domingo, 6 de setembro de 2020

O que faz de José Bonifácio patriarca não só da Independência, mas das florestas do Brasil


José Bonifácio de Andrada e Silva, em quadro pintadoDireito de imagemCÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
Image captionJosé Bonifácio de Andrada e Silva é considerado o 'Patriarca da Independência'.

"Destruir matas virgens, como até agora se tem praticado no Brasil, é crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza. Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?" O texto, de 1821, um ano antes da Independência do Brasil, mostra que a preocupação com a destruição de florestas no território nacional é mais antiga do que o próprio Estado brasileiro.

O autor do alerta contra o desmatamento, redigido há quase 200 anos, não entraria para a História como ecologista, e sim como um dos fundadores do Estado brasileiro: José Bonifácio de Andrada e Silva, o chamado Patriarca da Independência.

Nas escolas, estudantes aprendem que José Bonifácio, filho de uma família abastada e nascido em 1763 na cidade de Santos (SP), é considerado um dos mais importantes estadistas brasileiros e personagem fundamental no processo de Independência do Brasil. Mas a biografia dele vai além da política: ele é também um dos precursores na defesa das florestas no território nacional.

"Bonifácio foi um personagem muito importante, apesar de ainda pouco reconhecido, na construção dessa preocupação com o ambiente e o futuro das florestas em escala mundial", diz o historiador José Augusto Pádua, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é um dos coordenadores do Laboratório de História e Natureza.

Filho de uma família rica - seu pai era importante funcionário da Coroa portuguesa - o jovem Bonifácio foi estudar na Universidade de Coimbra, onde teve uma sólida formação em Direito, Filosofia Natural e Matemática. Um de seus professores em Portugal foi o italiano Domênico Vandelli, especialista em História Natural e Botânica e que exerceu forte influência sobre o estudante brasileiro, que se tornou pesquisador naturalista, mineralogista e professor em Portugal durante muitos anos, além de exercer cargos públicos no governo português. Entre eles, a direção dos bosques nacionais.

"Ele explicava com detalhes sobre a importância de preservar os bosques do Reino. Isso não era nada comum nos tempos dele", explica o historiador Jorge Caldeira, organizador da biografia José Bonifácio de Andrada e Silva, da Coleção Formadores do Brasil. "Era um ecologista prático, bastante apurado para os dias de hoje. Tanto é que seu primeiro trabalho científico foi em defesa da preservação das baleias", completa Caldeira.

Vista aérea da mata atlânticaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBonifácio se embrenhou na Mata Atlântica para estudá-la

O texto citado por Caldeira foi publicado por José Bonifácio em 1790. Trata-se do Memória sobre a pesca da baleia e a extração do seu azeite, publicado pela Academia das Ciências de Lisboa. No texto, o político e estudioso alertava para o pouco retorno econômico da atividade de caça à baleia para extração do óleo, frente ao poder destrutivo do meio ambiente e a consequente redução do número de baleias na costa brasileira.

"Dentre outros naturalistas da época, José Bonifácio criticava a caça predatória da baleia, por julgá-la antieconômica, assim como as grandes propriedades monocultoras. Apreciador das matas e madeiras brasileiras, alinhava-se com estudiosos que, desde a fundação dos primeiros jardins botânicos no século 18, valorizavam o plantio de espécies raras", explica a historiadora Mary Del Priore, autora do livro As Vidas de José Bonifácio (Estação Brasil), que retrata a vida do Patriarca da Independência. "Ele era também favorável à inserção de índios e negros na sociedade depois de 'civilizados'", completa a historiadora.

De volta ao Brasil, em 1819, José Bonifácio tornou-se ministro e conselheiro do Príncipe Regente e futuro imperador D. Pedro 1º. Foi ele quem incentivou o monarca a proclamar a Independência do Brasil, em 1822, e integrou o primeiro escalão de dirigentes da nova nação. Entre outras atribuições, organizou a resistência do novo governo independente aos movimentos contra a separação de Portugal que surgiram na época em várias partes do país.

Apenas alguns meses após seu retorno ao Brasil, Bonifácio embrenhou-se nas matas do Estado de São Paulo junto com seu irmão, Martim Francisco, para aprofundar seus estudos naturalistas, em especial na Mata Atlântica que na época dominava o território paulista, mas já sofria os efeitos do desmatamento para expansão das lavouras e da pecuária.

Logo nos primeiros dias de expedição, o viajante lamenta o "miserável estado em que se acham os rios Tietê e Tamandataí, sem margens nem leitos fixos, sangrados em toda parte por sarjetas, que formam lagos que inundam essa bela planície." Nos arredores da Vila de Itu, observa que "todas as antigas matas foram barbaramente destruídas com fogo e machado."

Rio TietêDireito de imagemDIOGO MOREIRA/GOVERNO DE SÃO PAULO
Image captionEm pleno século 19, José Bonifácio já reclamava da poluição do rio Tietê, hoje símbolo da poluição em São Paulo

Em 1821, quando o Brasil estava na condição de Reino Unido a Portugal, Bonifácio defendeu, em um artigo chamado Lembranças e Apontamentos do Governo Provisório para os Senhores Deputados da Província de São Paulo, a criação de uma "Direção Geral de Economia Política", que seria responsável por obras públicas, minas, bosques, agricultura e fábricas.

Essa política integrada desenhada por José Bonifácio para a administração do Brasil, na sua visão, seria responsável pela preservação das riquezas naturais brasileiras, em especial os rios, matas e densas florestas que, na opinião do político e naturalista, eram fundamentais para a saúde do território nacional. Seria um grande ministério reunindo as áreas de meio ambiente, infraestrutura e agricultura. A proposta, porém, nunca saiu do papel e o Brasil tornou-se independente de Portugal em 1822.

"As preocupações e propostas ambientais de José Bonifácio estavam inseridas na discussão geral sobre o futuro do Brasil. Creio que ele propunha um ministério de planejamento geral da economia no sentido de uma relação mais racional com a natureza. Ou seja, todas as atividades econômicas estariam conectadas com o objetivo de acabar com a devastação e o desperdício, tratando o mundo natural de uma maneira mais cuidadosa e cientificamente inteligente", diz Augusto Pádua.

"Mesmo que o contexto atual seja tão diferente, creio que seria um grande avanço se pudéssemos retomar, ou de fato reinventar, essa maneira de enxergar o cuidado ambiental como eixo de todas as ações de governo relativas às atividades produtivas", completa o historiador da UFRJ.

Na Assembleia Constituinte de 1823, Bonifácio, eleito deputado constituinte, levou ao Parlamento ideias e emendas muito avançadas para a época, como o fim da escravidão, instituição de uma reforma agrária, preservação das matas e rios brasileiros, obrigação de conservar uma parte das propriedades rurais com florestas nativas, direito de voto aos analfabetos e até a mudança da capital do país para o Planalto Central, algo que só se tornaria realidade mais de um século depois, em abril de 1960, no governo do presidente Juscelino Kubitschek.

José Bonifácio de Andrada e Silva, em ilustraçãoDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionJosé Bonifácio em ilustração do livro 'Minerais e Pedras Preciosas do Brasil'

Para Bonifácio, a criação de uma grande nação só seria possível caso fossem superados problemas estruturais herdados do passado colonial. O principal deles era a escravidão. "Uma novidade muito interessante no seu pensamento foi justamente estabelecer uma relação de causalidade entre o domínio da escravidão e as dinâmicas de desflorestamento, degradação dos solos e destruição da fauna e da flora, diz Augusto Pádua.

"Ele não via a escravidão apenas como uma técnica, mas sim com algo parecido com o que veio a ser chamado mais tarde de modo de produção. A continuidade da escravidão levaria à destruição do grande trunfo com o qual o Brasil poderia contar para o seu progresso, que era a riqueza natural", completa o professor da UFRJ.

Ideias tão avançadas para a época custaram a José Bonifácio muitas inimizades entre os poderosos da época, principalmente a elite agrária e política conservadora, e o rompimento com o próprio imperador D. Pedro 1º. Após ser demitido do governo, Bonifácio é exilado e parte para uma longa temporada na Europa, de onde só retornaria em 1829, após se reaproximar do imperador e ser nomeado tutor do seu filho, D. Pedro 2º.

De acordo com os especialistas, em textos publicados ao longo de sua carreira na Europa e no Brasil, em especial entre 1790 e 1823, Bonifácio construiu o que hoje chamaríamos de agenda ambiental e são importantes para entender a história do meio ambiente no Brasil.

"Ele foi, sem dúvida, um homem muito preocupado com os recursos naturais, isto em um tempo que praticamente não existia consciência de preservação ambiental", diz o desembargador aposentado e professor de Direito Ambiental na PUC-PR, Vladimir Passos de Freitas. "Eu não posso afirmar que foi o único, porque antes dele Portugal criou em Ilhéus, na então província da Bahia, um cargo de Juiz Conservador das Matas. Mas posso dizer que foi o primeiro a aprofundar-se em temas ambientalistas variados", completa Passos de Freitas.

Um dos artigos mais famosos de José Bonifácio, de 1823, atesta que, caso o Brasil não tomasse providências para preservar suas florestas, rios e demais recursos naturais, em menos de dois séculos estaria convertidos nos "páramos e desertos áridos da Líbia". "Virá então este dia, (dia terrível e fatal), em que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos", escreveu o Patriarca da Independência. Há quase dois séculos.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Convenção homologa a candidatura de Zé Martins para prefeito de João Alfredo





Em convenção realizada neste sábado (5), no Espaço Society Valdeci Martins, no Bairro Bultrins zona norte da cidade de João Alfredo, o PSB – Partido Socialista Brasileiro homologou as candidaturas de Zé Martins e Caboclo, respectivamente candidatos a prefeito e vice-prefeito deste município nas eleições que acontecem em novembro próximo.

Devido à pandemia do novo coronavírus, a convenção partidária foi realizada seguindo todas as recomendações de segurança e prevenção contra a Covid-19, inclusive com um número reduzido de pessoas. 

A convenção contou com a presença dos membros da comissão provisória do PSB e dos 24 pré-candidatos a vereador pela legenda, que também tiveram suas candidaturas homologadas (ver quadro abaixo).Também participaram da convenção o deputado federal Fernando Monteiro (PP) e os representantes dos demais partidos que compõem a coligação majoritária Fellype Martins (Avante), Alexandre Moura (PSDB), e Jéssica Pereira (Republicanos). 

Em seu pronunciamento, já como candidato, Zé Martins agradeceu ao PSB pela aprovação do seu nome para disputar as eleições, bem como o apoio que tem recebido do grupo político, especialmente do seu companheiro-de-chapa Adeildo Oliveira Filho – Caboclo.  Ele reforçou o seu compromisso em trabalhar pelo povo de João Alfredo e disse que procurará fazer uma campanha de paz e com propostas para o desenvolvimento de João Alfredo. Mas fez questão de frisar que não deixará sem respostas as possíveis provocações dos adversários.  

O candidato a vice-prefeito Caboclo é filiado ao Avante, sendo oriundo do grupo político do ex-deputado Zé Maurício (PP) que hoje apoia o pré-candidato da situação Sebastião Mendes (PSD). Dos 24 candidatos a vereador pelo PSB, seis são mulheres. 

(Fotos de Patty Lyra e informações de Benízio Duy, especial para o Blog)



Com informações de dimassantos.com.br/
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Argentina caminha para a taxação das grandes fortunas





Atropelado pela pandemia do coronavírus, Alberto Fernández teve pouco espaço para tirar do papel as promessas de campanha que o levaram a derrotar no ano passado o neoliberal Maurício Macri. Após se tornar um caso de sucesso no Cone Sul, a Argentina colhe, no entanto, os efeitos de uma flexibilização das atividades antes da hora, embora a situação no país nem de longe possa ser comparada ao completo desastre do Brasil. De julho para cá, o número de mortos saltou de mil para 8 mil, enquanto o total de infectados alcançou a marca de 400 mil, um dos dez piores índices globais.

O refluxo no combate à pandemia tem servido de combustível para a oposição ao peronismo. Nas últimas semanas, aumentaram os protestos contra o que parte da população considera graves erros na administração da crise sanitária.

Os reais motivos da “indignação” são, no entanto, outros. Apesar da piora nos índices do coronavírus, o que tem de fato incomodado a elite local são os projetos da dupla Fernández e Cristina Kirchner.

Em paralelo ao anúncio da renegociação de 99% da dívida com os credores internacionais, o que dará um alívio na gestão financeira, o governo aprovou no Senado um projeto de reforma do Judiciário, para evitar a consolidação de um fenômeno semelhante ao lavajatismo no Brasil, enviou ao Congresso proposta de criação de um imposto sobre grandes fortunas e decretou a transformação da telefonia, tevê por assinatura e internet em serviços de caráter público.

Antes, Fernández havia irritado liberais, macristas e afins ao decretar em junho a encampação da Vicentin, maior processadora de grãos do país em processo de recuperação judicial.

Os meios de comunicação tradicionais, antiperonistas, reavivaram o fantasma da “venezuelização” do país e um juiz de primeira instância, motivado por essa visão de mundo, determinou que a empresa continuasse nas mãos dos acionistas privados.

Segundo o governo, tomar o controle, ainda que temporário, da Vicentin permitiria a recuperação dos empréstimos estatais milionários à companhia. A agroexportadora não deve apenas ao Estado. Milhares de pequenos produtores, vítimas de calote, não tem a quem recorrer.

Mergulhada em uma prolongada crise econômica e social, agravada pelos efeitos da pandemia, a Argentina não parece ter outra saída a não ser aumentar os impostos de quem pode pagar mais.

Apelidado de Aporte Solidário de Grandes Fortunas, a taxação proposta ao Congresso incidiria sobre os argentinos com patrimônio superior ao equivalente a 14 milhões de reais e seria cobrada uma única vez.

“A responsabilidade e o compromisso social deveriam obrigá-los a entender que é preciso contribuir”, declarou Fernández ao canal C5N. A cobrança, acrescentou, teria um uso específico e seria destinada “aos mais pobres, ao setor produtivo e às pequenas e médias empresas”.

Os projetos mexem com interesses arraigados na sociedade argentina e despertam a antiga divisão do país. Ainda assim, a popularidade de Fernández permanece alta. Segundo uma pesquisa do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica realizada no mês passado, o presidente alcança 68,6% de aprovação e é bem avaliado no combate à pandemia. Para 65%, evitar o colapso no sistema de saúde é mais importante do que “salvar” a economia. A renegociação da dívida externa de 66,3 bilhões de dólares, um garrote no pescoço do país há décadas, também pesa a favor.

“Resolvemos uma dívida impossível em meio a uma pandemia e à maior crise econômica da qual temos memória”, comemorou o presidente.

A ELITE PROTESTA CONTRA A DUPLA FERNÁNDEZ E KIRCHNER. A MÍDIA REAVIVA O FANTASMA DA VENEZUELIZAÇÃO. (FOTO: AFP)

 

Como a imagem de Fernández continua inabalada, resta à oposição explorar as supostas interferências da vice Cristina Kirchner nas decisões do governo.

A intervenção por ora adiada na Vicentin reacendeu uma velha rixa da ex-presidente com o setor agrário, iniciada após uma alta de impostos cobrados do setor em 2008 para aliviar os efeitos da crise financeira mundial daquele ano.

Maior grupo de mídia argentina, ligado aos interesses do agronegócio, o Clarín entrou em guerra com Kirchner por conta da decisão, uma batalha sem tréguas, mal resolvida e agora reavivada em consequência de outra decisão estatal: transformar a telefonia e o fornecimento de tevê por assinatura e internet em serviços públicos.

Com a medida, as tarifas cobradas dos consumidores ficarão congeladas no mínimo até o fim do ano. Bom para quem paga, ruim para o caixa do Clarín. O benefício das medidas está no fato de “outorgar ao Estado a capacidade regulatória perdida durante o governo de Maurício Macri. Em especial, com relação à qualidade do serviço e a possibilidade de controlar as tarifas”, avalia Santiago Marino, especialista em Políticas e Planejamento da Comunicação. O serviço de TV por assinatura, esclarece Marino, só entrou no decreto por compartilhar com a telefonia a classificação de Novas Tecnologias de Informação, alvo da proposta.

Nenhuma outra medida revirou, porém, o âmago dos antiperonistas com tanta intensidade quanto a reforma do Judiciário aprovada no fim de agosto pelo Senado, presidido por Kirchner. A vice-presidente responde a dez processos judiciais e compara seus casos à perseguição sofrida por Lula no Brasil. A oposição protestou. Esteban Bullrich, senador e ex-ministro de Macri, admite a necessidade de uma reforma do Judiciário, mas discorda da pressa em realizá-la. “A iniciativa parece pensada como um caminho para a impunidade”, declarou a CartaCapital.

Uma das cláusulas mais criticadas do texto, proposta pelo senador Oscar Parrilli, permitiria aos juízes denunciar eventuais pressões midiáticas.

“Parece algo com a intenção de cercear a liberdade de expressão e amordaçar a imprensa”, protestou Bullrich.

“A frase que continha a expressão sobre poder midiático resultou ociosa pois o Senado não a aprovou”, rebateu Fernández dois dias após a votação da lei.

Na mesma entrevista, o presidente, para ódio dos antiperonistas, fez um elogio à vice. Segundo ele, governar a Argentina “somente com Cristina” não é suficiente, mas sem ela “é impossível”.

Carta Capital


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Guilherme Boulos: Vencer em São Paulo significa derrotar Bolsonaro, Doria e Covas



Neste sábado, PSOL oficializou a candidatura do líder do MTST. Luiza Erundina é a vice


O Partido Socialismo e Liberdade de São Paulo (PSOL-SP) oficializou, na tarde deste sábado 5,  Guilherme Boulos e a deputada federal Luiza Erundina como candidatos a prefeito e vice de São Paulo.

A exemplo do PCdoB, que confirmou o nome de Orlando Silva hoje, o PSOL também anunciou o número de candidatos ao cargo de vereador: 65.

“Vamos virar o jogo na cidade de São Paulo e derrotar as máfias, os esquemas, o [presidente Jair] Bolsonaro, o [governador João] Doria e o [prefeito Bruno] Covas”, disse Boulos na convenção da legenda que ocorreu no Campo Limpo, na zona sul da capital paulista.

“Nós escolhemos fazer essa convenção pela primeira vez na história na cidade numa periferia, não em um hotel ou centro de evento, porque nós não somos daqueles que aparecem na periferia só a cada 4 anos, para abraçar os moradores e comer comida em lata de goiabada. Nós estamos aqui todos os dias, lutando para a melhoria de vida das comunidades. (…) Nós queremos transformar a cidade de São Paulo na capital da diversidade, da luta contra a intolerância. (…) Nós vamos fazer tarifa zero no transporte, construir hospitais na periferia, construir moradias para quem necessita. E quando os jornalistas dizem de onde vai vir o dinheiro, eu digo, quando a verba não vai para o ralo da corrupção, dos esquemas e das máfias, dá para fazer”, acrescentou Boulos.

 

No discurso, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) se concentrou na área de habitação.

“A partir de janeiro de 2020, a especulação imobiliária não vai mais avançar sobre os mais pobres em São Paulo. Chega de incêndio criminosos em favelas”, declarou.

 

União contra Bolsonaro

 

Também neste sábado, ao ser oficializado como candidato do PCdoB à prefeitura da capital paulista, o deputado federal Orlando Silva afirmou que a eleição na capital paulista pode ser um ensaio para derrotar Bolsonaro em 2022.

Em entrevista a CartaCapital, Silva apontou que as candidaturas de Jilmar Tatto (PT) e de Guilherme Boulos (PSOL) estarão unidas com a dele mesmo sem uma frente ampla.

“Estaremos no mesmo campo para pavimentar o caminho para derrotar o bolsonarismo em 2022”, afirmou.

“A minha candidatura tem um caráter anti-Bolsonaro e eu sei que as candidaturas do Boulos e do Jilmar também têm. Isso nos faz compor um campo em defesa da democracia, dos direitos do povo e contra o desmonte realizado pelo presidente. É uma luta a favor do Brasil”, disse.

 

Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

A vida paradoxal de Maria Montessori, criadora do método de ensino para crianças pobres que virou modelo para ricos


Montessori com uma criança seguindo seu método.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionDepois de visitar um hospício em Roma, Montessori ficou horrorizada com a forma como as crianças eram tratadas

Maria Montessori, a criadora do famoso método pedagógico que leva seu nome, era uma mulher de caráter enérgico.

Essa brilhante italiana, cujo nascimento completou 150 anos em 31 de agosto, projetou seu revolucionário sistema educacional para ajudar crianças confinadas em hospícios, crianças presas em reformatórios, as crianças mais pobres e desfavorecidas.

Só num segundo momento ela começou a adaptar sua metodologia para crianças em geral.

Hoje, paradoxalmente, as beneficiadas com seu método são principalmente famílias ricas, capazes de arcar com as altas despesas para seus filhos estudarem em uma das 65 mil escolas montessorianas que existem no mundo e que recebem uma educação exclusiva e potencialmente melhor do que a tradicional.

Um fato é que os criadores da Amazon (Jeff Bezos), Google (Sergey Brin e Larry Page) e Wikipedia (Jimmy Wales), todos eles hoje multimilionários, estudaram em escolas que seguem o método Montessori.

No entanto, a ideia de Maria Montessori não era essa.

Solução para desfavorecidos

Montessori tinha 28 anos quando, em 1898, começou a visitar um hospício em Roma e contemplou, horrorizada, como os pequenos internados naquela instituição eram tratados de forma absolutamente desumana, praticamente como animais. Alguns romanos iam ao local para atirar comida para as crianças, como faziam com animais do zoológico.

María Montessori em 1914Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMaria Montessori tinha 28 anos quando visitou o hospício que a inspirou a criar seu famoso método de ensino

Vestidas com aventais sujos e esfarrapados, deixadas à própria sorte, essas crianças eram chamadas de "retardadas", "deficientes" ou simplesmente "idiotas". Entre elas estavam crianças com deficiência mental, epilépticas, cegas, surdas e autistas, que eram vistas como incuráveis.

Portanto, o terrível destino dessas crianças era o confinamento para o resto da vida dentro das paredes do hospício.

Montessori, como os italianos logo começaram a chamá-la, decidiu que isso era intolerável. E começou a trabalhar.

Ela já havia visitado bairros pobres de Roma como médica voluntária (ela foi a terceira mulher em Roma a se formar em Medicina). Também havia ido ao reformatório, e ficou tão escandalizada quanto no hospício quando viu o abandono das crianças confinadas.

Ela chegou à conclusão de que a educação deve ser uma técnica de amor e respeito. "A criança é uma fonte de amor: quando você a toca, você toca o amor", disse.

Método revolucionário

Com base nisso, ela moldou um método didático revolucionário para a época. Um método baseado em confiar nas crianças.

Os pequenos, disse Maria Montessori, não devem ser perseguidos, forçados ou dirigidos. Nem recompensados, nem punidos, nem mesmo corrigidos. Devem ser respeitados e, sem interferência, liberados em um ambiente em que tudo (espaço, móveis, objetos) esteja sob medida.

Crianças seguindo o método montessori.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMontessori criou um método segundo o qual a criança deve ser livre e respeitada

"Sigmund Freud descobriu o inconsciente; Albert Einstein, a relatividade; e Maria Montessori, a criança. Seu pensamento inaugurou uma nova era e muitas das coisas que consideramos naturais hoje, como respeito pelas crianças e escola democrática, são fruto das suas ideias", diz à BBC News Mundo Cristina de Stefano, autora daquela que é possivelmente a mais rigorosa e documentada biografia de Maria Montessori até agora.

"Foi ela quem explicou que a criança é uma criatura com um cérebro muito poderoso, capaz de se concentrar muito e até se autoeducar, desde que seja respeitada desde o início e tenha permissão para trabalhar, tanto na família como na escola, no seu próprio ritmo", acrescenta De Stefano.

A biografia, intitulada Il bambino è il maestro: Vita di Maria Montessori (A criança é a professora: Vida de Maria Montessori, em tradução livre), levou cinco anos de pesquisa.

Crianças aprendendo sob o ensino Montessori.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Montessori explicou que a criança é uma criatura com um cérebro muito poderoso, capaz de se concentrar muito e até se auto-educar'

Paradoxos

Foi em 1907 que Maria Montessori abriu em San Lorenzo, então um dos bairros mais pobres de Roma, sua primeira escola: a Casa das Crianças. A partir daí, em alguns anos, seu método daria a volta ao mundo e a tornaria uma pessoa famosa.

Hoje, entretanto, muitas escolas Montessori estão em áreas abastadas e custam uma fortuna.

RomaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA primeira escola Montessori foi inaugurada em Roma, em 1907

"É uma contradição. Um método que nasceu em um bairro pobre de Roma e que foi pensado com base na inclusão, para ajudar as crianças em dificuldade, tornou-se um método para os ricos", disse Cristina de Stefano.

"Sem dúvida é um paradoxo. Mas também é preciso dizer que nos países em desenvolvimento o método montessori é usado para ajudar, por exemplo, crianças que passaram por guerras. Ainda há pessoas que continuam aplicando seu método para ajudar crianças em dificuldade", complementa.

María Montessori em Londres em 1946.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO método da italiana se espalhou por escolas de todo o mundo.

Mas essa não é a única incongruência relacionada a Maria Montessori. A mulher que dedicou sua vida às crianças, que nos ensinou a respeitá-las e valorizá-las, não foi a responsável por criar seu próprio filho.

Ela havia iniciado um relacionamento amoroso com um colega médico, Giuseppe Montesano. Era uma relação livre, sem vínculos.

A ideia do casamento não entrou nos planos de Montessori porque ela não acreditava na instituição do casamento e porque naquela época uma mulher casada não podia trabalhar fora de casa sem a autorização do marido.

Mas um dia, no final de 1897, Montessori descobriu que estava grávida de Montesano. Ela sabia que um filho fora do casamento encerraria sua carreira.

As duas famílias concordam que ela daria à luz em segredo. E quando em 31 de março de 1898 nasceu um menino, Mario, eles o registraram como filho de pai e mãe desconhecidos e o entregaram a uma enfermeira para criá-lo em Vicovaro, a 45 quilômetros de Roma.

Jeff BezosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionJeff Bezos, agora o homem mais rico do mundo, frequentou uma escola Montessori.

"Na vida privada, Maria Montessori teve a ousadia de manter uma relação amorosa livre com um colega, Giuseppe Montesano, em seu tempo. Ela engravidou e se recusou a casar para manter as aparências", diz De Stefano.

Montesano e Montessori concordaram que os dois cuidariam da criança à distância. E também concordaram que nenhum dos dois jamais se casaria. Ela manteve o acordo, mas ele, não.

"Quando Montesano se casou com outra mulher e reconheceu a criança perante a lei como seu filho, Maria perdeu todos os direitos sobre a criança, que tinha 3 anos na época", afirma De Stefano.

Colaboração fascista

Montessori não viu seu filho até o menino completar 15 anos. Mas a partir daquele momento ela lutou para recuperá-lo, mais uma vez desafiando as regras da época.

E ela conseguiu: nunca mais se separou dele, embora quase até o fim de seus dias, em público, o apresentasse como seu sobrinho.

A emocionante biografia de Montessori tem outro ponto obscuro: sua colaboração, por exemplo, com o regime fascista de Benito Mussolini.

Mussolini ascendeu ao poder em 1922, iniciando um regime que desmantelou instituições democráticas italianas e se converteu em totalitário em 1925. Ele fora professor durante a juventude. E sonhava em fazer das escolas italianas uma fábrica de pequenos fascistas, de jovens disciplinados e obedientes.

Benito MussoliniDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMontessori colaborou com Mussolini porque sonhava em implantar seus métodos em todas as escolas do país.

Montessori, por sua vez, sonhava em ver seu método pedagógico implementado nas escolas do país.

Ela e Mussolini se encontram várias vezes e começaram uma estranha colaboração que durou dez anos. Até que, em 1933, profundamente decepcionada ao ver que Mussolini não cumpriu suas promessas de transformar as escolas italianas de acordo com seu método pedagógico, Montessori decidiu romper qualquer relação com o fascismo.

Mas essa mancha em sua biografia cobrou seu preço: ela foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel da Paz, mas nunca ganhou. Muito provavelmente, por causa dessa relação com o fascismo.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O golpe que derrubou Mohammed no Irã, em 1953, é praticado em outros países pelos assassinos econômicos enquanto espalham miséria pelo mundo






Le Monde Diplomatique de 11 de setembro de 2007 traz uma reportagem perturbadora, “O golpe da CIA contra o Irã”. Ela analisa matéria do New York Times de junho de 2000, revelando relatório secreto da CIA sobre a participação dessa agência no golpe que derrubou o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mossadeg em 1953, quase cinquenta anos antes.

 

 

Mossadegh apoiava a nacionalização da indústria petrolífera, então dominada pelos britânicos, e a democratização do sistema político. Os EUA alegaram temer que esses fossem sinais de que o Irã estaria prestes a passar para trás da cortina de ferro, e decidiram derrubar Mossadegh. 

O relatório teria sido propositalmente vazado no ano de 2000, supostamente como estratégia de reaproximação entre EUA e Irã, iniciativa apoiada pela então secretária de Estado Madeleine Albright. Isso foi antes do atentado de 11 de setembro de 2001, que mudaria tudo.

O que o relatório revela sobre como a CIA agiu para derrubar Mossadegh em 1953 é surpreendente: propaganda e atividades políticas clandestinas; cooptação de rede de oficiais do exército para um golpe; suborno de parlamentares iranianos; pressões para persuadir o xá Reza Pahlevi a apoiar o golpe; manipulação de manifestações de protesto pela renúncia de Mossadegh.

Foram milhões de dólares gastos pelo ramo iraniano da CIA, comandado por Kermit Roosevelt, para a consecução do golpe. Ele falhou num primeiro momento, mas acabou sendo bem-sucedido graças a subsequentes grandes manifestações de rua e atentados simulados contra religiosos – ambos organizados por infiltrados a serviço da CIA, que se faziam passar por membros do Tudeh, o “Partido das Massas”, o mais importante partido de esquerda no Irã à época.

Em seu livro “Novas confissões de um assassino econômico” (Cultrix, 2018), John Perkins mostra que o golpe no Irã em 1953 foi um aprendizado para a CIA. O fracasso inicial revelou o envolvimento da Agência, e obrigou os EUA a chamar Kermit Roosevelt de volta ao país. Desde então, golpes semelhantes perpetrados em outros países do mundo passaram a ser cometidos pelos assassinos econômicos, ou, no insucesso destes, os chacais, os assassinos de fato.

Podemos supor que estes tenham sido os responsáveis pelas mortes “acidentais”, no Brasil, de Juscelino Kubitschek, Ulysses Guimarães, Eduardo Campos e Teori Zavascki. Mais recentemente, os chacais humanos foram substituídos pelos drones, como o que assassinou o general iraniano Qassem Soleimani no início de 2020, no Iraque.

O golpe no Irã em 1953, a revelação do relatório secreto em 2000, as manifestações iniciadas no Brasil em 2013, o golpe em 2016 e a ascensão de governos antidemocráticos empenhados na perpetuação do país como colônia reserva de mão de obra barata e fornecedora de matérias-primas sem valor agregado nos revelam que os aprendizados da política externa dos EUA têm resultado em sucesso para a ambição hegemônica do Tio Sam.

Enquanto espalham corrupção, ditaduras, guerras e miséria pelo mundo.

Professor Edgar Bom Jardim - PE