domingo, 8 de outubro de 2017

Da escola ao 1º emprego: como buscar um caminho profissional sem ter (ao menos ainda) um diploma universitário


Turma do Formare no Hotel Grand Hyatt
Image captionJovens participam de programa de capacitação oferecido pelo Hotel Grand Hyatt de São Paulo em parceria com o Instituto Formare (Foto: Ana Luiza Daltro)

O trimestre de maio a julho deste ano foi encerrado com um índice de desemprego na casa de 12,8%. O percentual assusta, mas é menor do que os 13,7% apurados no fim do período imediatamente anterior. Os dados mostram um quadro preocupante, mas que sugere que o pior da crise pode já ter ficado para trás.
Só que a situação dos trabalhadores entre 18 e 24 anos é mais complicada do que a da média. Segundo a mesma pesquisa do IBGE, nada menos do que 28,8% dos jovens nessa faixa etária estavam desocupados ao fim do primeiro trimestre de 2017. Esse percentual recorde equivale a 4,503 milhões de pessoas.
Os trabalhadores mais novos sempre sofrem mais com as crises e o desemprego decorrente. Por um lado, eles representam custos menores (e menos produtividade perdida) para as empresas na hora da demissão. De outro, a menor experiência no mercado dificulta a busca por oportunidades.
Mas é fato também que os empregos que exigem menor qualificação costumam ser os primeiros a surgirem em maior número nas retomadas. Dados do Ministério do Trabalho apontam que, das 1,24 milhão de contratações feitas no último mês de maio, quase metade foram de trabalhadores com até 29 anos.
Os maiores destaques na geração de empregos formais para os jovens foram os setores de serviços, com 21,8 mil vagas; a indústria da transformação, com 12,6 mil postos, e o comércio, com 11,8 mil. Concentrar a procura por vagas nesses segmentos é uma boa ideia para os jovens que buscam uma recolocação ou mesmo entrar no mercado de trabalho. Mas não só.

Portas de entrada

Programas de capacitação profissional são uma maneira de melhorar as próprias qualificações e, de quebra, conseguir o tão sonhado primeiro emprego. E muitos deles não apenas são gratuitos como fornecem vários tipos de auxílio. Um exemplo é o Instituto Formare, que qualifica jovens carentes para o mercado de trabalho por meio de parcerias com empresas.

Natalia Cordeiro
Image captionNatalia Cordeiro entrou para a equipe do hotel Hyatt como aprendiz (Foto: Ana Luiza Daltro)

"O nosso jovem-alvo é aquele que possui indicadores sociais desfavoráveis, mas também muita vontade de crescer. Um jovem para quem ninguém estendeu a mão ainda", resume Claudio Anjos, diretor institucional do Instituto Formare. Por indicadores sociais desfavoráveis entenda-se, neste caso específico, uma renda familiar que não ultrapasse um salário mínimo por pessoa.
Cerca de 80% dos jovens assistidos pelo programa em um dos seus 170 cursos lançados até agora conseguem vagas formais de emprego nos primeiros três meses após a formatura, a maioria nas próprias empresas em que foram treinados. Não é incomum que haja listas de mil jovens em busca das 20 vagas em média de um curso.
O primeiro funil é uma prova básica de português e matemática. Depois, entrevistas e dinâmicas de grupo em que o interesse, a força de vontade e a capacidade de colaboração dos jovens são medidos. Passada essa fase, são os indicadores socioeconômicos, junto com a proximidade entre a residência do jovem e a empresa em questão, que vão decidir quem entra ou não.
"Fazemos uma combinação entre quem mais quer e quem mais precisa", completa Beth Callia, coordenadora-geral do instituto.
O curso dura cerca de um ano e consiste em um primeiro núcleo básico e, depois, em disciplinas específicas à realidade de cada empresa. Os alunos recebem uma bolsa-auxílio de meio salário-mínimo, uniforme e todos os benefícios que a empresa parceira concede aos seus funcionários.
É comum, aliás, que estes jovens sejam os primeiros das suas famílias a contar com benefícios de qualquer ordem e, mais tarde, com um trabalho formal. A certificação é reconhecida pelo Ministério da Educação.
Gerente de treinamento e desenvolvimento do Hotel Grand Hyatt de São Paulo - parceiro do Instituto Formare e de outra iniciativa do mesmo gênero para jovens já maiores de idade e especializada na área de turismo, o Youth Career Iniciative (YCI) -, Lígia Shimizu é responsável por coordenar as ações de treinamento da equipe do hotel, de recepctionistas bilíngues a camareiras e cozinheiros, passando também pelo pessoal administrativo.
No meio desta força de trabalho estão atualmente 12 alunos do Formare e 12 do YCI, fora 30 aprendizes e 30 estagiários. Dos 70 líderes da empresa, aliás, 41 têm menos de 35 anos - caso da própria Lígia, que tem apenas 26 anos.
Durante os programas, os jovens costumam passar por todos os setores do hotel. Áreas como a recepção (que exige o conhecimento do inglês) e os setores mais administrativos (onde a maioria dos funcionários possui nível superior), no entanto, não costumam abrigar os recém-formados no programa, ao menos não de primeira. Mas a história desses jovens é repleta de casos de superação.
Formada pela turma de 2011, Natalia Cordeiro não foi efetivada logo após o curso, mas entrou na equipe do hotel um pouco mais tarde como aprendiz - muitos dos 30 ex-alunos do Formare atualmente no Hyatt foram contratados primeiro como aprendizes e estagiários, o que mostra também o quanto a persistência e a força de vontade são cruciais nessa fase da carreira.
Depois de promovida a estagiária e com significativa melhora no inglês, ela partiu para Dubai, onde trabalhou em uma unidade local da rede. De volta a São Paulo, foi contratada em abril deste ano como estagiária e, em julho, aos 22 anos, efetivada como assistente de recursos humanos.

Quando o céu é o limite

Um dos casos mais impressionantes nesse sentido é o do mineiro Everton Alves, de 35 anos. Ex-aluno da turma do Formare de 1999, ele trabalha hoje como diretor de operações e vendas da Sambatech, empresa especializada em armazenagem e distribuição de conteúdos digitais.

Everton Alves e alunos do Formare
Image captionAluno do Formare em 1999, Everton Alves (primeiro da esquerda para direita) é atualmente um dos diretores da empresa Sambatech (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

Auxiliar de pedreiro na adolescência, ele conseguiu o primeiro emprego cinco meses após se formar no projeto. Trabalhando na indústria de autopeças, ele passou rapidamente do chão de fábrica para a área de qualidade graças ao estofo fornecido pelo Formare e também por causa do curso técnico que ele decidiu fazer assim que entrou no mercado.
"A minha família inteira, que é bastante humilde, sempre trabalhou na indústria. Nós viemos de Contagem, que é uma zona industrial. E ali, na Sambatech, uma start-up, eu tinha 27 anos e era o mais velho da sala", recorda.
Com a intenção de retribuir aquilo que recebeu, Everton atuou como educador voluntário do programa entre 2009 e 2012 nas disciplinas de informática e raciocínio lógico. Uma vez, há cinco anos, foi parado na rua por um ex-aluno que havia assistido a apenas uma aula sua, a última.
"Ele me disse que aquela aula mudou a sua vida. E isso, pra mim, foi inesquecível. Eu sei o que eles estão vivendo, parece meio intangível falar em ter sucesso na carreira. Mas quando alguém como eu fala com eles é como se houvesse um espelho", diz.
O apoio da família nos períodos mais difíceis é fundamental para o jovem que não possui um diploma mas deseja crescer na carreira.
"Durante o período que eu cursava o Formare, eu simplesmente não parava em casa. Era curso o dia todo e escola de noite. Muitos dos meus amigos naquela época passavam o dia à toa, no máximo tinham (cursado) o colégio. Mas a minha família sempre me incentivou muito. Fui o primeiro a cursar uma faculdade, e todos os meus irmãos, mais novos do que eu, acabaram por também fazer o mesmo mais tarde", conta.

A importância do planejamento e das atitudes simples

Essa força de vontade na hora de aprimorar competências é fundamental e independe de grau de estudo ou condição social.

Everton Alves e alunos do Formare
Image captionAuxiliar de pedreiro na adolescência, Everton Alves (quarto da direita para a esquerda, na primeira fila) conseguiu o primeiro emprego cinco meses após se formar no curso de capacitação (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

"É preciso sacrificar uma parte das horas de lazer para dar esse upgrade nas qualificações. Não existe outro jeito. Quando você estiver finalmente empregado e com um salário um pouquinho maior, por que não fazer uma faculdade? Depois de concluir a faculdade, por que não uma pós? Ou aprender inglês, que é um diferencial e algo mais barato do que uma faculdade ou pós-graduação?", exemplifica Fernando Mantovani, diretor-geral da consultoria Robert Half no Brasil.
Seja começando a carreira com a ajuda de programas sociais de capacitação, seja com o auxílio de programas governamentais ou privados de ajuda a jovens candidatos a emprego (veja uma lista deles ao final da reportagem), seja por conta própria, é importante também focar no planejamento.
Questionamentos como para onde se quer ir, quais os próximos passos e quais são os seus pontos fracos devem ser feitos constantemente.
Para Mantovani, é preciso também relativizar a importância do ensino superior no Brasil de hoje, dada a quantidade de cursos de péssima qualidade.
"Muitas vezes o profissional se frustra porque faz aquela faculdade com bastante esforço, mas não consegue o emprego que achou que ia conseguir. A falta de controle da qualidade do ensino cria uma indústria estelionatária, onde o aluno acha que aprende e a instituição lhe dá um pedaço de papel que custou algum dinheiro mas não vale grande coisa", opina.

Everton Alves e alunos do Formare
Image captionPara retribuir aprendizado, Everton (à frente do grupo) atuou como educador voluntário do programa entre 2009 e 2012 (Foto: Everton Alves - arquivo pessoal)

Para ele, vale muito mais a pena para o jovem que batalha pelo primeiro emprego investir em um bom curso técnico - ou mesmo cursar o ensino médio técnico - do que em um curso universitário de qualidade duvidosa. E as empresas em geral e os recrutadores em particular também precisam mudar os seus parâmetros e avaliar essa questão de forma menos automática e mais cautelosa.
"É preciso ter muito cuidado com essa pressão pelo curso superior. Gestores podem acabar dando preferência a profissionais com um ensino superior ruim em detrimento de um profissional técnico bom", adverte.
Estudo recente do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) apontou que o Brasil precisará qualificar 13 milhões de trabalhadores em ocupações industriais até 2020. Em países como Alemanha, Áustria, Suíça e Japão, mais da metade de todos os estudantes cursam alguma formação técnica junto com o ensino regular.
E mesmo no Brasil não é possível associar o nível técnico a salários necessariamente mais baixos. Ainda segundo o Senai, um técnico em mineração recém-formado, por exemplo, tem hoje no país rendimentos iniciais de R$ 7 mil - salário de fazer inveja à maioria dos universitários em início de carreira.
Educação e qualificação profissional à parte, é importante lembrar que muitas vezes aquela ajuda providencial pode estar logo ao lado. A relações-públicas Camilla Assreuy, por exemplo, ainda trabalhava no setor varejista de moda quando se deparou com uma profissional que havia perdido o seu emprego como estoquista em uma loja e precisava se recolocar.
"Ela não fazia a menor ideia de como ou por onde começar a procurar trabalho", recorda.
Com uma simples consulta a um aplicativo que integrava informações e serviços para os lojistas e funcionários do shopping em questão, e que a moça desconhecia, Camila encontrou não uma, mas dez vagas de estoquista para a profissional. Ou seja: ninguém deve ter receio, vergonha ou preguiça de perguntar, pesquisar e pedir ajuda. E não só quando se trata do primeiro emprego.

Programas de qualificação gratuitos (sendo que alguns também oferecem benefícios ou feiras de oportunidades):

Instituto Formare (para jovens entre 16 e 18 anos)
http://www.formare.org.br/formare
Youth Career Iniciative (para jovens entre 18 e 24 anos)
http://www.youthcareerinitiative.org/country/brazil
Programa Jovem Protagonista (para jovens entre 16 e 29 anos)
http://jovemprotagonista.com/pt/home
Programas de emprego, estágio e/ou ligados à Lei da Aprendizagem:
Centro de Integração Empresa Escola
http://www.ciee.org.br/portal/index.asp
Programa Jovem Cidadão (para jovens entre 16 e 21 anos residentes na Grande São Paulo, em Campinas, Piracicaba, São José dos Campos e Santos)
http://www.emprego.sp.gov.br/emprego/jovem-cidadao
Programa Aprendiz Legal (para jovens entre 14 e 24 anos)
http://site.aprendizlegal.org.br
Programa Aprendiz Paulista (para jovens entre 14 e 24 anos residentes no estado)
https://www.empregasaopaulo.sp.gov.br/imoweb
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Por que é mais difícil para as mulheres lutar contra alcoolismo e dependência às drogas


Mulher bebendo na janelaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEm grupos de apoio mistos, as mulheres não encontram um ambiente que atenda suas necessidades; familiares também apoiam menos, segundo especialistas

Gabriela* percebeu que precisava de ajuda quando, depois de sair embriagada de uma festa no interior de São Paulo, bateu o carro, quebrou duas costelas e tomou mais de 40 pontos no rosto.
"Até então eu achava que estava no controle, que era só eu querer que pararia de beber", diz a engenheira civil. "Precisei quase morrer pra perceber que tinha que parar. Só que não consegui."
Depois do acidente, ela começou a ir às reuniões de um grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). Entre os que participavam das reuniões havia apenas duas mulheres - ela e uma senhora de meia idade. Gabriela, que tinha 26 anos na época, conta que imediatamente se tornou um alvo de cantadas incômodas e avanços sexuais não solicitados.
"Porque compartilhei histórias envolvendo álcool e sexo, eles achavam que podiam me abordar sobre isso. Senti que estava sendo caçada, sabe? Tipo uma presa. Estou acostumada a ambientes masculinos, mas naquele momento eu precisava de sinceridade e apoio", afirma.
De tão desconfortável, Gabriela acabou abandonando as reuniões e parou o tratamento.
Ainda lidando com o vício, ela se envolveu com um homem mais velho, que também havia frequentado o AA. "Eu estava frágil e sozinha. No início ele me ajudou a ficar sóbria, mas logo se tornou um relacionamento abusivo e eu passei a beber mais ainda", conta.
Gabriela só conseguiu ficar sóbria por mais tempo ao se internar em uma clínica de alto padrão no interior do Estado - um luxo inacessível para a maior parte das alcóolatras como ela.
Esse ambiente hostil e tóxico para mulheres que buscam combater seus vícios também foi constatado pela pesquisadora Kátia Varela Gomes - que acompanhou grupos de apoio a dependentes químicos para um estudo que fez no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) sobre dependência química e gênero.
"Falta um tratamento adequado. Fiquei chocada ao ver que as frases que os homens falavam eram exatamente as mesmas que eu havia encontrado na literatura (científica): 'mulher quando usa droga fica facinha', 'se é feio para homem beber, imagina para a mulher', etc", afirma a psicóloga.
"As mulheres se calavam e depois de algumas semanas, desistiam do tratamento."

Tratamento adequado

Diversas pesquisas apontam que o consumo de álcool entre as mulheres brasileiras tem aumentado, segundo o observatório Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).
De acordo com a Organização Panamericana de Saúde, entre 2011 e 2016 a frequência de episódios de uso abusivo de álcool (BPE - Beber Pesado Episódico) aumentou entre as mulheres de 4,6% para 13%. O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, feito em 2014, também indica o aumento desse tipo de episódio no Brasil.
O problema é que, na prática, as mulheres acabam tendo menos sucesso nos tratamentos do que os homens.

Mulher e garrafas de bebidaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo os especialistas, até profissionais de saúde muitas vezes reproduzem preconceitos e julgamentos

"Embora o uso abusivo de álcool venha aumentando entre as mulheres, o tratamento na maioria das vezes ainda é muito feito de um ponto de vista masculino e voltado para os homens", diz o psiquiatra Cirilo Tissot, especialista em dependência química e diretor da Clínica Greenwood, em São Paulo.
"Você precisa levar em consideração questões específicas das mulheres, que muitas vezes são negligenciadas: a questão hormonal, que é diferente, necessidades de cuidados pessoais diferentes", explica.
"Nas clínicas, desodorantes e produtos de cuidado pessoal são proibidos, porque a pessoa pode cheirar, ingerir. Para os homens, vir o barbeiro e cortar o cabelo uma vez durante uma internação longa é suficiente. Mas muitas mulheres querem pintar o cabelo, passar uma maquiagem. As pessoas tratam isso como futilidade, frescura. Dizem absurdos como: 'para que se maquiar, quer seduzir alguém?'. Negligenciam o que pode ser um elemento importante para trabalhar autoestima."
Segundo Kátia Gomes, o próprio planejamento dos horários do tratamento pode prejudicar as mulheres. "Se o encontro do grupo de apoio for em um horário que impossibilite as mulheres que têm filhos de levá-los à escola, elas não vão se tratar. O homem quando tem filho deixa com a mãe. As mulheres com adicção, na maioria das vezes, não têm com quem deixar", diz.
"Você tem que lidar com preconceito. Os homens falam assim: eu quero sair porque faz muito tempo que eu não transo. Se não tem namorada, ele vai num prostíbulo, e isso é visto com a maior naturalidade. Você precisa ver a coisa catastrófica que foi quando a primeira mulher disse isso na clínica. Ela avisou ao pai que queria sair no fim de semana porque fazia tempo que não transava. Foi uma crise na família", conta Tissot, cuja clínica recebe pacientes para internamentos longos e curtos.
Segundo os especialistas, até profissionais de saúde muitas vezes reproduzem preconceitos e julgamentos. "É uma luta constante para conscientizar as colegas profissionais a terem outro olhar", diz Gomes.

Abandono

A solidão à qual as mulheres que têm algum tipo de vício são expostas é outro fator a enfraquecer o tratamento, segundo os especialistas.
"Os homens que estão se tratando muitas vezes têm apoio das mulheres, da mãe e do pai, e em alguns casos até dos filhos. As mulheres, em sua maioria, estão sozinhas enfrentando suas doenças", conta Katia.
Das cerca de 50 mulheres em tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) de Guarulhos, na grande São Paulo, só duas têm companheiros que as ajudam. O problema é o mesmo na Clínica Greenwood.
"É uma percepção que tenho desde que fazia residência. Uma mulher lutando conta a dependência muito raramente vai ter o apoio do companheiro. Até a família julga mais e apoia menos quando a paciente é mulher", explica Tissot.

Camila
Image captionCamila perdeu os amigos durante o tratamento do vício: "Eles me procuravam por aquela Camila baladeira e, quando não encontravam, rolava um estranhamento"

Camila, que ficou internada na clínica durante quatro meses, é um exemplo da situação. Enquanto tentava ficar sóbria, os amigos se afastaram e a relação nunca mais foi a mesma.
"Eu comecei a beber no cursinho pré-vestibular para me enturmar. Sempre fui a baladeira, que não queria ir embora e insistia pro pessoal beber mais. Mas os homens sempre me viam como 'um dos caras' por eu beber muito. Servia para ser amiga, mas não para ter um relacionamento", diz ela.
"Depois, meus amigos sempre procuravam por essa antiga Camila e quando não a encontravam, rolava esse estranhamento", conta a administradora de empresas.
Ela conta que os pais, embora a tenham apoiado, nunca a entenderam direito.
"Eu contava das dificuldades, e eles falavam que não, não era tão grave, que a gente conseguiria resolver em família. Era uma negação mesmo de que a filhinha deles pudesse ter um vício. Tive que contar sobre as outras drogas que estava usando para eles entenderem que era sério", afirma.
Camila enfrentou a dependência química por mais de dez anos e acabou, durante esse tempo, substituindo um vício pelo outro. Teve períodos de compulsão alimentar, de consumo compulsivo e de compulsão por sexo.
Já Gabriela não teve o apoio da família para se internar. "Quando eu estava no fundo do poço meu namorado saiu de casa e minha mãe disse que eu tinha me afundado porque quis. Não me deu um centavo para o tratamento. Tive que me demitir do emprego para ficar três meses na comunidade terapêutica e ainda não terminei de pagar a dívida enorme que fiz para pagar o tratamento."

Julgamento

"O estigma colocado sobre pessoas com dependência química sempre existiu, mas a gente percebe, tratando ambos os sexos, que no caso das mulheres isso é muito mais proeminente. O julgamento é muito maior", afirma Cirilo Tissot.
"O vício não é visto como uma doença, mas como uma falha moral, uma questão de força de vontade. Ainda mais quando se trata de um problema como compulsão sexual", explica Tissot. "Em vez de ser vista como uma pessoa que precisa de tratamento e apoio, a mulher é vista como pervertida."
Camila fala tranquilamente sobre o problema com álcool e em drogas, mas hesita quando o assunto é compulsão sexual.
Ela conta que seu atual namorado entendeu e apoiou quando ela revelou seu problema com drogas e álcool, mas não aceitou muito bem ao descobrir o vício em sexo. "Até então ele entendia que eu estava doente, queria cuidar de mim, me ajudar. Mas no aspecto do sexo ele não enxergou do mesmo jeito", conta.

Pés de Camila
Image captionCamila está sóbria há mais de um ano e tenta controlar as outras compulsões, que se desenvolveram para substituir a dependência química

Tissot diz que as descobertas científicas de que vícios estão relacionados a desequilíbrios químicos do corpo foram mudando a visão sobre o tema ao longo do tempo, mas que o julgamento moral sobre as mulheres permanece até hoje.
"A repressão que existe sobre a mulher é tal que quando a pessoa fica desviante dessas expectativas, o quadro é considerado mais grave", diz ele.
Kátia Gomes diz que a dependência química feminina "configura-se como porta-voz do que é intolerável na feminilidade".
"Uma mulher que está grávida e tem uma adicção é vista como um monstro. Mas se é uma patologia ela não tem controle. Esse tipo de condenação é um tiro pela culatra, porque só aumenta o nível de ansiedade dessa mulher, que muitas vezes foi o que a levou a desenvolver o vício em primeiro lugar", explica Gomes.
Tissot afirma que mulheres que têm filhos se sentem muito mais culpadas que os homens de se afastar por alguns meses para se tratar. "A gente explica que ela precisa estar bem. Não adianta estar aqui fora e não ter condições de cuidar dos filhos."
Centenas pesquisas feitas nos EUA apontam as diferenças entre os gêneros na questão da dependência química.
Segundo uma revisão da literatura científica publicada por pesquisadoras como Shelly F. Greenfield, da Escola de Medicina de Harvard, e Susan M. Gordon, da Universidade do Arizona, estudos feiros entre 1990 e 2005 já indicavam que as mulheres com a patologia têm menor chance de obter tratamento adequado.
Já no Brasil, a pesquisa de Katia Varela Gomes, publicada em 2010, foi apenas a quinta a estudar as especificidades da dependência e do tratamento em mulheres.
"A própria falta de pesquisas na área por aqui mostra essa desigualdade", afirma a psicóloga, ressaltando que, em condições não preconceituosas e equânimes, as mulheres teriam tanta chance de recuperação quanto os homens em um tratamento.
Hoje ela trabalha no CAPs (Centro de Atendimento Psicossocial) de Guarulhos com grupos de apoio exclusivos que atendem as demandas específicas das mulheres. Ela afirma que a chance de uma mulher se recuperar não é diferente da de um homem se ela receber apoio e tratamento apropriado. "Eu vejo muitas histórias de sucesso, de mulheres que estão recuperadas e levando uma vida bem mais funcional e feliz."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

'A perseguição nunca acabou', diz autor de livro sobre caçada nazista a gays


Gays em campo nazista
Image captionNos campos de concentração, gays eram discriminados pelos próprios presos e recebiam as piores tarefas / Foto: Divulgação

A Alemanha está finalmente terminando de fazer as pazes com uma parte sombria de seu passado.
Seu Parlamento aprovou neste ano o perdão a dezenas de milhares de homens homossexuais presos por conta de uma lei que permitiu aos nazistas fazer uma caçada aos gays no país - e que permaneceu em vigor décadas após a queda do Terceiro Reich.
"O nazistas queriam expurgar o país da homossexualidade", diz Ken Setterington, autor de Marcados pelo Triângulo Rosa (Melhoramentos), obra recém-lançada no Brasil que trata da opressão vivida por gays no regime de Hitler.
"Gays eram vistos como um atraso, porque não reproduziam e, se fizessem isso, acreditava-se que podiam gerar bebês gays. Isso não condizia com o ideal ariano."
O título do livro faz referência ao símbolo usado nos uniformes para identificar homossexuais em campos de concentração.
Esse capítulo do Holocausto permaneceu oculto por muitos anos e veio à tona com a publicação dos primeiros relatos de vítimas em meados dos anos 1970. Mas está caindo no esquecimento para as novas gerações, diz Setterington.
Trabalhando em uma biblioteca pública em Toronto, no Canadá, o escritor, que é gay, notou nas conversas que tinha com jovens que quase nenhum deles sabia o significado do triângulo rosa.
Usado nos primeiros protestos LGBT, o símbolo perdeu aos poucos espaço para a bandeira do arco-íris. "A bandeira representa a diversidade e é mais inclusiva. É bom que seja popular, mas precisamos nos lembrar de quem foi assassinado por sua homossexualidade", diz Setterington.
Ele diz ter escrito o livro porque essa é "uma parte da história gay que está se perdendo" e para que o público mais jovem "aprenda com o passado para seguir em frente e impedir que se repita".
"Veja o que acontece hoje... Tenho o privilégio de ser do Canadá, mas há locais onde homossexuais ainda são presos e executados. É assustador. A perseguição nunca acabou."

Parágrafo 175

Na Alemanha, estima-se que 50 mil homens homossexuais alemães tenham sido condenados entre 1949 e 1969, dos quais 5 mil ainda estariam vivos.
O perdão concedido a esse grupo conclui um processo iniciado no início da década passada com outros 42 mil presos que tiveram suas condenações pelo regime fascista anuladas.
O parágrafo 175 fazia parte do Código Penal alemão desde 1871 - e só foi eliminado por completo em 1994. A legislação criminalizava atos homossexuais, mas era raramente aplicada.
Foi após Hitler assumir o comando da Alemanha que seu texto passou a vetar, partir de 1935, qualquer tipo de "ato lascivo" entre pessoas do mesmo sexo, e a pena passou a ser de dez anos de trabalho forçado.

Homenagem a gays do Holocausto
Image captionPerseguição a gays por nazistas só veio à tona em meados dos anos 1970 / Foto: Divulgação

Isso transformou radicalmente Berlim, que era até então uma cidade onde gays e lésbicas podiam levar uma vida relativamente normal. Bares e boates frequentados por esse público foram fechados, e homens homossexuais tornaram-se um alvo.
"As prisões começaram devagar e tiveram seu auge entre 1937 e 1939. Logo ficou claro que eles não seriam libertados, mas mandados para os campos", diz.
"Já os gays dos países invadidos não eram presos. Os nazistas acreditavam que mantendo eles lá estavam ajudando a destruir essas sociedades por dentro."

Tratamento cruel

Historiadores não têm pistas de o que levou à escolha do triângulo rosa para identificar homossexuais - principalmente homens, pois lésbicas não sofreram o mesmo grau de perseguição do regime nazista e, quando eram presas, eram normalmente como antissociais, um tipo de detento identificado por um triângulo negro.
Uma vez nos campos, gays recebiam um tratamento cruel. Cabiam a eles os piores trabalhos, diz o escritor canadense. Eram mantidos em barracões separados e discriminados pelos outros prisioneiros.
"A única forma de aliviar essa situação brutal era conseguir a proteção de um kapo, um prisioneiro que recebia dos guardas algum tipo de autoridade sobre os outros. Em troca de favores sexuais, podiam fazer trabalhos mais leves ou conseguir comida extra", relata Setterington.
"Mas isso não significava que eles tinham um relacionamento. O amor era impossível nos campos. Nem servia de garantia alguma. Um triângulo rosa era ser facilmente substituído por outro mais jovem ou mais atraente."
Aos alemães gays, era oferecida uma chance de liberdade: se aceitassem a castração, podiam deixar os campos - diretamente para o front, onde serviam de "bucha de canhão" para o exército alemão.

'A libertação não chegou para eles'


Ken Setterington e capa de seu livro
Image captionEscritor diz que o desconhecimento de jovens sobre esse capítulo do Holocausto o levou a fazer o livro / Foto: Divulgação

Nem o fim da guerra acabou com o sofrimento desses prisioneiros. Sob a lei alemã, eles haviam cometido um crime e, caso sua pena não tivesse acabado, saíam dos campos de concentração para ir parar direto atrás das grades.
"A libertação chegou para os outros, mas não para eles. Eles ainda se mantiveram em silêncio por anos, porque não podiam admitir que eram homossexuais e só fizeram isso quando eram mais velhos e não tinham nada a perder."
Setterington diz que o perdão do Estado alemão, concedido à absoluta maioria deles de forma póstuma, demorou muito tempo e "não apaga a história", mas ainda assim é importante para reafirmar que os nazistas estavam errados.
"Hoje, a tolerância é maior, mas a Alemanha nazista prova que as coisas podem mudar da noite para o dia, como o presidente dos Estados Unidos (Donald Trump) acaba de fazer ao vetar novamente transexuais nas Forças Armadas", afirma o autor.
"O ódio e o medo do diferente persistem. Temos de estar sempre vigilantes."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Novos cidadãos joãoalfredenses

Na tarde desse sábado tivemos a oportunidade de abraçar mais 3 novos conterrâneos. Agora são cidadãos joãoalfredenses os jornalistas Magno Martins (Blog do Magno) e Jô Mazarollo (Gerente de Jornalismo da Globo Nordeste), e o Bispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. A sessão solene ainda contemplou o filho da terra Genil Gomes, extensionista que saiu do Sítio Ribeiro Grande para se tornar presidente do IPA, com a medalha de Mérito da Boa Vista. Nos sentimos honrados com os títulos. João Alfredo, a cidade feliz, abraça a todos com muito carinho.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 7 de outubro de 2017

Feira do Artesanato no Festival da Cultura em João Alfredo


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Morre mais uma criança de creche incendiada em Minas Gerais


Na manhã deste sábado (7), mais um criança foi a óbito. Talita Vitória Bispo, de 4 anos, não resistiu e morreu no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Já são dez vítimas fatais no ataque incendiário, causado na última quinta-feira (5).

Talita havia sido transferida para Belo Horizonte às 5h deste sábado, juntamente a outra criança de 5 anos que se recupera dos ferimentos. 

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 Mais nove pacientes se recuperam na Santa Casa de Misericória de Montes Claros: duas adultas de 51 e 23 anos e sete crianças com idade entre 6 e 3 anos.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Novidades na XI edição da Bienal Internacional do Livro em Pernambuco


A XI edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco abriu as portas nesta sexta-feira (6) com o público bastante resumido se comparado aos anos anteriores. Na noite de abertura, a feira contou com a presença do Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que discursou sobre a importância dos equipamentos culturais do Estado e prometeu a restauração de alguns deles. O prefeito de Olinda, Professor Lupércio, e o secretário de Cultura de Olinda, Gilberto Sobral, acompanhavam o ministro.

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Com o tema “Literatura, Democracia e Liberdade”, a feira homenageia os escritores Fernando Monteiro e Lima Barreto (in memoriam) e conta com espaços diferenciados para palestras, oficinas literárias, bate-papos, apresentações infantis, culturais e outras atividades. 

Este ano, os visitantes vão dispor de um setor específico para a cultura geek, que reúne desenhistas independentes de quadrinhos e propõe debates com escritores e artistas. A plataforma Bienal Geek - Távola Nerd foi aprovado pela estudante de Recursos Humanos Caroline Vantteroni, de 23 anos. "É a primeira vez que vejo um espaço para a cultura nerd e estou gostando", comentou.

Outra novidade é o espaço do Ministério da Educação. Equipado com painéis interativos, o espaço conta a história de programas do MEC, explicando o novo sistema de ensino médio, a escola em tempo integral e traz também um infográfico sobre os 80 anos das Políticas Públicas dos Programas do Livro no país. Além disso, é possível interagir ainda com um “livro virtual”, que conta histórias sobre os equipamentos da Fundação Joaquim Nabuco. 

O que também tem chamado atenção do público é um projeto de doação de livros vindo do Mato Grosso. O idealizador Clóvis Matos, de 62 anos, decidiu arrecadar livros infantis e reservar sua Kombi para leva-los à lugares em que crianças possuem pouco acesso a leitura.

A XI edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco segue até o próximo dia 15 de outubro, das 10h às 22h, no Centro de Convenções de Pernambuco, localizado na Avenida Professor Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho, em Olinda. Os ingressos custam R$ 10 (inteira), R$ 7 (ingresso social com pagamento mediante entrega de 1kg de alimento não perecível) e R$ 5 (meia).
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Festival da Cultura inicia com a I Cavalgada de João Alfredo.


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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Vamos para o cinema! "Sob o delírio de Agosto", o filme, revela atores bonjardinenses em cena

Nesta sexta-feira, 06 de outubro 2017.
Local: Centro Cultural  Marineide Braz - Bom Jardim - PE
Indicado para maiores de 14 anos.
Entrada Franca


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João Alfredo ficando mais bonita

Falta apenas um dia para começar o Festival da Cultura. Esse ano, estamos homenageando Dimas Santos.
Fonte: Maria Sebastiana
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