do custo baixo, levar o medicamento a hospitais do mundo todo ainda é um desafio.
"É uma coisa horrível uma mãe morrer no parto. É extremamente importante que tenhamos certeza sobre a disponibilidade do tratamento em qualquer lugar onde ele possa salvar vidas. Não deveríamos ter uma criança crescendo sem a mãe por falta de um medicamento que custa um dólar", afirmou.
Um desses lugares é o Paquistão. De acordo com a médica Rizwana Chaudri, da Universidade Médica da cidade de Rawalpindi - a quarta maior do país - há muitas mulheres que morrem de hemorragias pós-parto ou que já chegam mortas ao hospital.
"Você não conseguiria nem pensar numa coisa dessas no mundo desenvolvido, mas por aqui esses casos ocorrem diariamente, sem parar."
Um dos casos de hemorragia ocorreu com Nosheen, que quase morreu depois de dar à luz sua filha. Ela sobreviveu apenas depois de uma histerectomia (remoção de parte ou de todo o útero) de emergência.
"Minha saúde está completamente destruída, e estou muito triste por causa disso", contou ela, a quem o ácido tranexâmico poderia ter ajudado.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Trabalho integrado da Educação e Desenvolvimento Social


Dentro do plano de trabalho de integração da gestão, representantes das secretarias de Desenvolvimento Social e de Educação estiveram reunidos para reunião de articulação das ações do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e do Programa de Esportes (Escola de Futsal) da Secretaria de Educação. A parceria atende atualmente 400 crianças e adolescentes. As aulas são ministradas no Ginásio Poliesportivo Djair Santos. A meta do programa é atender 600 crianças. O trabalho também segue na zona rural com a instalação de quatro coletivos do SCFV, enquanto na sede funciona o coletivo central.
Com informação do Governo Municipal
Publicação de 4 de maio 2017.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Sport bate o Santa e está na final da Copa do NE



Todos os ingredientes estiveram no caldeirão do Arruda nesta quarta-feira (3). Desde os mais saborosos, como lances de técnica e gols, até os mais amargos, como brigas e provocações. No final, a emocionante classificação do Sport, que aplicou os 2x0 diante do Santa Cruz, que carimbaram o passaporte do time para a grande final da Copa do Nordeste 2017, contra o Bahia, que eliminou o Vitória na outra semifinal, em outro clássico local. O gol histórico da classificação foi marcado pelo tão criticado André, aos 32 minutos do segundo tempo, para delírio dos rubro-negros presentes na casa tricolor. 

Provocações à parte, o jogo foi tenso também dentro de campo. Não tanto pelas jogadas ríspidas, mas pelos lances de perigo para os dois times. Tirando como lição a retranca extrema armada contra o Salgueiro, o Santa Cruz entrou com uma postura menos defensivista, não deixando de atacar o adversário. No Leão, Ney Franco repetiu o esquema com três volantes, apostando na dupla Rithely/Diego Souza para furar o bloqueio coral. Com poucos minutos, André arriscou de fora e fez Júlio César trabalhar. 

Mas, aos 15 minutos, um duro golpe nas esperanças dos visitantes. Com dores na coxa direita, Diego Souza caiu no gramado e pediu a substituição. Por ironia dos deuses da bola, Everton Felipe entrou no seu lugar e um minuto depois aproveitou cruzamento rasteiro para abrir o placar: 1x0.

O gol teve efeito reverso no Sport, que recuou. Em evolução, o Tricolor chegou próximo do gol com Thomas, melhor em campo, com Durval salvando em cima da linha. Aos 37, a melhor chance. Em boa defesa, Magrão deu rebote e a bola caiu no pé de Pereira, que tinha apenas o trabalho para empurrar para o gol, mas furou e perdeu oportunidade incrível.

Na etapa final, o jogo continuou equilibrado. Mas, a partir dos 23 minutos a coisa esquentou. Ou melhor, começou a ferver. Em lance polêmico, Rithely foi acusado de agressão e a confusão se instalou. No final, Rithely e Elicarlos expulsos. E aos 32 o caos se instalou. Após rebatida da zaga coral, André marcou o gol da classificação leonina. 

Ainda no banco de reservas, Rithely saiu para comemorar provocando os rivais e gerou revolta dos tricolores. Confusão generalizada não só no campo, mas também nas arquibancadas. No final, apenas o reserva Evandro foi expulso. Desequilibrado, o Santa Cruz não conseguiu reagir, com Wellington Cezar ainda sendo expulso após falta dura em André.

FICHA DO JOGO 

SANTA CRUZ 0 
Júlio César; Vítor, Anderson Salles, Bruno Silva e Tiago Costa; David (Júlio Sheik), Elicarlos, Pereira (Wellington Cezar), Thomás e Léo Costa (André Luis); Halef Pitbull. Técnico: Vinícius Eutrópio 

SPORT 2
Magrão; Samuel Xavier (Raul Prata), Ronaldo Alves (Henriquez), Durval e Mena; Fabrício, Ronaldo, Rithely, Diego Souza (Everton Felipe) e Rogério; André.Técnico: Ney Franco. 

Local: Estádio do Arruda. 
Árbitro: Pericles Bassols Pegado Cortez (RJ). Assistentes: Clovis Amaral da Silva e Marcelino Castro de Nazare (ambos de PE). 
Gols: Everton Felipe (aos 16 do 1ºT) e André (aos 32 do 2ºT). 
Cartões amarelos: Pereira (Santa Cruz). Samuel Xavier, Durval, Rithely e Everton Felipe. 
Cartões vermelhos: Elicarlos, Vítor e Wellington Cezar (Santa Cruz). Rithely e Evandro (Sport.)
Público: 35.231. Renda: R$ 375.850,00.
Com Informações da Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Reforço para o transporte escolar de João Alfredo

Nova aquisição de ônibus.

Com o objetivo de ofertar cada vez mais oportunidades aos alunos do município, a Prefeitura de João Alfredo, através da Secretaria de Educação, adquiriu mais um ônibus para a frota escolar. O veículo tem 55 lugares e conta com acessibilidade para estudantes com necessidades especiais e sistema de câmeras de segurança. A aquisição foi possível através de emendar parlamentar, que resultou em convênio firmado com o Ministério da Educação (MEC) via Fundo Nascimento do Desenvolvimento da Educação (FNDE). Na compra do ônibus escolar, a gestão municipal com recursos próprios também apresentou sua contrapartida.
Com informações do Governo Municipal
Publicação de 3 de maio 2017.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Banco do Brasil de Bom Jardim: dinheiro chega e acaba no mesmo dia


Depois de sofrer vários assaltos a agência do Banco do Brasil de Bom Jardim tem utilizado a estratégia de disponibilizar pouco dinheiro nos caixas e principalmente no cofre. Geralmente, o cofre dorme vazio ou quase vazio. A medida é correta. Embora chegue dinheiro quase todo dia  pela manhã e acabe no início da tarde a população tem reclamado. São poucos funcionários, pouco dinheiro guardado no banco. O serviço aumentou e o dinheiro diminuiu. Há também uma crise que enfraquece cada vez mais o movimento do comércio. Quase parado. " É melhor ter pouco dinheiro do que não ter o banco",diz seu Manoel Alexandre da Silva, agricultor, 62 anos.

O serviço da agência tem aumentado porque outras agências vizinhas tiveram caixas estourados por ladrões. Espera-se que a segurança pública tenha feito um trabalho de inteligência com apoio do banco e da prefeitura  para combater um possível tentativa de assalto no futuro.
A população deve apoiar essa medida de não ter dinheiro todo dia e toda hora. Essa é uma forma da agência não sofrer mais ataques das quadrilhas. Os ladrões sabendo que tem pouco dinheiro não virão perder tempo com liso. Já basta os pequenos roubos que acontece todo dia nas ruas e nos sítios. Houve um arrastão nesse final de semana de Pindobinha até Bizarra . Um cidadão foi ferido por um disparo de arma de fogo na perna durante a ação criminosa.
A população também reclama do aumento de usuários de drogas na cidade e no campo e as autoridades não se mexem para resolver.

Fotos: Jameson Ferreira
Professor Edgar Bom Jardim - PE