segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Variante Delta: 8 respostas sobre mutação mais contagiosa do coronavírus



Ilustração representando vírus

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A Delta é considerada mais contagiosa que a cepa original do vírus e outras variantes

A variante Delta do coronavírus já está em mais de cem países e continua a se espalhar rapidamente. Espera-se que ela se torne a variante dominante no mundo nos próximos meses.

Por ser altamente contagiosa, ela está causando novos surtos em alguns países, principalmente entre pessoas não vacinadas. Com isso, muitos governos voltaram a impor restrições às suas populações.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Delta é hoje responsável por 83% dos casos de covid-19. Com menos da metade da população do país totalmente vacinada, há condições para o vírus Sars-CoV-2 continuar a evoluir e a se espalhar rapidamente.

Aqui está o que se sabe sobre a variante Delta e o que fazer para se proteger.

1. O que é a Delta e como ela se diferencia das outras variantes

Os vírus passam por mutações o tempo todo, e a maioria destas mudanças não é relevante. Mas existem alterações que podem tornar a doença mais infecciosa ou perigosa, e essas são as mutações que tendem a predominar.


Atualmente, existem milhares de variantes do vírus que causa a covid-19 circulando no mundo. No caso da Delta, ou B.1.617.2, identificada pela primeira vez na Índia em dezembro de 2020, o vírus passou por alterações genéticas que o permitiram ser mais transmissível.

Dados publicados pelo governo britânico indicam que a Delta é entre 40% e 60% mais contagiosa do que a variante Alfa (detectada na Inglaterra) e quase duas vezes mais transmissível do que a cepa original identificada em Wuhan, China.

Uma das transformações que permitiram que ela se propagasse com mais facilidade foi na proteína S, ou spike, a parte com a qual se liga às células humanas.

2. Por que a Delta é tão contagiosa?

Placa em frente a prédio no Reino Unido diz: Testing Centre (centro de testagem)

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Variante levou a aumento de casos de covid-10 no Reino Unido

Além da maior eficiência na transmissão, há outros fatores que influenciaram na rápida disseminação dessa variante pelo mundo.

As brechas no controle de fronteiras e nas medidas de isolamento foi um desses motivos, relaxamentos que aconteceram em um período em que a pandemia parecia melhorar em certos países e em que muitas pessoas já estavam cansadas das medidas preventivas.

Outro fator importante foi a distribuição desigual de vacinas em todo o mundo, permitindo que a variante se espalhasse mais em populações pouco imunizadas.

3. Quais são os sintomas da Delta?

No Reino Unido, onde foi registrado que a variante delta foi dominante no mês de junho, os sintomas mais comumente relatados foram dor de cabeça, dor de garganta e coriza. O professor Tim Spector, epidemiologista da universidade King's College London, explica que os jovens infectados com a Delta podem sentir "como se tivessem um forte resfriado".

Segundo o pesquisador, sintomas clássicos da covid-19 estão se mostrando menos comuns com esta variante, como perda do olfato e paladar, tosse e febre, de acordo com dados registrados por pacientes em um aplicativo desenvolvido por sua equipe.

"Desde o início de maio, monitoramos os principais sintomas dos usuários do aplicativo, e eles não são os mesmos de antes", explica o especialista, à frente do projeto de pesquisa Zoe Covid Symptom Study.

A febre ainda é bastante comum, mas a perda do olfato não está mais entre os dez principais sintomas, acrescenta ele.

"Essa variante parece funcionar de uma maneira um pouco diferente. As pessoas podem pensar que acabaram de ter um resfriado sazonal e continuam indo a festas, podendo espalhar o vírus para outras pessoas. Achamos que isso está criando grande parte do problema, diz o epidemiologista.

Os sintomas, entretanto, parecem variar dependendo se a pessoa foi parcial ou totalmente vacinada — ou não foi imunizada de nenhuma forma.

4. Vacinação e infecção

Dentro de sala, profissional aplica vacina em mulher de costas

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Vacinação em Israel; estudos mostram eficácia de imunizantes contra gravidade e mortalidade por infecção da variante Delta

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos afirma que a maior disseminação de casos graves está ocorrendo em locais com baixas taxas de vacinação. No entanto, pessoas totalmente vacinadas também podem pegar e transmitir o vírus a outras pessoas.

"As pessoas vacinadas parecem ser infecciosas por um período mais curto", indica o CDC. "As variantes anteriores geralmente produziam menos vírus no corpo de pessoas totalmente vacinadas do que em pessoas não vacinadas. Por outro lado, a variante Delta parece produzir a mesma quantidade alta de vírus em pessoas não vacinadas e totalmente vacinadas."

O CDC indica que a infecção em pessoas vacinadas diminui mais rápido do que naquelas não vacinadas, sugerindo que as "pessoas totalmente vacinadas ficarão infecciosas por menos tempo do que pessoas não vacinadas."

5. Vacinação e gravidade

Os especialistas destacam que, apesar de terem sido projetados com base em versões mais antigas do coronavírus, os imunizantes são muito eficazes na proteção à gravidade e morte por covid-19. Uma análise do órgão de saúde pública da Inglaterra (PHE) descobriu que duas doses da vacina da Pfizer ou da AstraZeneca foram mais de 90% eficazes contra hospitalizações causadas pela variante Delta.

Por isso, é vital que as pessoas sejam totalmente vacinadas, de forma a obter o máximo de proteção contra variantes existentes e emergentes. Enquanto isso, os cientistas continuam a trabalhar no aprimoramento das vacinas existentes para que elas possam proteger contra todas as mutações.

6. A Delta exige dose de reforço?

Por enquanto, não há dados que sustentem a necessidade de uma dose de reforço para a população em geral. Estudos indicam que a vacinação como está gera uma resposta imunológica duradoura, com proteção estimada em meses e até anos.

Mas diante de variantes mais contagiosas como a Delta, os cientistas dizem que mais pesquisas são necessárias para responder à possibilidade de uma vacinação de reforço.

Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que, antes de se pensar em doses de reforço, a principal preocupação deve ser que a maioria das pessoas no mundo seja vacinada. Há países onde apenas 1% dos adultos recebeu uma dose de imunizante.

7. A Delta é mais perigosa para as crianças?

Nos Estados Unidos, houve nos últimos meses relatos de um aumento gradual no número de crianças hospitalizadas com covid-19. Isso levantou a hipótese de que a altamente contagiosa variante Delta pudesse ser responsável. Mas até o momento não está claro se a Delta está causando um aumento nos casos pediátricos ou se essa variante causa uma doença mais grave em crianças.

"Não há evidências firmes de que a doença seja mais grave (em crianças)", disse Jim Versalovic, chefe interino de pediatria do Hospital Infantil do Texas em Houston ao jornal The New York Times. "Certamente estamos vendo casos graves, mas temos visto casos graves em toda a pandemia."

8. Como reduzir o risco de se infectar com a Delta?

Três pessoas no elevador, uma assoando o nariz e outras duas de máscara

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A variante Delta impõe que continuemos adotando medidas preventivas contra a covid-19

Especialistas destacam que, com o que se sabe até agora sobre a Delta, é necessário continuar com estratégias de prevenção para reduzir sua transmissão. Por enquanto, a melhor proteção é a vacinação, mas, como aponta o CDC, "devemos usar todas as estratégias disponíveis, incluindo o uso de máscara".

"Embora as vacinas sejam altamente eficazes, elas não são perfeitas, e as infecções continuarão a ocorrer mesmo entre os vacinados", acrescenta o órgão americano.

"Isso significa que, embora o risco de infecção em vacinados seja baixo, milhares de pessoas imunizadas serão infectadas e podem infectar outras, especialmente com a rápida disseminação da variante Delta. E isso, por sua vez, aumentará as chances de surgimento de novas variantes preocupantes."

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Quem é quem na estrutura do Talebã que tomou o poder no Afeganistão?




Membro do Talebã segura arma

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Com a retirada de tropas americanas e internacionais em junho, o Talebã rapidamente tomou o Afeganistão, fazendo milhares de pessoas deixaram suas casas, incluindo o presidente, que fugiu do país

O Talebã, que tomou o Afeganistão e derrubou o governo civil do país neste fim de semana, já chega com uma estrutura de poder pronta.

O grupo fundamentalista islâmico que controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001 tem um líder supremo, um conselho com 26 membros e um "gabinete de ministros" que supervisiona atividades em diferentes áreas, como militar e econômica.

O grupo é tão organizado que tem também uma representação internacional em Doha, onde foram tratadas as negociações de paz com os Estados Unidos.

Apesar disso, os membros do Talebã estão em movimento o tempo todo, sem infraestrutura fixa.

O grupo surgiu nos anos 1990 após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, nascido dentro de seminários religiosos que pregavam uma forma fundamentalista de islamismo sunita.


Já no fim daquela década, o grupo havia conquistado grande parte do Afeganistão. Desde então e de 2001, com a invasão americana que tirou o Talebã do poder, seus líderes sofreram baixas e foram sendo substituídos até chegar à formação atual.

Imagem mostra a estrutura do Talebã

CRÉDITO,BBC NEW BRASIL

Líder do Talebã

Em 2016, o ex-chefe do Talebã Akhtar Mohammad Mansour foi morto em um ataque de drone dos Estados Unidos.

Mansour havia assumido a liderança no lugar do fundador e principal líder do Talebã, Mullah Mohammed Omar, em 2013. Omar, por sua vez, havia morrido após problemas de saúde - e o Talebã escondeu sua morte durante dois anos.

Depois que Mansour morreu em 2016, quem assumiu a liderança do grupo foi Mawlawi Hibatullah Akhundzada - e é ele quem está na liderança do Talebã até hoje.

Akhundzada esteve envolvido na resistência islâmica contra a campanha militar soviética no Afeganistão na década de 1980. Quando assumiu, sua reputação era mais a de um líder religioso do que a de um comandante militar. Viveu grande parte de sua vida no Afeganistão

Ele é uma figura importante nos tribunais do Talebã há anos. Acredita-se que tenha emitido decisões apoiando punições islâmicas - como execuções públicas de assassinos e adúlteros condenados e amputações de condenados por roubo.

Estrutura do Talebã

CRÉDITO,BBC NEWS BRASIL

Chefe político e do escritório em Doha

Apesar de Akhundzada ser líder geral do Talebã, quem mais aparece publicamente é Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos fundadores do grupo e seu chefe político.

Depois de ajudar a fundar o Talebã nos anos 1990, Baradar se consolidou como um comandante e estrategista militar. Acreditava-se que ele comandava também as finanças do grupo.

Baradar teve responsabilidades importantes em quase todas as principais guerras no Afeganistão e permaneceu como o principal comandante da formação do Talebã na região oeste do país, em Herat, bem como em Cabul.

Na época em que o Talebã foi derrubado, ele era o vice-ministro da defesa.

Baradar acabou sendo capturado em um ataque conjunto dos EUA e do Paquistão no sul do Paquistão em fevereiro de 2010. Anos depois, autoridades paquistanesas o libertaram dentro de um contexto de esforços dos Estados Unidos para reativar as negociações de paz entre os militantes e o governo afegão.

Líder do Talebã, Mawlawi Hibatullah Akhundzada

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Líder do Talebã, Mawlawi Hibatullah Akhundzada emitiu decisões favoráveis a punições islâmicas, como execuções públicas de assassinos e adúlteros condenados e amputações de condenados por roubo

Quando foi solto, Baradar foi apontado como chefe do escritório diplomático do Talebã em Doha. Esse escritório foi aberto em 2013 com para facilitar as conversas de paz com os EUA e o governo afegão a partir da retirada de tropas americanas. Negociações diretas com os Estados Unidos foram feitas e um acordo de paz foi fechado em 2020. Apesar disso, o Talebã tomou diversas províncias do Afeganistão até derrubar Cabul neste domingo (15/8).

Chefe militar

O Talebã também tem um chefe militar - e ele é filho de Mullah Mohammed Omar, fundador e principal líder do Talebã morto em 2013 após problemas de saúde. Seu nome é Mullah Muhammad Yaqoob. Yaqoob foi "promovido" rapidamente dentro do Talebã por ser filho de Omar.

Abaixo dele, há 5 mil unidades militares do Talebã espalhadas pelo Afeganistão, dedicadas ao suprimento ou apoio de logística, treinamento, homens-bomba, armamento e explosivos.

Também há delegados que supervisionam as regiões oeste e sul do país e as regiões leste e norte.

Reprodução de imagem de Mullah Mohammed Omar

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O fundador e principal líder do Talebã, Mullah Mohammed Omar, morreu em 2013 após problemas de saúde, mas Talebã manteve sua morte em segredo; hoje, seu filho Mullah Muhammad Yaqoob é chefe militar do grupo

Chefe da Rede Haqqani

Ligado ao Talebã, o grupo guerrilheiro Rede Haqqani luta contra as forças americanas, a OTAN e o governo afegão, e é responsável pelos mais violentos ataques dentro do Afeganistão.

Hoje, quem comanda o grupo é Sirajuddin Haqqani, filho do antigo líder, Jalaluddin Haqqani. O Talebã anunciou em 2018 que ele havia morrido após anos doente.

A rede Haqqani é um dos vários grupos militantes que operaram em áreas tribais ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão após a campanha militar americana que derrubou o Talebã em 2001.

O grupo, que supostamente opera em grande parte no Paquistão, é responsável por alguns dos ataques mais letais no Afeganistão, incluindo a explosão de um caminhão-bomba em Cabul em 2017 que matou mais de 150 pessoas.

Conselho e 'gabinete de ministros'

Além de ter líderes em cada área, o Talebã tem também um conselho decisório de líderes composto por 26 membros. Esse conselho é chamado de Rahbari Shura, também chamado de "Quetta Shura" por causa de uma cidade paquistanesa com esse nome onde os membros supostamente se reuniriam. Islamabad, contudo, nega a existência da Quetta Shura.

Um "espelho" dos ministérios afegãos também existe dentro do Talebã. São comissões para diferentes áreas, como militar, inteligência, política, economia e mais 13 outras.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 15 de agosto de 2021

Afeganistão: O que é o Talebã?



Soldados armados do Talebã e civis comemoram acordo de paz em 2020

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Soldados armados do Talebã e civis comemoram acordo de paz em 2020

O Talebã é um grupo fundamentalista islâmico que controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001 com um rígido regime baseado em uma versão radical da Sharia, a lei islâmica. Eles foram retirados do poder por uma coalizão militar liderada pelos Estados Unidos em 2001, mas voltaram a dominar o país rapidamente depois da retirada das tropas americanas em julho de 2021.

Com a invasão de Cabul neste domingo (15/08), o grupo já tem praticamente controle total no país.

O Talebã fez negociações diretas com os EUA em 2018 e, em fevereiro de 2020, os dois lados fecharam um acordo de paz em Doha. Os EUA se comprometeram a se retirar do país e o Talebã prometeu não atacar as forças americanas. Outras promessas incluíam não permitir que a Al-Qaeda ou outros grupos extremistas operassem nas áreas controladas por eles e prosseguir com as negociações de paz nacionais.

Mas no ano que se seguiu, o Talebã continuou a atacar as forças de segurança afegãs e civis e avançou rapidamente em todo o país.

Após a saída das tropas americanas, em julho, em um mês o Talebã cercou e invadiu Cabul, a última região controlada pelo governo democrático civil.


Membro paquistão do Talebã

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O Talebã surgiu no Afeganistão e no Paquistão

Primeira ascensão ao poder

O Talibã, ou "estudantes" na língua afegã, surgiu no início da década de 1990 no norte do Paquistão, após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão.

Acredita-se que o movimento começou em seminários religiosos - a maioria financiados com dinheiro da Arábia Saudita - que pregavam uma forma fundamentalista de islamismo sunita.

A promessa do Talebã - que atuava em uma área abrangendo o Paquistão e o Afeganistão - era restaurar a paz e a segurança e impor sua própria versão austera da Sharia, ou lei islâmica, uma vez no poder.

Do sudoeste do Afeganistão, o Talebã rapidamente estendeu sua influência.

Em setembro de 1995, eles capturaram a província de Herat, na fronteira com o Irã, e exatamente um ano depois capturaram a capital afegã, Cabul.

Eles então derrubaram o regime do presidente Burhanuddin Rabbani - um dos fundadores dos mujahedin (combatentes) afegãos que resistiram à ocupação soviética.

Em 1998, o Talebã controlava quase 90% do Afeganistão.

Os afegãos, cansados ​​dos excessos e das lutas internas dos mujahedin depois que os soviéticos foram expulsos, em geral deram as boas-vindas ao Talebã quando eles apareceram pela primeira vez.

Sua popularidade inicial foi em grande parte devido ao sucesso em erradicar a corrupção, diminuir os crimes e tornar as estradas e as áreas sob seu controle seguras para o comércio.

Mas o Talebã também introduziu punições de acordo com sua interpretação estrita da lei Sharia - como execuções públicas de supostos assassinos e de adúlteros e amputações para ladrões.

Os homens eram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres a usar a burca, uma vestimenta que cobre o corpo todo.

O Talibã também proibiu a televisão, a música e o cinema, e não permitia que meninas de 10 anos ou mais frequentassem a escola.

Eles foram acusados ​​de vários abusos contra os direitos humanos e culturais. Um exemplo foi em 2001, quando o Talebã destruiu as famosas estátuas do Buda Bamiyan no centro do país, gerando indignação internacional.

Combatentes do Talebã no Afeganistão

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Poucos membros da OTAN acreditam que é possível vencer o Talebã com vitórias puramente militares

O envolvimento do Paquistão

O Paquistão negou repetidamente que tenha fomentado a criação do Talebã,

mas não há dúvida de que muitos afegãos que inicialmente aderiram ao movimento foram educados em madrassas (escolas religiosas) no Paquistão.

O Paquistão também foi um dos três únicos países, junto com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que reconheciam o Talebã como governo legítimo no Afeganistão. Também foi o último país a romper relações diplomáticas com o grupo após o endurecimento do regime.

A certa altura, após serem retirados do poder no Afeganistão, o Talebã ameaçou áreas controladas pelo Paquistão.

Um dos ataques do Talebã mais conhecidos e condenados internacionalmente foi em outubro de 2012, quando a estudante Malala Yousafzai foi baleada a caminho de casa, na cidade de Mingora.

Uma grande ofensiva militar, dois anos depois, após o massacre da escola Peshawar, reduziu muito a influência do grupo no Paquistão.

Pelo menos três figuras-chave do Talebã paquistanês foram mortas em ataques feitos com drones pelos EUA em 2013, incluindo o líder do grupo, Hakimullah Mehsud.

Soldados armados do Talebã em 2001

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O grupo havia sido removido do poder por intervenção dos EUA em 2001

Santuário da Al-Qaeda

As atenções do mundo se voltaram para o Talebã após os ataques de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center em Nova York, nos EUA.

O Talebã foi acusado pelos EUA de ser um santuário para os principais suspeitos do ataque - Osama Bin Laden e seu grupo extremista Al-Qaeda.

Em 7 de outubro de 2001, uma coalizão militar liderada pelos EUA invadiu o Afeganistão e, na primeira semana de dezembro, o regime do Talebã entrou em colapso.

O então líder do grupo, Mullah Mohammad Omar, e outras figuras importantes, incluindo Bin Laden, escaparam da captura.

Muitos líderes do Talebã supostamente se refugiaram na cidade paquistanesa de Quetta, de onde guiavam o grupo. Mas a existência do que foi apelidado de "Quetta Shura" foi negada pelo Paquistão.

A estudante e ativista Malala Yousafzai foi atacada pelo Talebã em 2012

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A estudante e ativista Malala Yousafzai foi atacada pelo Talebã em 2012

Grupo retomou o país aos poucos

Apesar do número cada vez maior de tropas estrangeiras no Afeganistão, o Talebã gradualmente recuperou controle de certas regiões e voltou a estender sua influência, tornando grandes áreas do país inseguras.

Houve inúmeros ataques do Talebã em Cabul e, em setembro de 2012, o grupo realizou uma incursão de alto nível em uma base da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

As esperanças de um acordo de paz surgiram em 2013, quando o Talebã anunciou planos de abrir um escritório no Catar. Mas a desconfiança de todos os lados permaneceu alta e a violência continuou.

Em agosto de 2015, o Talebã admitiu que havia encoberto a morte do líder Mullah Omar - supostamente por problemas de saúde em um hospital no Paquistão - por mais de dois anos.

No mês seguinte, o grupo disse que deixou de lado semanas de lutas internas e se reuniu em torno de um novo líder na forma de Mullah Mansour, que havia sido vice de Mullah Omar.

Mais ou menos na mesma época, o Talebã assumiu o controle da capital de uma província pela primeira vez desde sua derrota em 2001, a cidade de Kunduz, estrategicamente importante.

Mullah Mansour foi morto em um ataque dos EUA feito com drones em maio de 2016 e substituído por seu vice, Mawlawi Hibatullah Akhundzada, que permanece no controle do grupo.

O Talebã fez negociações diretas com os EUA em 2018 e, em fevereiro de 2020, os dois lados fecharam um acordo de paz em Doha.

Os EUA se comprometeram a se retirar do país e o Talebã prometeu não atacar as forças americanas. Outras promessas incluíam não permitir que a Al-Qaeda ou outros grupos extremistas operassem nas áreas controladas por eles.

Mas no ano que se seguiu, o Talebã continuou a atacar as forças de segurança afegãs e civis e avançou rapidamente em todo o país. Após a saída das tropas americanas, em julho, em um mês o Talebã cercou e invadiu Cabul, a última região controlada pelo governo civil eleito democraticamente.

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Professor Edgar Bom Jardim - PE