terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Concursos públicos: por que 2022 será recheado de vagas; confira lista



Agente do censo usando boné e colete do IBGE, além de máscara de proteção e face shield contra o coronavírus

CRÉDITO,ACERVO IBGE

Legenda da foto,

Censo será realizado em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia

Após anos marcados por baixo número de concursos públicos, em meio ao aperto das contas públicas e à pandemia, 2022 promete uma grande oferta de vagas para o funcionalismo.

Somente no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são mais de 200 mil vagas temporárias para trabalhar na aplicação do Censo Demográfico 2022.

Elas estão distribuídas em mais de 5 mil municípios e as inscrições para o concurso foram prorrogadas até 21 de janeiro devido ao baixo número de inscritos, afetado pelo período de festas de fim de ano e de férias escolares.

A Petrobras tem mais de 700 vagas de nível superior, com salários a partir de R$ 11 mil e inscrições abertas até esta quarta-feira (5/1).

Ao menos duas das polícias militares do país têm concursos abertos no momento (São Paulo e Amazonas) e especialistas em concursos avaliam que até 25 disputas por vagas poderão ser abertas ao longo de 2022, entre polícias militares, civis, federal e legislativas.

A saúde deve ser outro destaque no ano, com a perspectiva de investimentos no setor por Estados e municípios, diante do ano de eleição para governadores e do caixa cheio dos entes subnacionais, que tiveram forte crescimento da arrecadação de impostos em 2021.

Milhares de vagas

"O plano orçamentário do governo federal prevê mais de 30 mil vagas para 2022, entre vagas novas e outras que já existem e o pessoal já concursado vai ser chamado", destaca Daniel Lustosa, coordenador pedagógico do AlfaCon Concursos, empresa que atua na preparação de candidatos para concursos.

O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) 2022, aprovado pelo Congresso em dezembro, prevê 33.208 vagas para concursos públicos em 2022, sendo 4.263 para criação de vagas e 28.945 para provimento — quando são chamados os aprovados em concursos abertos ou novos concursos.

A peça orçamentária também destina R$ 2,29 bilhões para o Censo 2022 e o preenchimentos das vagas de concursos do IBGE.

"Entre 2017 e 2020, tivemos um cenário de poucos concursos. Agora para 2022, a perspectiva é de uma melhora significativa, que já começou em 2021, quando foram realizados muitos dos concursos adiados em 2020 devido à pandemia", observa Lustosa.


Ele destaca que a confirmação da realização do Censo — inicialmente previsto para 2020, mas adiado por duas vezes devido à crise sanitária — por si só já faz desse ano um destaque em número de vagas, já que são raros concursos tão grandes e com oferta tão espalhada de vagas por todo o Brasil (são 5.297 municípios com vagas abertas, de um total de 5.568).

"Ainda que sejam vagas temporárias, essas 200 mil vagas são muito atrativas. É uma porta de entrada muito boa para quem estuda para concursos. É possível receber um salário razoável e continuar estudando para outras oportunidades", avalia.

Para quem pretende se candidatar, o coordenador pedagógico deixa algumas dicas.

"É importante definir uma área, porque cada uma tem matérias distintas a serem estudadas", sugere o especialista em concursos.

"Definida a área, é importante estudar as matérias básicas: português, matemática, informática, direito administrativo. Depois, as matérias específicas, que costumam ter peso maior e dão a base para a aprovação", conclui, lembrando que cursos e materiais didáticos específicos também podem ajudar os potenciais candidatos.

'O povo tem direito a mais e melhores serviços públicos', diz cartaz em protesto de servidores (30.set.20)

CRÉDITO,REPRODUÇÃO/SINDSEP-DF

Legenda da foto,

'O povo tem direito a mais e melhores serviços públicos', diz cartaz em protesto de servidores

Confira alguns concursos com vagas abertas ou que abrem em breve.

Petrobras

A Petrobras encerra na quarta-feira (5/1) as inscrições para concurso público que vai selecionar 757 profissionais de nível superior.

A prova está prevista para 20 de fevereiro e será realizada em todas as capitais e no Distrito Federal.

As vagas são para profissionais com formação em áreas como ciência de dados, análise de sistemas, engenharias, geofísica, geologia, economia e administração.

A remuneração mínima inicial é de R$ 11.716,82 e não é necessária experiência prévia.

Informações sobre as inscrições aqui: https://petrobr.as/concurso

IBGE

As inscrições para concorrer às mais de 206 mil vagas temporárias do Censo 2022 foram prorrogadas até 21 de janeiro. A prova agora está prevista para 10 de abril.

São 183 mil vagas de nível fundamental para recenseadores, em 5.297 municípios do país.

O salário é por produção, mas é possível simular a remuneração em uma calculadora desenvolvida pelo IBGE.

Há ainda mais de 18 mil vagas de agente censitário supervisor (ACS) e 5.450 de agente censitário municipal (ACM), ambas de nível médio. Os salários são de R$ 1.700 e R$ 2.100, respectivamente.

Controladoria Geral da União (CGU)

A Controladoria-Geral da União (CGU), órgão de controle interno do governo federal, tem 375 vagas abertas para os níveis médio e técnico.

A remuneração inicial é de R$ 7.283,31 para o cargo de Técnico Federal de Finanças e Controle, com 75 vagas, e de R$ 19.197,06 para Auditor Federal de Finanças e Controle (300 vagas).

As inscrições vão até 1º de fevereiro: https://conhecimento.fgv.br/concursos/concursocgu21

Polícias

Polícia Militar do Estado do Amazonas tem 1.350 vagas abertas de nível médio e superior, com inscrição até às 16h dessa terça-feira (4/1).

A remuneração básica inicial varia de R$ 2.657,28 a R$ 7.180,34.

Já a Polícia Militar de São Paulo está com 220 vagas abertas para o cargo de Oficial, que exige nível médio.

As inscrições vão até 20 de janeiro e o salário inicial para o Aluno-Oficial PM é de R$ 3.310,13.

Inscrições aqui: https://www.vunesp.com.br/

Polícia Militar do Pará vai abrir 110 vagas de nível médio e superior, entre oficiais de administração (98) e oficiais especialistas de saúde (9) e músicos (3).

As inscrições irão de 6 a 20 de janeiro, nesse endereço: https://portalfadesp.org.br/?page_id=23360

Saúde

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo tem 1.049 vagas temporárias abertas para cargos de nível médio, técnico e superior em 33 cidades paulistas. As inscrições foram prorrogadas até 14 de janeiro e podem ser feitas aqui: https://www.zambini.org.br/portal/

Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá (MT) tem 2.233 vagas abertas de nível médio e superior, com remuneração até R$ 3.183,71. As inscrições vão até 16 de janeiro: https://selecon.com.br/

Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (AM) vai abrir 2.001 vagas para os níveis superior, médio, médio técnico e fundamental. As inscrições começam em 5 de janeiro ou 10 de janeiro, dependendo do cargo. Informações aqui: https://conhecimento.fgv.br/concursos/semad22

Ministério da Saúde vai abrir 4.600 vagas para o programa Médicos pelo Brasil, substituto do Mais Médicos. São 4.057 vagas para médicos bolsistas e 595 para tutores, com salário base de R$ 12.600. O edital foi publicado em 31 de dezembro e as inscrições irão de 10 de janeiro a 6 de fevereiro.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Emprego fraco e dólar nas alturas: o que vem por aí na economia em 2022


Comércio popular na rua 25 de Março, centro de São Paulo

CRÉDITO,PAULO PINTO/FOTOS PÚBLICAS

Legenda da foto,

Inflação deve perder força, mas PIB tende a ficar estagnado, preveem economistas para o próximo ano

O ano de 2022 deve trazer pelo menos uma boa notícia na economia: a inflação tende a perder um pouco de força, como resultado da safra recorde de alimentos, redução de preço dos combustíveis e diminuição da demanda, resultado da forte alta dos juros e da atividade fraca.

No entanto, para além dessa perda de ímpeto dos preços, o ano eleitoral tende a ser mais um período difícil para a economia brasileira.

Para o PIB (Produto Interno Bruto), indicador que soma todos os bens e serviços produzidos no país, a expectativa dos economistas é de estagnação.

Os analistas divergem se o número vai ser um pouco negativo ou um pouco positivo, mas todos concordam que, no azul ou no vermelho, o desempenho deve ficar muito próximo de zero.

Como consequência, o mercado de trabalho tende a perder ímpeto, com a taxa de desemprego caindo mais devagar e a geração de vagas formais mais fraca.



Já o câmbio — relação entre o valor da moeda brasileira e as moedas de outros países — deve ter um ano bastante volátil (isto é, deve variar bastante, ser inconstante), reagindo à corrida eleitoral e à provável alta de juros para conter a inflação nos mercados desenvolvidos.

Esse movimento tende a atrair investimentos principalmente aos Estados Unidos, enfraquecendo as moedas de países emergentes, como o Brasil, e já há quem aposte em um dólar encostando nos R$ 6 ao longo do próximo ano.

Nas contas públicas, a arrecadação de impostos deve perder força, enquanto o custo da dívida pública tende a continuar em alta, devido ao aumento dos juros.

E para coroar esse cenário desfavorável, a economia mundial pode perder força, com destaque para a China, principal parceira comercial do Brasil.

Saiba o que esperar para PIB, emprego, inflação, câmbio, economia mundial, contas públicas e política monetária em 2022, na visão de um time de especialistas que inclui os economistas Daniel Duque e André Braz (FGV), Silvio Campos Neto (Tendências), Vilma Pinto (IFI) e Rafaela Vitória (Banco Inter).

Um 2022 de PIB estagnado


Com dois resultados negativos no segundo e terceiro trimestres de 2021, a economia brasileira entrou este ano em "recessão técnica" — termo usado pelos economistas quando são registrados dois trimestres seguidos de PIB em queda.

No quarto trimestre, a coisa não melhorou, com indústria (-0,6%), varejo (-0,1%) e serviços (-1,2%) em retração em outubro, na comparação com setembro, sugerindo que a atividade econômica continuou em baixa nos últimos três meses do ano.

As vendas da Black Friday em novembro e do Natal em dezembro, com crescimento fraco em relação a 2020, reforçaram a sensação de falta de ímpeto da economia.

É em meio a esse desânimo que o país adentra 2022, ano que os economistas preveem que será de estagnação para o PIB brasileiro.

Segundo o boletim Focus do Banco Central (de 27/12), que reúne as expectativas de diversos analistas do mercado, o PIB brasileiro deve crescer apenas 0,4% em 2022, após avançar cerca de 4,5% este ano, recuperando a queda de 3,9% de 2020, quando a pandemia fez seu maior estrago.

Conforme Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do banco Goldman Sachs, o ano de 2022 deve ser marcado pela continuidade da recuperação do setor de serviços no Brasil, em meio ao avanço da vacinação.

"No entanto, a inflação em dois dígitos, a taxa de juros em alta, o aumento do ruído e da incerteza política, o alto nível de endividamento das famílias e a deterioração da confiança de consumidores e empresários são ventos contrários significativos para a atividade", escreve Ramos, em relatório.

Mercado de trabalho perde força

O ano de 2021 foi de recuperação para o mercado de trabalho, após o forte baque registrado no ano anterior.

A taxa de desemprego, que começou o ano em 14,5%, chegou a outubro em 12,1%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Até novembro, haviam sido criadas no país quase 3 milhões de vagas com carteira assinada, conforme dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia.

Pessoas aguardam numa enorme fila de um mutirão de emprego

CRÉDITO,AGÊNCIA SINDICAL

Legenda da foto,

Recuperação do emprego deve perder ritmo em 2022, diz Daniel Duque, do Ibre-FGV

"Devemos chegar ao primeiro trimestre de 2022 com uma taxa de desemprego já bem próxima da que tínhamos no início da pandemia", prevê Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Em fevereiro de 2020, quando foi identificado o primeiro caso de coronavírus no Brasil, a taxa de desemprego estava em 11,8%.

"A partir daí, no entanto, essa recuperação deve perder ritmo", diz Duque, explicando que há sempre um atraso entre a atividade econômica e o mercado de trabalho.

"A desaceleração da atividade que sofremos no segundo semestre de 2021, que foi bem forte, deve começar a ter um impacto no emprego a partir do primeiro trimestre de 2022 e a renda do trabalho deve continuar bem baixa, sofrendo com os efeitos da inflação e com reajustes nominais abaixo da alta de preços", avalia o pesquisador.

Segundo o boletim Salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em 12 meses até novembro de 2021, apenas 19,4% das negociações salariais entre sindicatos patronais e de trabalhadores resultaram em reajustes acima da inflação, enquanto para 50,8% os reajustes foram inferiores e 29,8% conseguiram ao menos repor a alta de preços.

Já conforme o IBGE, em outubro, o rendimento médio dos brasileiros caiu 11,1% na comparação anual, para R$ 2.449. Com isso, a renda no país descontada a inflação se encontra no menor patamar da série histórica, que tem início em 2012.

Ainda de acordo com Duque, a recuperação modesta do emprego que deve ocorrer em 2022 tende a ser puxada pelos trabalhadores informais e por conta própria.

"O emprego formal tem uma correlação bem forte com o PIB", explica o economista. "Como estamos vendo uma estagnação nos últimos trimestres, que deve continuar em 2022, principalmente devido à alta dos juros, muito provavelmente veremos em breve o fim da expansão dos empregos formais."

Inflação perde força, mas 2021 deixa herança

Segundo o boletim Focus, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve desacelerar de cerca de 10% no acumulado de 12 meses até dezembro de 2021, para algo em torno de 5% ao fim de 2022.

No entanto, o indicador ainda tende a ficar acima da meta para o próximo ano, que é de 3,5%.

Cartazes de preços em barraca de frutas numa feira livre

CRÉDITO,AFP

Legenda da foto,

Boa parte da inflação de 2022 vai ser influenciada pela alta de preços de 2021, diz André Braz, da FGV

"Dado que a nossa economia ainda é muito indexada [quando os preços são reajustados de acordo com a inflação do período anterior], boa parte da inflação de 2022 vai ser influenciada pela inflação de 2021", diz André Braz, coordenador de índices de preços na FGV.

Um exemplo disso é o salário mínimo, que deve passar de R$ 1.100 em 2021 para R$ 1.212 em 2022, acompanhando a alta da inflação. O salário básico serve de referência para os salários do setor privado e também define o valor de benefícios sociais e aposentadorias.

Também os aluguéis, mensalidades escolares e impostos como IPVA e IPTU devem ser influenciados pela inflação do ano passado em seus reajustes, cita o economista.

Segundo Braz, boa parte da pressão inflacionária só deve perder forçar a partir do segundo semestre, já que a alta da taxa básica de juros leva de seis a nove meses para ter efeito sobre a economia.

"O efeito colateral disso vai ser um crescimento menor e isso vai bater direto no mercado de trabalho e nas oportunidades de emprego, contribuindo de forma mais aguda no segundo semestre para diminuir a demanda, que já está enfraquecida, mas que tende a se enfraquecer ainda mais", prevê Braz.

Segundo o economista, a inflação de alimentos deve desacelerar de uma alta acima de 7% em 2021, para avanço entre 3,5% e 4% em 2022, devido à safra agrícola recorde esperada.

"Uma oferta maior de alimentos pode contribuir para uma inflação mais baixa", diz Braz.

Ele pondera, no entanto, que o câmbio é um risco para essa previsão, já que a moeda brasileira desvalorizada incentiva a exportação de alimentos, o que reduz a oferta no mercado interno.

O real fraco também eleva o preço dos produtos no país, já que commodities como soja e milho são cotadas no mercado internacional em dólar.

Homem segura cartaz que diz '4,40 não' em protesto contra reajuste de ônibus em São Paulo

CRÉDITO,ELINEUDO MEIRA/FOTOS PÚBLICAS

Legenda da foto,

Ano eleitoral desfavorece reajustes nos transportes, diz economista

Para os preços administrados — aqueles controlados pelo poder público, como combustíveis, contas de luz e tarifas de transporte —, Braz prevê uma pressão menor devido à queda de preços do petróleo e à expectativa de uma bandeira menos onerosa nas contas de luz, graças à normalização das chuvas e dos reservatórios hidrelétricos nos últimos meses.

Já no transporte público, pressionado pela alta de quase 50% do diesel nos últimos 12 meses, joga a favor dos usuários o fato de 2022 ser um ano eleitoral, o que desincentiva o reajuste de tarifas pelas prefeituras e governos estaduais.

Em São Paulo, por exemplo, a Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana e a SPTrans avaliam que a tarifa de ônibus precisaria subir dos atuais R$ 4,40 para R$ 5,08 para recompor a inflação desde o último reajuste.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), no entanto, adiou a correção até fevereiro, enquanto aguarda o Senado votar projeto que passaria o custeio da gratuidade para idosos ao governo federal.

Câmbio pressionado e mundo menos favorável

Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, dois fatores principais devem influenciar a cotação da moeda brasileira em 2022: as eleições presidenciais no Brasil e a alta dos juros nos Estados Unidos.

Camelô vende camisas de Lula e Bolsonaro no Recife

CRÉDITO,SAM COWIE

Legenda da foto,

'Processo eleitoral sempre gera muita volatilidade e apreensão', diz Silvio Campos Neto, da Tendências

"A perspectiva de que o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] eleve as taxas de juros por lá é um sinal de dólar forte no mundo todo", diz Campos Neto.

Isso acontece porque os juros mais altos nos EUA atraem investimentos para os papeis do Tesouro americano, valorizando o dólar e diminuindo os recursos disponíveis para aportes em países emergentes, que são considerados mais arriscados.

"Por aqui, o processo eleitoral sempre gera muita volatilidade e muita apreensão", acrescenta.

Segundo o economista, nos últimos anos, o real brasileiro teve comportamento atípico em relação às outras moedas de países emergentes, como o peso mexicano, colombiano e chileno, o rand sul-africano e o rublo russo.

Embora todas essas moedas tenham perdido valor com a pandemia, o real não se recuperou, ao contrário das demais, devido a fatores internos.

Pesou sobre a moeda brasileira principalmente o descontrole fiscal, com o calote nos precatórios — dívidas da União reconhecidas pela Justiça — e a mudança na regra do teto de gastos com a justificativa de pagar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.

"O câmbio realmente está fora de lugar, mas para ele voltar para um patamar mais baixo teria que ter uma mudança de sinalização em termos de política macroeconômica, especialmente um comprometimento maior na questão fiscal", diz Campos Neto.

"Isso é algo que não deve vir de nenhum dos dois candidatos mais cotados. Então, em 2022, esperamos pressões renovadas [sobre o câmbio]. Ao longo do ano, podemos perfeitamente observar novos picos, até próximos de novo a R$ 6", prevê.

Ao fim do ano, no entanto, o economista avalia que o câmbio deve ceder de volta aos R$ 5,70, já que o vencedor das eleições tende a tentar amenizar o ambiente adverso, fazendo acenos mais responsáveis em relação à agenda econômica.

Além do câmbio volátil, Campos Neto prevê um "mundo mais desafiador" para o Brasil.

"Será um mundo que ainda cresce, especialmente nos Estados Unidos, mas com início de retirada dos estímulos monetários, com destaque para o Fed, que deve começar a subir juros entre março e junho", diz o economista.

Outro ponto de atenção é a China, cuja economia já dá sinais de desaceleração, devido a um rearranjo do setor imobiliário do país asiático, que cresceu muito nos últimos anos com base em um forte avanço do endividamento.

"Essa desaceleração já está acontecendo e já se reflete, por exemplo, no preço do minério de ferro", diz Campos Neto.

Ele destaca que o efeito da desaceleração chinesa sobre os preços das commodities é positivo para a inflação brasileira, mas negativo para a balança comercial, já que o país é um grande exportador de produtos básicos.

Nas contas públicas, arrecadação menor e dívida mais cara

A política fiscal — ramo da política econômica que trata do gasto público e da arrecadação de impostos — deve ser um dos grandes temas das eleições de 2022.

Isso porque a corrida eleitoral deve acontecer em meio a um ano de piora no quadro das contas públicas.

Segundo Vilma Pinto, diretora da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado Federal, em 2022 tende a haver uma expansão da despesa, por conta do Orçamento aprovado — que prevê mudanças no pagamento dos precatórios e no teto de gastos para permitir maiores despesas, além de acomodar gastos como o aumento do fundo eleitoral e o reajuste dos salários de policiais federais, definido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já a arrecadação recorde observada em 2021 deve perder força, já que ela foi impulsionada pela recuperação da atividade e pela alta de preços dos produtos e serviços, devido ao aumento da inflação. Com PIB e inflação mais fracos em 2021, esses efeitos se perdem.

"Outra questão importante — que reforça o pessimismo para o quadro fiscal — são os juros e seu impacto para a dívida pública. Em dezembro, o Tesouro divulgou dados da dívida federal, que já mostram um crescimento na margem do custo médio da dívida", observa Vilma.

Conforme o Tesouro, o custo médio acumulado em 12 meses do estoque da dívida pública federal subiu de 8,02% ao ano em outubro para 8,62% em novembro, maior valor desde outubro de 2020.

No mesmo período, o custo médio das emissões em oferta pública da dívida interna aumentou de 7,48% ao ano para 8,02%.

A relação entre dívida e PIB, observada pelos economistas como sinal da saúde das contas públicas de um país, deve voltar a subir em 2022, nas projeções da IFI.

O indicador chegou a 88,6% em dezembro de 2020, devido ao aumento de gasto em resposta à pandemia da covid-19. Em 2021, deve cair a 82,1%, voltando a subir para 84,8% em 2022.

Essa elevação da dívida/PIB deve acontecer devido à combinação de piora do resultado primário do governo, aumento do custo da dívida e PIB mais fraco.

A saúde das contas públicas é um tema importante para a população em geral porque ela define a capacidade do governo de gastar e, consequentemente, a qualidade dos serviços públicos oferecidos.

Além disso, a percepção do mercado com relação à capacidade do governo de honrar suas dívidas influencia variáveis como o risco-país e o câmbio, que têm efeito direto sobre a inflação, já que muitos insumos da indústria são importados e as commodities são cotadas em dólar.

Atividade fraca pode pôr fim a alta dos juros

Em sua reunião de dezembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros da economia brasileira em 1,5 ponto percentual (p.p.), para 9,25%.

Foi o sétimo aumento seguido da Selic, que ao fim de 2020 estava em 2%, menor nível da história.

Fachada do Banco Central em Brasília

CRÉDITO,MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

Legenda da foto,

Selic começou o ano em 2% e chegou a 9,25% em 2021. Novas altas de juros são esperadas para 2022

Em sua última reunião do ano, o Copom também indicou mais um aumento de 1,5 p.p. para sua próxima reunião, em fevereiro de 2022.

No entanto, os sinais de fraqueza da atividade e os últimos dados de inflação abaixo do esperado fazem alguns economistas acreditarem que a autoridade monetária pode optar por subir menos os juros no início deste ano.

"Temos visto diversos sinais de desaceleração da economia, na indústria, nos investimentos e nos indicadores de confiança, que mostram um empresário mais cauteloso para 2022", diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter.

"Ao mesmo tempo, a inflação dá bons sinais de desaceleração", observa. Tanto o IPCA de novembro, como IPCA-15 de dezembro, apesar de altos, vieram abaixo das expectativas dos economistas.

"O consumo mais fraco acaba não alimentando a demanda e a gente pode ter uma inércia inflacionária bem menor, por conta da economia mais fraca. Isso pode resultar em uma política monetária um pouco mais gradual", acredita a economista.

Ela aposta em uma alta de 1 p.p. para Selic em fevereiro e outra de 0,75 p.p. em março, o que encerraria o ciclo de alta dos juros em 11%, abaixo dos 11,75% esperados pela maioria do mercado.

Para a analista, passadas as eleições e com o candidato eleito dando sinais de retomada das reformas macroeconômicas, o BC poderá voltar a reduzir a Selic, encerrando 2022 com a taxa em 10,5%.

No boletim Focus, o mercado também aposta em um início do corte de juros já no próximo ano, mas mais modesto, para 11,5%.

  • Thais Carrança - 
  • Da BBC News Brasil em São Paulo

Professor Edgar Bom Jardim - PE