terça-feira, 20 de março de 2018

Educação:as estratégias das marcas para infiltrar propaganda nas escolas brasileiras


Criança desenhando com lápis coloridos em escolaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMarcas encontram diferentes formas de levar suas marcas às crianças

Quando tinha quatro anos, o filho de Luiza Diener voltou da escola com um recado na agenda: ele tinha feito um "pré-exame" de visão na escola, que mostrou haver uma "alteração". Junto com o recado... um folheto de propaganda de uma ótica, informando que alunos de escola pública tinham desconto.
"Eu paralisei. Como assim fez um pré-exame de vista? Não tinha vindo nenhum aviso, nenhum pedido de autorização", conta ela, criadora de um blog sobre maternidade.
"Quando fui buscá-lo no dia seguinte fui conversar com a diretora. Entrando na escola vi que perto da porta tinha um estande da ótica, um banner e um totem giratório cheio de óculos escuros e óculos de grau que as crianças estavam experimentando", recorda.
"Meu filho não tinha nenhum problema de vista. E hoje ele continua sem ter", diz. "Não era uma aula sobre saúde, era só propaganda", conta Diener, cujos filhos estudavam em escola pública em Brasília.
A publicidade direcionada para o público infantil é considerada abusiva pelo Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) desde 2014. E o Ministério da Educação tem uma portaria proibindo qualquer tipo de propaganda em escolas públicas.
No entanto, episódios como o relatado por Luiza Diener são extremamente comuns. As marcas usam das mais diferentes estratégias para garantir sua presença no ambiente escolar sem fazer propaganda direta, driblando a regulação.
Embora não veiculem anúncios, por exemplo, as empresas fazem oficinas com professores e alunos, atividades em sala de aula e até distribuem seus produtos para as crianças. Outras patrocinam eventos, promovem peças de teatro nas escolas, visitas à fábrica ou - como no caso da ótica de Brasília - supostos programas de saúde.
"Normalmente as campanhas vêm como ações de responsabilidade social, são vendidas como atividades educativas ou culturais", diz Ekaterine Karageorgiadis, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, ONG que defende os direitos das crianças.
Diener conta que conversou com outra mãe cujo filho chegou em casa preocupado, achando que tinha problema de visão por causa do "pré-exame" - uma consulta no oftalmologista mostrou não haver problema algum.
"Ficamos bem chateados. Escola não é lugar de propaganda, e publicidade não tem que ser direcionada para crianças", diz ela. "A criança está em uma idade em que você está absorvendo tudo, que está construindo os gostos, a visão de mundo, o que considera essencial. Esse tipo de influência é negativa."

Menina pede produto à mãeDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPropaganda em escola é mais agressiva do que a convencional, afirma especialista em direitos do consumidor

Atividade cultural ou campanha de marketing?

Em janeiro de 2018, o Alana denunciou a marca Bic ao Ministério Público de Minas Gerais por considerar uma de suas ações publicitárias como "direcionamento abusivo de publicidade para o público infantil".
A Bic havia lançado um projeto chamado "Escola de Colorir", cuja ideia era fazer atividades nas escolas das ensino fundamental em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Nas atividades, as crianças utilizavam diversos produtos da empresa: canetas, lápis de cor, papéis. "A ação expõe massivamente os alunos a imagens, cores, logos e valores corporativos da empresa durante as atividades, que são propostas para serem feitas não apenas nas salas de aula, mas também em outros momentos como recreio ou no tempo de lazer em casa", diz o Alana na denúncia.
Em resposta, a Bic afirma que um de seus pilares é o "compromisso com a educação" e que faz "ações voltadas ao acesso à educação junto a comunidades locais".
"No Brasil, a empresa pauta todas suas atividades de acordo com a legislação (...) além de possuir um rígido código de conduta interno. O Projeto Escola de Colorir foi concebido respeitando tais preceitos", defende a empresa em nota. "Assim, não há violação às normas do conselho."

Logo da Bic
Image captionO projeto Escola de Colorir foi terminado pela Bic | Foto: Divulgação/Bic

Para a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a discussão não pode ficar em cima de tecnicismos, já que as estratégias são usadas pelas marcas justamente para ter campanhas publicitárias que atinjam crianças sem desrespeitar formalmente as normas.
Ela defende que a legislação seja endurecida.
"De certa forma, essas campanhas com apresentação de produtos e grande presença das marcas são piores do que um comercial na TV voltado para crianças", diz Bortoletto. "Você está expondo as crianças aos produtos, elas já vão memorizando, identificando, reconhecendo. As campanhas diretas costumam ser até mais agressivas, por estarem muito mais próximas às crianças e durarem mais tempo."
Para o Alana, a publicidade para a criança é sempre disfarçada, uma vez que ela não tem o senso crítico para reconhecer que aquilo é uma mensagem comercial. Mas se veiculada no ambiente escolar, o problema é ainda maior.
"A mensagem vem de um espaço de autoridade. A autoridade do professor, da escola, fortalece a campanha publicitária", diz Ekaterine Karageorgiadis.

Crianças em sala de aulaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMarcas disfarçam campanhas publicitárias de projetos educativos para entrar em escolas

Estratégia comum

A Bic não é a única marca a produzir campanhas do tipo.
A Danone teve duas grandes campanhas em escolas em 2016. Eles ofereciam curso de formação de professores, desenvolvimento de atividades em sala de aula para falar da importância de consumir produtos lácteos - setor de atuação da empresa -, distribuição de produtos didáticos e apresentação da peça O Fabuloso Mundo das Descobertas.
Em um único diálogo da apresentação, a palavra "lácteos" chegava a ser repetida mais de 15 vezes.
Em outro caso, no mesmo ano, a Sadia divulgou, com o chef britânico Jamie Oliver, uma ação chamada Saber Alimenta. O projeto piloto foi feito com 20 escolas e 56 professores, que receberam um treinamento da empresa sobre alimentação.
A BRF, empresa controladora da Sadia, diz que "os professores foram capacitados para replicar conhecimento para crianças do Ensino Fundamental" e que os materiais são voltados para os adultos e "não fazem referência a nenhum produto da marca."
Segundo Ekaterine Karageorgiadis, é grave que as marcas impactem o currículo das escolas - mesmo se o produto da marca não for apresentado diretamente. "A escolha do currículo tem que se basear em um projeto pedagógico planejado para ensinar as crianças a pensarem criticamente. Mas (com as campanhas) o conteúdo é apresentado com um viés e uma orientação mercadológica, não de maneira crítica", diz ela.
"Será que realmente interessa ficar seis meses falando sobre leite, sem em nenhum momento questionar se ele realmente é bom e necessário para todo mundo?", afirma.

Jamie Oliver em vídeo da Sadia
Image captionJamie Oliver se tornou garoto propaganda da Sadia no Brasil | Foto: Divulgação/Sadia

Para Bortoletto, do Idec, o risco é supervalorizar um produto alimentício. "No caso do leite, por exemplo, ele pode fazer parte de uma dieta saudável, mas não é obrigatório. Depende muito de qual é o leite. Se for uma bebida láctea cheia de açucar, pode fazer mais mal do que bem", diz ela.
"A criança precisa aprender a diferenciar um produto natural de um processado. A escola é um ambiente para elas aprenderem hábitos realmente saudáveis e pensamento crítico."
No ano passado, o Ministério Público do Distrito Federal instaurou um inquérito civil para apurar o caso da Danone, que ainda não foi encerrado.
Procurada pela BBC Brasil, a Danone, que cancelou os projetos em 2016, diz que "suas ações de comunicação atendem à legislação brasileira vigente e refletem a missão da companhia em levar saúde ao maior número de pessoas", e que sua campanha "levou informação e conhecimento sobre a importância de uma boa alimentação de forma lúdica e gratuita às escolas de todo país."
Por sua vez, a Sadia afirmou que o conteúdo do seu programa "está em conformidade com todas as legislações, regulamentações bem como regras aplicáveis ao setor alimentício e a publicidade de maneira geral" e que "assinou um Compromisso Público sobre Publicidade Responsável no qual se comprometeu a não realizar ações de merchandising de seus produtos nas escolas, sejam elas particulares ou públicas, direcionadas ao público infantil".

Ajuda ou exploração?

Outra estratégia muito usada pelas empresas é oferecer patrocínio - que vai desde promover campeonatos esportivos a se oferecer para comprar o material ou uniforme para crianças carentes em troca de divulgação da marca.
A Nestlé, por exemplo, tem há anos parcerias para promover campeonatos esportivos em escolas das redes pública e privada. Os eventos tinham exposição de logos e imagens de Nescau em banners e painéis, distribuição de medalhas, troféus e uniformes com o nome e o símbolo da marca, e distribuição de produtos da Nestlé aos presentes no evento.

Banheiro de escola em São Paulo
Image captionFalta de estrutura e recursos faz escolas públicas aceitarem 'qualquer ajuda', diz diretora | Foto: Rovena Rosa/Ag. Brasil

A empresa afirma que reformulou algumas ações da competição, procurando outros espaços para a sua realização – costumavam ocorrer nos CEUs (Centros de Artes e Esportes Unificados). Segundo a multinacional, os eventos agora não acontecem mais em nenhum ambiente relacionado à educação.
"Reforçamos, ainda, que a participação dos jovens na Copa Nescau® é condicionada à autorização dos responsáveis. Além disso, diversas melhorias vêm sendo desenvolvidas no formato da competição para reforçar o caráter de socialização do evento", diz a companhia em nota.
"A Nestlé Brasil informa que segue rigorosamente a legislação vigente no país e está entre as empresas pioneiras no mundo na adoção de parâmetros mais rigorosos para divulgar seus produtos ao público infantil", conclui.

O lado da escola

A questão das campanhas se torna mais complicada no caso do patrocínio, uma vez escolas públicas muitas vezes têm carência de investimento e problemas na infraestrutura - ou seja, acabam tendendo a aceitar qualquer "ajuda" que possam receber.
A BBC Brasil conversou, sob a condição de anonimato, com a diretora de uma escola municipal de São Paulo que recebeu ações publicitárias em 2013 e 2015. Ela falou sobre um dos casos.
"A exposição (das crianças às marcas) não é o melhor dos mundos. Mas estávamos sem aulas de educação física porque a quadra estava em péssimo estado. Resolvemos participar da ação porque tinha um prêmio em dinheiro que seria muito útil para a escola", diz a diretora. "Nossa falta é tanta que a gente acaba aceitando certos negócios para dar um mínimo de condição para os alunos", afirma. Tratava-se de um concurso - e o colégio acabou não ganhando.
A empresa alimentícia Tirol promoveu uma competição parecida em 2016. Alunos deveriam criar brinquedos utilizando materiais recicláveis – de preferência, segundo o regulamento, embalagens de "leite longa vida Tirol, caixinhas do suco Frutein, bebida láctea Fibrallis e achocolatado Tirolzinho". As crianças vencedoras ganharam um bicicleta e uma mochila cheia de achocolatados. E sua escola, um prêmio de R$ 18 mil.
Procurada pela reportagem, a Tirol "diz que está no mercado desde 1974, sempre prezando pela qualidade dos produtos e bem-estar dos consumidores", e que já prestou esclarecimentos sobre o projeto para o Ministério Público do Estado.
Mas para especialistas, ativistas e alguns pais, aceitar investimento de marcas é a forma errada de atacar o problema – principalmente no caso de crianças pequenas.
"Não podemos deixar que a necessidade de suprir essa falta seja uma justificativa para cercear outros direitos das crianças", diz Ekaterine Karageorgiadis, do Alana.
Para Bortolotto, do Idec, é preciso que haja investimento e políticas públicas para resolver os problemas nas escolas com dificuldades.
"E mesmo na privada, as decisões sobre currículo e os alimentos a que as crianças têm acesso precisam ser parte de um projeto que coloca o interesse e bem-estar das crianças em primeiro lugar", diz a nutricionista. "Não é algo que pode ficar à mercê das estratégias de marketing das indústrias."
 Leticia Mori
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 18 de março de 2018

Com pés molhados jovem recebe descarga elétrica ao retirar celular da tomada e morre em Garanhuns

Douglas estava ajudando o pai a lavar a casa quando sofreu o choque (Foto: Arquivo Pessoal) (Arquivo Pessoal)
Douglas estava ajudando o pai a lavar a casa quando sofreu o choque (Foto: Arquivo Pessoal)
Um jovem de 14 anos, identificado como Douglas Raphael, morreu ao sofrer uma descarga elétrica na sexta-feira (16) em Garanhuns, Agreste de Pernambunco. Testemunhas afirmam que o adolescente estava ajudando o pai a lavar a casa e, descalço, foi retirar o aparelho da tomada quando sofreu o choque. 
Douglas Raphael foi levado ao Hospital Regional Dom Moura mas não resistiu a forte descarga elétrica recebida. O corpo da vítima foi levado para o Instituto de Medicina Legal (IML) de Caruaru e será liberado ainda neste sábado (17).  
Com Informações do DP
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Educação:alunos querem que a escola reflita a vida real, diz brasileira jurada de prêmio da Unesco



Lucia discursa na Unesco
Image caption'O que se defende é a aprendizagem ativa, na qual o estudante tem de botar a mão na massa, experimentar', diz Dellagnelo, acima no Prêmio Unesco | Foto: Unesco

A brasileira Lucia Dellagnelo ajudou a escolher dois entre 143 projetos de tecnologia na educação que foram vencedores da mais recente edição do Prêmio Unesco, organismo da ONU para educação e cultura.
As iniciativas, praticadas na Índia e no Marrocos, receberão prêmio de US$ 25 mil.
Doutora e Mestre em Educação pela Universidade de Harvard, Dellagnelo foi secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável em Santa Catarina de 2013 a 2015 e hoje é diretora-presidente da ONG Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb).
Na premiação da Unesco, ela foi presidente do júri e representante da América Latina. Em entrevista à BBC Brasil em São Paulo, Dellagnelo conta o que viu de mais inovador, entre tantas propostas mundo afora, para tornar a educação mais igualitária, contemporânea e qualificada usando a tecnologia. E opina sobre onde o Brasil vai bem e onde precisa melhorar.
Leia os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Quais foram os critérios para escolher os projetos premiados em Paris?
Lucia Dellagnelo - Muitas pesquisas mostram que, para a tecnologia ter um impacto positivo na educação, é importante que seja trabalhada pelo menos em quatro dimensões: visão clara do objetivo, "para que e como vou usar a tecnologia"; competência dos professores e gestores no uso daquela tecnologia; qualidade dos conteúdos e recursos educacionais digitais desenvolvidos; e infraestrutura. Procuramos avaliar quais projetos realmente contemplavam isso, mas também consideramos se aquela política educacional era abrangente e de longo prazo.
BBC Brasil - O que seria esse longo prazo?
Dellagnelo - Por exemplo, um dos premiados, o Marrocos, tem uma política baseada nesses quatro pilares há mais de 15 anos. O país vem gradativamente implementando um plano chamado Genie, que sobreviveu a trocas políticas e de gestão. Se não for a longo prazo, é difícil correlacionar o uso de tecnologia com o impacto na qualidade. Não é pelo fato de usar um aplicativo ou uma plataforma adaptativa num ano que no seguinte serão vistas melhorias.


sala de aula
Image captionNão é preciso tecnologia de ponta para fazer revolução na educação, diz a especialista | Foto: Pedro Ribs/ANPR

BBC Brasil - O projeto da Índia também tinha esse perfil?
Dellagnelo - A Índia tem um problema muito sério: a evasão no que seriam os nossos fundamental 2 e ensino médio. O jovem faz a escola primária, aprende a ler e escrever, e depois tem muita dificuldade em seguir adiante não só por problemas econômicos, mas também porque, em vilas muito pequenas e distantes dos grandes centros, não existe oferta de ensino médio. Não há quem dê aula de física e química nesses lugares, por exemplo.
Por meio de videoaulas à distância, e usando uma parceria com a (universidade americana) MIT no desenvolvimento de tecnologia e laboratórios virtuais, conseguiram baixar o índice de evasão de jovens oferecendo um conteúdo de muita qualidade. O projeto, chamado CLIx, é de um instituto, em parceria com governos locais.
BBC Brasil - O prêmio valorizou a inovação também? Videoaulas são usadas já há algum tempo em outros lugares.
Dellagnelo - A função maior do prêmio é dar visibilidade a projetos que estão acontecendo e mostrar que, às vezes, uma tecnologia pode não ser uma grande inovação num país e ser em outro. Para uma população isolada, que não tem nem luz elétrica, que precisa usar gerador para acessar a internet, o impacto da videoaula é muito diferente.
Tem um projeto chinês, de que gostei muito também, em que um professor da capital, identificado como muito capaz, dava aulas interativas às vezes para 300 crianças espalhadas em vários lugares do país. Ao mesmo tempo, formava o professor dessa vila, que estava lá assistindo.
Sim, a videoaula não é uma tecnologia revolucionária - existe isso no Amazonas, inclusive -, mas tivemos que usar essa relatividade na votação: a tecnologia proposta resolve algo que não estaria sendo resolvido se não existisse?
Para mim, fica claro que tem solucionado um problema real, que é o acesso a professores qualificados. Porque o prêmio também tem esse viés: toda criança e jovem do mundo, independentemente do país, da cultura e da língua que fala, tem direito à educação de qualidade. Como a gente faz a tecnologia trabalhar a favor desse direito? (...) Tentamos mostrar políticas mais amplas de uso de tecnologia que foram incorporadas, de certa maneira, pelo poder público - nacional, estadual ou local -, fazendo uma mudança sistêmica.
BBC Brasil - Projetos brasileiros também concorreram?
Dellagnelo - Sim, mas eles não ficaram entre os 25 finalistas. Acho que uma das razões é o fato de serem voltados a grupos muito específicos. Um era de educação ambiental que usava tecnologia, porém estava muito pautado por visitas presenciais. Um outro, de uma professora de acessibilidade, focava na tecnologia para pessoas com deficiência auditiva.
BBC Brasil - Você foi jurada representando a América Latina. Qual a situação do Brasil no continente em termos de tecnologia educacional?
Dellagnelo - Tem países que estão melhores do que a gente nesse quesito, como Uruguai, Chile e Costa Rica. O Uruguai adotou o projeto Plan Ceibal, cujo lema é "um computador por aluno". É um país superpequeno, de 3,5 milhões de habitantes, parece muito mais fácil fazer isso. Mas esse mesmo projeto, que conta com cento e poucos funcionários, também cuida de toda a tecnologia educacional: compra, distribui e faz manutenção de computadores, além de capacitar professores e fazer parcerias.
O país tinha, por exemplo, um grande problema com professores de inglês na área rural. Fizeram um convênio com o Reino Unido e todas as aulas de inglês são dadas a partir de Londres, com o professor também ali, aprendendo.


Prêmio Unesco
Image captionForam eleitos 143 projetos vencedores da mais recente edição do Prêmio Unesco | Foto: Unesco

BBC Brasil - A experiência chilena é parecida?
Dellagnelo - Lá houve um desenvolvimento diferente. O centro de inovação em educação se chama Enlaces e era uma rede de universidades que fazia pesquisa e experiências em tecnologia educacional. Depois de alguns anos, ele foi incorporado pelo Ministério da Educação como um departamento que só cuida disso. Na Costa Rica, é uma fundação sem fins lucrativos que também recebe a atribuição do governo de cuidar de toda a tecnologia educacional, treinar os professores, comprar computadores e tal.
BBC Brasil - Onde o Brasil está pecando?
Dellagnelo - Não temos essa incorporação em larga escala da tecnologia nas escolas brasileiras. Oferecemos soluções tecnológicas de vanguarda, as empresas brasileiras não deixam nada a desejar nesse ponto, mas temos iniciativas isoladas no dia a dia escolar. Por quê?
Entre outros motivos, a nossa infraestrutura não é a melhor e o nosso professor não sabe incluir a tecnologia na prática pedagógica dele. Um dos diferenciais do projeto marroquino premiado foi a criação, em parceria com a Coreia do Sul, de centros de formação profissional para professores em várias regiões. O Brasil está precisando disso.
BBC Brasil - Para implementar políticas públicas, são necessários bons gestores. Como estamos nessa categoria?
Dellagnelo - Temos excelentes gestores públicos. O problema é que a gestão pública é confundida com a política. Quando há troca de governo, às vezes um excelente gestor vai para um cargo totalmente secundário para dar lugar a um afilhado político. Então há uma desvalorização contínua. Mas fico bastante impressionada quando vou a Brasília e encontro jovens comprometidos e bem formados eticamente. Acho que está surgindo uma nova geração. Se conseguissem diminuir a ingerência política...
BBC Brasil - Professores jovens têm mais facilidade para implementar a tecnologia na sala de aula?
Dellagnelo - Se faz diferença a geração digital do professor? Não necessariamente. Não é pelo fato de usar constantemente a tecnologia na sua vida que um professor jovem vai saber ensinar com tecnologia. Não está correlacionado diretamente com a idade, e sim com se formar para fazer isso.
BBC Brasil - Mas uma aula, hoje, pode ser atraente se o professor usar somente lousa e pincel atômico?
Dellagnelo - Há ótimos professores que não usam muito a tecnologia, mas o que não se pode continuar fazendo é dar aquela aula tradicional na qual o professor transmite o conhecimento e acha que seus alunos estão passivamente absorvendo o conteúdo. Os nativos digitais têm um spam de atenção muito curto. Fala-se em 10 a 15 minutos. Se o professor ficar falando uma hora, eles focarão apenas 25% desse tempo no que ele falou.
Hoje, o que se defende é a aprendizagem ativa, na qual o estudante tem de botar a mão na massa, experimentar, tentar resolver um problema real com aquela informação, com aquele conhecimento, para realmente poder aprender. E tem a questão da contemporaneidade. Os alunos querem que a escola reflita minimamente o que é a vida fora dela, uma vida permeada por tecnologia.


professor com tablet dando aulaDireito de imagemTHINKSTOCK
Image captionProfessores precisam ser capacitados para usar a tecnologia de forma eficiente em sala de aula

BBC Brasil - É preciso recorrer ao que há de mais moderno para cativar a atenção deles?
Dellagnelo - Não é necessário nada muito sofisticado. Fui dar uma palestra no Espírito Santo faz alguns dias e lá havia uma professora de uma escola do interior do Estado que usa um aplicativo gratuito chamado Remind. Essa professora monta a sala dela na plataforma, inclui todos os alunos, cujos e-mails estão cadastrados, e planeja a aula com uma sugestão de leitura. Como praticamente todos os estudantes têm celular, vai fazendo perguntas via smartphone: "Gente, só pra ver se leram mesmo, qual o nome do cara que fez tal coisa?". Pega as respostas, mas não precisa ficar corrigindo uma a uma. O próprio aplicativo diz quantos e quais acertaram.
Aí ela organiza a sala pelos grupos de alunos que sabe que já aprenderam esse conteúdo e para quem ela pode dar uma nova tarefa, e por aqueles que precisam de uma atenção especial. Ou seja, usando um aplicativo gratuito, sem uma infraestrutura do outro mundo, está fazendo uma revolução na educação.
BBC Brasil - Essa interação poderia acontecer apenas no plano virtual?
Dellagnelo: Parece um paradoxo, mas, quanto mais a gente usa a tecnologia, mais a gente valoriza na educação os momentos presenciais. Mas esses momentos presenciais não são apenas transmissão de conhecimento. São reflexão, atividades práticas, colaboração entre os estudantes.
BBC Brasil - E dá para ter só tecnologia, sem professor?
Dellagnelo - Não. Essa é uma coisa que as pesquisas estão mostrando. Três relatórios publicados no final do ano passado mostram que é muito importante colocar a tecnologia na mão do professor, e não direto e somente no colo dos alunos. Entre todas as variáveis, talvez a qualidade do professor e da prática pedagógica dele seja a variável mais forte para associar o nível de aprendizagem da criança e do jovem ao mundo tecnológico. Alguém precisa ensinar a eles as implicações e o funcionamento daquela ferramenta.
BBC Brasil - O aluno precisa entender de algoritmo?
Dellagnelo: A Base Nacional Comum Curricular (documento recém-aprovado pelo Ministério da Educação, com as diretrizes básicas de o que deve ser ensinado nas escolas do país) tem uma competência geral que fala em "utilizar tecnologias de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano, incluindo as escolares, para se comunicar".
O Cieb insistiu que "utilizar" não é suficiente. Tem de compreender e também criar tecnologias. O aluno hoje precisa saber minimamente como programar e entender a lógica da programação. Não é que todo muito vai virar programador, mas o aluno tem de entender o algoritmo por trás de um Facebook, de um Google, para compreender como a tecnologia está recomendando coisas que ele acha mágicas: "Ah, como ele sabia que eu queria comprar isso?" Ao entrar na internet, está se deixando rastro. Esse rastro esta sendo cada vez mais explorado por empresas para o marketing, por exemplo.
BBC Brasil - Inteligência Artificial é um conceito acessível?
Dellagnelo - Sim, o aluno precisa entender o que é Inteligência Artificial, compreender como é alimentada - alguém forneceu aquele dado, às vezes sua própria pegada digital, seu comportamento nas redes sociais. Parece um ambiente neutro. Como eu não vejo um interlocutor na minha frente, posso falar qualquer coisa e a qualquer hora. A pegada digital, a reputação digital são valores que os professores precisam ensinar para os alunos. Tem que ensinar também a usar as redes sociais para fazer mobilizações, para fazer sua voz ser ouvida.
BBC Brasil - Alguns youtubers brasileiros têm cerca de 20 milhões de seguidores entre crianças e jovens. Qual é a melhor estratégia em sala de aula para lidar com a influência deles?
Dellagnelo - A função do professor é ouvir o que esse youtuber está transmitindo e dizer, se for o caso, "vamos aprofundar, vamos discutir isso aqui". A tecnologia permite mais equidade - alunos de diferentes regiões conseguem receber a mesma educação - e contemporaneidade. Mas é o professor quem precisa fazer essa ponte. É papel dele ajudar os alunos a entender esse mundo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Igreja Assembléia de Deus em Bom Jardim realiza Cruzada Evangelística para comemorar 100 anos em Pernambuco

                                 Foto: Cruzada Evangelística no Pátio de Eventos, 17/03/2018.
Fiéis da Assembleia de Deus, Bom Jardim, promoveram neste final de semana uma grande festa com muitas orações, cultos, louvores, encontros, desfile  cívico e religioso nas ruas do centro da cidade, para comemorar o centenário da Igreja em Pernambuco.Conheça mais sobre a história da igreja em solo pernambucano.

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus, fundada pelos missionários suecos Joel Carlson e Signe Carlson, em 24 de Outubro de 1918.
O missionário Joel Carlson iniciou as atividades da Igreja no bairro da Boa Vista, na residência dos irmãos João Ribeiro e Felipa Ribeiro, onde foi realizado o primeiro culto. O evangelismo era realizado nas praças da cidade e nas residências, sob muita perseguição e indiferença, entretanto, a semente encontrou boa terra e cresceu abundantemente. O Senhor fez prosperar a Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco sob a liderança do missionário Joel Carlson. Durante seu pastorado, foi inaugurado o primeiro templo, situado à Rua Castro Alves nº 255, em 15 de Abril de 1928, seguido de muitos outros pelos bairros do Recife. O trabalho também se propagou pelo interior do Estado, como demonstração da aprovação divina. Vale destacar a cooperação de outros irmãos na obra do Senhor em Pernambuco durante este período, como os missionários Samuel Hedlund e Tora Hedlund, e as irmãs Ingrind Franzon, Esther Anderson, Augusta Anderson e Elisabeth Johansson, entre muitos outros. O missionário Joel Carlson pastoreou o rebanho do Senhor até ser recolhido ao descanso celestial, no dia 08 de Setembro de 1942.

 Após a gestão do missionário Joel Carlson, outros líderes estiveram à frente da Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco. O pastor José Bezerra da Silva, seu sucessor imediato, liderou a Igreja até o ano de 1953. Foi então sucedido pelo pastor José Rosa dos Santos, que dirigiu a Igreja por alguns dias em caráter interino, sendo substituído pelo pastor Manoel Messias Ramos, que por dois anos esteve na direção da Igreja do Senhor, no período de novembro de 1953 a novembro de 1955. Logo a seguir veio um período de transição, no qual a Igreja foi dirigida pelo pastor Joaquim Gomes da Silva, entre novembro de 1955 a Maio de 1956, quando ocorreu a eleição de um novo pastor presidente.
 Em 23 de maio de 1956, numa reunião da Convenção Estadual de Ministros, dirigida pelo missionário Eurico Bergsten, o pastor José Amaro da Silva foi eleito presidente da Assembleia de Deus no Estado de Pernambuco. Sua vida foi uma trajetória de oração e estudo incessante da Palavra de Deus, tornando-se, até os dias atuais, uma referência para os obreiros da Igreja do Senhor. Frequentemente convidado a participar de convenções de obreiros em outros Estados, suas apreciações e conselhos eram sempre respeitados, sua palavra possuía muito peso ante os demais pastores. Dedicou seu ministério buscando o crescimento da igreja em todo o Estado, construindo templos, dando assistência aos obreiros e cumprindo uma agenda de constantes visitas às filiais estabelecidas no interior.
 O pastor José Amaro da Silva se notabilizou por sua firmeza doutrinária e pela coragem de enfrentar grandes desafios em favor da Igreja, como a aquisição do terreno e a construção do Templo Central. Enfrentando a escassez de recursos, empreendeu uma campanha para a aquisição do terreno, que, com muitas dificuldades e de modo miraculoso, foi adquirido e pago. O projeto de construção foi elaborado e a Igreja se preparava para a grande tarefa, quando foi surpreendida por uma desapropriação por decreto do Governo Estadual, sob alegação de que, no local, deveria ser construído um colégio. Sem uma solução jurídica plausível, o pastor José Amaro iniciou uma jornada de jejum e oração, junto com toda a Igreja do Senhor. Após alguns meses em batalha espiritual, o decreto foi revogado, e o terreno voltou às mãos da Igreja, para a glória do nome de Jesus. Foi iniciada, então, a construção da nova sede estadual, sendo programada sua inauguração para o dia 24 de Outubro de 1977, coincidindo com a data do aniversário da Assembleia de Deus do Estado de Pernambuco.
 Entretanto, os caminhos de Deus são inescrutáveis, e, após vinte e um anos de um diligente e notável pastorado, que abalizou a Igreja em todo estado nas doutrinas bíblicas e nos bons costumes, o servo do Senhor foi recolhido ao descanso celestial, no dia 14 de abril de 1977, deixando uma herança de fé e conquistas espirituais para as gerações posteriores.
 Após um período de oração e jejum, a Convenção Estadual de Ministros, outra vez sob a direção do missionário Eurico Bergsten, elege o Pastor José Leôncio da Silva como presidente da Assembleia de Deus em Pernambuco, no dia 04 de Julho de 1977. Por vinte e cinco, este servo de Deus havia auxiliado o pastor José Amaro na administração das finanças da igreja, sendo um braço forte e fiel colaborador, estando sempre a serviço da Igreja na capital e no interior do Estado. Agora, como presidente da Igreja, assumia vários desafios, entre eles, conduzir as obras de conclusão do Templo Central, principiada na gestão anterior, vindo a inaugurar o empreendimento no dia 24 de Outubro de 1977.
 Seu pastorado foi caracterizado pelo amor às ovelhas do Senhor, por uma visão ampla em relação a Igreja, bem como pela realização de grandes empreendimentos, como a organização da Secretaria de Missões e o início das missões transculturais, enviando, através da Igreja, o primeiro casal missionário à Argentina, o pastor Ailton José Alves e esposa Judite Alves, no ano de 1981. Este foi apenas o princípio da história de missões da IEADPE, visto que em seguida seriam enviados missionários aos continentes africano, asiático e europeu.
 Durante os vinte e um anos em que o pastor José Leôncio da Silva esteve à frente da Assembleia de Deus em Pernambuco, a Igreja experimentou um grande avivamento espiritual, estendendo ainda mais suas cortinas e ficando estacas cada vez mais distantes, no interior e no sertão do Estado, e consolidando o trabalho de evangelismo na capital. O pastor José Leôncio da Silva notabilizou-se pelo seu profundo amor a Deus e à Igreja, resultado de uma visível e profunda comunhão com Deus. Ainda durante seu pastorado, podemos destacar a implantação de vários trabalhos, entre os quais o pioneirismo das cruzadas evangelísticas, a implantação dos grupos de discipulado vinculados às campanhas evangelizadoras e a realização dos congressos de mocidade, que alcança toda juventude do Estado, entre muitas outras iniciativas.
 No ano de 1998, o pastor José Leôncio da Silva discerniu, pelo Senhor, que havia cumprido sua tarefa na presidência da Igreja. Então, após mais de duas décadas de serviço incessante e sacrificial, deixa o comando da Assembleia de Deus em Pernambuco, deixando o legado de uma vida santa e irrepreensível, um exemplo de fé e comunhão a ser seguido por todos nós. No ano de 2002, o Senhor achou por bem recolher o seu servo ao descanso celestial, onde aguarda a bem aventurada ressurreição dos justos e a recompensa do Pai Celestial.
 Em Outubro de 1998, após a jubilação do pastor José Leôncio da Silva, assume a presidência das Assembleias de Deus em Pernambuco o pastor Aílton José Alves, atual Presidente da Igreja (IEADPE) e da Convenção Estadual de Ministros (CONADEPE). Seu pastorado tem sido grandemente abençoado pelo Senhor, e pontuado por diversos empreendimentos, como, por exemplo, a utilização da mídia para a propagação da Palavra de Deus, através da Rede Brasil de Comunicação, uma grande conquista da Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco.
 Podemos ainda mencionar outras conquistas e realizações da IEADPE na gestão do nosso atual Pastor Presidente. O trabalho missionário tem se expandido e alcançado diversos povos e línguas, e hoje, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco se faz presente em vários países, com mais de 70 templos espalhados pelo mundo. O trabalho social da Igreja é reconhecido pela sociedade pernambucana como um dos mais profícuos, sendo referência de organização e eficiência, tendo recebido várias menções honrosas, homenagens e condecorações. A expansão dos trabalhos, tanto na capital como no interior do Estado, é evidenciada pelo acréscimo de templos e salões locados, em decorrência do aumento do número de membros, fato comprovado pelos grandes batismos em águas realizados bimestralmente. A direção divina na liderança do pastor Ailton José Alves, tem conduzido a Igreja a uma abrangência em suas atividades. Sua visão aguçada em relação às atividades eclesiásticas deu início a trabalhos inovadores, como coordenação de uniões de adolescentes, o PROATI (Programa de Apoio à Terceira Idade), o Departamento da Família, entre outros. Também foram inseridos vários eventos no calendário da Igreja, entre eles o congresso de mulheres, congressos de adolescentes e SAMAD’s (Seminário de Aperfeiçoamento Ministerial das Assembleias de Deus).
 A caminho do Centenário, vários são os projetos idealizados pelo nosso Pastor Presidente, sob a orientação divina. Entre tantos desafios, temos a construção de uma nova sede estadual, com capacidade para 30 mil pessoas, para a realização dos grandes eventos de nossa Igreja. Vislumbram-se novos desafios missionários, a colheita de muitas vidas para Cristo, a evangelização de lugares não alcançados, novas conquistas na área de comunicação, realização de cruzadas evangelísticas, edificação de novos templos, ampliação das obras sociais e a formação de novos obreiros. Sob a égide da fé, podemos dizer como o apóstolo Paulo: “Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo” (Fl 1.6). Com informações de ieadpe.org.br
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Religião:Tempo da Quaresma

Fotos: saída da missa na Matriz de Sant'Ana - Bom Jardim - PE.

Sentido da Quaresma.
O primeiro que devemos dizer ao respeito é que a finalidade da Quaresma é ser um tempo de preparação à Páscoa. Por isso se está acostumado a definir à Quaresma, “como caminho para a Páscoa”. A Quaresma não é portanto um tempo fechado em si mesmo, ou um tempo “forte” ou importante em si mesmo.
É mas bem um tempo de preparação, e um tempo “forte”, assim que prepara para um tempo “mais forte” ainda, que é a Páscoa. O tempo de Quaresma como preparação à Páscoa se apóia em dois pilares: por uma parte, a contemplação da Páscoa de Jesus; e por outra parte, a participação pessoal na Páscoa do Senhor através da penitência e da celebração ou preparação dos sacramentos pascais –batismo, confirmação, reconciliação, eucaristia-, com os que incorporamos nossa vida à Páscoa do Senhor Jesus.
nos incorporar ao “mistério pascal” de Cristo supõe participar do mistério de sua morte e ressurreição. Não esqueçamos que o Batismo nos configura com a morte e ressurreição do Senhor. A Quaresma procura que essa dinâmica batismal (morte para a vida) seja vivida mais profundamente. trata-se então de morrer a nosso pecado para ressuscitar com Cristo à verdadeira vida: “Eu lhes asseguro que se o grão de trigo…morre dará fruto” (Jo 20,24).
A estes dois aspectos terá que acrescentar finalmente outro matiz mais eclesiástico: a Quaresma é tempo apropriado para cuidar a catequese e oração das crianças e jovens que se preparam à confirmação e à primeira comunhão; e para que toda a Igreja ore pela conversão dos pecadores.
De: ACI Digital.

COMO VIVER O TEMPO DA QUARESMA?
Algumas atitudes podem nos ajudar a viver melhor o tempo da quaresma
A Quaresma é um tempo de graça, um verdadeiro Kairós, tempo da manifestação de Deus. Este tempo tem como característica duas realidades muito importantes: 1. Olhar para Jesus; 2. Conversão.
Neste tempo, somos levados pela Igreja a seguir Jesus em seus últimos momentos de vida para – junto com Ele – aprendermos o que é o amor e a misericórdia. Por diversas vezes, o Senhor vai se revelando como o rosto misericordioso do Pai, assumindo até as últimas conseqüências a vontade do Pai, que é salvar a cada filho. É um caminho de “subida”, não só para Jerusalém, mas até o mais alto grau do amor que se concretiza na cruz.
Jesus, muitas vezes, vai anunciar sua Paixão dizendo que o Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado e morto, mas no terceiro dia ressuscitará. Vemos nesses anúncios também o desejo do Senhor de se entregar. Está aí a sua disposição em dar até a própria vida em nosso resgate. Ele não somente falou a respeito do amor que se revela ao dar a vida pelos amigos, mas o fez em sua própria vida. Assim, tornou-se o exemplo mais sublime que devemos seguir para realmente sermos felizes.
Quaresma é também conversão, revisão de vida e mudança de atitude. Tudo concorre para isso nesse período: a liturgia, os cânticos, as orações. É tempo de olhar para tudo o que temos vivido e como temos vivido: nossos relacionamentos em casa, no trabalho, na escola, nosso relacionamento com Deus. Será que Ele tem sido o nosso tudo? Nossa relação com Ele é de confiança, de intimidade e amor?
Quaresma é tempo do perdão. O profeta Isaías nos diz no capítulo 30, 18: “Em vista disso, o Senhor espera a hora de vos perdoar. Ele toma a iniciativa de mostrar-vos compaixão, pois o Senhor é um Deus justo – felizes os que nele esperam”.
É um tempo de grande graça. É o Senhor quem toma a iniciativa de nos mostrar compaixão. Em nossas paróquias, além do tempo normal de confissões, temos os mutirões de confissão, celebrações penitenciais. Tudo se torna propício para nossa conversão. Por isso, não podemos perder tempo.
Algumas atitudes nossas podem nos ajudar a mergulhar fundo nessa graça
Por exemplo:
– Aproveite esse tempo para silenciar um pouco, criar um clima de interioridade, evitando músicas muito altas em casa, no quarto; valorizando as que nos levam a uma maior reflexão e oração.
– Separe um tempo do dia para a oração pessoal. Crie em sua casa ou no seu quarto um pequeno altar, ali coloque um crucifixo, uma vela, a Bíblia aberta, para que o ambiente seja convidativo à oração.
– Nas sextas-feiras, se for possível, medite as estações da Via-Sacra. Isso o ajudará a mergulhar no mistério da Paixão do Senhor.
– Durante o tempo quaresmal se proponha a também fazer obras de misericórdia. Por exemplo: visitar um doente, visitar um asilo, levar alguma ajuda concreta a uma família mais carente, como roupas que você já não esteja usando ou alimentos. Tudo isso gerará em seu coração um sentimento de alegria por poder fazer algo de bom a alguém.
– Quaresma é tempo de perdoar e de pedir perdão. Se você tem alguém, a quem precisa perdoar, peça a Deus a graça de conceder esse perdão e se foi você que feriu esse alguém, dê o passo em direção à pessoa e peça perdão. É tempo de reconstruir as pontes de reconciliação.
– A confissão é fundamental nesse tempo, não deixe para a última hora, procure o sacerdote no decorrer da Quaresma para que, auxiliado pela graça desse sacramento, você colha todos os frutos deste tempo.
A Quaresma é entendida como um grande retiro, um retiro de 40 dias, no qual nos voltamos de coração sincero para o Senhor e d’Ele recebemos uma nova vida. Já há alguns anos, nós da Canção Nova temos feito essa experiência por meio do retiro popular de Dom Alberto. Ele nos tem possibilitado viver esse tempo de maneira intensa e profunda. Esse é mais um modo de se viver bem esse período.
O importante é que eu e você tomemos consciência de tudo o que o Senhor deseja realizar em nossas vidas e nos esforcemos para não deixar a graça passar.

Texto: Padre Clóvis – Missionário da comunidade Canção Nova
Fotos: Edgar Severino dos Santos
Professor Edgar Bom Jardim - PE