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terça-feira, 16 de outubro de 2018

'Ele soa como nós': David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, elogia Bolsonaro, mas critica proximidade com Israel



David DukeDireito de imagemREPRODUÇÃO
Image captionDavid Duke é conhecido por defender a supremacia branca e negar o Holocausto
Atualizado às 14h46
Rosto mais conhecido do grupo racista Ku Klux Klan (KKK) nos Estados Unidos, o historiador americano David Duke fez um raro comentário sobre a política brasileira no programa de rádio que comanda.
"Ele soa como nós. E também é um candidato muito forte. É um nacionalista", disse o ex-líder da KKK sobre Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL.
"Ele é totalmente um descendente europeu. Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro", afirmou Duke, que frequentemente classifica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Mandela como um "terrorista", em declaração que foi ao ar em um programa de rádio no dia 9.
Os KKK, como se tornaram conhecidos, começaram a atuar em 1865 nos Estados Unidos. Frequentemente usavam capuzes brancos para proteger sua identidade e fazer com que parecessem ainda mais assustadores para suas vítimas. O grupo, que defende a supremacia branca sobre os negros e judeus, foi responsável ​​por muitas das torturas e linchamentos que ocorreram com os negros no país.
O historiador, conhecido também por negar o Holocausto, fez ressalvas à proximidade do candidato brasileiro com Israel, comparando o que classifica como "estratégia" de Bolsonaro à que teria sido adotada por Donald Trump, na visão dele.
Após a publicação desta reportagem, o candidato do PSL respondeu, pelo Twitter, às declarações de Duke. Bolsonaro disse rejeitar qualquer apoio "vindo de grupos supremacistas".
"Sugiro que, por coerência, apoiem o candidato da esquerda, que adora segregar a sociedade. Explorar isso para influenciar uma eleição no Brasil é uma grande burrice! É desconhecer o povo brasileiro, que é miscigenado", acrescentou o ex-capitão.
Bolsonaro tuitou contra o apoio de David DukeDireito de imagemREPRODUCAO
Um dos organizadores dos protestos em defesa da supremacia branca em Charlottesville, no ano passado, e cabo eleitoral de Donald Trump entre membros da extrema-direita americana (o presidente diz que não o conhece pessoalmente e que rejeita o apoio), Duke apontou Bolsonaro como parte de um fenômeno nacionalista global, mas fez ressalvas sobre sua proximidade com judeus, a quem, em uma clara manifestação de antissemitismo, acusou de promoverem uma "lavagem cerebral no mundo".
"Ele vai fazer coisas a favor de Israel, e acredito que ele esteja tentando adotar a mesma estratégia que Trump: acho que Trump sabe que o poder judaico está levando a América ao desastre, levando a Europa e o mundo ao desastre. Então, o que ele está tentando fazer é ser positivo em relação aos judeus nacionalistas em Israel como uma maneira de obter apoio", disse o americano.

'O incrível Bolsonaro'

Diferentemente de Duke, Bolsonaro mantém em sua vida política uma postura de proximidade com a comunidade judaica e a defesa do Estado de Israel.
Jair BolsonaroDireito de imagemREUTERS
Image caption'Minha primeira viagem como presidente será para Israel', disse Bolsonaro
Há dois anos, enquanto o Senado votava o impeachment de Dilma Rousseff, o capitão brasileiro foi batizado nas águas do rio Jordão. Durante a campanha eleitoral, o candidato reforçou o elo com o país e promete expandir relações políticas, culturais e comerciais se eleito.
"Minha primeira viagem como presidente será para Israel", disse Bolsonaro em transmissão ao vivo no Facebook, no último domingo.
Como Bolsonaro, Trump é um defensor do Estado de Israel e apoia um alinhamento político com o país - ele fez sua segunda viagem internacional como presidente ao país, em maio do ano passado.
Protesto de grupos supremacistas brancos em Charlottesville (2017)Direito de imagemCHET STRANGE/GETTY IMAGES
Image captionDavid Duke foi um dos organizadores da marcha em defesa da supremacia branca em Charlottesville no ano passado
Na publicação sobre o programa de rádio em seu site pessoal, o americano se referiu ao brasileiro como "o incrível Bolsonaro". Na última segunda-feira, Duke compartilhou um vídeo com legendas em inglês em que o capitão reformado discursa "contra a degradação da família" e a "desconstrução da heteronormatividade".
Assim como a campanha de Bolsonaro, Duke também não respondeu aos pedidos de comentários enviados pela BBC News Brasil.
"A verdade é que os movimentos nacionalistas, que são basicamente pró-europeus, estão definitivamente varrendo o planeta. Mesmo em um país que você jamais imaginaria", afirmou Duke em referência à ascensão de Bolsonaro, que aparece com 59% das intenções de voto no segundo turno, segundo o Ibope (Fernando Haddad, do PT, tem 41%).
Dias antes do comentário de Duke, a agência internacional de notícias judaicas JTA classificou Bolsonaro como um "candidato extremamente pró-Israel que divide a comunidade judaica por sua retórica racista e homofóbica", ressaltando que o político "conta com o apoio apaixonado de grande parte dos judeus" no Brasil.
Protesto de grupos supremacistas brancos em Charlottesville (2017)Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionManifestantes exibiram bandeiras nazistas e dos Estados Confederados da América, que representa os estados sulistas nos EUA na época da Guerra Civil, durante marcha em Charlottesville
No ano passado, em palestra no clube judaico Hebraica, no Rio de Janeiro, Bolsonaro fez críticas a quilombolas e afirmou que "o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas, não fazem nada, eu acho que nem pra procriador servem mais". A fala foi aplaudida por parte dos presentes, mas depois recebeu críticas de lideranças judaicas.
À JTA, na semana passada, o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman, disse que Bolsonaro "se destacou entre os muitos candidatos por incluir o Estado de Israel em seus discursos principais de campanha".
"Ele é um apaixonado pelo povo do Estado de Israel", continuou Wurman.

Do Partido Nazista a 'BlacKkKlansman'

Nos anos 1960, antes de se juntar à KKK, David Duke foi membro do extinto "Partido Nazista da América", depois renomeado para Partido Nacional Socialista das Pessoas Brancas.
A liderança de Duke no Klan começou em 1974 e foi retratada no no filme BlacKkKlansman ("Infiltrado na Klan", em português), que narra a história de um policial negro que se infiltrou na Ku Klux Klan no Colorado, em 1978, e foi lançado pelo cineasta Spike Lee em agosto. O filme foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri do festival de Cannes de 2018.
Spike Lee (à direita) e John David Washington no set de filmagens de BlacKkKlansmanDireito de imagemUNIVERSAL
Image captionSpike Lee (à dir.) e John David Washington, que faz o papel de Ron Stallworth, no set de filmagens de BlacKkKlansman
A produção mostra como Duke, então líder nacional da organização supremacista, foi enganado pelo policial Ron Stallworth, que fingiu ser branco com a ajuda de um colega e conseguiu se tornar membro oficial da KKK.
Stallworth, que escreveu o livro que deu origem ao filme e chegou a ser designado como guarda-costas de Duke, conta que conversava com supremacista branco por telefone.
"Um dia ele me disse que era capaz de reconhecer um negro pelo telefone, porque eles falavam diferente. E me disse que, por exemplo, sabia que eu era um homem branco. Dei muitas gargalhadas depois."
Depois de sair da KKK, Duke foi congressista pelo Estado da Luisiana entre 1989 e 1992 e se candidatou, sem sucesso, a uma série de cargos nos anos 1990, incluindo senador e governador.
Em 2002, ele foi preso por um ano após de confessar que enganou apoiadores em troca de apoio financeiro e sonegou impostos.
Autor de três livros sobre o que classifica como "supremacia judaica" e defensor de teses contestadas, como a que sugere que negros seriam mais violentos e teriam QI inferior aos dos brancos, Duke voltou a ganhar projeção mundial em 2016, quando passou a apoiar a campanha presidencial de Donald Trump.
Após críticas por não se posicionar sobre o cabo eleitoral, Trump afirmou que mantém distância do historiador e se referiu a Duke como "um cara ruim". Duke, por sua vez, continuou a apoiá-lo nas redes sociais e em entrevistas.
No ano passado, o ex-líder da Ku Klux Klan agradeceu aos comentários pouco enfáticos do presidente americano sobre os protestos que liderou em Charlottesville, onde milhares de manifestantes da extrema direita empunharam tochas como as da KKK e fizeram saudações nazistas.
"Trump nos empoderou", afirmou Duke na época, após o presidente americano igualar a violência entre supremacistas brancos e grupos contrários no protesto.
Quando Trump, dias depois, fez críticas mais contundentes aos supremacistas, Duke reagiu. "Foi o voto branco esmagador que o colocou na Casa Branca e ele deveria se lembrar disso."
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 14 de outubro de 2018

Fracasso americano:Aumento do número de sem-teto nos EUA é ‘bomba-relógio’


Imagem mostra moradores de rua em PortlandDireito de imagemGETTY
Image captionO problema de falta de moradia é considerado crítico no país, segundo especialistas
Elas parecem estar em toda parte. São pessoas de diversas idades, dormindo sobre papelão ou diretamente no chão, sem teto, debaixo de pontes ou em parques com seus pertences em sacolas plásticas como símbolo de suas vidas em movimento.
Muitos chegaram às ruas recentemente, vítimas da prosperidade que nos últimos anos transformou muitas cidades da costa oeste dos Estados Unidos.
Enquanto as autoridades tentam responder a essa crescente crise, alguns dizem que o mais provável é que a situação piore.
O jornalista da BBC Hugo Bachega visitou a vibrante cidade de Portland, a maior de Oregon, no noroeste dos Estados Unidos e uma das que estão vivendo o problema.
Homem sem teto em rua de Los Angeles, nos EUA. A cidade é a segunda do país, depois de Nova York, com a maior população de pessoas sem tetoDireito de imagemREUTERS
Image captionLos Angeles é a segunda cidade dos Estados Unidos, depois de Nova York, com a maior população de pessoas sem teto
"É uma cidade de clima agradável, cultura rica e pensamento progressista", conta Bachega.
"É também um núcleo de inovação, parte do chamado Silicon Forest (Vale da Floresta, em tradução literal) - apelido dado ao grupo de empresas de alta tecnologia localizadas na área metropolitana de Portland - e os novos residentes se mudaram para lá nos anos pós-crise, atraídos pelas empresas de alta tecnologia e seus trabalhos bem remunerados".
"Mas a bonança não chegou para todos", acrescenta o jornalista.
Imagem mostra dois homens caminhando na rua, enquanto outro, sem teto, está inclinado sobre um banco de praça em Portland (EUA)
Image captionPortland é outra cidade que vê suas ruas cada vez mais cheias de pessoas sem teto
Como era de se esperar.

Escassez de moradia

O que aconteceu em Portland é uma história que se repete em várias cidades dos Estados Unidos, incluindo Nova York, Los Angeles e São Francisco.
A crescente demanda em uma área com falta de moradias rapidamente elevou o custo de vida e aqueles que estavam financeiramente no limite perderam a capacidade que tinham de pagar um lugar para viver.
Imagem mostra homem sem teto deitado em uma calçada em Portland, nos Estados Unidos
Image captionA situação que o país enfrenta é pior na região oeste, um destino normalmente escolhido por trabalhadores jovens com alta qualificação
Muitos foram resgatados por familiares e amigos ou programas governamentais e organizações de ajuda. Outros, no entanto, acabaram na rua. Os mais sortudos encontraram lugar em abrigos públicos. Não poucos estão agora em barracas de acampamento e veículos nas ruas.
"Mesmo que a economia esteja mais forte do que nunca", disse o prefeito de Portland, Ted Wheeler, do Partido Democrata, "a desigualdade está crescendo a um ritmo alarmante e os benefícios de uma economia em crescimento se concentram cada vez mais em menos mãos".
Muitos especialistas acreditam que é "uma bomba-relógio" nas ruas americanas que pode explodir para as autoridades, já que o problema está aumentando. "Temos mais desigualdade nos Estados Unidos, e isso, sem dúvida, tem impacto sobre as pessoas".
O número de moradores de rua aumentou em outras cidades prósperas da costa oeste do país, geralmente locais de destino para trabalhadores jovens com alto nível de qualificação, como São Francisco e Seattle - onde a culpa também tem sido atribuída aos preços em alta e aos despejos.
Imagem mostra pessas em rua de Portland, nos EUA
Image captionA quantidade de pessoas sem teto cai de forma geral nos EUA, mas em algumas cidades ocorre o contrário: os números disparam
Os números exatos são sempre difíceis de serem estabelecidos, mas 553.742 pessoas estavam sem moradia em uma mesma noite nos Estados Unidos em 2017, segundo o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano.
Foi a primeira alta em sete anos. O número, no entanto, ainda foi 13% inferior ao de 2010, graças ao declínio registrado em 30 estados - uma queda ofuscada pelos altos aumentos no resto dos EUA, com Califórnia, Oregon e Washington entre os piores estados.
Los Angeles, onde a situação é descrita como um fenômeno sem precedentes e crescente, tem mais de 50 mil pessoas desabrigadas, logo atrás de Nova York, com cerca de 75 mil pessoas.
Acampamento para quem não tem teto
Um homem apelidado de Tequila diante da casa em que vive em um acampamento para pessoas sem teto em Portland, nos EUA
Image caption"É muito assutador. A população de rua só cresce", diz Tequila, que tem 37 anos e vive em um acampamento em Portland
Joseph Gordon, um homem transgênero conhecido como Tequila, vive em um acampamento para pessoas desabrigadas chamado Hazelnut Grove e fundado em 2015, quando Portland declarou pela primeira vez estado de emergência devido à crise dos sem-teto.
"É muito assustador. As pessoas que conheço têm origens de vida muito diferentes, e a população de rua só cresce", diz à BBC o homem de 37 anos.
"Estando na rua você lida com todos os tipos de situações, como ter que relaxar convivendo com ratos. Você também começa a apreciar a água corrente ou o fato de poder ir ao banheiro sempre que quiser", conta Tequila. As pessoas normalmente pensam que ele é mexicano pela cor de sua pele e seu apelido, em referência à famosa bebida do México.
Imagem mostra estrutura do acampamento Hazelnut Grove, voltado a pessoas sem teto em Portland, nos EUA
Image captionHazelnut Grove, um acampamento para pessoas sem teto nos EUA oferece abrigo em pequenas estruturas de madeira
Os idosos e as minorias têm sido desproporcionalmente afetados pelo problema de falta de moradias, segundo um estudo da Universidade de Portland, que prevê que a tecnologia pode ter como consequência o corte de milhares de empregos de salários baixos, provavelmente piorando as coisas.
Imagem mostra objetos de moradores em acampamento para pessoas sem-teto nos EUA, junto à placa em que se lê: "Aqueles que dão luz à vida de outras pessoas não podem eliminá-la de si mesmos"
Image caption"Aqueles que dão luz à vida de outras pessoas não podem eliminá-la de si mesmos", diz placa em acampamento de sem-tetos nos EUA

Fartos dos vizinhos

A presença dos desabrigados em Portland e outras cidades americanas com o mesmo problema é mais visível do que nunca.
Os moradores se queixam cada vez mais de cheiro de urina, fezes humanas e objetos abandonados que se acumulam em espaços públicos, às vezes em suas próprias escadas.
Em alguns lugares, há uma sensação de que é uma batalha que está sendo perdida.
Mas essa é uma crise que vem se construindo há muito tempo.
Os cortes do governo federal em programas habitacionais acessíveis e instalações para saúde mental nas últimas décadas fizeram com que muitas pessoas acabassem nas ruas dos Estados Unidos, segundo autoridades e provedores de serviços, enquanto os governos locais têm se mostrando incapazes de preenche a lacuna.
Pertences de moradores de ruadebaixo de ponte em Portland, Oregón
Image captionMoradores das cidades que estão em crise se queixam de mau cheiro e de objetos abandonados nas ruas

Relatório devastador das Nações Unidas

O acadêmico australiano Philip Alston, relator especial das Nações Unidas para a pobreza extrema e os direitos humanos, viajou pelos Estados Unidos por duas semanas em dezembro do ano passado.
Sua missão incluiu visitas a Los Angeles e São Francisco, que resultou em um relatório contundente no qual diz que "o sonho americano" está se tornando rapidamente, para muitos, a "ilusão americana".
O governo do presidente Donald Trump criticou duramente as conclusões dele.
E o futuro, advertiu Alston em uma entrevista, não parece promissor.
"As políticas do atual governo federal estão focadas em cortar, ao máximo possível, os subsídios para moradia. E acredito que o pior ainda está por vir."
Moradora de rua dormindo em banco em uma rua de Los ÂngelesDireito de imagemREUTERS
Image captionA elevada população de pessoas sem casa contrasta com o nível de riqueza nos Estados Unidos
Outros países ricos também tiveram que enfrentar o problema dos sem-teto, em tempos em que os mais vulneráveis ​​sofrem o ônus das políticas de austeridade, os preços em alta e o desemprego. Mas na maior parte da Europa, por exemplo, ainda existe uma "rede robusta do sistema de assistência social" para ajudar aqueles que estão em risco, disse Alston.
"Em suma, se você está na Europa, você tem acesso a cuidados básicos de saúde e reabilitação psicológica e física, o que contrasta fortemente com os Estados Unidos."
De volta a Hazelnut Grove, Tequila, que encontrou um trabalho de meio período, pede doações para comprar papel higiênico, sacos de lixo e xampu.
Ele está reunindo documentos para se inscrever em um programa local de moradias econômicas, mas não espera se mudar do acampamento em que vive tão rápido.
"Ter uma grande população de pessoas sem teto não é um bom sinal, especialmente quando se vive no país mais rico do mundo", disse Tequila em entrevista à BBC. "Há muito pouca esperança. É uma situação extrema".
Fonte:BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE