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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Bom Jardim realizou capacitação de profissionais de saúde


Pode ser uma imagem de 5 pessoas, pessoas em pé e texto que diz "BOMJARDIM.PE.GOV.BR Capacitação para vacinação contra Covid-19 com profissionais das UBS BOM JARDIMA JARD"
Preparativos para campanha de vacinação contra Covid-19.
A capacitação para vacinação contra Covid-19, com os profissionais das Unidades Básicas de Saúde. O treinamento foi realizado para atender profissionais das Unidades Básicas de Saúde durante a semana de 26 a 29 de janeiro.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Vacinação contra a covid-19: no ritmo atual, Brasil demoraria mais de quatro anos para alcançar imunidade de rebanho


Ampola da vacina CoronaVac
Legenda da foto,

Se considerarmos que a campanha começou no país há 12 dias e 1.129.885 brasileiros receberam a primeira dose, a média é de 94.157 pessoas vacinadas por dia.

Desde que a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 17 de janeiro, outros cerca de 1,5 milhão de brasileiros foram imunizados.

O número pode até parecer alto, mas está bem abaixo das expectativas e da capacidade de nosso sistema de saúde, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

"O ritmo de vacinação no país está simplesmente péssimo. Nós já deveríamos ter utilizado pelo menos todo esse primeiro lote de 6 milhões de doses da CoronaVac, do Instituto Butantan e da Sinovac", analisa o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Falta de planejamento, desafios de comunicação, problemas na coleta das informações e falhas no sistema do Ministério da Saúde ajudam a explicar essa lentidão.


Mas quais são as metas de vacinação? E como será possível atingir a imunidade de rebanho no país?

Vacina como bem coletivo

Por mais que todos pensemos em proteger a própria saúde quando tomamos uma vacina, o efeito dela ultrapassa as barreiras individuais.

Isso porque a imunização em larga escala permite proteger toda a comunidade, mesmo aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, não podem tomar as doses.

Esse fenômeno é conhecido popularmente como imunidade de rebanho, embora os cientistas prefiram o termo imunidade coletiva.

De forma simplificada, para cada doença infecciosa prevenível por vacina há uma porcentagem da população que precisa ser protegida para que o vírus ou a bactéria deixe de circular naquele local.

Esse limiar de imunidade de rebanho varia de acordo com vários fatores, entre eles o quanto aquela enfermidade é contagiosa, a forma de transmissão da doença e a eficácia das vacinas disponíveis.

Vamos a alguns exemplos práticos. Para controlar o sarampo em determinada região, é necessário que mais de 95% das pessoas estejam vacinadas. Já na gripe, essa taxa fica na casa dos 50%.

Em outras palavras, se 95 pessoas são efetivamente vacinadas contra o sarampo, aquelas cinco que não podem tomar suas doses ficam protegidas por tabela, pois o vírus não encontra indivíduos vulneráveis para iniciar cadeias de transmissão e um surto local.

E na pandemia atual?

Ainda não se sabe ao certo qual é a porcentagem de vacinação necessária para atingir a imunidade de rebanho contra a covid-19.

Atualmente, os cientistas calculam que essa taxa deve ficar entre 70% e 90%.

Em dezembro, o imunologista americano Anthony Fauci, líder da força-tarefa de resposta à pandemia nos Estados Unidos, admitiu que será preciso vacinar mais de 90% da população para conseguir controlar de vez os números de casos e mortes.

Enfermeira Monica Calazans tomando a primeira dose da CoronaVac
Legenda da foto,

A enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 17 de janeiro

Esses indícios já mostram que a aplicação de doses aprovadas no Brasil precisa ser acelerada com urgência, uma vez que atingimos apenas 0,68% da população, segundo o banco de dados Our World in Data atualizados até 28 de janeiro (para efeitos comparativos, Israel, um país pequeno, mas o mais avançado na vacinação até agora em relação ao tamanho de sua população, já imunizou 4,56 milhões de pessoas).

Se considerarmos que a campanha começou no Brasil há 12 dias e, de acordo com Our World Data, 1,45 milhão de brasileiros receberam a primeira dose até quinta-feira (28), isso dá uma média de 120 mil pessoas vacinadas por dia.

Se precisarmos imunizar até 90% da população para eventualmente atingir a imunidade coletiva, no Brasil esse total corresponde a 188,5 milhões de pessoas vacinadas.

Mas, se continuarmos no ritmo atual de 94 mil doses por dia, demoraremos 1.570 dias (ou pouco mais de quatro anos) para atingir o limiar de 90%.

Lembrando que, para a maior parte das vacinas contra o coronavírus (incluindo a CoronaVac e a AstraZeneca, as duas disponíveis aqui até agora) são necessárias duas doses do imunizante.

Exemplo que vem do passado

A epidemiologista Carla Domingues foi coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde por quase dez anos, entre 2011 e 2019.

De acordo com sua experiência, o Brasil tem total capacidade de acelerar seu plano e vacinar um número bem maior de pessoas contra a covid-19.

"Nas campanhas de vacinação contra a gripe, que acontecem todos os anos, nós conseguimos imunizar 80 milhões de brasileiros em apenas 90 dias", compara.

Domingues acrescenta que o país tem cerca de 30 mil profissionais de saúde contratados para fazer a vacinação.

"Cada um deles consegue atender de 20 a 30 pessoas por dia. Portanto, não é exagero dizer que podemos imunizar 900 mil ou até 1 milhão de indivíduos no país diariamente", pontua.

O PNI também traz ótimas lembranças de outras campanhas de imunização que, ao longo de anos, foram capazes de controlar e até eliminar algumas doenças do país (pelo menos temporariamente), como a poliomielite, a varíola e o sarampo.

Exemplo que vem de fora

Com a aprovação das primeiras vacinas contra a covid-19, Israel logo despontou como o modelo de rapidez e eficiência na aplicação das doses.

Com o início da campanha em 19 de dezembro, o país conseguiu em pouco mais de um mês proteger metade da sua população.

Dados divulgados recentemente pelo governo israelense indicam uma queda significativa nas notificações de novos casos de infecção e na taxa de hospitalização.

É claro que as escalas são incomparáveis: Israel possui um território pequeno, com fronteiras bem controladas e apenas 8,8 milhões de habitantes.

Mas a experiência por lá sinaliza que a pandemia pode ser controlada se o planejamento for rápido e bem coordenado.

Outras nações que já avançaram bastante na vacinação são Emirados Árabes Unidos (29% da população vacinada), Reino Unido (11%) e Bahrein (8%).

Situação exige agilidade

Além da vacinação representar a única saída possível (e segura) desta pandemia, é preciso lembrar outro fator que está preocupando os cientistas: a descoberta de mutações do coronavírus.

Por ora, as três que chamaram mais atenção foram detectadas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, mais precisamente em Manaus.

Com a alta circulação da doença, há o risco de aparecerem mutações que diminuem a eficácia das vacinas já testadas e aprovadas.

Por isso, é urgente agir com rapidez para quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus e evitar que essas novas variantes se espalhem e tomem conta do pedaço.

"Também não sabemos quanto tempo de imunidade as vacinas conferem. Pode ser que, no futuro, precisaremos vacinar de novo os grupos prioritários sem ter dado a primeira dose para todo mundo", antevê o médico virologista Amilcar Tanuri, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O que acontece na prática?

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que a campanha de vacinação contra a covid-19 no Brasil está sofrendo com falhas nos sistemas de informação.

"Nas campanhas anteriores, os profissionais de saúde precisavam apenas transmitir os números de vacinados de cada público-alvo. Ao final do período, eles basicamente passavam às centrais municipais e estaduais informações do tipo 'hoje eu vacinei 50 idosos, 20 indivíduos com doença cardíaca, 10 com doença renal…'", exemplifica Domingues.

Na campanha contra a covid-19, esse processo se tornou bem mais complexo. Agora, é necessário preencher nome, endereço, CPF, número do cartão do SUS, dose da vacina, qual lote ela pertence, o fabricante…

Essa exigência existe porque temos duas vacinas aprovadas no país até o momento: a CoronaVac (Instituto Butantan/Sinovac) e a CoviShield (FioCruz/Universidade de Oxford/AstraZeneca).

Ambas exigem as duas doses para conferir proteção, mas o tempo entre a primeira e a segunda aplicação é diferente.

A segunda dose da CoronaVac é dada de 14 a 28 dias depois da primeira. Já na CoviShield, esse intervalo sobe para um a três meses.

Outro ponto de atenção: um indivíduo deve receber duas doses da mesma vacina. Não dá pra aplicar uma da CoronaVac e depois a outra da CoviShield, por exemplo.

Todas essas recomendações e cuidados exigem, portanto, um tipo de cadastro mais completo para que não ocorram confusões. O problema é que esse processo toma muito tempo e está sendo feito na hora da vacinação.

Mulher recebe dose da vacina CoviShield
Legenda da foto,

Brasil tem capacidade de vacinar 900 mil pessoas por dia

"Sabendo que a campanha iria começar e alguns grupos tomariam a vacina primeiro, o Ministério da Saúde poderia já ter começado a fazer esse cadastro com antecedência lá nos meses de setembro ou outubro", lamenta Domingues.

Além de todo o trabalho no preenchimento dos dados, técnicos e enfermeiros estão relatando falhas e lentidão do sistema informatizado do Ministério da Saúde.

Em alguns locais sem internet, os profissionais precisam preencher as informações à mão, num papel, para só depois digitar tudo num computador.

Portanto, é possível que o número real de vacinados seja maior do que as estatísticas oficiais apontam.

O outro lado

Procurado pela reportagem da BBC News Brasil, o Ministério da Saúde respondeu por meio de uma nota encaminhada pela assessoria de imprensa.

O ministério informa que o plano de vacinação é dinâmico e pode sofrer ajustes necessários nas fases de distribuição das vacinas, "considerando a indicação de uso apresentada pelo fabricante, o quantitativo de doses entregues e os públicos prioritários já definidos".

Na nota, também fica claro que o cronograma de vacinação e como será feita a convocação dos públicos-alvo depende da disponibilidade das doses da vacina, que são entregues pelas fabricantes de forma gradativa.

"Atualmente o Brasil tem 354 milhões de doses de vacinas garantidas para 2021, por meio dos acordos com a Fiocruz (212,4 milhões de doses), Butantan (100 milhões de doses) e Covax Facility (42,5 milhões de doses)."

Se esse número for realmente confirmado (uma vez que a grande maioria dessas doses sequer foi fabricada), essas 354 milhões de doses atenderiam até 177 milhões de brasileiros.

De acordo com os cálculos feitos pelo ministério, 77 milhões de brasileiros fazem parte dos 27 grupos prioritários definidos no plano de vacinação contra a covid-19.

Esses grupos são divididos por faixas etárias (acima de 80 anos, entre 75 e 79, de 70 a 74 e assim por diante), por condições (indivíduos com diabetes, doenças cardíacas, deficiências…) e por categoria laboral (profissionais da saúde, trabalhadores da educação, forças de segurança, funcionários do sistema prisional…).

"Lavajatismo vacinal"

Na opinião de Lotufo, outro fator que tem atrapalhado o andamento da campanha de vacinação contra a covid-19 é o excesso de polêmicas com as pessoas que aproveitam cargos e posições de prestígio para tomarem suas doses mesmo quando não fazem parte dos grupos prioritários.

Em algumas cidades, como Manaus, a vacinação chegou a ser paralisada para que fossem apurados desvios e o "sumiço" de doses.

"Estamos acompanhando uma espécie lavajatismo vacinal, em que se presta mais atenção nos casos dos fura-filas, que logicamente estão errados, do que no problema sistêmico da falta de dados e de informações das secretarias estaduais e municipais de saúde", diz.

O epidemiologista faz alusão à Operação Lava-Jato, o conjunto de investigações de corrupção da Polícia Federal que culminou na prisão de políticos e empresários e contou com ampla cobertura da imprensa nos últimos anos.

"Muitos secretários de Saúde só sabem tirar fotos. Eles precisam ser cobrados sobre o que estão fazendo para que mais pessoas sejam vacinadas logo", opina.

  • André Biernath
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O perigo das festas de fim de ano. Fiscalização de bares e restaurantes será reforçada em Pernambuco


Secretários Pedro Eurico, André Longo e Antônio de Pádua


Às vésperas das festas de fim de ano, o Governo de Pernambuco anunciou, nesta terça-feira (22), o reforço na fiscalização de locais que estão descumprindo protocolos de funcionamento do Plano de Convivência das Atividades Econômicas com a Covid-19. A proximidade do Natal e Revellion pode levar a população a optar por confraternizações, que devem ser realizadas com o mínimo de pessoas possível, tomando todos os cuidados de proteção e higiene. 

O anúncio do reforço foi dado em entrevista coletiva de imprensa remota, que teve a presença dos secretários Pedro Eurico, de Justiça e Direitos Humanos, Antônio de Pádua, Defesa Social e André Longo, Saúde.

O Procon-PE, desde o início do plano de retomada econômica de Pernambuco, ficou responsável pela fiscalização dos locais que poderiam infringir os protocolos, junto à Polícia Militar de Pernambuco. Desde o início de dezembro, as ações de fiscalização foram intensificadas com a presença do Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e, em alguns casos, da Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon). 

"Há três semanas estamos realizando operações conjuntas para fiscalizar bares, restaurantes e casas noturnas, e o descumprimento aos protocolos têm sido recorrente em diversos estabelecimentos. Tivemos até situações onde estabelecimentos precisaram ser interditados por dois dias seguidos por promover aglomerações. É certo que muitos estabelecimentos cumprem os protocolos, mas é preciso que haja consciência de todos desse setor", informou André Longo.  

O secretário Pedro Eurico afirmou que as proibições existentes são necessárias. "As pessoas têm que entender que o Governo tem todo o interesse de que o lazer, o passeio, o descanso, funcione. O que não pode acontecer é se colocar em risco a vida das pessoas. Esse é o primado, o bem jurídico fundamental", disse. 

De acordo com Eurico, medidas cada vez mais fortes serão tomadas no sentido de não permitir abusos que são observados em bares e restaurantes. O secretário, no entanto, não detalhou como quais seriam essas medidas.

O secretário de Defesa Social informou que o número de pessoas frequentando bares e restaurantes aumentou. "A gente observou que agora em novembro e, especialmente, em dezembro, tem aumentado o número de pessoas frequentando bares e restaurantes", comentou Antônio de Pádua.    

Pádua detalhou a quantidade de estabelecimentos autuados. "As fiscalizações têm sido intensificadas, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar têm trabalhado junto com o Procon. Somente agora neste mês de dezembro, já foram realizadas, pelo Corpo de Bombeiros, 485 fiscalizações em estabelecimentos. Foram 451 abordagens policiais, 117 estabelecimentos notificados pelo Corpo de Bombeiros e 45 estabelecimentos interditados. 18 pessoas foram conduzidas para as delegacias por se recusarem a cumprir as determinações sanitárias" relatou o secretário. 

André Longo rememorou a importância do cuidado, por causa da transmissão em crescimento, mesmo em reuniões familiares. "O Natal sempre foi época de confraternizações e efusivos encontros, mas este ano precisa ser diferente. A orientação é que as comemorações não reúnam mais do que 10 pessoas e fiquem restritas ao seu núcleo familiar mais próximo", orientou o secretário de Saúde. 

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

STF autoriza obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19




Nove ministros acompanharam o relator Ricardo Lewandowski; Kassio Nunes argumentou que o governo federal deve ser ouvido.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira 17 que o Estado pode determinar a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19. Nove ministros acompanharam o relator, Ricardo Lewandowski, ao avalizar a adoção de restrições a direitos de pessoas que recusarem a imunização, mas rejeitaram o uso da força para garantir o processo.

Votaram a favor da possibilidade de obrigatoriedade os ministros Ricardo Lewandowski (relator de duas ações), Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rosa Weber, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.

Kassio Nunes divergiu parcialmente do relator, ao argumentar que o governo federal deve ser ouvido e que a obrigatoriedade deve ser adotada apenas em último caso. “Esta [a vacinação obrigatória] deve ser medida extrema, apenas para situação grave e esgotadas todas as formas menos gravosas de intervenção sanitária”, argumentou.

O STF conclui, assim, o julgamento de duas ações que tratavam da obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19. Relatadas por Lewandowski, elas foram apresentadas por PDT e PTB. “Diante do iminente conflito federativo – que sustenta o deferimento da Medida Cautelar no presente caso – não pode o Ministério da Saúde tolher dos estados a definição de protocolos mais rígidos de imunização, notadamente quanto à compulsoriedade”, sustentou o PDT.

Já o PTB argumentou que a obrigatoriedade coloca “em grave risco a vida, a liberdade individual dos indivíduos e a saúde pública da coletividade”. “Neste momento inicial, inexiste segurança quanto aos efeitos colaterais das vacinas e nem certeza quanto à sua eficácia contra o Covid-19, já que assumidamente diversas etapas obrigatórias para a segurança de vacinas deixaram de ser realizadas”, alega a sigla.

Com informação de Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

‘Para que essa ansiedade, essa angústia?’, diz Pazuello ao lançar plano de vacinação da Covid-19



Foto: EVARISTO SA / AFP

FOTO: EVARISTO SA / AFP


"Nós estamos trabalhando', disse o ministro. Pazuello não deu mais detalhes do plano em coletiva com Bolsonaro.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello apresentou nesta quarta-feira 16 o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, que detalha as fases previstas até então para a campanha futura.

Alinhado com o presidente Jair Bolsonaro em um discurso de ‘união’ com governadores – também presentes – e sociedade civil, Pazuello chegou a dizer que não entendia a “ansiedade” e “angústia” pela chegada da vacina da Covid-19.

Segundo o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), o coronavírus já matou 182.799 brasileiros e infectou outros 6,9 milhões. Os dados mais recentes indicam uma tendência de alta no número de mortes e casos nas últimas semanas.

“Senhores, vamos nos orgulhar da nossa capacidade. Ela não foi feita por mim, ela já está lá. Foram nossos antecessores que criaram o SUS [Sistema Único de Saúde] e fizeram o Plano Nacional de Imunização, então vamos levantar a cabeça. Acreditem: o povo brasileiro tem capacidade ter o maior sistema de saúde do mundo. Para que essa ansiedade, essa angústia? Nós somos a referência na América Latina e tamo [sic] trabalhando.”

Pazuello também alfinetou a imprensa ao dizer que os jornalistas deveriam “divulgar informações reais”, e quis passar um tom de tranquilidade em relação à complexa logística de distribuição do futuro imunizante.

Para ele, assim que vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa] forem aprovadas, a “logística é simples” e será compartilhada com a capilaridade dos estados na distribuição aos municípios.

Termo de responsabilidade

Na coletiva, Pazuello afirmou ainda que não será necessário que as pessoas assinem termo de responsabilidade para serem vacinadas.

“Autorização de uso emergencial não é uma campanha de vacinação. Ela é limitada a grupos específicos e esses grupos são voluntárias. Não é uma campanha que as pessoas vão chegar na porta do posto de vacinação e vão ter que assinar um termo de consetimento livre e esclarecido. Não será exigido termo algum nos postos de vacinação para nenhum brasileiro quando disponibilizarmos as vacinas registradas seguras e garantidas pela Anvisa”, disse.

A afirmação confronta o que o presidente Jair Bolsonaro declarou a apoiadores.

“[A vacina] não é obrigatória. Vocês vão ter que assinar o termo de responsabilidade, se quiserem tomar. A Pfizer é bem clara no contrato: ´Não nos responsabilizamos por efeito colateral’. Tem gente que quer tomar, então toma. A responsabilidade é sua. Para quem está bem fisicamente, não tem que ter muita preocupação. A preocupação é o idoso, quem tem doença”, afirmou.


Carta Capital

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 22 de setembro de 2020

'Apenas a vida de vocês importa?': o desabafo de quem continua isolado em meio a aglomerações no país



Luciana Viegas estava em um quarto de hospital ao lado do filho de três anos, que respirava com a ajuda de um balão de oxigênio — com suspeita de covid-19, depois negada por um teste —, enquanto via no seu celular fotos de amigos em praias e bares.

A professora de educação básica em Várzea Paulista (SP) resolveu desabafar.

"Eu me tranquei durante cinco meses. Eu não fui ao mercado durante quase dois meses. Eu não fiz festa, eu não participei de festa. Cinco meses com duas crianças full time, sobrecarga, choro no portão querendo passear na rua. Segurando firme", escreveu ela em 6 de setembro, em um tuíte que acabou viralizando.

"A gente se cuidou, se preservou. A gente deixou de ver uma pá de gente. Mas para vocês tá suave, né? (...) Só não venha me dizer que você está preocupado. Porque vocês não estão. Não ligam para a vida de ninguém. Apenas a vida de vocês importa."

Final de Twitter post, 1

Ela diz que era um recado principalmente para amigos que haviam acompanhado o sofrimento de Luciana em dezembro de 2019, quando seu mesmo filho havia sido internado na UTI infantil com uma infecção respiratória. Autista e asmático grave, ele chegou ao hospital com baixa saturação de oxigênio e quase teve de ser intubado.

"A gente já passou por essa linha tênue de quase perder o filho por uma doença no pulmão, de ver carrinho de parada cardíaca (desfibrilador) ali, de o médico perguntar se a gente tem fé, e foi desesperador. Meu filho tentava respirar e não conseguia. Ficou uma semana comendo por sonda porque não tinha força no pulmão para comer ou mamar", conta Luciana à BBC News Brasil.

"Isso mudou a gente, e não quero que ninguém passe por isso, ainda mais se você pode causar ou pode evitar (a transmissão)."

Luciana Viegas com o marido e filhos
Legenda da foto,

Luciana Viegas com o marido e filhos: para proteger a saúde o menino, que tem asma severa, família segue em isolamento rígido

Por isso, Luciana e sua família — o filho de três anos, que já teve alta do hospital, a filha de dois anos e o marido — se mantêm em uma quarentena rígida desde março, totalmente isolados do resto do mundo. Tanto que Luciana ainda não consegue entender totalmente o que fez o filho adoecer dessa vez.

O marido havia parado há meses de trabalhar como motorista de aplicativo, e ela dá aulas online em casa. As vistas da mãe dela são de longe, no portão; os passeios com as crianças, antes frequentes nos fins de semana, agora são só dentro do carro.

"A gente tá se virando. Mas é um estresse", conta Luciana à reportagem.

"Quando fiz o tuíte, estava cansada. Porque vi amigos que acompanharam tudo o que a gente passou no ano passado, e que estão agora saindo, indo para a praia, como se nada estivesse acontecendo, como se não fosse importante (manter o isolamento social) pelas outras pessoas. Fiquei tão chateada com isso. Não ficar em casa é muita sacanagem."

Queda nos índices de isolamento

Luciana e sua família personificam um grupo cada vez menor, menos visível e mais frustrado diante das cenas de aglomeração pelo país e de uma pandemia que não arrefece: o das pessoas que continuam seguindo à risca a quarentena e o isolamento social, para proteger a si mesmas ou pessoas próximas de contraírem o novo coronavírus.

A pesquisa mais recente do Instituto Datafolha sobre o tema, em 19 de agosto, apontava que os níveis de isolamento social estavam no patamar mais baixo desde o início da pandemia.

Em abril, mais da metade dos entrevistados dizia que só saía de casa quando era inevitável. Em agosto, a parcela que caiu para 43%.

A fatia de quem está totalmente isolado e não sai de casa de jeito nenhum caiu de 21% em 17 de abril para 8% em agosto.

Embora esse grupo esteja diminuindo, sua importância foi e ainda é fundamental para manter sob controle os níveis da pandemia no Brasil, explica o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Ele acha que, se não tivesse havido o esforço (mesmo que desigual) de isolamento social nos últimos meses, o já altíssimo número de mortes no Brasil teria sido exponencialmente maior.

"As pessoas em isolamento tiveram um papel muito importante, para elas mesmas e para as demais", diz Lotufo à BBC News Brasil.

"Basta ver o exemplo de Manaus (no início da pandemia), onde o vírus teve um avanço incrível, matando tanta gente tão rapidamente, em comparação com São Paulo, onde houve mais disciplina no isolamento social", opina. Apesar de São Paulo ser o Estado com o maior número de mortes do país, seu sistema de saúde não chegou a colapsar, como ocorreu com o amazonense.

Um homem observa o mar Mediterrâneo em Nice, na França, em março
Legenda da foto,

"As pessoas em isolamento tiveram um papel muito importante, para elas mesmas e para as demais", diz epidemiologista

Ausência de perspectivas

No Rio de Janeiro, o tuíte escrito por Luciana Viegas levou às lágrimas a estudante de psicologia Brenda Cavalcante.

"Me doeu na alma o que ela (Luciana) escreveu, que, apesar de todo o esforço, ela não sabia se o filho estava ou não com covid", conta Brenda à reportagem.

Distantes entre si e sem se conhecer, as duas vivem situação semelhante: também em isolamento social rígido ao lado da filha de seis anos, Brenda está há seis meses sem ter contato físico com os pais (que têm pressão alta e, portanto, são do grupo de risco) e há sete meses sem ver a avó, de 92 anos. E não vê nenhuma luz no horizonte que indique que isso vá mudar em breve.

"O mais difícil é não ter perspectiva", diz. "Meus pais são apaixonados pela minha filha, mas só a veem da varanda. O contato físico com eles faz falta demais. E não sei se vou ter a chance de ver a minha avó com vida ainda."

Brenda Cavalcante
Legenda da foto,

''Eu realmente não sei como vou conseguir voltar a viver de maneira normal, diante de tanta decepção com o coletivo'', diz Brenda Cavalcante, ainda em quarentena total

E, da mesma forma, Brenda assiste com frustração às cenas de aglomeração no Rio.

"Acabei de ver no Twitter que a praia estava lotada ontem (13/9). Eu realmente não sei como vou conseguir voltar a viver de maneira normal, diante de tanta decepção com o coletivo. Com o governo nem se fala. Mas as pessoas não só fazem (aglomeração), como fazem questão de postar nas redes sociais. E eu que nem vejo a minha família. Mal vou ao mercado", diz.

"Eu tento não julgar, porque sei que as pessoas estão sem perspectiva, e isso acaba banalizando (as mortes na pandemia): 'morreu de covid'. (...) Mas por que a saúde mental deles vale mais do que a minha? A minha filha de seis anos tem medo de chegar perto da avó para não deixá-la doente, e quem tem 40 anos não pode se policiar mais e se isolar?"

O que dá para flexibilizar?

É bom ressaltar que não costuma ser fácil decidir, em âmbito individual, o que pode ou não ser flexibilizado na rotina familiar, profissional e de lazer - em um momento em que o número diário de casos e mortes continua elevado, embora esteja em um patamar menor do que há duas semanas.

Praia no Rio em 3 de setembro
Legenda da foto,

Pesquisa de agosto apontava que níveis de isolamento social estavam no patamar mais baixo desde o início da pandemia

"Temos de ter muito cuidado, porque a Europa, com sua alta no número de casos, mostra que a doença volta mesmo", afirma o epidemiologista Lotufo. "Apesar que, aqui no Brasil, já tivemos uma intensidade tamanha da pandemia que talvez (o repique) não seja igual (ao dos europeus)."

Lotufo lembra que atividades ao ar livre, com máscara, distanciamento social adequado e uso constante de álcool gel para higienização oferecem baixo risco de contaminação. Isso porque a livre circulação do ar ajuda a dissipar aerossóis e gotículas potencialmente infecciosas - ao contrário de de ambientes fechados, onde o compartilhamento de ar entre as pessoas é muito maior.

Nas praias, embora haja livre circulação de ar, o problema está na grande quantidade de pessoas próximas umas das outras, como tem sido visto em parte do litoral brasileiro nos últimos fins de semana e feriados.

A Associação Médica do Texas preparou um guia avaliando diferentes atividades do dia a dia e quais riscos elas oferecem para a disseminação do novo coronavírus.

Ir à praia, por sinal, é considerada uma atividade de risco moderado pelos autores.

Gráfico de risco de contágio por Covid-19 segundo a atividade realizada

Exaustão da quarentena

No caso de Luciana Viegas, o pulmão frágil do filho faz com que qualquer contato com o mundo externo ainda pareça muito assustador, principalmente porque as recentes idas ao hospital ainda estão frescas na memória da família.

Mas isso não quer dizer que o cotidiano com as crianças esteja fácil.

"Eu estou exausta da quarentena, meu marido também. Às vezes precisamos pegar o carro para dar uma espairecida, ou durmo 12h para descansar. A gente tem um motivador, que é a vida do meu filho, e saber que o que eu não quero que aconteça com meu filho, eu também não quero que aconteça com os demais", diz ela.

"Se eu fosse solteira, sem filhos, e dependesse puramente da minha empatia, não sei se seria 'chata' e 'fiscalizadora de quarentena'. Mas é porque as pessoas não passaram por esse terror que eu passei. Meu desabafo (no Twitter) foi justamente para os amigos que me viram noites e noites chorando desesperada. Ao mesmo tempo, fiquei feliz de ver que várias outras pessoas estão passando pelo mesmo que eu. Que bom que a nossa voz vai ser ouvida, porque as notícias são só sobre as pessoas que estão saindo da quarentena."

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasil em São Paulo


Professor Edgar Bom Jardim - PE