*Reportagem atualizada às 16h30 de 26/2
No terceiro dia de ataques da Rússia contra a Ucrânia, os combates se intesificaram na capital Kiev. Há relatos de ataques à infraestrutura militar ucraniana em todo o país e de comboios russos chegando de todas as direções.
O avanço militar russo tem encontrado, entretanto, resistência na capital. As forças armadas ucranianas informaram em uma publicação no Facebook que uma unidade do Exército teria conseguido afastar forças russas de uma base próxima a uma rua importante da capital.
Ao menos 198 ucranianos foram mortos como resultado da invasão russa, disse no sábado (26/2) o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e mais de 1,115 ficaram feridos, incluindo 33 crianças.
Os acontecimentos mais recentes deste sábado são:
- Um funcionário do alto escalão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos disse à agência de notícias Reuters que comandantes russos têm se frustrado com o ritmo lento de avanço no território ucraniano e enfrentado dificuldades logísticas. Segundo a autoridade, Moscou não teria fornecido combustível suficiente para algumas unidades e comandantes têm tido de se adaptar. Vídeos compartilhados nas redes sociais neste sábado mostravam tanques parados em algumas áreas do país.
- O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, afirmou à BBC News que seu país apoia as sanções impostas pela União Europeia à Rússia. Orbán era até então considerado um dos mais fortes aliados do presidente russo, Vladimir Putin, na Europa. Em visita à fronteira entre a Hungria e a Ucrânia, por onde refugiados ucranianos têm cruzado neste sábado, o premiê afirmou que todos os países europeus, incluindo a Hungria, condenam a invasão russa. "Este não é o momento de ser espero, é o momento de estarmos unidos. Trata-se de uma guerra, e temos que voltar às coisas como eram antes e restabelecer a paz", declarou.
- Alemanha suspendeu bloqueio para envio de armas à Ucrânia por meio de outros países. Na prática, a medida permite que a Holanda envie 400 lançadores de mísseis ao Exército ucraniano. A decisão marca uma mudança importante na postura alemã e poderia abrir espaço para um aumento da ajuda militar à Ucrânia vinda de outros países do continente. Isso porque uma parte das armas fabricadas na Europa são pelo menos parcialmente manufaturadas na Alemanha - o que significa que o país pode interferir na decisão de enviá-las a outras regiões.
- A polícia marítima da França apreendeu um navio de carga de bandeira russa suspeito de violar as sanções impostas por causa da guerra na Ucrânia. O navio Baltic Leader estava indo da cidade de Rouen, no noroeste da França, para São Petersburgo, na Rússia, com uma carga de carros novos. A imprensa estatal russa diz que a embarcação é de propriedade de uma subsidiária de um banco visado nas recentes sanções da União Europeia e dos EUA.
- O Ministério da Defesa do Reino Unido afirma que a velocidade do avanço russo diminuiu temporariamente, provavelmente como resultado de "dificuldades logísticas agudas e forte resistência ucraniana".
- Mais de 115 mil pessoas já cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Polônia desde o início da invasão russa, disse o ministro do Interior polonês, Pawel Szefernaker. Só nas últimas quatro horas, 15 mil pessoas entraram no país.
- O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que derrubou um avião que transportava tropas russas para a Ucrânia, matando um grande número de paraquedistas russos. A BBC não verificou essas alegações de forma independente e o Ministério da Defesa russo ainda não comentou o assunto. Segundo o governo ucraniano, caças ucranianos Su-27 interceptaram um porta-tropas russo IL-76 MD no sábado. De acordo com as especificações divulgadas pelo fabricante, o avião pode transportar até 167 soldados, além de uma tripulação de 6 a 7 pessoas. "É uma vingança por Luhansk 2014", escreveu o comandante das forças armadas da Ucrânia, tenente-general Valery Zaluzhny, no Facebook, referindo-se à queda de um avião ucraniano há oito anos.
- O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou um novo toque de recolher para a capital ucraniana entre 17h e 8h, no horário local. A medida, em vigor a partir deste sábado, substitui um toque de recolher anterior das 22h às 7h, e deve durar pelo menos até segunda-feira. Klitschko alertou no Twitter: "Todos os civis nas ruas durante o toque de recolher serão considerados membros dos grupos de sabotagem do inimigo".
- O ex-presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, diz que Moscou não precisa de laços diplomáticos com o Ocidente. Ele escreveu na rede social russa VK que é hora de "trancar as embaixadas". Medvedev também condenou a suspensão da Rússia do Conselho da Europa, mas disse que isso é uma oportunidade para Moscou restaurar a pena de morte na lei russa.
- O Ministério da Defesa da Rússia confirmou neste sábado (26/2) que capturou a cidade de Melitopol — no que foi descrito pela agência de notícias Reuters como o primeiro centro populacional significativo a ser tomado desde que a invasão da Ucrânia por Moscou começou na quinta-feira. Melitopol é uma cidade de tamanho médio, de 150 mil habitantes, localizada perto do principal porto ucraniano de Mariupol, na região sul da Ucrânia de Zaporizhzhya.
- A embaixada do Brasil emitiu uma mensagem: "A Prefeitura de Kiev reforçou o pedido de que todos evitem deslocamentos no momento e procurem abrigo, em razão de ataques aéreos. Os metrôs continuam funcionando como abrigo."
- Os ataques russos à capital ucraniana, Kiev, encontraram resistência feroz, com militares ucranianos alegando terem reagido a vários ataques. Os militares disseram em um post no Facebook no início do sábado que uma unidade do exército conseguiu repelir as forças russas perto de sua base em uma importante rua da cidade.
- Em um novo vídeo, o presidente Volodymyr Zelensky disse: "Não vamos baixar nossas armas. Vamos defender nosso Estado".
- Na madrugada de sábado (25), em horário local, foram registradas novas explosões em Kiev.
Em dias anteriores, esses foram alguns dos principais acontecimentos:
- O Tesouro dos Estados Unidos oficialmente sancionou o presidente russo, Vladimir Putin, e o ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov — tipo de retaliação rara contra representantes de governos estrangeiros (embora a lista já inclua Kim Jong Un, Alyaksandr Lukashenka e Bashar al-Assad). A União Europeia, Reino Unido e Canadá fizeram o mesmo anteriormente.
- A Rússia, como esperado, vetou a resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenava a invasão da Ucrânia. O país é um dos cinco com poder de veto no conselho. 11 países votaram a favor da resolução e houve três abstenções: China, Índia e Emirados Árabes Unidos. O Brasil mudou o tom e votou a favor da resolução que condenava o ataque russo. Com o veto da Rússia, um documento semelhante poderá ser enviado à Assembleia Geral da ONU, onde participam 193 membros, para uma votação
- Volodymyr Zelensky, o presidente ucraniano, publicou um vídeo em que diz que os russos vão invadir Kiev nas próximas horas. "A noite será difícil, bem difícil, mas a manhã virá". Ele disse que o "inimigo" tentará quebrar a resistência dos ucranianos. Zelensky também afirmou que "o principal objetivo é acabar com esse banho de sangue"
- Um porta-voz do presidente Zelensky declarou que o país está disposto a um cessar-fogo e negociações de paz com a Rússia de forma imediata. Ele disse que estão ocorrendo discussões sobre dia e local para as tratativas. Moscou havia dito que exige primeiro a rendição das forças ucranianas.
- Novas e várias explosões foram ouvidas nesta noite de sexta em Kiev. Uma estação de TV local anunciou a suspensão da programação. Explosões também foram relatadas em Donetsk, no leste do país
- A Casa Branca anunciou que os EUA vão se juntar à União Europeia e ao Reino Unido e impor sanções a Putin e ao chanceler russo Lavrov. Segundo a porta-voz Jen Psaki, as medidas vão incluir a proibição de viagem para ambos
- A organização Médicos sem Fronteiras, uma das últimas a permanecer em zonas de guerra, informou que teve que interromper suas operações na Ucrânia devido à escalada do conflito
- O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, afirmou que cinco explosões foram ouvidas na capital ucraniana, incluindo uma próxima a uma central de energia. Ele disse que a cidade vive uma situação 'ameaçadora'
- A Ucrânia disse que 18 mil metralhadoras foram distribuídas à população
- O presidente norte-americano Joe Biden e o ucraniano Volodymyr Zelensky conversaram nesta sexta por 40 minutos e discutiram sanções contra a Rússia e uma ajuda militar dos EUA à Ucrânia
- O Reino Unido anunciou sanções contra o presidente russo Vladimir Putin e seu chanceler Sergei Lavrov
- A Otan informou que vai posicionar mais tropas da aliança no Leste Europeu
- O governo ucraniano disse que tropas russas estão logo ao norte de Kiev e tomaram posse do aeroporto Hostomel, que fica nas proximidades da capital
- Para contrariar rumores de que havia fugido de Kiev, o presidente Zelensky postou um vídeo na cidade ao lado do primeiro-ministro
- A Rússia afirmou que a entrada da Finlândia ou da Suécia na Otan detonaria uma séria resposta de Moscou
- O Kremlin disse que a Rússia está pronta para negociações com a Ucrânia. O foco seria a Ucrânia se declarar "neutra", que incluiria a "desmilitarização", mas não há evidências de que a Ucrânia concordaria com esses termos.
- Putin exortou os militares ucranianos a assumir o poder.
- O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a comunidade internacional a "mostrar solidariedade" impondo mais sanções à Rússia - e cortando relações com Moscou.
- Fortes explosões e sirenes de alerta são ouvidas nesta sexta-feira no centro de Kiev, onde vivem 2,8 milhões de pessoas. Relatos apontam que as tropas russas já dominam partes da cidade e de seus arredores. Há diversas imagens de prédios residenciais destruídos em ataques.
- Veículos militares ucranianos entraram em Kiev para defender a cidade contra a aproximação de tropas russas.
- Desde o início da invasão, a Ucrânia vem tentando se defender da invasão russa a partir de três grandes frentes diferentes: norte, sul e leste, este palco dos combates mais violentos.
- O Ministério do Interior disse que 18 mil armas foram entregues a voluntários, juntamente com instruções para fazer coquetéis molotov.
- O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, divulgou um novo vídeo nesta sexta-feira em que dizia: "Estamos defendendo a Ucrânia sozinhos", visivelmente decepcionado com a reação da comunidade internacional.
- A União Europeia, a Austrália e o Japão anunciaram na sexta-feira novas sanções que miram bancos, empresas e oligarcas russos. Elas se somam às sanções anunciadas na quinta-feira (24/2) pelo presidente americano, Joe Biden, que seguem a mesma linha.
- Muitos dos habitantes da capital ucraniana e Kharkiv se refugiaram em estações de metrô e abrigos subterrâneos (bunkers) por medo de ataques aéreos russos.
- Zelensky informou ao fim do primeiro dia de guerra que pelo menos 137 cidadãos ucranianos — entre soldados e civis — foram mortos no primeiro dia do ataque militar russo. Mais de 300 pessoas ficaram feridas.
- Há um êxodo em massa em curso na Ucrânia. Mais de 100 mil pessoas fugiram de suas casas e dezenas de milhares fugiram da Ucrânia desde o início da ofensiva russa, segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
- O presidente francês, Emmanuel Macron, ligou para o colega Putin para pedir que ele interrompesse o ataque, numa conversa "franca, direta, curta".
- Nas cidades russas, milhares de pessoas protestaram contra a decisão do presidente Putin de ir à guerra contra a Ucrânia; centenas de manifestantes foram presos.
- O objetivo da Rússia seria, segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, derrubar o governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e colocar um aliado no comando do país.
- A mídia ucraniana divulgou como seria o suposto plano da Rússia para tomar a capital Kiev. Segundo fontes de contrainteligência ouvidas por jornalistas locais, a ofensiva prevê dominar pistas de pouso na cidade para desembarcar mais de 10 mil combatentes, causar pânico generalizado com sabotagem nas redes elétricas e de comunicação, forçar autoridades a assinar acordos nos termos exigidos pela Rússia e até a possibilidade de dividir o país em dois, como ocorreu no caso da Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental.
A seguir, confira o que sabemos até agora com mais detalhes.
Putin ordena ataque
Em pronunciamento televisionado às 05h55 (horário de Moscou) do dia 24/2, Putin anunciou uma "operação militar" na região de Donbas, no leste da Ucrânia.
Esta área abriga muitos ucranianos de língua russa. Partes dela foram ocupadas e administradas por rebeldes apoiados pela Rússia desde 2014.
Putin disse que a Rússia estava intervindo como um ato de legítima defesa. A Rússia não queria ocupar a Ucrânia, segundo ele, mas iria desmilitarizar e "desnazificar" o país.
Ele pediu aos soldados ucranianos na zona de combate que baixem suas armas e voltem para casa, mas disse que os confrontos são inevitáveis e "apenas uma questão de tempo".
E acrescentou que qualquer intervenção de potências externas de resistência ao ataque russo seria recebida com uma resposta "instantânea".
Explosões ouvidas em todo o país
Já nas primeiras horas de quinta-feira, correspondentes da BBC escutaram estrondos na capital Kiev, assim como em Kramatorsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. Explosões também foram ouvidas na cidade portuária de Odessa, no sul.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a Rússia realizou ataques com mísseis à infraestrutura da Ucrânia e guardas de fronteira.
O Ministério da Defesa da Rússia negou ter atacado cidades ucranianas — dizendo que estava mirando infraestrutura militar, defesa aérea e forças aéreas com "armas de alta precisão".
Zelensky voltou a falar com o povo da Ucrânia pela tarde, trocando seu terno escuro por um uniforme militar.
Em seu discurso, ele comparou o conflito ao "som da nova cortina de ferro que está caindo e isolando a Rússia do mundo civilizado", acrescentando que "nossa tarefa é que essa cortina não caia em território ucraniano".
Tanques e tropas entram na Ucrânia
Tanques e tropas invadiram a Ucrânia em trechos ao longo de sua fronteira ao leste, sul e norte, diz a Ucrânia.
Comboios militares russos cruzaram de Belarus para a região de Chernihiv, no norte da Ucrânia, e da Rússia para a região de Sumy, que também fica ao norte, segundo o serviço de guarda de fronteira da Ucrânia (DPSU).
Belarus é um aliado de longa data da Rússia. Analistas descrevem o pequeno país como o "estado-satélite" da Rússia.
Os comboios também entraram nas regiões ao leste de Luhansk e Kharkiv e se deslocaram para a região de Kherson a partir da Crimeia — território que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014.
A ofensiva russa foi precedida por disparos da artilharia, e guardas de fronteira ficaram feridos, informou o DPSU.
Também houve relatos de tropas desembarcando por mar nas cidades portuárias de Mariupol e Odessa, no sul.
Uma forte explosão foi ouvida no centro da cidade de Odessa, e um residente britânico disse à BBC que muitas pessoas estavam indo embora.
Mariupol está sob fogo pesado, com relatos de centenas de explosões, disse uma fonte diplomática à agência de notícias Reuters.
Este é um dos maiores portos ucranianos e está localizado perto de uma linha de frente mantida por separatistas apoiados pela Rússia na região de Donetsk — que Putin reconheceu como um Estado independente.
Tomar Mariupol ajudaria a Rússia a garantir uma rota terrestre direta para a Crimeia, a península ucraniana anexada pela Rússia em 2014.
Preocupação com Chernobyl
Há uma luta intensa em torno da antiga usina nuclear em Chernobyl. O conselheiro presidencial ucraniano Mykhaylo Podolyak disse ser impossível dizer se o local está seguro.
"Perdemos o controle de Chernobyl", disse Podolyak.
Um vídeo, verificado pela BBC, parece mostrar tanques russos estacionados do lado de fora da antiga usina nuclear.
Na noite de quinta-feira (24), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou a jornalistas que há relatos de que soldados russos estão mantendo funcionários da usina nuclear ucraniana reféns."Estamos indignados com relatos confiáveis de que soldados russos estão mantendo reféns os funcionários das instalações de Chernobyl", disse Psaki. "Condenamos isso e pedimos sua libertação (dos funcionários)".
Chernobyl, localizada ao norte de Kiev, perto da fronteira com Belarus, foi o local da explosão nuclear mais devastadora da história, em 1986, quando um de seus quatro reatores explodiu.
O reator danificado está agora sepultado por uma "estrutura de confinamento" de aço e uma área de mais de 4.000 quilômetros quadrados ao redor da instalação foi abandonada.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) pediu "restrição máxima" para proteger as instalações nucleares.
O órgão global, que promove o uso pacífico da energia nuclear, diz estar acompanhando a situação na Ucrânia com "grave preocupação".
A AIEA diz que foi informada que, embora as forças russas tenham assumido o controle da antiga instalação nuclear, nenhuma vítima ou destruição foi relatada.
O diretor-geral Mariano Grossi diz que é de "importância vital" que as operações das instalações nucleares na zona de exclusão de Chernobyl "não sejam afetadas ou interrompidas de forma alguma".
Ucrânia diz que está se defendendo
O presidente Zelensky assinou uma ordem de convocação nacional dos reservistas com efeito por 90 dias.
Em um vídeo exibido pela mídia ucraniana, o presidente disse que está localizado em dependências do governo e que sua família continua na Ucrânia. "O inimigo me designou como alvo número um e minha família como alvo número dois", afirmou no vídeo.
Ela afirmou que grupos de sabotagem entraram em Kiev.
Mais cedo, Zelensky declarou que as forças ucranianas têm defendido com sucesso a região leste de Donbas, além de lutar perto de Kharkiv.
A área mais problemática está em Kherson, no sul do país, para onde as tropas russas se mudaram para o norte da Crimeia anexada.
No norte, ele diz que os russos continuam avançando na região e descreveu combates pesados em Chernobyl.
As Forças Armadas ucranianas disseram que derrubaram cinco aviões russos e um helicóptero e provocaram baixas nas tropas invasoras.
"Mantenham a calma e acreditem nos defensores da Ucrânia", diz um comunicado das forças militares da Ucrânia.
O Ministério da Defesa da Rússia negou, no entanto, que suas aeronaves tenham sido derrubadas.
Os militares ucranianos disseram ainda que lançaram um ataque de artilharia contra paraquedistas russos que desembarcaram no aeroporto de Antonov, perto de Kiev, e tentaram assumir o controle.
O aeroporto, que é um importante porto internacional de carga e também uma base militar, fica a cerca de uma hora e meia de carro da capital.
Isso é o mais próximo que as forças russas conseguiram chegar de Kiev no primeiro dia da invasão.
A Ucrânia decretou lei marcial — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e cortou relações diplomáticas com a Rússia.
O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa na Ucrânia que desejasse.
Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema internacional de transferência bancária Swift.
O embaixador da Ucrânia em Washington disse que o país "não espera que ninguém" lute pelo país enquanto combate as forças russas. Falando a repórteres na embaixada ucraniana, Oksana Markarova disse que "Kiev está totalmente sob controle [do governo]", mas que os helicópteros russos estão "fora" da cidade.
"A situação é muito tensa", acrescentou.
De acordo com Markarova, dezenas de militares ucranianos foram mortos na manhã de quinta-feira.
A Ucrânia disse também que mais de 1 mil russos morreram desde a invasão, mas a BBC não conseguiu checar essa informação.
O Ministério do Interior disse ainda que 18 mil armas foram entregues a voluntários, juntamente com instruções para fazer coquetéis molotov.
Moradores procuram abrigo
Em Kiev, fortes explosões e sirenes de alerta foram ouvidas nesta sexta-feira no centro da cidade, onde vivem 2,8 milhões de pessoas.
Relatos apontam que as tropas russas já dominam partes da capital e de seus arredores. Há diversas imagens de prédios residenciais destruídos em ataques.
Veículos militares ucranianos entraram em Kiev para defender a cidade contra a aproximação de tropas russas
O prefeito, Vitali Klitschko, impôs um toque de recolher das 22h às 07h. Klitschko disse à BBC que os cidadãos ficaram chocados ao ouvir explosões na cidade e pediu a união do Ocidente para ajudar a Ucrânia.
"É o nosso objetivo, é o nosso sonho, construir um país moderno e democrático e ser 'parte da família europeia'", disse.Grandes congestionamentos foram registrados em Kiev à medida que as pessoas fogem da cidade.
Relatos nas redes sociais deram conta de uma crescente sensação de pânico, com alguns dizendo que estão estavam levados às pressas para abrigos antiaéreos e porões.
Imagens de televisão mostraram pessoas rezando nas ruas.
Muitas pessoas em Kiev procuraram abrigo em estações de metrô subterrâneas. Há também longas filas em postos de gasolina e caixas eletrônicos.
Em Kramatorsk, na região leste de Donetsk, a correspondente da BBC no leste europeu Sarah Rainsford disse que as pessoas não esperavam um ataque tão amplo.
"As pessoas estavam nas ruas ontem à noite nesta cidade — estavam agitando a bandeira ucraniana. Disseram que esta era sua terra. E não iriam a lugar nenhum", ela contou.
"Isto é o que as pessoas estavam à espera, estavam aguardando, mas ninguém aqui consegue acreditar que de fato está acontecendo."
Paul Adams, correspondente de diplomacia da BBC em Kiev, disse que jatos estão sobrevoando de forma intermitente e que há um cheiro acre no ar. "Tem cheiro de papel queimado", escreveu Adams.
"Todo mundo está no limite. Os ônibus ainda estão circulando, mas quase não vejo passageiros."
'Ucranianos vão lutar', disse prefeito de Kiev
Vitali Klitschko disse à BBC que o exército da Rússia é um dos maiores do mundo e admitiu que será uma luta difícil.
Mas disse que os ucranianos não gostam da agressão russa e "lutarão por nosso futuro, por nossos filhos".Ele admitiu, no entanto, estar preocupado com as 3 milhões de pessoas que vivem em Kiev.
Êxodo em massa
Um êxodo em massa está em curso da Ucrânia em direção a várias fronteiras ocidentais - da Polônia, no norte, à Moldávia, no sul.
A maioria dos milhares que conseguem atravessar as fronteiras são mulheres e crianças.
Desde a meia-noite de quinta-feira (24/2), homens em idade militar, ou seja, entre 18 e 60 anos, estão sendo instruídos a ficar e lutar. Aqueles na estrada dizem que estavam correndo para salvar suas vidas.
Um destino para os civis que fogem da Ucrânia é a fronteira com a Hungria em Beregsurany, onde a maioria dos que atravessam a pé, principalmente mulheres e crianças, e principalmente húngaros étnicos que também são cidadãos ucranianos - a região Transcarpática do oeste da Ucrânia tem 150.000 húngaros-forte comunidade.
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados disse à BBC que estima que mais de 100 mil pessoas já deixaram suas casas na Ucrânia.
A ONU já havia alertado que uma invasão da Ucrânia poderia desencadear uma crise de refugiados em larga escala e disse na quinta-feira que a rápida deterioração da situação na Ucrânia pode gerar "consequências humanitárias devastadoras".
"Não há vencedores na guerra, mas inúmeras vidas serão dilaceradas", disse o alto comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi.
A agência de refugiados está pedindo aos vizinhos da Ucrânia que mantenham suas fronteiras abertas para aqueles que fogem e disse estar pronta para "apoiar os esforços de todos para responder a qualquer situação de deslocamento forçado".
Enquanto isso, o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, pediu aos que lutam que respeitem o direito internacional e garantam a proteção dos civis.
A ONU já havia lançado um apelo recorde por financiamento em 2022 para aliviar crises na Síria, Iêmen, Afeganistão e na região do Sahel, assolada pela seca, na África.
Um outro grande conflito e crise de refugiados no meio da Europa poderia estender seus recursos muito além de seus limites.
Preço do petróleo dispara
Os preços do petróleo subiram acima de US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos.
Enquanto isso, a moeda da Rússia, o rublo, caiu para uma baixa histórica em relação ao dólar e ao euro.
E o principal índice FTSE 100 da Bolsa de Valores de Londres caiu mais de 200 pontos, ou 2,7%, logo após a abertura.
Mundo condena Putin
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano". O mundo responsabilizaria a Rússia, segundo ele.
Biden acrescentou que os russos iniciaram o ataque sem provocação e que a ação vinha sendo planejada há meses
O presidente americano afirmou que Putin transferiu 175 mil soldados e equipamentos militares para a fronteira com a Ucrânia, além de suprimentos, e construiu hospitais de campanha.
O líder russo rejeitou todas as tentativas de diálogo do Ocidente, disse Biden. Segundo ele, fortes sanções serão aplicadas para "maximizar um impacto de longo prazo na Rússia e minimizar o impacto nos Estados Unidos e seus aliados".
Biden disse que as sanções vão atingir as elites russas, os principais bancos do país e empresas envolvidas com tecnologia.
Ele afirmou que mais da metade da economia global participará da implementação de sanções contra a Rússia. "Nós vamos limitar a habilidade da Rússia de fazer negócios em dólares, euros, libras e ienes".
Os EUA vão também impedir a capacidade da Rússia de financiar e aumentar suas Forças Armadas, declarou Biden, e limitarão sua capacidade de competir na economia de alta tecnologia do século 21.
"Putin é o agressor, Putin optou por essa guerra e agora ele e seu país vão ter que lidar com as consequências", afirmou. "As ações de Putin mostram uma visão sinistra do futuro do nosso mundo."
Forças dos EUA foram enviadas para países da Otan na Europa Oriental que se sentem ameaçados pela Rússia, incluindo Letônia, Estônia e Lituânia no Báltico, bem como Polônia e Romênia.
Biden reiterou que os militares americanos "não estão e não estarão" envolvidas no conflito com a Rússia na Ucrânia.
"Nossas forças não estão indo para a Europa para lutar na Ucrânia, mas para defender nossos aliados da Otan e tranquilizar aqueles aliados no leste", disse ele.
"Os Estados Unidos defenderão cada centímetro do território da Otan com toda a força do poder americano."
Biden acrescentou que a Otan está mais unida do que nunca e que "não há dúvida" de que os EUA e outros países da aliança militar cumprirão seus compromissos com o tratado.
Biden também disse acreditar que Putin "tem ambições muito maiores" que vão muito além das fronteiras da Ucrânia.
"Ele quer, de fato, restabelecer a antiga União Soviética", disse Biden. "É disso que se trata".
"Suas ambições são completamente contrárias ao lugar onde o resto do mundo chegou", acrescentou.
Além disso, Biden disse que as sanções contra Putin pessoalmente "ainda estão na mesa" como uma opção possível, além das já anunciadas contra a economia da Rússia e vários indivíduos e entidades.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "chocado com os eventos horríveis na Ucrânia" e que Putin "escolheu um caminho de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem provocação".
Johnson anunciou ainda as sanções que o Reino Unido aplicará à Rússia, entre elas o congelamento de ativos de indivíduos e de bancos russos e a exclusão destas instituições do sistema financeiro britânico, veto a financiamentos ou empréstimos a empresas russas, proibição de que a companhia aérea Aeroflot pouse no Reino Unido, suspensão das licenças de exportação de itens que podem ser usados para fins militares, de alta tecnologia e de refinamento de petróleo, além de outras medidas.
Sanções financeiras semelhantes serão estendidas à Belarus por seu papel no ataque à Ucrânia.
Putin conversou por telefone com o presidente francês Emmanuel Macron e deu a ele uma explicação "exaustiva" das razões das ações da Rússia na Ucrânia, segundo o o Kremlin.
Macron solicitou a ligação, e eles concordaram em manter contato, afirmou o governo russo.
Macron disse que exigiu que Putin cesse as operações militares. O presidente francês tentou evitar uma invasão russa nas últimas semanas, inclusive mantendo conversas com Putin no Kremlin.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, condenou o "ataque irresponsável" da Rússia, dizendo que "coloca em risco inúmeras vidas de civis".
A Europa está "enfrentando seus momentos mais sombrios desde a Segunda Guerra Mundial", avaliou o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell.
Já o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que Putin se aproveitou da "fraqueza" americana.
Ele ligou para a Fox News para dizer que não acreditava que Putin "queria fazer isso, inicialmente".
"Acho que ele queria fazer algo e negociar, e ficou cada vez pior, então ele viu a fraqueza", afirmou Trump.
Jessica Parker, correspondente de política da BBC, informou que a União Europeia (UE) poderia, em represália à Rússia, suspender parte de seu acordo de facilitação de vistos com o país como parte de seu novo pacote de sanções.
Fontes indicaram que isso afetaria os recém-chegados e aqueles "ligados ao regime [russo]" - como funcionários, diplomatas e militares.
"Em ligações para cortar a Rússia do serviço de mensagens financeiras Swift, um diplomata sênior disse que, embora a ideia estivesse 'na mesa', não era o foco por enquanto", disse Parker.
O Swift permite transações rápidas e é usado por 11 mil instituições financeiras em 200 países.
"Mas, se a medida não estiver no próximo pacote da UE, eles disseram, isso não significa que descartado."
Autoridades indicaram, segundo a jornalista, que o pacote provavelmente incluirá medidas sobre controles de exportação e os setores financeiro e industrial.
'Ocidente não respeita lei internacional', disse chanceler russo
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que a Rússia sempre está pronta para o diálogo.
"Infelizmente, nossos amigos ocidentais não respeitam a lei internacional, tentando destruí-la e promover o que eles chamam de 'ordem baseada em regras'", disse Lavrov, segundo a agência de notícias estatal RIA Novosti.
"Tivemos discussões intensas e detalhadas com nossos colegas americanos, com outros membros da Otan", disse ele.
"Esperamos que ainda haja uma chance de retornar ao direito internacional e às obrigações internacionais."
Prisões em protestos na Rússia
Pelo menos 735 pessoas foram presas em protestos contra a guerra em toda a Rússia na quinta-feira, disse uma organização independente.
Manifestantes foram detidos em 40 cidades, de acordo com o OVD-Info, que monitora prisões em manifestações de oposição ao governo.
Mais de 330 pessoas foram detidas em Moscou, disse a organização.
Imagens de Moscou mostram grandes multidões perto do Kremlin.
Cerca de 2 mil pessoas se reuniram perto da praça Pushkin na capital russa e cerca de outras 1 mil pessoas na cidade de São Petersburgo, informou a agência de notícias AFP.
Putin aos militares ucranianos: 'Tomem o poder'
O Kremlin disse que a Rússia está pronta para negociações com a Ucrânia. O foco seria a Ucrânia se declarar "neutra", que incluiria a "desmilitarização", mas não há evidências de que a Ucrânia concordaria com esses termos.
Ao mesmo tempo, Vladimir Putin, em fala ao Conselho de Segurança da Rússia, mandou um recado aos militares ucranianos.
Ele disse que os banderitas - uma referência ao combatente antisoviético da Segunda Guerra Mundial Stepan Bandera - e neonazistas "colocaram armamentos pesados, incluindo vários sistemas de lançamento de foguetes" em cidades do país, incluindo Kiev e Kharkiv.
"Neonazistas" é usado regularmente pelo presidente Putin para ridicularizar o governo ucraniano. O presidente da Ucrânia, que é judeu, rejeitou o termo.
Putin disse: "Eles estão agindo como terroristas, protegendo as pessoas para acusar a Rússia de causar baixas entre a população pacífica. Com certeza, isso está acontecendo por recomendações de consultores estrangeiros, conselheiros americanos acima de tudo".
Ele então falou às forças ucranianas. "Estou me dirigindo aos militares das forças armadas ucranianas mais uma vez: não permitam que neonazistas e banderitas usem seus filhos, suas esposas e idosos como escudo humano. Tomem o poder em suas próprias mãos. Vai ser mais fácil chegar a um acordo com vocês do que com aquela gangue de viciados em drogas e neonazistas em Kiev."
Chanceler ucraniano: 'Demonstrem solidariedade com a gente'
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a comunidade internacional a "demonstrar solidariedade" impondo mais sanções à Rússia - e cortando relações com Moscou.
Uma lista de medidas publicadas pelo ministério no Twitter também inclui a proibição da Rússia do sistema de pagamentos internacionais Swift e a expulsão de embaixadores russos em todo o mundo.
Fonte: BBC