sábado, 10 de março de 2018

Conflitos pelo mundo:5 pontos para entender a guerra civil no Iêmen, a pior crise humanitária do mundo

Crianças iemenitas sendo tratadas em setembro de 2017Direito de imagemEPA
Image captionO Iêmen vive uma grave epidemia de cólera, com 1 milhão de casos suspeitos até dezembro
A guerra civil no Iêmen, o país mais pobre do mundo árabe, deixa 22 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que considera essa a maior crise humanitária global em curso atualmente.
Só neste ano, 85 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas por conta do conflito iemenita, e o total de mortos ultrapassa 10 mil em três anos.
É uma guerra que opõe duas potências do Oriente Médio. De um lado, estão as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas por uma coalizão sunita liderada pela Arábia Saudita. Do outro, está a milícia rebelde huti, de xiitas, apoiada pelo Irã, que controla a capital, Sanaa.
Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais impostos pelos sunitas, que impedem que ajuda humanitária e itens básicos, como comida, gás de cozinha e medicamentos, cheguem a 70% da população iemenita.
Os anos de conflito não só provocaram uma escassez aguda de alimentos como destruíram o sistema de saúde do país, dificultando o combate a uma grave epidemia de cólera. Em dezembro, o número de casos suspeitos de cólera alcançou 1 milhão.
Crianças iemenitas deslocadas pelo conflito estudam em tenda improvisadaDireito de imagemAFP
Image captionSó neste ano, 85 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no país
A BBC listou alguns pontos do conflito para explicar o que acontece nesse país da Península Arábica:

Por que essa guerra importa para o resto do mundo?

O que acontece no Iêmen pode aumentar muito as tensões na região e os temores do Ocidente de ataques vindos do país à medida que ele se torna mais instável.
As agências de inteligência consideram o braço da organização extremista Al-Qaeda na Península Arábica como o mais perigoso, por causa de seus conhecimentos técnicos e alcance global. O surgimento, na região, de novos movimentos afiliados ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico também é motivo de preocupação.
O conflito entre os hutis e o governo também é visto como parte de uma batalha regional por poder entre os xiitas, liderados pelo Irã, e os sunitas, liderados pela Arábia Saudita.
Os países do Golfo Pérsico, que apoiam o presidente iemenita, Abd-Rabbu Mansour Hadi, acusam o Irã de apoiar os hutis (xiitas) financeiramente e militarmente, apesar de o Irã negar.
O Iêmen é estrategicamente importante, porque está no estreito de Bab-el-Mandeb, que faz ligação com a África e é rota de navios petroleiros. Além disso, muitas potências lucram indiretamente com a guerra iemenita: a coalizão saudita que bombardeia o Iêmen compra armas de países como Estados Unidos, Reino Unido e França.
Questionado a respeito disso na última terça-feira (6), o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou ser "verdade que há muitas armas sauditas (no conflito), mas também muitas armas iranianas".
Só as empresas britânicas teriam lucrado £6 bilhões ( R$27 bilhões, aproximadamente) com venda de armas à Árabia Saudita desde o início da guerra no Iêmen, segundo pesquisa da ONG War Child UK.

Como tudo começou?

Rebelde huti em SanaaDireito de imagemAFP
Image captionOs rebeldes xiitas hutis entraram em Sanaa em setembro de 2014 e assumiram seu controle meses depois
Essa guerra tem suas raízes no fracasso de uma transição política que supostamente traria estabilidade ao Iêmen após uma revolta na sequência da Primavera Árabe, em 2011, que forçou a saída do poder do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, após 33 anos – ele acabaria sendo morto em dezembro, acusado de traição. Na época, ele passou o comando do país para o seu então vice, Abd-Rabbu Mansour Hadi.
Hadi enfrentou uma variedade de problemas, incluindo ataques da Al-Qaeda, um movimento separatista no sul, a resistência de muitos militares que continuaram leais a Saleh, assim como corrupção, desemprego e insegurança alimentar.
O movimento huti, que segue uma corrente do islã xiita chamada zaidismo e havia travado uma série de batalhas contra Saleh na década anterior, tirou proveito da fraqueza do novo presidente e assumiu o controle da província de Saada, no nordeste do país.
Desiludidos com a transição, muitos iemenitas – incluindo os sunitas – apoiaram os hutis e, em setembro de 2014, eles entraram na capital, Sanaa, montando acampamentos nas ruas e bloqueando as vias.
Em janeiro de 2015, eles cercaram o palácio presidencial e colocaram o presidente Hadi e seu gabinete em prisão domiciliar. O presidente conseguiu fugir para a cidade de Áden no mês seguinte.
Artilharia saudita sendo disparada contra Iêmen em 2015Direito de imagemAFP
Image captionUma coalizão internacional liderada pelos sauditas interveio no Iêmen em 2015
Os hutis tentaram então tomar o controle do país inteiro, e Hadi teve que deixar o Iêmen.
Alarmados com o crescimento de um grupo que eles acreditavam ser apoiado militarmente pelo poder xiita local do Irã, a Arábia Saudita e outros oito Estados sunitas árabes começaram uma série de ataques aéreos para restaurar o governo de Hadi.
Essa coalizão recebeu apoio logístico e de inteligência dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França.

O que aconteceu desde então?

Há dois anos e meio, essa guerra está em curso e nenhum dos lados parece disposto a ceder. A ONU tentou, por três vezes, sem sucesso, negociar um acordo de paz.
Forças pró-governo, constituídas principalmente por soldados leais ao presidente Hadi. sunitas de tribos do sul e separatistas conseguiram evitar que os rebeldes tomassem a cidade de Áden após quatro meses de uma batalha violenta, que deixou centenas de mortos.
Tendo assegurado um espaço no porto, tropas das forças de coalizão desembarcaram e ajudaram a expulsar os hutis para o sul. O presidente Hadi estabeleceu residência temporária em Áden, apesar da maioria de seu gabinete ter continuado exilada.
Os hutis, no entanto, conseguiram manter um cerco na cidade de Taiz e lançar morteiros e foguetes através da fronteira com a Arábia Saudita.
Os jihadistas da Al-Qaeda na Península Arábica e rivais de organizações parceiras do Estado Islâmico têm tirado proveito do caos, confiscando territórios no sul e realizando ataques mortais, principalmente em Áden.
O lançamento de um míssil em direção a Riad em novembro levou a Arábia Saudita a intensificar o bloqueio no Iêmen.
A coalizão alegou querer parar o contrabando de armas para os rebeldes do Irã, mas a ONU disse que as restrições poderiam desencadear "a maior crise de fome que o mundo já viu em décadas".
Garoto iemenita aliado dos hutis carrega arma no norte de Sanaa:Direito de imagemAFP
Image captionPopulação do Iêmen vive uma situação de emergência alimentar

Qual o impacto na população?

A população tem suportado o caos da guerra e sido constantemente vítima do que o conselho de direitos humanos da ONU chama de "incessantes violações do Direito internacional".
Os ataques aéreos da coalizão saudita foram as principais causas da morte de civis. A destruição da infraestrutura do país e as restrições de importação de comida, de medicamenteos e de combustível causaram o que a ONU diz ser uma situação catastrófica.
Mais de 20 milhões de pessoas, incluindo 11 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária imediata. Há 7 milhões de pessoas dependentes de ajuda para comer e 400 mil crianças sofrendo de desnutrição.
Ao menos 14,8 milhões estão sem cuidados básicos de saúde, e apenas 45% dos 3,5 mil postos de saúde estão funcionando e lutando para conter a maior epidemia de cólera do mundo, que até o final do ano passado havia resultado em 2.196 mortes.
Mulheres esperam na fila para encher bujões de gás de cozinha, em falta no paísDireito de imagemREUTERS
Image captionGás de cozinha e outros itens básicos estão em falta no Iêmen
E 2 milhões de iemenitas estão desabrigados por causa da guerra, além dos 188 mil que fugiram para países vizinhos.

Por que há um racha entre os rebeldes?

O assassinato do ex-presidente Saleh por rebeldes, em dezembro, evidenciou um racha. Saleh era aliado dos hutis, mas foi considerado "traidor" por se dizer disposto a dialogar com a Arábia Saudita, que apoia o governo iemenita.
Durante meses, houve sinais de que a aliança entre os hutis e os apoiadores de Saleh estava estremecida, o que se provou verdade com o assassinato do ex-presidente.
No dia 29 de novembro, conflitos entre os antigos aliados emergiram na capital Sanaa. Com cada um dos lados culpando o outro pela ruptura, no dia 2 de dezembro, Saleh apareceu na televisão dizendo à coalizão saudita estar aberto a um novo capítulo nas relações.
Ele pediu à coalizão para interromper os ataques aéreos e afrouxar o bloqueio no país. Também se dispôs a um novo diálogo, o que foi bem recebido pela coalizão, mas visto como uma traição pelos hutis, que o assassinaram.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 8 de março de 2018

Café, mensagens, caminhada nas ruas do centro para comemorar o Dia 8 de Março em Bom Jardim


Mulheres funcionárias públicas, idosas, estudantes, mulheres mães participaram das atividades programadas pelo Governo Municipal, por meio da Secretaria de Assistência Social. A programação foi iniciada na quadra Oswaldo Lima, às 8:30 da manhã, em seguida houve uma caminhada pelas ruas da cidade até o Centro Cultural Professora Marineide Braz. 
Fotos: Governo Municipal
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Margarida Braga,uma grande mulher bonjardinense. Mulher Internacional 8 de Março

Mulher:
Mulher agricultora
Mulher forte
Mulher solidária
Mulher comunitária
Mulher educadora
Mulher histórica
Mulher mãe
Mulher política

Mulher...
Mulher religiosa
Mulher visionária
Mulher defensora das mulheres
Mulher honesta
Mulher atuante
Mulher guerreira
Mulher empreendedora
Mulher negra

Mulher...
Mulher internacional
Mulher do Brasil
Mulher de Pernambuco
Mulher de Bom Jardim
Mulher de Umari
Mulher espelho
Mulher luz
Mulher digna de todas  homenagens

Mulher...
Mulher exemplo
Mulher orgulho
Mulher 8 de Março
Mulher Internacional

Viva Margarida Braga, uma mulher simples, fez muito por sua comunidade, fez  pelas mulheres do campo, realizou mutirões solidários, evangelizou, criou uma farmácia de produtos naturais, lutou pela aposentadoria rural, construiu  um salão comunitário em umari com o apoio da igreja católica, atuou em defesa da cidadania, participou da luta sindical. Uma mulher digna de muitos aplausos. Nossa homenagem para todas as mulheres do mundo na pessoa desta grande guerreira, Margarida Braga.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Corrupção e desenvolvimento econômico


Desenho de homem com cartola segurando várias coisas em seus 'tentáculos'Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisas encontram associações positivas entre corrupção e crescimento econômico na Ásia e na América Latina
Nos anos 1960, um grupo de acadêmicos abraçou a tese de que corrupção é o "óleo que lubrifica" as engrenagens do Estado e da economia. Segundo a vertente, certas práticas ilegais ou imorais poderiam ser até benéficas para os países, desde que mantidas sob certo controle, e deveriam ser vistas como chaves para favorecer o desenvolvimento econômico.
Ao longo das décadas seguintes, a Ciência Política e a Economia passaram a rechaçar essa visão funcionalista da corrupção. Mas agora, novas pesquisas sobre a Ásia e América Latina sugerem que estudiosos como Nathaniel Leff, Samuel Huntington e Colin Leys, partidários da tese de que a corrupção pode, sim, ter algum lado positivo, não estavam de todo errados.
Na visão de Leff, Huntingotn e Leys, a corrupção poderia, por exemplo, facilitar processos burocráticos ou até permitir o aquecimento da economia, com empresas ganhando contratos, gerando emprego e renda. Mesmo negócios informais, sem registro, teriam funcionamento garantido graças, por exemplo, à propina paga a fiscais.
Mas, com o tempo, acadêmicos de diferentes áreas começaram a preconizar que o fenômeno fosse visto como um mal a ser combatido. Não só porque consome recursos que poderiam ser usados em áreas como saúde, educação e redução da desigualdade, mas também porque a corrupção favorece certos interesses privados em detrimento do coletivo.
Agora, há sinais de que a controvérsia voltou a ser aberta graças a uma nova leva de produção científica que busca identificar associações positivas entre corrupção e crescimento econômico. Estudos publicados apontam essa correlação em alguns países asiáticos e também a associação entre corrupção e performance de empresas em países da América Latina. Segundo esses estudos, a corrupção não seria impeditivo natural para o crescimento econômico.
É importante ressaltar que a tentativa desafiar a lógica que corrupção traz apenas malefícios com a produção de evidências empíricas ainda é incipiente na produção acadêmica. Isso significa que ainda são poucos os estudos publicados sobre o tema. Além disso, também não é uma corrente de pensamento com muitos adeptos, uma vez que prevalece o entendimento de que os efeitos da corrupção são extremamente nocivos para a sociedade como um todo.

Corrupção e progresso

Em 2015, Chiung-Ju Huang, da Universidade Feng Chia, em Taiwan, publicou um artigo na revista acadêmica North American Journal of Economics and Finance com o provocativo título "Corrupção é ruim para o crescimento econômico? Evidência de países da Ásia e Pacífico". Nele, afirmou que os resultados do estudo "não apoiam a percepção comum de que corrupção faz mal para o crescimento econômico".
A análise estatística mostrou que o impacto da corrupção não foi significativo na economia em 12 dos 13 países da região. Para o estudo, o pesquisador usou índices de percepção de corrupção e de liberdade econômica, além do Produto Interno Bruto (PIB) per capita dessas nações referentes ao período de 1997 a 2013, e aplicou uma técnica capaz de avaliar relações causais.
Segundo o autor, os dados apontam a Coreia do Sul como exceção. No período analisado, há evidência de uma relação causal entre corrupção e um aumento no crescimento da economia sul-coreana.
Os achados de Chiung-Ju, nas palavras dele próprio, reforçam um estudo anterior, de 1997, que já apontava que o desenvolvimento econômico do país estava diretamente relacionado à práticas imorais e ilegais adotadas pelo governo e por empresários para selecionar e financiar os chamados chaebols, os conglomerados que tiveram papel chave na reestruturação da política econômica do país.
Pessoas lidando com planilhas e tabelasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstudos recentes testam a relação entre corrupção, crescimento econômico de países e performance de empresas
O estudo de Chiung-Ju Huange também avaliou a relação causal inversa, ou seja, se o crescimento econômico é capaz de impulsionar corrupção. A resposta foi "não" para todos os países analisados, menos para a China.
"Mais especificamente, crescimento econômico na China aparece como tendo um efeito significantemente positivo na corrupção, indicando que um aumento no crescimento econômico leva a um aumento na corrupção", diz trecho do estudo, no qual o autor afirma desafiar o entendimento convencional de que corrupção é impeditiva para o crescimento econômico no caso da Ásia e do Pacífico.

O ovo e a galinha

Do outro lado do mundo, mais precisamente na América Latina, um estudo assinado pelo professor italiano Luciano Ciravegna, do King's College London, e outros três pesquisadores mede o impacto na performance e capacidade de internacionalização de empresas de economias consideradas emergentes com elevados riscos políticos e alta percepção de corrupção.
Ao realizar testes estatísticos com dados de 536 empresas do Brasil, Argentina, Peru e Chile, os pesquisadores concluíram que "corrupção tem um impacto positivo na performance" das empresas nestes países. Ou seja, segundo os autores, nos países onde há mais corrupção o lucro doméstico das empresas, levando em conta ganhos e ativos no próprio país, tende a ser maior.
Para medir o desempenho das empresas, os pesquisadores levaram em conta a rentabilidade de firmas e cruzaram com diferentes variáveis referentes à características individuais das companhias, perfil da economia dos países e o índice de percepção de corrupção da Transparência Internacional.
A partir de diferentes modelos estatísticos e regressões matemáticas, o estudo identificou também uma interação positiva entre corrupção e internacionalização, mas que não é estatisticamente significante.
Mala com caixa de presente em cimaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEstudo tenta descobrir por que empresas de países onde há elevada percepção de corrupção tendem a ter mais facilidade para expandir os negócios 'dentro de casa'
"Há alguma coisa de bom na corrupção? Não, eu ainda acho que é algo ruim", diz Ciravegna, completando que, teoricamente, não é uma ideia nova dizer que a corrupção é o "óleo que lubrifica as engrenagens" em especial em lugares onde há muitos entraves burocráticos.
Ele pondera, contudo, que há um dilema similar ao do "ovo e a galinha" quando se fala em burocracia e corrupção.
"A corrupção existe para driblar os entraves burocráticos ou a burocracia existe para dificultar a corrupção?", questiona, dizendo que, em países mais desburocratizados como o Reino Unido e Cingapura, por exemplo, corrupção significa custo do ponto de vista das empresas. Já em países da América Latina, engajar em atos corruptos pode valer o investimento.
Ciravegna diz que o artigo, publicado no Journal of World Business, é apenas o primeiro passo de uma pesquisa que pretende ir mais a fundo, explorando diferentes facetas do tema. Segundo o professor, a ideia é tentar entender diferentes comportamentos de empresas latino-americanas que passam a atuar no exterior.
"Elas são corruptas em casa e fora de casa, como, por exemplo, a Odebrecht? Ou elas passam a atuar no mercado internacional, aprimoram o comportamento para se ajustar e passam a adotar melhores práticas em casa? É isso que queremos avaliar", afirma, citando a empreiteira brasileira, que admitiu ter pago propina em diferentes países da América Latina e África para expandir os negócios.
Homem coloca dinheiro na mão de outroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'A corrupção existe para driblar os entraves burocráticos ou a burocracia existe para dificultar a corrupção?', questiona o professor Luciano Ciravegna

Efeito doméstico

Os dados analisados pelo professor indicam, por ora, que turbulências políticas internas fortalecem a relação positiva entre internacionalização e performance de empresas em economias emergentes, porque essas companhias desenvolvem a habilidade de atuar, resistir e avançar em ambiente marcado por incertezas e desafios.
Da mesma forma, empresas de países onde há elevada percepção de corrupção tendem a ter mais facilidade para expandir os negócios.
"As empresas podem em algumas circunstâncias (por exemplo, as grandes empresas multinacionais da América Latina que examinamos) se beneficiar de altos níveis de corrupção, mas o efeito é, principalmente, um efeito doméstico, com pouca evidência de aprendizado ou transferibilidade quando se internacionalizam", pondera Ciravegna.
"Isso pode ser porque a corrupção é caracterizada por redes de relacionamentos localizadas e relativamente fechadas, que são difíceis de replicar no exterior, especialmente em países mais distantes, como aqueles fora da região de origem", diz trecho do estudo.
O próprio professor argumenta, contudo, que no mundo dos negócios há certas práticas que são consideradas ilegais ou imorais em determinados países, enquanto em outras nações são atos completamente comuns.
"Como não temos um sistema legal internacional, a corrupção não é vista da mesma forma em todos os lugares", afirma, citando como exemplo a forma como determinados segmentos fazem lobby e financiam campanhas nos EUA pode ser considerada ilícita em alguns países da América Latina.

Movimento incipiente

Os dados do estudo de Ciravegna também indicaram, porém, que operar em um ambiente altamente instável, ou seja, com alto risco político doméstico, está associado a um melhor desempenho internacional - sugerindo que, ao contrário da corrupção, nesse caso "há efeito de aprendizagem transferível".
Mapa do mundo interligando continentes com foto ao fundoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPesquisa indicou que empresas que operam onde há alto risco político doméstico têm melhor desempenho internacional
"É interessante descobrir que há evidências de que a corrupção em alguns casos contribui positivamente para o desempenho doméstico. Conhecemos os motivos teóricos: é o óleo que lubrifica as rodas. No entanto, ainda não sabemos por que isso acontece em alguns países específicos e qual o contexto temporal, ou como variar a depender do setor e do tipo de empresa", diz, o pesquisador, que é do departamento de desenvolvimento internacional do King's College, em Londres.
Ele acredita que essas evidências coletadas podem ser vistas como um bom ponto de partida para uma análise mais refinada sobre as chances reais de uma empresa crescer e lucrar significativamente mais quando, por exemplo, paga propina ou frauda licitações sem ser punida.
Para Ciravegna, não exite uma receita universal, e os achados da pesquisa também representam um forte indicativo de que a solução para o problema pode ser "caseira", uma vez que a corrupção entre empresários e autoridades públicas tende a ser localizada.

Críticas

Na visão do pesquisador e professor alemão Johann Graf Lambsdorff, um dos criadores do índice de percepção da corrupção nos anos 1990 usado pela Transparência Internacional, a busca pelo lado bom da corrupção não faz o menor sentido.
"O argumento de que corrupção é o óleo que lubrifica as engrenagens não se sustenta mais", salienta, criticando duramente os que insistem em defender essa hipótese.
Ele admite, contudo, que os mecanismos anticorrupção têm, ao longo dos anos, falhado em coibir a prática, e que pesquisadores começam a se perguntar se vale a pena gastar tanto com ferramentas ineficientes.
"Por mais de 20 anos, governos, empresas e organizações internacionais têm tentado medidas de combate à corrupção e têm falhado", diz Lambsdorff, observando que talvez o erro seja o foco dado somente à repressão.
Lambsdorff afirma que as punições são necessárias e têm efeito dissuasório, ou seja, é capaz de inibir certas práticas. Mas destaca a necessidade de se investir mais em ações de prevenção, que realmente tenham efeitos práticos. "Métodos preventivos, tais como recompensas pelo comportamento ético e motivação psicológica para que se adote boas práticas, são igualmente importantes para combater a corrupção."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 7 de março de 2018

Mesmo com ensino superior muitas mulheres ganham menos que homens


As mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Foto: Reprodução/Pixabay
As mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Foto: Reprodução/Pixabay

Mesmo em número maior entre as pessoas com ensino superior completo, as mulheres ainda enfrentam desigualdade no mercado de trabalho em relação aos homens. Essa disparidade se manifesta em outras áreas, além do item educação. É o que comprova o estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado nesta quarta-feira(7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tomando por base a população de 25 anos ou mais de idade com ensino superior completo em 2016, as mulheres somam 23,5%, e os homens, 20,7%. Quando se comparam os dados com homens e mulheres de cor preta ou parda, os percentuais são bastante inferiores: 7% entre os homens e 10,4% entre mulheres.

Em relação ao rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos e razão de rendimentos, por sexo, entre 2012 e 2016, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Isso significa que as mulheres têm rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$ 1.764, enquanto os homens, R$ 2.306.

A economista Betina Fresneda, analista da Gerência de Indicadores Sociais do IBGE explica que os resultados educacionais não se refletem necessariamente no mercado de trabalho. Segundo ela, as mulheres, por terem nível de instrução maior do que os homens, não deveriam ganhar o mesmo salário, em média, deles. “Deveriam estar ganhando mais, porque a principal variável que explica o salário é educação. Você não só não tem um salário médio por hora maior, como na verdade essa proporção é menor.”

Também a taxa de frequência escolar líquida ajustada no ensino médio em 2016 exibe maior percentual de mulheres (73,5%) que de homens (63,2%). A média Brasil atingiu 68,2%. Estudos mostram que o ambiente escolar é mais adequado ao tipo de criação dado às meninas, em que se premia a disciplina, por exemplo, disse a analista. “Tem mais a ver então com características da criação das meninas. Outros estudos mostram que, a partir do ensino médio, por exemplo, os homens começam a conciliar mais estudo e trabalho do que as mulheres. Diversos fatores que estão associados a papéis de gênero.”

Em termos de rendimentos, vida pública e tomada de decisão, a mulher brasileira ainda se encontra em patamar inferior ao do homem, bem como no tempo dedicado a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos. A pesquisa confirma ainda a desigualdade existente entre mulheres brancas e negras ou pardas.

No tópico da educação, o estudo procurou ressaltar também que entre as mulheres, as desigualdades são marcantes. As mulheres brancas alcançam superior completo em proporção duas vezes maior que as pretas ou pardas. “Então, existe um efeito também da cor da pessoa na chance de concluir o ensino superior”, destacou a economista.

O IBGE reuniu informações de três pesquisas no levantamento: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), partindo da base do Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (Cmig), proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Somaram-se a isso dados do Ministério da Saúde, do Congresso Nacional e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação (Inep). Os indicadores apurados foram agrupados em cinco temas: estruturas econômicas e acesso a recursos; educação; saúde e serviços relacionados; vida pública e tomada de decisões; e direitos humanos de mulheres e crianças. Dependendo do indicador, o período analisado vai se 2011 a 2016.

Estruturas econômicas

De acordo com o estudo, o tempo dedicado aos cuidados de pessoas ou a afazeres domésticos é maior entre as mulheres (18,1 horas por semana), do que entre os homens (10,5 horas por semana). Na média Brasil, são dedicadas por homens e mulheres 14,1 horas por semana a esse tipo de trabalho. “Por qualquer nível de desagregação que a gente faça, seja por regiões, como por raça ou por grupo de idade, há mulheres se dedicando com um número de horas bem maior do que os homens a esse tipo de trabalho”, ressaltou a pesquisadora do IBGE, Caroline Santos.

Para Caroline, esse indicador é importante porque dá visibilidade a um trabalho não remunerado, que é executado pelas mulheres, dentro de casa. E tem pouca visibilidade. Por regiões, verifica-se que no Nordeste, as mulheres dedicam um número maior de horas a cuidados, nesse tipo de atividade (19 horas por semana, contra 10,5 horas semanais dos homens).

Caroline destacou que por cor ou raça existe o agravante histórico, característico da formação do país, em que as mulheres pretas ou pardas se dedicam mais a esse tipo de trabalho não remunerado. De acordo com o estudo, as mulheres pretas ou pardas dedicam 18,6 horas semanais para cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, contra 17,7 horas entre as mulheres brancas.

Tempo parcial

Segundo o estudo do IBGE, a dupla jornada fica nítida para as mulheres quando elas têm que se dividir entre os afazeres domésticos e o trabalho pago. Isso faz com que elas sejam obrigadas a aceitar, em alguns casos, trabalhos mais precários, afirmou Caroline.

Para mostrar como a carga horária é um diferencial na inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho, quando se aborda o tempo parcial, verifica-se que o número de mulheres apresenta um percentual maior (28,2%) do que o de homens (14,1%).

Por cor ou raça, 31,3% das mulheres pretas ou pardas estão no trabalho por tempo parcial, ante 25% de mulheres brancas.

Representatividade

No que se refere à questão da representatividade, o estudo divulgado pelo IBGE evidencia que as mulheres são sub-representadas em várias áreas, não só na vida política, como no Congresso Nacional e cargos ministeriais, mas também nos cargos gerenciais, nos cargos públicos e privados e na instituição policial.

De acordo com a pesquisadora do IBGE Luanda Botelho, o Brasil está mal posicionado no ranking de países que informaram à organização Inter-Parliamentary Union (IPU) o percentual de cadeiras em suas câmaras de deputados ocupadas por mulheres em exercício. Em dezembro de 2017, o Brasil ocupou a 152ª posição entre 190 países, com 10,5%, atrás de nações com histórico de violência contra a mulher, inclusive. Na comparação mundial, Luanda definiu como grave a situação do Brasil, que mostra o pior resultado entre os países sul-americanos.

A pesquisadora destacou que o Brasil há ainda uma participação feminina reduzida nos cargos ministeriais. Em 13 de dezembro do ano passado, dos 28 cargos de ministro, apenas dois eram ocupados por mulheres.

Segundo o IBGE, as mulheres estão em desigualdade com os homens no que se refere aos cargos gerenciais, tanto no setor público quanto no privado. Considerando cargos gerenciais por sexo, segundo os grupos de idade e cor ou raça, 62,2% dos homens ocupavam cargos gerenciais, em 2016, contra 37,8% das mulheres. Nas faixas etárias mais jovens, entre 16 a 29 anos de idade, em especial, as mulheres apresentam melhor desempenho: 43,4% contra 56,6% de homens.

A participação de mulheres no efetivo das polícias civil e militar no Brasil é um indicador importante para avaliar a representatividade da mulher e também está associada à política nacional contra a violência contra a mulher. A lei prevê que a mulher vítima de violência seja atendida, preferencialmente, por policiais do sexo feminino. Mas ainda é pequena a participação feminina nas duas corporações. Em 31 de dezembro de 2013, as mulheres representavam 13,4% do efetivo ativo das polícias militares e civis no país, de acordo com dados da Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic).

No total Brasil, a proporção de mulheres no efetivo das polícias civis dos estados brasileiros atingia 26,4%, em dezembro de 2013, enquanto a participação nas polícias militares era de 9,8%.
Professor Edgar Bom Jardim - PE