quarta-feira, 31 de julho de 2024

Vitória de Maduro: Lula pede divulgação de atas, Boric diz que é 'difícil de acreditar' e EUA citam 'preocupação'



Mulher venezuelana na rua

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Apoiadora de Maduro comemora resultado das eleições; alguns países criticaram o processo e outros parabenizaram presidente

Após o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela dando a vitória ao presidente Nicolás Maduro nas eleições deste domingo (28/7), alguns presidentes de esquerda, como da Bolívia e de Honduras, parabenizaram Maduro, enquanto outros chefes de Estado criticaram a lisura do processo.

Os mandatários da Colômbia e do México, todos à esquerda e com laços históricos com o chavismo, não haviam se manifestado diretamente sobre o resultado — contestados pela oposição — até a publicação desta reportagem.

Na terça-feira (30/1), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou a divulgação das atas eleitorais.

"É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar", afirmou o presidente em entrevista a uma emissora de TV.



"Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela', prosseguiu Lula.

Antes, o Itamaraty havia afirmado que o governo brasileiro aguarda "a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".

A nota publicada na segunda-feira diz que o governo brasileiro “saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração”, além de reafirmar "o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados".




O presidente do Chile, Gabriel Boric, de esquerda, mas crítico de Maduro, disse que não reconhecerá "nenhum resultado que não seja verificável".

"O regime de Maduro deve entender que esses resultados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e sobretudo o povo venezuelano, incluindo os milhões de venezuelanos no exílio, exigimos total transparência das atas do processo, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo atestem a veracidade dos resultados", escreveu Boric na rede social X.

De Tóquio, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que seu país tem "sérias preocupações" sobre o resultado anunciado.

Blinken disse que os EUA estavam preocupados com o fato de o resultado não refletir nem a vontade e nem os votos dos venezuelanos.

“É fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais partilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes (...). A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá de acordo”, disse Blinken.

O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse: "O povo da Venezuela votou sobre o futuro de seu país de forma pacífica e em grandes números. A sua vontade deve ser respeitada. Garantir transparência completa no processo eleitoral, incluindo na contagem de votos e acesso aos registros de voto nas zonas de votação, é vital."

Postagem do presidente do Chile

Crédito,Reprodução X

Legenda da foto,Publicação do presidente chileno, Gabriel Boric, refuta o resultado anunciado

Já o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de direita, chamou o processo eleitoral venezuelano de "viciado" e disse que "não se pode reconhecer um triunfo se não se confia na forma dos mecanismos utilizados para chegar a ele".

A conta oficial da presidência da Costa Rica emitiu um comunicado ainda na madrugada repudiando "categoricamente" o resultado da eleição venezuelana, considerada "fraudulenta".

O Peru também criticou a eleição venezuelana. O ministro das Relações Exteriores do Peru, Javier Gonzalez-Olaechea, disse que condena "a soma de irregularidades com a intenção de cometer fraudes pelo governo venezuelano". O Peru convocou o embaixador venezuelano para consultas.

Eleitores

Crédito,Toya Sarno Jordan/Reuters

Legenda da foto,Opositores de Nicolás Maduro na noite do domingo de eleição

O presidente da Guatemala, Bernardo Arevalo, disse que a Venezuela "merece resultados transparentes e precisos que adiram ao desejo do seu povo".

"Recebemos os resultados anunciados pela CNE com muitas dúvidas. É por isso que missões de observadores eleitorais são essenciais, e hoje mais do que nunca precisam defender o voto dos venezuelanos."

O governo venezuelano reagiu às críticas. Um comunicado da Chancelaria divulgado pelo ministro Yvan Gil afirmou que a Venezuela denunciava e alertava o mundo a respeito "de uma operação de intervenção contra o processo eleitoral".

Psotagem do presidente da Bolívia nas redes sociais

Crédito,Reprodução X

Legenda da foto,Luis Alberto Arce, presidente da Bolívia, parabeniza Maduro pela reeleição

Aliados de Maduro celebram

Maduro também recebeu cumprimentos de aliados. O presidente Luis Alberto Arce, da Bolívia, destacou a "festa democrática" e a "vontade do povo".

Xiomara Castro de Zelaya, presidente de Honduras, felicitou o mandatário.

O presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, comemorou o resultado da eleição e felicitou Maduro.

"Nicolas Maduro, meu irmão, sua vitória, que é do povo bolivariano e chavista, derrotou de forma limpa e inequívoca a oposição pró-imperialismo. Vocês também derrotaram a direita regionalista, intervencionista e 'Monroeista' [relativo à doutrina Monroe, que prega ação americana na América Latina]", disse o presidente cubano.

"O povo falou e a revolução venceu."

O ex-presidente Raul Castro telefonou para Maduro para parabenizá-lo, segundo o gabinete de Diaz-Canel.

Já o presidente Vladimir Putin, da Rússia, destacou a importância da "parceria estratégica" entre os dois países e acrescentou que Maduro sempre será "um convidado bem-vindo em solo russo."

Brasil, Colômbia e México

Os analistas, porém, chamavam a atenção para o papel crucial que Brasil, Colômbia e México e frisavam a opção dos mandatários por não se manifestar num primeiro momento.

Gustavo Petro não havia se manifestado sobre os resultados até a publicação deste texto.

No entanto, Petro publicou uma mensagem na sexta-feira (26/10) afirmando que a Venezuela "toma decisões democráticas" e que "qualquer que seja sua vontade, será respeitada pelo meu governo".

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, disse: "Depois de manter contato permanente com todos os atores políticos envolvidos nas eleições presidenciais (...) nós consideramos essencial que as vozes de todos os setores sejam ouvidas. É importante esclarecer todas as dúvidas sobre os resultados. Nós pedimos a contagem total de votos, sua verificação, e uma auditoria independente o mais rápido possível."


BBC 

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Governadora participa de plenária do Plano Clima Participativo em Pernambuco





*Rio Tracunhaém preocupa moradores do centro da cidade de Bom Jardim

Nesta quinta-feira (1°), a governadora Raquel Lyra participa da edição local da plenária do Plano Clima Participativo, organizado pela Secretaria-Geral da Presidência e pelos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O evento acontece no Centro de Convenções de Pernambuco, às 16h. A iniciativa está percorrendo oito cidades brasileiras com o objetivo de envolver a sociedade na elaboração da política climática do Brasil pelos próximos dez anos.
 
Com informações da Secretaria de Imprensa de Pernambuco

Banco de Imagem Museu de Bom Jardim
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Obra de arte "Reunião com Jesus" na Pedra do Navio coloca Bom Jardim na história mundial





Sandro Roberto /Museu de Bom Jardim/Edgar Santos - "REUNIÃO COM JESUS" - 2021 -  Bom Jardim - PE - ACERVO: Museu de Bom Jardim - IDEIA /CRIAÇÃO: Edgar S. dos Santos - ARTE: Sandro Roberto.

Inventário





Professor Edgar Bom Jardim - PE

"Pedra do Navio, dialogando com o futuro": arte que contesta a realidade e produz resultados para sociedade




Vídeo produzido para a 2ª Bj Arte, para divulgar o acervo do Museu de Bom Jardim. Pedra do navio, diálogo com o futuro. O quadro "Pedra do Navio, diálogo com o futuro" é uma obra de arte que tem como proposta sugerir um projeto de estruturação e requalificação paisagística, cultural e turística do parque da Pedra do Navio, idealizado pelo produtor cultural  Edgar Santos. A  tela foi elaborada por Alexandre Lourenço, criador da técnica Quadro de Reboco. Notável artista do município  de Salgadinho - PE. O artista utiliza a areia do Rio Capibaribe para acabar seus quadros bem coloridos que retratam as paisagens da região do agreste pernambucano. "Pedra do Navio, diálogo com o futuro" é uma obra exclusiva do acervo do Museu de Bom Jardim Pernambuco. Está em exposição na 2ª Bienal BJ ARTE, realizada no período de 25 de janeiro a 11 de fevereiro de 2021, com incentivo do Edital Criação, Fruição e Difusão da Lei Aldir blanc, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Fundarpe, Governo de Pernambuco, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo (Governo Federal).





Professor Edgar Bom Jardim - PE

Quando Bom Jardim vai colocar o preto no branco ?





Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 18 de julho de 2024

História: brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil



Ilustração de cada um dos seis brasileiros que lutaram pelo fim da escravidão no Brasil citados na reportagem

CRÉDITO,ANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL

Legenda da foto,Batalha pela abolição já ocorria nas províncias brasileiras anos antes da assinatura da Lei Áurea, e reunia escravizados, negros libertos, pessoas da classe média e da alta sociedade

O fim da escravidão no Brasil completa 136 anos em 13 de maio deste ano. Em 1888, a princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Pedro 2º, assinou a Lei Áurea, decretando a abolição - sem nenhuma medida de compensação ou apoio aos ex-escravizados.

A decisão veio após mais de três séculos de escravidão, que resultaram em 4,9 milhões de africanos traficados para o Brasil, sendo que mais de 600 mil morreram no caminho.

Mas a abolição no Brasil está longe de ter sido uma benevolência da monarquia. Na verdade, foi resultado de diversos fatores, entre eles, o crescimento do movimento abolicionista na década de 1880, cuja força não podia mais ser contida.

Entre as formas de resistência, estavam grandes embates parlamentares, manifestações artísticas, até revoltas e fugas massivas de escravizados, que a polícia e o Exército não conseguiam - e, a partir de certo ponto, não queriam - reprimir. Em 1884, quatro anos antes do Brasil, os Estados do Ceará e do Amazonas acabaram com a escravidão, dando ainda mais força para o movimento.

A disputa continuou no pós-libertação, para que novas políticas fossem criadas destinando terras e indenizações aos ex-escravizados - o que nunca ocorreu


Conheça abaixo as histórias de seis brasileiros protagonistas na luta pelo fim da escravidão:

Luiz Gama, o ex-escravizado que se tornou advogado

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830, em Salvador, filho de mãe africana livre e pai branco de origem portuguesa. Quando o menino tinha quatro anos, sua mãe, Luísa, teria participado revolta dos Malês, na Bahia, pelo fim da escravidão.

Uma reviravolta ocorreu quando Gama tinha dez anos: ficou sob cuidados de um amigo do pai, que o vendeu como escravizado. O menino "embarcou livre em Salvador e desembarcou escravizado no Rio de Janeiro", escreve a socióloga Angela Alonso no livro Flores, Votos e Balas, sobre o movimento abolicionista. Depois, foi levado para São Paulo, onde trabalhou como escravizado doméstico. "Aprendi a copeiro, sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar", escreveu o baiano.

Fotografia de Luís Gama

CRÉDITO,ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL - BRASIL

Legenda da foto,Calcula-se que Luiz Gama tenha ajudado a libertar cerca de 500 escravizados


Aos 17 anos, Gama aprendeu a ler e escrever com um estudante de direito. E reivindicou sua liberdade ao seu proprietário, afinal, nascera livre, livre era.

Em São Paulo, Gama se tornou rábula (advogado autodidata, sem diploma) e criou uma nova forma de ativismo abolicionista: entrava com ações na Justiça para libertar escravizados. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas.

Gama usava diversos argumentos para obter a alforria. O principal deles era que os africanos trazidos ao Brasil depois de 1831 tinham sido escravizados ilegalmente. Isso porque naquele ano foi assinado um tratado de proibição do tráfico de pessoas escravizadas. Mais de 700 mil pessoas tinham entrado no país nessas condições. Apenas em 1850 o tráfico de escravizados foi abolido definitivamente.

"As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos (...) foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831", disse Gama na época.

O advogado ainda entrou com diversos pedidos de habeas corpus para soltar escravizados que estavam presos, acusados, sobretudo, de fuga. Ainda trabalhou em ações de liberdade, quando o escravizado fazia um pedido judicial para comprar sua própria alforria - o que passou a ser permitido em 1871, em um dos artigos da Lei do Ventre Livre.

Luiz Gama morreu em 1882, sem ver a abolição. Seu funeral, em São Paulo, foi seguido por uma multidão. "Quanto galgara Luís Gama, de ex-escravo a morto ilustre, em cujo funeral todas as classes representavam-se. Comércio de porta fechada, bandeira a meio mastro, de tempos em tempos, um discurso; nas sacadas, debruçavam-se tapeçarias, como nas procissões da Semana Santa", relata Alonso.

Na hora do enterro, alguém gritou pedindo que a multidão jurasse sobre o corpo de Gama que não deixaria morrer a ideia pela qual ele combatera. E juraram todos



Maria Tomásia Figueira Lima, a aristocrata que lutou para adiantar a abolição no Ceará

Filha de uma família tradicional de Sobral (CE), Maria Tomásia foi para Fortaleza depois de se casar com o abolicionista Francisco de Paula de Oliveira Lima. Na capital, tornou-se uma das principais articuladoras do movimento que levou o Estado a decretar a libertação dos escravizados quatro anos antes da Lei Áurea.

Segundo o Dicionário de Mulheres do Brasil, ela foi cofundadora e a primeira presidente da Sociedade das Cearenses Libertadoras que, em 1882, reunia 22 mulheres de famílias influentes para argumentar a favor da abolição.

Ao fim de sua primeira reunião, elas mesmas assinaram 12 cartas de alforria e, em seguida, conseguiram que senhores de engenho assinassem mais 72.

As mulheres conseguiram, inclusive, o apoio financeiro do imperador Pedro 2º para a iniciativa. Juntamente com outras sociedades abolicionistas da época, elas organizaram reuniões abertas com a população, promoviam a libertação de escravizados em municípios do interior do Ceará e publicavam textos nos jornais pedindo a abolição em toda a província.

Maria Tomásia estava presente na Assembleia Legislativa no dia 25 de março de 1884, quando foi realizado o ato oficial de libertação dos escravizados do Ceará, que deu força à campanha abolicionista no país.

Pintura da sessão parlamentar que aboliu a escravidão no Ceará

CRÉDITO,ACERVO BIBLIOTECA NACIONAL - BRASIL

Legenda da foto,Nesta pintura da sessão parlamentar que aboliu a escravidão no Ceará, em 1884, é possível ver diversas mulheres entre os homens

André Rebouças, o engenheiro que queria dar terras aos libertos

André Rebouças nasceu na Bahia, em 1838, em uma família negra, livre, e incluída na sociedade imperial. Quando jovem, estudou engenharia e começou a trabalhar na área. Foi responsável por diversas obras de engenharia importantes no país, como a estrada de ferro que liga Curitiba ao porto de Paranaguá. Conquistou posição social e respeito na corte. A Avenida Rebouças, importante via em São Paulo, é uma homenagem a André e a seu irmão Antonio, também engenheiro.

Em uma das obras de que participou, outro engenheiro pediu que Rebouças libertasse o escravizado Chico, que era operário e tinha sido responsável pelos trabalhos hidráulicos. "Foi quando sua atenção recaiu sobre o assunto", escreve Angela Alonso, também em Flores, Votos e Balas. Chico foi, então, libertado.

"Sou abolicionista de coração. Não me acusa a consciência ter deixado uma só ocasião de fazer propaganda para a abolição dos escravos, e espero em Deus não morrer sem ter dado ao meu país as mais exuberantes provas da minha dedicação à santa causa da emancipação", discursou certa vez Rebouças, na presença do imperador Pedro 2º.

Retrato de André Rebouças

CRÉDITO,MUSEU AFRO BRASIL

Legenda da foto,André Rebouças era adepto de uma reforma agrária que concedesse terras para os ex-escravizados

Na década de 1870, Rebouças se engajou na campanha pelo fim da escravidão. Participou de diversas sociedades abolicionistas e acabou se tornando um dos principais articuladores do movimento. Um de seus papéis foi fazer lobby - uma ponte entre os abolicionistas da elite e as instituições políticas, para quem executava obras de engenharia.

As ideias de Rebouças incluíam não apenas o fim da escravidão. Ele propunha que os libertos tivessem acesso à terra e a direitos, para serem integrados, não marginalizados. "É preciso dar terra ao negro. A escravidão é um crime. O latifúndio é uma atrocidade. (...) Não há comunismo na minha nacionalização do solo. É pura e simplesmente democracia rural", proclamou Rebouças.

O engenheiro também se opunha ao pagamento de indenização para os senhores de escravizados em troca da liberdade - para Rebouças, isso seria uma forma de validar que uma pessoa fosse propriedade da outra.

Apoiador da monarquia e da família real brasileira, Rebouças foi ainda um dos responsáveis pela exaltação da Princesa Isabel como patrona da abolição.

Adelina, a charuteira que atuava como 'espiã'

Filha bastarda e escravizada do próprio pai, Adelina passou a vender charutos que ele produzia nas ruas e estabelecimentos comerciais de São Luís (MA). Suas datas de nascimento e morte não são conhecidas. Seu sobrenome, também não.

Como escravizada criada na casa grande, Adelina aprendeu a ler e escrever. Trabalhando nas ruas, assistia a discursos de abolicionistas e decidiu se envolver na causa.

Ilustração de Adelina

CRÉDITO,ANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL

Legenda da foto,Como não há registros fotográficos de Adelina, a charuteira, ilustração foi baseada em fotografias de escravizadas que viviam no Maranhão na época

De acordo com o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, de Clóvis Moura (Edusp), Adelina enviava à associação Clube dos Mortos - que escondia escravizados e promovia sua fuga - informações que conseguia sobre ações policiais e estratégias dos escravistas.

Aos 17 anos, Adelina seria alforriada, segundo a promessa que seu senhor fez a sua mãe. Mas, segundo o Dicionário, isso não aconteceu.

Dragão do Mar, o jangadeiro que se recusou a transportar escravizados para os navios

O jangadeiro e prático (condutor de embarcações) Francisco José do Nascimento (1839-1914), um homem pardo conhecido como Dragão do Mar, foi membro do Movimento Abolicionista Cearense, um dos principais da província, a primeira do Brasil a abolir a escravidão.

Em 1881, o Dragão do Mar comandou, em Fortaleza, uma greve de jangadeiros que transportavam os negros e negras escravizados para navios que iriam para outros Estados do Nordeste e para o Sul do Brasil. O movimento conseguiu paralisar o tráfico negreiro por alguns dias.

Ilustração de Francisco José do Nascimento

CRÉDITO,ANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL

Legenda da foto,Francisco José do Nascimento se recusou a transportar escravizados das praias de Fortaleza para navios negreiros

Com o comércio de escravizados impedido nas praias do Ceará, Nascimento foi exonerado do cargo, segundo o registro de Clóvis Moura. E se tornou símbolo da batalha pela libertação dos escravizados.

Depois da abolição, ele tornou-se Major Ajudante de Ordens do Secretário Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará e morreu como primeiro-tenente honorário da Armada, em 1914.

Maria Firmina dos Reis, a primeira escritora abolicionista

A maranhense Maria Firmina (1825-1917) era negra e livre, "filha bastarda", mas formou-se professora primária e publicou, em 1859, o que é considerado por alguns historiadores o primeiro romance abolicionista do Brasil, Úrsula. O livro conta a história de um triângulo amoroso, mas três dos principais personagens são negros que questionam o sistema escravocrata.

A escritora assinava o livro apenas como "Uma maranhense", um expediente comum entre mulheres da época que se aventuravam no mercado editorial, e só agora começa a ser descoberto pelas universidades, segundo a professora de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Constância Lima Duarte.

Ilustração de Maria Firmina dos Reis

CRÉDITO,ANDRÉ VALENTE | BBC BRASIL

Legenda da foto,Romance de Maria Firmina dos Reis é considerado o primeiro a trazer o ponto de vista de personagens negros no Brasil escravocrata

Maria Firmina também publicava contos, poemas e artigos sobre a escravidão em revistas de denúncia no Maranhão.

De acordo com o Dicionário de Mulheres do Brasil: de 1500 Até a Atualidade (Ed. Zahar), ela criou, aos 55 anos de idade, uma escola gratuita e mista para crianças pobres, na qual lecionava. Maria Firmina morreu aos 92 anos, na casa de uma amiga que havia sido escravizada.

* Esta reportagem foi originalmente publicada em 13 maio 2018 e atualizada em 2024



  • Amanda Rossi e Camilla Costa
  • Role,Da BBC Brasil em São Paulo e Londres
Professor Edgar Bom Jardim - PE