quarta-feira, 9 de agosto de 2017

PEC que torna estupro crime imprescritível foi aprovada no Senado


O plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira (9), em segundo turno, a proposta de emenda à Constituição que torna imprescritíveis os crimes de estupro. O texto, do senador Jorge Viana (PT-AC), foi aprovado por 61 votos favoráveis e nenhum contrário e segue agora para a Câmara dos Deputados.

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Com isso, não haverá mais tempo mínimo para que as vítimas desse tipo de crime façam a denúncia à Justiça. Hoje, esse prazo é de 20 anos, após o qual, mesmo que a vítima denuncie, o autor do crime não pode mais responder por ele. A lei atual estabelece que o estupro é crime inafiançável e hediondo, o que agrava a pena e reduz o acesso a benefícios relacionados à execução penal.

Apesar das punições já mais duras, a relatora da matéria, senadora Simone Tebet (PMDB-MS), acredita que a retirada da prescrição será importante especialmente nos casos em que a vítima é criança e só tem condições de denunciar depois de adulta.

Além dos casos de menoes de idade e de situações em que o abuso ocorre dentro do ambiente familiar, há ainda casos em que as vítimas têm vergonha de denunciar porque sofrem preconceito a respeito do local em que estavam ou da roupa que estavam usando, na opinião da senadora.

“É esse lapso de tempo que fertiliza a impunidade, e é essa impunidade que se pretende combater, ao tornar o estupro, como o racismo, um crime imprescritível”, afirmou a relatora.

Para o autor da proposta, a mudança vai ajudar a revelar casos mesmo após muitos anos. “Esta Proposta de Emenda a Constituição é uma resposta, é uma voz que vai se sobrepor ao silêncio que temos hoje desse quase meio milhão de crimes de estupro [por ano] que o Brasil vive e silencia”, afirmou Jorge Viana.

Para o senador, a mudança constitucional “manda um recado duro para os estupradores que fazem do Brasil um país campeão de estupros, dizendo: 'olha, se você cometer um estupro, a qualquer momento você pagará por ele'”.
Com
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Ditadura:Temer pede ao Supremo suspeição de Rodrigo Janot


O presidente Michel Temer pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a suspeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Uma petição foi entregue à corte nesta terça-feira (8) em meio ao inquérito do "quadrilhão" do PMDB.

"Já se tornou público e notório que a atuação do PGR, em casos envolvendo o presidente, vem extrapolando em muito os seus limites constitucionais e legais inerentes ao cargo que ocupa. Não estamos, evidentemente, diante de mera atuação institucional", escreveu Antônio Cláudio Mariz, advogado de Temer, no pedido ao Supremo.
Para a defesa do presidente, a motivação de Janot é "pessoal". "Estamos assistindo a uma obsessiva conduta persecutória", acrescentou Mariz.
O embate entre Temer e o procurador-geral teve início em maio deste ano, por causa da delação premiada de sete executivos da JBS. O empresário Joesley Batista gravou o presidente no Palácio do Jaburu, áudio que fez parte da colaboração feita com procuradores.

Após as revelações feitas pelo grupo, Janot abriu investigações sobre Temer e o denunciou pelo crime de corrupção passiva - rejeitada pela Câmara dos Deputados. Mais duas denúncias que têm o peemedebista como foco ainda são esperadas: de organização criminosa e obstrução de Justiça.

Para Mariz, o auge do conflito foi quando o procurador-geral pronunciou a frase "enquanto houver bambu, lá vai flecha", em um congresso de jornalistas em São Paulo. "Portanto, provar é de somenos, o importante é flechar", disse Mariz


Com informação da Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Saberes e narrativas e o jogo da memória

O esquecimento ajuda a deixar dores antigas, mas não há esquecimentos absolutos. A memória joga com entrelaçamentos e surpresas. A linearidade não se firma. As lembranças aparecem e desaparecem. Não sabemos quando elas retornam. Algumas incomodam, outras nos enchem de prazeres. Nosso domínio sobre a vida e suas aventuras é frágil. Temos muitas perguntas, lamentamos a falta de sentido, desconfiamos de muitas coisas. Será que suportaremos os tremores da história e descobriremos quem a inventou?  Quem quer se agarrar em profecias?
Há dificuldade em se estabelecer o sentido da tanta complexidade. Os saberes estão diluídos. Envolvem-se com a competição e exigem seriedade. Onde ficam o prazer e a alegria? A mudez entra na sala de aula quem concentrar conhecimentos e se deixa levar pela vaidade. Elegem-se autores que conseguem desmanchar os mistérios e seus sacerdotes. As hierarquias não se vão. O discurso é democrático, exalta a multiplicidade mais a convivência é tensa. Criam-se as ambiguidades e os monopólios. Cada um na sua estratégia, revivendo experiências ou desfazendo ressacas.
As artes de conversar, de inquietar a memória, de dividir experiências tornaram-se raras. É a sociedade da comunicação que se perde no controle permanente. Muitas novidades e escassos momentos para ouvir o outro. A corda se estica e a palavra termina provocando a ação. A solidão se apresenta como uma fortaleza. Não se ousa desconstruir. Há receio de  ser punido com uma crítica. Os saberes mostram os limites. Os sacerdotes do profano estão refazendo dogmas e nem percebem a insegurança de mestres que vulgarizam discípulos. Descontam um memória amarga do passado, presos em ressentimentos.
Não  se busca os mitos . Já leram a Odisseia? O texto é belo e nos lembra a psicanálise. O que seria de Freud sem os mitos e Jung sem seus arquétipos. As fantasias nunca são inúteis. É preciso, para alguns, não perder a seriedade, não desprezar os títulos. O lugar do pode se expande. Nem todos estão autorizados a debater. Há regras e louvações diante das hierarquias. O tempo se costura de forma vacilante. A inibição arquiteta um silêncio. Os saberes instituem propriedades privadas de escritas. Talvez, sejamos todos grupelhos. Os senhores do saber esgotam-se nos olhares duros, prestigiam silêncios demolidores.
A política se choca com muitos desenganos. Ela está em toda parte. Cada relação seduz, oprime ou desencanta. A política mora em todas elas de forma astuciosa, não é monopólio de Jucá ou Renan. Quem se arrisca a desmantelar o poder em lugares com regras centralizadoras? Não faltam reclamações, nem sempre os totalitários se tocam e retomam a sensibilidade. A sociedade se veste de sociabilidades surpreendentes. Não poderia se diferente. O que causa espanto é a morte disfarçada do coletivo. Os espelhos estão reservados para poucas. A sagração do êxito é uma religião que segura as distinções e sufoca o ânimo. Quem se ocupa no mundo dos vazios epidêmicos?
Professor Edgar Bom Jardim - PE

O que leva às compras por impulso - e como educar a mente para fugir delas


Bolsas de comprasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionComprar pode melhorar o humor, segundo um estudo publicado em revista científica

Poucas sensações são tão prazerosas quanto a de uma compra por impulso.
Comprar pode melhorar o humor, segundo um estudo publicado na revista científica Psychology and Marketing, e gera em nosso cérebro um efeito semelhante ao sentido por usuários de drogas.
Uma pesquisa feita em 2016 com mais de mil adultos nos Estados Unidos revelou que 96% deles disseram ter comprado algo para fazê-los sentir melhor.
Mas os benefícios da "terapia da compra" geralmente duram pouco e podem gerar efeitos colaterais negativos a longo prazo.
Emoções negativas podem levar à perda da autoestima, e isso frequentemente acaba incentivando as pessoas a comprar quando se sentem deprimidas. A contrapartida: essas mesmas emoções negativas acabam voltando, em forma de remorso e culpa, se comprarmos mais do que devemos ou do que planejamos.

Terapia focada em compaixão

Mas há algumas formas lidar com essa impulsividade sem se endividar no cartão de crédito ou mergulhar numa espiral descendente de tristeza.
"Ao comprar impulsivamente estamos na verdade tentando controlar nossas emoções", afirma Joanne Corrigan, psicóloga clínica especializada em terapia focada em compaixão e baseada em Sydney, na Austrália.
Trata-se de um tipo de psicoterapia voltada para ajudar pessoas com problemas de saúde mental relacionados à vergonha e à autocrítica.
"Não gostamos de emoções angustiantes ou desconfortáveis. Então, fazemos coisas de curta duração para nos sentirmos bem naquele momento", explica Corrigan.
Segundo estudos, quando nos sentimos deprimidos ou aflitos, nossa capacidade de autocontrole diminui, aumentando a probabilidade de tomarmos decisões erradas. A tristeza nos leva ter pensamentos mais imediatistas e um desejo por uma recompensa imediata à custa de maiores ganhos futuros.

Mulheres se abraçandoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSegundo estudos, quando nos sentimos deprimidos ou aflitos, nossa capacidade de autocontrole diminui, aumentando a probabilidade de tomarmos decisões erradas

Angústia míope

Esse fenômeno foi batizado como "angústia míope" por Jennifer Lerner, professora de psicologia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e por suas colegas Ye Li e Elke Weber, da Universidade de Columbia, em um artigo sobre o assunto.
Mas se podemos entender por que queremos comprar coisas quando estamos deprimidos, e sabemos que comprar nos faz sentir bem, poderíamos enganar nossos cérebros de modo a desencadear sentimentos positivos sem ter de gastar dinheiro?
Corrigan diz que sim. Se pudermos motivar nosso "cérebro passional" - a parte que acalma sentimentos de ansiedade - então não precisamos dar vazão ao impulso e buscarmos esses pequenos estímulos prazerosos de curta duração.
"Quando estamos ansiosos, nosso cérebro libera adrenalina, cortisol e dopamina, mas você pode reduzir os níveis dessas substâncias ao ativar a parte do cérebro que libera endorfina e oxitocina, e você vai acabar reagindo de forma diferente", diz ela.

Homem pensativoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAutocontrole é chave para combater impulso para comprar quando estamos deprimidos

Autocontrole

Segundo Robert Frank, economista da Universidade de Cornell, nos EUA, a chave para combater o impulso para comprar quando estamos deprimidos é o autocontrole.
Ele cita o trabalho do psicólogo Walter Mischel, da Universidade de Stanford, que realizou na década de 60 o "experimento do marshmallow", a fim de pesquisar sobre psicologia infantil e gratificação retardada.
O objetivo era analisar o autocontrole de crianças ao oferecer entre uma pequena recompensa imediata ou duas pequenas recompensas se elas esperassem por curto período de tempo.
Estudos posteriores descobriram que as crianças que estavam dispostas a esperar mais tempo pelas recompensas tendiam a obter melhores pontuações ao longo da vida, seja em testes cognitivos, seja até mesmo no IMC (Índice de Massa Corporal).
Assim, na opinião de Frank, para atingir uma sensação de bem-estar mais duradoura, precisamos ir além do impulso da gratificação imediata.
"Você precisa ter uma visão de longo prazo do que realmente vale a pena, mas esse é um ponto que as pessoas têm muita dificuldade para entender: dar peso suficiente a coisas que acontecem não agora, mas no futuro."
Para muitas pessoas, a impulsividade dificulta a reflexão, a lógica e o autocontrole. Apesar disso, a psicóloga Corrigan defende que temos os instrumentos necessários para controlar tais impulsos.
Segundo ela, nossos cérebros estão equipados com o que precisamos para nos sentir contentes e felizes se focarmos em sentimentos de gratidão e compaixão, sem ter de recorrer a nenhuma compra.

Conexões neuraisDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPara especialista, nossos cérebros estão equipados com o que precisamos para nos sentir contentes e felizes se focarmos em sentimentos de gratidão e compaixão

Sentir-se grato

David DeSteno, professor de psicologia na Universidade de Northeastern em Boston, passou décadas pesquisando os efeitos das emoções positivas no processo decisório. Sua pesquisa indica que sentir-se simplesmente agracecido pode mudar a forma como agimos.
Em seu Social Emotions Lab (Laboratório de Emoções Sociais), DeSteno deu aos participantes a opção entre escolher receber US$ 30 (R$ 94) imediatamente ou US$ 70 (R$ 220) em três semanas.
Segundo ele, quando se sentiam agradecidos, os voluntários eram capazes de sobrepor o desejo por gratificação imediata e escolher a segunda opção.
Além disso, ao acompanhar o grupo por algumas semanas, DeSteno concluiu que aqueles que se sentiram agradecidos com mais frequência tinham maior capacidade de resistir a compras impulsivas e também demonstraram maior senso de autocontrole.
"Quando você se sente agradecido, não apenas isso o ajuda a resistir a vontade de fazer uma compra impulsiva, mas também o deixa se sentir bem da mesma forma que comprar algo. Então, trata-se de uma experiência prazerosa que também lhe permite valorizar o futuro e ter maior autocontrole", explica ele.
Pode ser tão simples quanto pensar em alguma coisa pela qual você se sente grato, independentemente do que seja, reforça o especialista.
Mas focar nas mesmas coisas, ressalva, significa reduzir seu poder influência.
Em vez disso, DeSteno aconselha refletir sobre coisas pequenas que acontecem com você: "alguém que lhe cedeu a vez numa fila, alguém que lhe fez um gesto de generosidade".
Ajudar os outros, como parar o que você está fazendo para colaborar com um colega, reforça esse ciclo de gratidão, defende o especialista.

O poder do altruísmo

Mas se, apesar de tudo isso, você ainda sente uma vontade muito forte de comprar, seja altruísta.
Elizabeth Dunn, professora de psicologia da Universidade de British Columbia, no Canadá, estuda a ligação entre felicidade e dinheiro.
Ela realizou um estudo no país e em Uganda pelo qual deu uma pequena quantidade de dinheiro aos participantes. Em seguida, pediu à metade do grupo para gastá-la consigo mesma, enquanto os outros deveriam gastar com alguma outra coisa.
Aqueles que compraram algo para outra pessoa tinham um sentimento de bem-estar mais duradouro, revelou a pesquisa, comparado com aqueles que gastaram o dinheiro consigo mesmos.
"As pessoas se sentiram significativamente mais felizes quando olharam para trás e refletiram sobre o momento em que gastaram dinheiro com os outros, ao invés delas mesmas", disse Dunn em uma palestra recente.
Por isso, da próxima vez que você sentir a necessidade de comprar algo impulsivamente, reflita sobre alguma coisa pela qual você se sinta agradecido; se isso não funcionar, considere presentear outra pessoa.
Os benefícios decorrentes dessas ações podem ser um passo rumo ao melhor autocontrole.
"Quanto mais você se sentir agradecido em seu dia a dia", diz DeSteno, "mais preparado você vai estar para ter maior controle e resistir a essas tentações quando elas aparecerem."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A economia como fraude

infraestrutura
Com o investimento público em infraestrutura, os governos querem ajudar a economia a funcionar de forma mais rentável


Uma das características da economia atual é o uso de uma lógica superficialmente plausível para afastar a discussão da substância real, adverte o economista Michael Hudson, pesquisador e professor emérito da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, e da Universidade de Pequim, na China.
Isso é feito, por exemplo, refinando-se a demagogia de que impostos baixos para os privilegiados são benéficos para o resto da sociedade. “O objetivo é compor uma história verossímil para convencer a população, especialmente as classes mais baixas, a identificar seu bem-estar com o da oligarquia, a acreditar que só aquele 1% mais rico pode salvá-los, oferecer-lhes empregos e financiamentos”, ensina Hudson.
Para desvendar os absurdos e as fraudes intelectuais escondidas na terminologia própria da economia, ele publicou neste ano o livro J Is For Junk Economics: A Guide to Reality In an Age of Deception, em que procura demonstrar “como um vocabulário orwelliano domina a mídia, o ensino da economia e até mesmo a representação estatística do seu funcionamento”.
Tudo se passa, diz, como se não houvesse exploração, quase nenhuma renda da propriedade e de investimentos nem ganhos de capital derivados da inflação dos preçosdos ativos, apesar de estes serem o principal  objetivo dos investidores imobiliários e financeiros.
A seguir, uma seleção feita por CartaCapital de verbetes do capítulo intitulado “Os 22 mitos econômicos mais prejudiciais do nosso tempo”, desvendados pelo autor.

Mito: O setor público é um peso morto e a atividade do governo é uma despesa extra desnecessária. A conclusão é de que os gastos públicos devem ser minimizados.
Realidade: O investimento em infraestrutura pública é um fator de produção. Seu papel é reduzir o custo de vida e facilitar os negócios, fornecendo serviços de transporte, comunicações e cuidados com a saúde, entre outros, a preço de custo, de forma subsidiada ou livremente. O investimento público em tais monopólios naturais os mantém fora das mãos de privatizadores, rentistas e financistas.
Mito: Os ganhos de capital não são receitas e, portanto, não devem estar sujeitos a Imposto de Renda ou contribuições para financiar a Previdência Social.
Realidade: Os administradores de investimentos definem os retornos totais como a renda corrente mais os ganhos de preço dos ativos. Esses ganhos são o principal objetivo dos investidores dos setores de finanças, seguros e imóveis.
No entanto, em nenhum lugar das contas nacionais ou nas estatísticas do balanço patrimonial do Banco Central há uma medida de ganhos de preços de ativos para terrenos, ações e outros títulos financeiros.
No que diz respeito às estatísticas oficiais, o princípio orientador parece ser o de que aquilo que não é visto, não será tributado ou regulamentado. O imposto sobre a renda nos Estados Unidos em 1913, por exemplo, aplicou as mesmas taxas para os ganhos de capital e os rendimentos, a partir da suposição de que o efeito seria o mesmo:  um aumento de riqueza e “poupança”.
Ao contrário dos salários e dos lucros, os ganhos de preços de ativos não resultam tanto do esforço próprio dos seus donos. É o caso dos ganhos a partir de: 1. Investimento em infraestrutura pública, aumentando o valor dos imóveis do entorno.
2. Aumento da demanda do mercado para habitação e de estoques a partir de uma maior prosperidade nacional.
3. Políticas de crédito fácil estabelecidas pelo Banco Central (quantitative easing, ou aumento do volume de dinheiro no mercado, provocado com a compra intensiva de títulos públicos pelo BC) para baixar as taxas de juro e aumentar os preços dos títulos.
Essas maneiras de enriquecer são tributadas com impostos mais baixos em comparação àqueles incidentes sobre os salários e os lucros industriais obtidos com a formação de capital tangível.
Foi isso que fez do 1% mais abastado da sociedade uma classe principalmente rentista, enriquecida com o subsídio público e beneficiando-se ainda de impostos baixos sobre os ganhos obtidos a partir da propriedade e os retornos financeiros da alavancagem da dívida. 
Wall Street
Wall Street e outras cleptocracias financeiras visam usar as privatizações só como oportunidades de ganho (Foto: Spencer Platt/Getty Images)
Mito: A privatização é mais eficiente do que a propriedade e a gestão públicas.
Realidade: investimento público em infraestrutura tem sido a principal categoria de formação de capital desde tempos imemoriais. Em vez de buscar lucro com esse investimento, os governos visam subsidiar os preços cobrados pelos serviços básicos de infraestrutura, de modo a tornar a economia mais competitiva.
O objetivo não é, entretanto, ajudar o setor privado a obter lucros, mas a funcionar de forma mais rentável. Os monopólios mais cruciais são aqueles que os governos mantiveram por muito tempo sob domínio público: estradas e outros transportes básicos, correios e comunicações, pesquisa e desenvolvimento, saúde pública e educação.
A privatização gera juros e outras taxas de propriedade para os rentistas, salários e bônus para executivos, ao mesmo tempo que oferece oportunidades de obtenção de aluguéis extorsivos. Usar esses setores como oportunidades para extrair renda, juros e taxas é o sonho das cleptocracias financeiras.
O objetivo é obter ganhos de capital, com políticas tributárias que revertem as reformas progressistas. O fornecimento e o preço dos transportes, das comunicações, da água e da saúde pública são em grande parte responsáveis ​​pelas diferenças de custos internacionais.
No entanto, em nenhuma parte da teoria do comércio de “mercado livre” esse papel do investimento público é levado em conta nos índices de custo comparativos ou nas análises de custo absoluto. As contas nacionais não creditam a formação de capital (infraestrutura pública) pelo governo como um ativo, em contrapartida aos gastos, no cálculo de déficits ou excedentes orçamentários.

Mito: Os déficits do governo são ruins, os orçamentos equilibrados são bons e os superavitários, ainda melhores.
Realidade: Quando os governos geram déficits (exceto para salvar bancos e pagar detentores de títulos públicos), eles colocam dinheiro na economia. Mas, se eles executam um orçamento equilibrado (ou, pior ainda, um orçamento superavitário), isso retira receitas da economia.
Foi o que ocorreu quando o ex-presidente Andrew Jackson, dos Estados Unidos, executou superávits orçamentários deflacionários na década de 1830, depois de fechar o Banco dos Estados Unidos. Aconteceu novamente após a Guerra Civil, quando os EUA procuraram reverter os preços para os níveis anteriores a 1860, causando depressão prolongada.
Os apelos para os governos manterem orçamentos equilibrados emanam do movimento do setor bancário para substituir os tesouros nacionais como fonte de dinheiro e crédito.
Quando o presidente Bill Clinton gerou um superávit orçamentário no final de sua administração, no fim da década de 1990, isso obrigou a economia americana a confiar em bancos comerciais para fornecer o crédito necessário para crescer.
Ao contrário dos gastos do governo, que podem ser autofinanciados, os bancos cobram juros e taxas pela criação de crédito – e criam crédito principalmente para aumentar os preços de ativos, não para estimular o emprego e a formação de capital tangível.

Mito: Os cortes nas despesas públicas colocam o Orçamento do governo em equilíbrio, restaurando a estabilidade.
Realidade: Ao contrário das dívidas do setor privado, as do governo não podem ser objeto de baixa contábil. Os empréstimos do Fundo Monetário Internacional aos governos, para resgatar os detentores de títulos privados (principalmente os bancos e o 1% mais rico), deixam inexoravelmente um resíduo de pressões e exigências do Fundo sobre os governos.
As condicionalidades impostas – reduções nas despesas públicas, da previdência e aumento dos impostos sobre o trabalho – aprofundam o déficit orçamentário. Isso leva o organismo e os ministros das Finanças a pressionar por uma austeridade ainda mais severa, como se o seu “remédio” não fizesse sangrar e não enfraquecesse a vítima endividada.
A espiral descendente resultante é o objetivo real da austeridade, porque o agravamento da crise financeira de um governo força privatizações. Isso é especialmente claro na conquista financeira da Grécia desde 2010.
Produção em taubaté
Os lucros da indústria são mais tributados que os do setor financeiro, mas tem menos a ver com o esforço dos seus donos (Foto: Renato Frasnelli/Volkswagen do Brasil)
Mito: O critério da ciência econômica é demonstrar que as economias tendem à estabilidade e a uma distribuição cada vez mais justa e equitativa de renda e da riqueza. Modelos de polarização ou atrofia não têm uma resolução matemática simples, portanto, não se enquadram na definição de ciência econômica propriamente dita.
Realidade: Os setores financeiro e imobiliário buscam controlar os conteúdos do ensino e os meios de comunicação para desencorajar reformas que retardariam a sua busca da monopolização da riqueza e do poder político.
Esse controle é realizado por meio da alteração do significado do vocabulário econômico e da eliminação do estudo da história econômica. O antídoto para a economia-lixo ensinada após essas modificações precisa, entretanto, explicar por que as economias tendem a se tornar mais instáveis e mais polarizadas como resultado de sua própria dinâmica interna e, acima de tudo, a sua dinâmica do crédito e da dívida e a não tributação da renda do investimento.
Com Carta Capital
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Filmes para saber mais sobre Arte


Crédito: Patrick Cassimiro

O cinema permite nos aproximar de histórias, explorar conceitos, conhecer e ter contato com outras realidades. Apesar de ser um recurso interessante para trabalhar em sala de aula, também pode ser uma ferramenta de formação do próprio professor. Por isso, listamos 10 títulos disponíveis no catálogo da Netflix que podem auxiliar nestes dois casos, além de indicar conteúdos de NOVA ESCOLA complementares aos temas.Selecionamos filmes para trabalhar arte urbana, consumo e cidade; para discutir o declínio do cinema mudo; literatura e feminismo e o impacto da música na vida escolar e pessoal dos alunos. Além disso, indicamos três produções biográficos sobre artistas plásticos que deixaram suas marcas estilísticas na arte. Uma boa dica para aproveitar as férias - ou o fim de semana. Confira:

ARTE URBANA1. Cidade CinzaEste documentário brasileiro tem tudo a ver com as atuais discussões sobre Arte e cidade. Dirigido por  Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, “Cidade Cinza” tem como cenário a capital paulistana e traz depoimentos de grafiteiros que ilustram prédios e muros de São Paulo, como Os Gêmeos, Nina e Nunca. Com a Lei Cidade Limpa, que propõe diminuir a poluição visual da cidade, muitos grafites começaram a desaparecer encobertos por tinta cinza pela prefeitura. Também é mostrado a relação dessa forma gráfica com o hip-hop. Apesar de contemplar apenas o grafite, o documentário pode ser ponto de partida para discussões sobre cultura urbana, como as pichações se encaixam nesse contexto e como os movimentos e campanhas de “limpeza” da cidade influenciam o urbano. Para ajudar na reflexão, indicamos dois textos disponíveis em NOVA ESCOLA: Pixação é vandalismo? e O hip-hop das ruas chega às aulas.


2. Saving Banksy
Ainda falando sobre arte urbana, esse documentário aborda o tema sobre um outro viés: aqui os artistas que depõem no filme também têm suas obras apagadas e já foram presos quase 100 vezes por pintarem nas ruas. No entanto, essas artes - depreciadas como vandalismo e punidas por isso - têm ganhado outros espaços: leilões de luxo. Quem corre o risco de fazer seu grafite na cidade não recebe nada dessas vendas, mas têm suas obras comercializadas a um preço alto por terceiros. “Saving Banksy” (“Salvando Banksy” em tradução livre), referência à um dos maiores artistas de rua do mundo - e dono das obras mais valiosas -, abre a discussão para a apropriação cultural e comercialização não autorizada a partir do caso de Banksy. Sugerimos quatro textos sobre como o grafite pode se relacionar com a escola: “Traços de cidadania”“Do muro para a classe e de volta para as ruas”“Grafite transformador” e “O grafite das ruas agora também está na escola”.

Colecionadores de arte passam meses negociando com proprietárias de imóveis que têm grafites do artista britânico Banksy para tentar fazer as remoções da superfície com a obra sem apagar o desenho. Crédito: Reprodução


PERSONALIDADES
3. Frida
Um dos maiores nomes da arte mexicana, Frida Khalo (1907-1954) passou por uma série de doenças, acidentes, lesões e operações que a levaram a dar início à carreira como pintora. Considerada a primeira artista surrealista da América Latina, adotou em suas obras temas do folclore e da arte popular do México, além de explorar autorretratos. O filme é biográfico e vale para conhecer melhor a artista e a partir de seu trabalho discutir a técnica de autorretrato na pintura com a turma. Confira um plano de aula sobre o tema e conheça mais sobre as características de seu trabalho aqui.

Crédito: Reprodução 

4. Grandes OlhosDirigido por Tim Burton, o filme conta a história da pintora americana Margaret Keane. Ilustrando principalmente mulheres, crianças e animais, sua principal marca são os olhos grandes (e, diga-se de passagem, profundos e tristes) que dá aos personagens que pinta. Pelo difícil reconhecimento de trabalhos com autoria feminina nos anos 50 e pelo machismo que permeia sua vida, Margaret aceita que suas obras sejam assinadas com o nome do marido para conseguir vendê-las. Diante da popularidade dos quadros, ele passa a afirmar que as obras são de sua autoria. As mentiras começam a desmoronar e o caso é levado ao tribunal. Para verificar a veracidade do autor, ambos são colocados a pintar na sala em que acontecia a audiência. Além da discussão sobre feminismo, é possível debater com "Grandes Olhos" como identificar e utilizar as marcas estilísticas de um autor, seja nas artes plásticas, literatura ou outra expressão artística.
5. Escada para o CéuGuo-Qiang não é um nome muito conhecido por aqui, mas seu trabalho é, literalmente, um espetáculo de cores e formas que vale a pena conhecer. O artista chinês desenvolve sua arte com pólvora e fogos de artifício (isso mesmo!). E se a matéria-prima explosiva é inusitada, a técnica não fica atrás: após colocar a pólvora sobre o papel e tela, ateia-se fogo. O resultado é surpreendente. Guo-Qiang acredita que cabe aos artistas transformar o não artístico em obra de arte, como é o caso do uso que faz da pólvora. Além disso, seus trabalhos com pirotecnia são mais do que dignos de serem revisitados: ele foi o responsável pelos efeitos pirotécnicos nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. A partir do trabalho do artista contemporâneo é possível discutir o que define algo como sendo uma obra de arte (material, técnica ou valor, por exemplo). Veja aqui um plano de aula sobre o tema.
MÚSICA6. AmadeusO filme retrata um dos mais conhecidos compositores clássicos, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), pelo viés de um outro compositor de ópera: Antonio Salieri. Salieri narra de um manicômio sua admiração por Mozart que se transforma em inveja. A trama mostra a elite cultural século XVIII em Viena - a “cidade dos músicos” -, na Áustria. Outros nomes como Ludwig van Beethoven também fizeram sua história na cidade apesar de não serem citados no filme. Saiba mais sobre como trabalhar música clássica com os estudantes em “É tudo música, do clássico ao erudito”“Música popular e música erudita” e “Keith Swanwick fala sobre o ensino de música nas escolas”.
7. Crescendo, the Power of MusicTrabalhando com a ideia de que a música pode ser um instrumento de promoção social, este documentário americano acompanha duas crianças da Filadélfia e uma em Nova York que têm suas vidas transformadas após integrarem um programa de Educação musical gratuito intitulado “El Sistema”. Com origem na Venezuela, o programa também foi implementado nos Estados Unidos. Veja como recursos culturais podem agregar para a formação dos estudantes.

O filme mostra o poder social da música para as crianças e jovens. Crédito: Reprodução

8. A voz do coraçãoAinda usando o poder da música para transformar, “A voz do coração” é um filme que tem como cenário um internato. Entre confusões e rebeldias de alunos e de uma gestão que não colabora, um professor novato decide criar um coral no colégio. O movimento cria uma relação de confiança entre ele e os estudantes e, à medida que os talentos são revelados, o comportamento das crianças muda. Leia mais sobre como a cultura pode influenciar a Educação em “Violeta Hemsy de Gainza fala sobre Educação musical” e “Música para aprender e se divertir”.

Crédito: reprodução

CINEMA9. O ArtistaO longa retrata o declínio do cinema mudo em Hollywood no ano de 1927. O personagem George Valentin, astro do mutismo, sofre com a mudança da indústria cinematográfica enquanto seu par romântico faz sucesso no cinema falado. O tema rende discussão na aula de Língua Portuguesa trabalhando discursos. Confira o plano de aula “Cinema mudo: narrativas sem palavras, expressão de sentimentos” e a reportagem “Filmes para ensinar os tipos de discurso”.
LITERATURA10. Orgulho e PreconceitoO clássico da escritora britânica Jane Austen (1775-1817) foi publicado pela primeira vez em 1813 e adaptado para as telonas pelo diretor Joe Wright. Em um contexto bucólico, o filme retrata os anseios e aventuras da protagonista Elizabeth Bennet, cuja mãe têm entre seus maiores desejos garantir um bom casamento para suas cinco filhas. No entanto, o espírito aventureiro de Elizabeth não aceita qualquer proposta de casamento. Por meio de suas personagens criados há mais de 200 anos, Austen transmite sutilmente alguns dos principais ideais feministas, como a noção de igualdade e a conscientização sobre a ideia de inferioridade sobre as mulheres na sociedade. Confira como trabalhar o tema com os textos “Mostre para a turma que as meninas podem ser o que elas quiserem” e “8 jeitos de promover o empoderamento feminino desde a alfabetização”.

Tem outras indicações de títulos imperdíveis para enriquecer as discussões de Arte? Não deixe de compartilhar suas sugestões nos comentários!

*Os filmes e documentários aqui indicados estão disponíveis no catálogo de julho de 2017 da Netflix. Devido à rotatividade de títulos da plataforma, o catálogo pode sofrer alterações.
Por Laís Semis. Nova Escola
Professor Edgar Bom Jardim - PE