De acordo com o Ministério da Fazenda, o real fechou o primeiro mês do ano liderando o ranking de moedas que mais ganharam valor em relação ao dólar americano. A moeda brasileira chegou a uma valorização de 7,8%, superando o peso mexicano, que teve alta de 7%.
Leonardo Trevisan, professor de economia da ESPM, explica que a valorização do real não é um efeito sazonal, mas acompanha uma característica do desenvolvimento brasileiro. Segundo ele, os fundamentos da economia brasileira têm estado baseados em fatores como responsabilidade fiscal, controle da inflação e estabilidade da moeda, evitando oscilações violentas. E a valorização é o resultado disso tudo, uma resposta típica ao país que colocou ordem na casa.
“Assim como na física, na economia existe uma reação para cada ação. Quando a economia cresce, a moeda se valoriza, é natural. Mas o fato, dessa vez, deve ser encarado como um bom problema. Afinal, o que seria fluxo natural, acabou tornando-se uma enxurrada. A moeda subiu no ranking entre moedas e isto foi reflexo do IPO da Petrobras, que fez uma oferta pública de ações e captou US$ 7 bilhões”, conta o professor.
O investidor externo, explica Mário Sanchez, economista filiado ao Conselho Regional de Economia (CORECON-SP), sentiu-se a vontade para investir no Brasil – mesmo correndo um certo risco –, por conta de sua expansão e estabilidade econômica. Assim, sobrou dólar no mercado e seu preço caiu, valorizando a moeda brasileira.
Reflexo no dia a dia
Trevisan conta que o dólar tem efeito direto na vida dos cidadãos – independentemente de trabalhar diretamente com a moeda. “A batata depende de fertilizantes que o Brasil não produz. Os óculos que usamos dependem de lentes, muitas vezes, importadas. O que é caro demais fabricar aqui temos que comprar fora. Ou seja, o dólar está na vida de todo mundo e sua oscilação tem referência direta nas compras do dia a dia”, afirma.
Para Sanchez, os reflexos da moeda são sentidos ainda mais em novos hábitos dos brasileiros, principalmente em viagens internacionais. O economista comenta que até classes mais baixas, como a emergente classe C, estão optando por pacotes internacionais para aproveitar festas típicas brasileiras, como o carnaval. “Com a moeda forte, fica muito caro viajar pelo Brasil. Uma viagem internacional para os Estados Unidos, por exemplo, compensa mais, principalmente em baixa temporada, e ainda dá ao consumidor a possibilidade de adquirir produtos estrangeiros por um preço baixo”, ressalta.
Trevisan concorda e complementa. Para ele, o brasileiro tem se comportado como um investidor estrangeiro, que aproveita sua moeda forte e consome no exterior, trazendo produtos importados para o país. “Hoje, vale a pena entrar com dólar no Brasil. Vale a pena atravessar o atlântico e comprar roupas em Miami, por exemplo. Mas voltamos com o efeito de ação e reação: comprando produtos fora, estamos desindustrializando nosso país e, então, o dólar vai ter efeito nos nossos empregos e nas nossas vendas”, diz.
O custo da valorização
O fortalecimento da economia tem um custo para as pessoas, afirma Trevisan. O professor conta que, quando o consumidor deixa de comprar aqui dentro, o produto brasileiro fica caro.
Outro índice de comparação de valorização de moedas comprova o preço a ser pago. No índice Big Mac de 2012, medido de acordo com o poder de paridade dos países e baseado no valor pago pelo sanduíche americano, o Brasil ficou em quarto lugar, atrás apenas de países como Suíça e Suécia. “Só que se formos comparar os salários nestes países e por aqui, temos ideia de quanto é caro”, aponta Trevisan.
Sanchez comenta que o brasileiro está em vantagem para comprar, mas em desvantagem para vender. Mas, o grande problema é que a balança comercial depende da venda para não entrar em colapso.
Para tentar manter o equilíbrio cambial – que, na opinião de Trevisan, acontece quando o dólar está oscilando entre R$ 1.75 e R$ 1.78 –, o governo fixou a chamada banda clandestina, na tentativa de controlar a variação da moeda americana. O Banco Central compra dólares, tirando a moeda de mercado para que seu preço tenha algum aumento.
“É preciso, porém, considerar que a variação cambial está sujeita a situações de tensão de mercado, em que os investidores saem de investimentos de risco e optam por ofertas mais seguras como títulos americanos. Assim, o dólar sobe. Mas, se subir muito, acaba mexendo com a taxa de inflação. Ou seja, se está baixa, a moeda americana ataca nossos produtos, exportações e empregos. Se está alta, ataca a inflação. A situação ideal é a de equilíbrio. E, enquanto isso, a pessoa física fica entre o mar e o rochedo, sendo influenciada diretamente pela oscilação cambial”, explica o professor.
Ógui. terra.com POR professoredgarbomjardim-pe.blogspot.com