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terça-feira, 21 de novembro de 2017

Mundo:Robert Mugabe: de herói guerrilheiro a líder autoritário, as muitas faces do presidente que renunciou hoje


Do ativismo político ao poder autoritário: quem é Robert Mugabe
À medida que a economia do Zimbábue foi de mal a pior e, finalmente, se tornou desastrosa, a morte política e, até mesmo física, de Robert Mugabe foi prevista muitas vezes. Mas ele sempre confundiu seus críticos - pelo menos até hoje.
No entanto, ao ficar ao lado de sua mulher, Grace, na batalha pela sucessão, Mugabe pareceu ter ido longe demais, e perdeu o apoio dos líderes militares que o mantinham no poder. Eles então mudaram de lado e intervieram em nome do ex-vice-presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, que fez carreira nas forças de segurança.
Mnangagwa, que foi demitido por Mugabe há cerca de duas semanas, foi apontado líder do partido no poder no país, o Zanu-PF, no domingo.
Com 93 anos, a saúde de Mugabe tem se deteriorado visivelmente no último ano, apesar de que, oficialmente, ele ainda fosse candidato à reeleição no próximo ano.
Antes das eleições de 2008, Mugabe disse: "Se você perde uma eleição e é rejeitado pelo povo, é hora de deixar a política". Mas depois de ficar atrás de Morgan Tsvangirai no primeiro turno, Mugabe se mostrou desafiador, jurando que "apenas Deus" poderia removê-lo do cargo. E para ter certeza, foi desencadeada uma resposta violenta para preservar seu controle sobre o poder.
Para proteger seus apoiadores, Tsvangirai se retirou do segundo turno. Embora Mugabe tenha sido forçado a dividir o poder com o seu rival há anos, ele permaneceu - até agora - como o presidente do país, cargo que ocupa desde 1980.
Robert Mugabe à esquerda, o representante da ANC Georges Silundika e o líder do partido Zanu-PF (União dos Povos Africanos do Zimbábue) Joshua Nkomo, em reunião em Dar Es Salaam, Tanzania.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRobert Mugabe, em 1960, foi fortemente influenciado pelos ideais pan-africanos
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Os marcos da vida de Robert Mugabe

- 1924: Nasceu
- 1964: Foi preso pelo governo da Rodésia.
- 1980: Ganhou as eleições pós-independência
- 1996: Casou-se com Grace Marufu
- 2000: Perdeu o referendo, milícias pro-Mugabe invadem fazendas de brancos e atacam apoiadores da oposição.
- 2008: Ficou em segundo lugar no primeiro turno das eleições, atrás de Tsvangirai, que se retira do segundo turno em meio a ataques aos seus apoiadores
- 2009: Em meio a um colapso econômico, empossou Tsvangirai como primeiro-ministro, em um conturbado governo nacional que durou quatro anos
- 2017: Retirou do poder o antigo aliado Emmerson Mnangagwa, então vice-presidente, abrindo caminho para que sua mulher, Grace, o sucedesse. Forças armadas intervêm e Mugabe é retirado do comando do partido e acaba renunciando
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Ícone da luta de libertação

Mesmo depois de 37 anos no poder, Mugabe ainda mantinha a mesma visão de mundo - as forças socialistas e patrióticas do Zanu-PF ainda estavam lutando contra os "irmãos maus" do capitalismo e colonialismo.
Qualquer crítico era considerado como "traidor e vendido" - um retorno à guerra de guerrilhas, quando esses rótulos podiam representar uma sentença de morte.
Em 2000, diante de uma forte oposição pela primeira vez, Mugabe destruiu o que um dia já foi uma das economias mais diversificadas da África, com o objetivo de reter o poder. Confiscou fazendas de proprietários brancos, que eram a espinha dorsal da economia do país, e assustou doadores internacionais. Mas, em termos meramente políticos, ele venceu seus inimigos - continuou no poder.
Mugabe sempre colocou a culpa dos problemas econômicos do Zimbábue em uma trama armada pelos países ocidentais, comandados pelo Reino Unido, para retirá-lo do poder devido ao confisco de fazendas cujos donos eram brancos. Já seus críticos culpam o próprio Mugabe, dizendo que ele demonstrou não compreender como uma economia moderna funciona.
Manifestantes queimam notas sem valor em 2016Direito de imagemAFP
Image captionManifestantes queimam notas sem valor em 2016 em Harare, capital do Zimbábue.
Mugabe disse uma vez que o país nunca iria quebrar - parecia que ele estava disposto a testar sua teoria até o limite, com o Zimbábue registrando a mais rápida queda econômica do mundo e uma inflação de 231 milhões por cento em julho de 2008.
O professor Tony Hawkins, da Universidade do Zimbábue, observou que, com Mugabe, "sempre que a economia se metia no caminho da política, a política ganhava".

Poder a qualquer custo

As táticas que Mugabe e seus apoiadores usaram vinham da guerra de guerilha.
Depois de ter sofrido a primeira derrota eleitoral de sua carreira, em um referendo de 2000, Mugabe liberou sua milícia pessoal - veteranos de guerra apoiados pelas forças de segurança - para usar violência e assassinato como estratégia eleitoral.
Robert Mugabe cumprimenta apoiadores em 2013Direito de imagemAFP
Image captionMugabe diz que está lutando pelos direitos do povo negro do Zimbábue
Oito anos depois, uma situação parecida ocorreu quando Mugabe perdeu o primeiro turno das eleições presidenciais para o seu antigo oponente Morgan Tsvangirai.
Quando necessário, todas as ferramentas do Estado - as forças de segurança, os serviços civis, a mídia estatal - que eram controlados principalmente por membros do partido Zanu-PF, foram usados em benefício do partido no poder.
O homem que lutou pelo "um homem, um voto" introduziu uma exigência de que eleitores provassem seu local de residência com uma conta de consumo, o que os jovens e desempregados apoiadores da oposição não costumam ter.
Na verdade, os sinais da sua atitude em relação à oposição estavam visíveis desde o início dos anos 1980, quando membros de uma brigada treinada pela Coreia do Norte foram enviados para Matabeleland, região de origem do seu rival de então, Joshua Nkomo. Milhares de civis foram mortos até que Nkomo aceitasse dividir o poder com Mugabe - episódio precursor do que viria a ocorrer com Tsvangirai.
Um dos inegáveis avanços de Mugabe, que se formou professor antes de se tornar presidente, foi a expansão da educação. O Zimbábue tem a mais alta taxa de alfabetização da África, de 90% da população.
O cientista político Masipula Sithole, já falecido, disse certa vez que ao expandir a educação, Mugabe estava "cavando sua própria cova". Os jovens com acesso a educação poderiam analisar os problemas do Zimbábue por si próprios. E a maioria culpou a corrupção do governo e a má administração pela falta de empregos e o aumento dos preços.

Figura caricata

Mugabe frequentemente alegava estar lutando em prol dos camponeses pobres, mas a maior parte da terra que ele confiscou acabou nas mãos de pessoas do seu círculo pessoal.
Veteranos de guerra em 2000 marcham em um campo, segurando enxadasDireito de imagemAFP
Image captionMugabe não tinha receio de usar violência para se manter no poder
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu disse uma vez que o longevo presidente do Zimbábue tinha se tornado uma figura caricata do arquétipo do ditador africano.
Durante a campanha presidencial de 2002, ele começou a usar camisas coloridas e brilhantes estampadas com seu rosto - um estilo copiado por muitos governantes africanos autoritários.
Ao longo dos 20 anos anteriores, esse homem conservador só tinha sido visto em público vestido de terno e gravata ou em trajes de safari.
Muitos ficaram se perguntando porque ele não colocava os pés para o alto e aproveitava seus últimos anos ao lado de sua jovem família.
A picture taken on February 21, 2017 shows a cake bearing a portrait of Zimbabwe's President Robert Mugabe during a private ceremony to celebrate Mugabe's 93rd birthday in Harare.Direito de imagemAFP
Image captionRobert Mugabe comemorou seu aniversário de 93 anos no começo deste ano
Mugabe afirma ser um católico convicto. Fiéis da Catedral Católica de Harare eram ocasionalmente surpreendidos por tropas de segurança quando o então presidente aparecia para a missa de domingo.
Teve dois filhos com Grace, sua então secretária, quando era casado com Sally, sua popular primeira mulher. Mas foi Grace, que depois virou sua companheira, que no fim das contas provocou sua queda.

'Rei'

Embora Mugabe tenha vivido além de muitas previsões, a crescente tensão nos últimos anos cobrou seu preço e sua aparência até então impecável começou a revelar sinais de severo envelhecimento.
Em 2011, um telegrama diplomático dos Estados Unidos vazado pelo Wikileaks sugeriu que Mugabe estivesse com câncer de próstata.
Mas ele sempre teve um estilo de vida saudável. Grace já afirmou que ele acorda às 5 da manhã para fazer exercícios, inclusive yoga. Ele não bebe álcool ou café e é vegetariano.
Mugabe tinha 73 anos quando teve seu terceiro filho, Chatunga.
Ex-presidente Robert Mugabe e a ex-primeira-dama Grace Mugabe durante a comemoração dos 37 anos de independência do país, em abril de 2017, na capital Harare.Direito de imagemAFP
Image captionEx-presidente Robert Mugabe e a ex-primeira-dama Grace Mugabe durante a comemoração dos 37 anos de independência do país, em abril de 2017, na capital Harare.
Sempre foi um homem orgulhoso de si mesmo.
Ele dizia que só sairia do poder quando a "revolução" estivesse terminada. Estava se referindo à redistribuição das terras que um dia pertenceram aos brancos. Mas ele também queria escolher seu sucessor, que deveria vir, com certeza, dos quadros do partido Zanu-PF.
Didymus Mutasa, que já foi um dos companheiros mais próximos de Mugabe, disse à BBC que, na cultura do Zimbábue, reis só eram substituídos quando eles morriam "e Mugabe é o nosso rei".
Nem mesmo seus aliados mais próximos estavam preparados para a conversão do Zimbábue em uma monarquia, com o poder nas mãos de uma única família.
Fonte:bbc
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O submarino argentino desaparecido misteriosamente com 44 marinheiros

Três submarinos argentinosDireito de imagemAFP
Image captionOs três submarinos da Marinha Argentina, entre eles o ARA San Juan, que está desaparecido com 44 tripulantes
A Marinha argentina afirmou nesta segunda-feira (20) que o capitão do submarino ARA San Juan, que desapareceu com 44 pessoas na quarta (15), informou em sua última comunicação que a embarcação estava com problemas de bateria e que havia apresentado um "curto-circuito". O comando terrestre pediu, então, que o comandante retornasse imediatamente a Mar del Plata.
O submarino fazia o trajeto entre Ushuaia, na Patagônia, no extremo sul do continente, à base naval de Mar del Plata, ao norte. Ele se comunicou pela última vez na quarta-feira, quando estava a 432 km do ponto de partida da viagem.
O porta-voz da Marinha argentina, Enrique Balbi, disse que ainda há oxigênio e comida para a tripulação. Segundo ele, a embarcação tinha provisões para 15 dias e pode estar tanto na superfície quanto submersa, com ou sem propulsão. O submarino iniciou sua viagem na segunda-feira, dia 13.
No sábado (18), o Ministério da Defesa argentino informou que foram detectadas sete tentativas de chamada por satélite que poderiam ser do submarino, porém nesta segunda (20), a informação não foi confirmada.
Mapa com a rota do submarino argentino
O comandante da Marinha argentina, Gabriel Galeazzi, afirmou que as buscas continuarão até que a embarcação apareça.
Dez barcos e 11 aviões estão trabalhando nas buscas, segundo informou Balbi ao jornal La Nación. As condições meteorológicas na região das buscas não foram favoráveis nos últimos dias, com ventos fortes ajudando na formação de ondas de até 8 m de altura.
O Brasil enviou três navios da Marinha brasileira e disponibilizou dois aviões da Força Aérea Brasileira para as buscas. Os Estados Unidos e o Reino Unido, além de Chile, Peru e Uruguai, também ajudam nas buscas.
De origem alemã, o ARA San Juan é um dos três submarinos que a Marinha argentina tem e foi incorporado à frota do país em 1985.
Bandeiras argentinas na frente da base naval de Mar del PlataDireito de imagemREUTERS
Image captionNa frente da base naval da Argentina em Mar del Plata foram colados cartazes e bandeiras com mensagens de esperança de que os tripulantes do submarino serão resgatados

Resgate

Enquanto isso, o governo argentino segue treinando equipes para um possível resgate da tripulação quando o submarino for encontrado, informa o "La Nación".
Uma câmara submarina de resgate foi transportada dos Estados Unidos para a Argentina. O equipamento pode submergir até 200 m e tem capacidade de resgatar seis pessoas por vez. O governo americano também está enviando um módulo de resgate pressurizado, que consegue salvar até 16 pessoas a cada vez que desce ao fundo do mar.

Tripulação

Entre os 44 tripulantes está uma única mulher, Eliana María Krawczyk, de 35 anos. Segundo a imprensa argentina, ela é a primeira oficial de submarino do país e da América do Sul. O pai da oficial disse ao La Nación que apelidara a filha de "Rainha dos Mares".
Na embarcação, ela ocupa o cargo de chefe de armas.
O nome do capitão do ARA San Juan também foi divulgado: Pedro Martín Fernández.
A argentina Eliana María KrawczykDireito de imagemAFP
Image captionA argentina Eliana María Krawczyk é a única mulher a bordo do submarino ARA San Juan
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 18 de novembro de 2017

A 'neurocientista' de 7 anos que faz sucesso ensinando ciência na internet


Amoy Antunet Shepherd
Image captionAmoy é norte-americana e, graças ao Facebook, se transformou em "professora de ciência" com apenas sete anos

Amoy Antunet Shepherd tem 7 anos e, ainda que esteja na escola primária, suas ambições são grandes: quer ser neurocirurgiã.
E até já começou a dar aulas pela internet. "Hoje vamos ver como funciona um neurotransmissor chamado GABA", anuncia em um dos seus vídeos mais populares no Facebook.
"Não, não me refiro a Yo Gabba Gabba (série de televisão infantil norte-americana) , mas sim ao ácido gamma-aminobutírico", complementa, exibindo um sorriso.
Com uma explicação teórica digna de um professor universitário, mas com as palavras que usaria uma menina, Amoy também mostra seu laboratório.
"Estes são meus tubos de ensaio", diz, apontando para pequenos cilindros. "E estes são meus béquers (recipientes de vidro usados em laboratório)", acrescenta, mostrando os instrumentos para a câmera.
"Aqui estão minhas provetas. E estes são alguns dos meus microscópios", detalha ainda, enquanto seu pai registra tudo no vídeo.

Uma paixão de anos

"Eu gosto de ciência porque sempre há algo a aprender. Sempre está mudando", conta a pequena à BBC.

Amoy com seu microscópio (Foto: Amoy Antunet/Facebook)
Image captionO interesse da menina pela ciência surgiu quando descobriu o microscópio que o pai usava para estudar biologia (Foto: Amoy Antunet/Facebook)

Amoy vive em Atlanta, Geórgia, no sudeste dos Estados Unidos, e sua paixão pela ciência começou, aos três anos, quando descobriu o microscópio com o qual seu pai estudava biologia.
Em 2015, ele começou a publicar os vídeos da filha no Facebook. Alguns deles viralizaram, superando 2 milhões de visualizações e 5 mil comentários.
"Uau! essa pequena professora está me ensinando muito sobre neurotransmissores", comenta um de seus seguidores na rede social.
"Excelente, senhorita! Siga em frente com esse bom trabalho!", diz outra seguidora.
"Eu deveria ter ouvido isso antes do meu exame final de neuroteorias", observa um terceiro internauta.
"Adorável", "brilhante", "um gênio", dizem outros.

Futuro brilhante

A menina não só fala sobre neurotransmissores. Também explica em seus vídeos como funcionam o cérebro, o coração, os nervos e que é arco reflexo - a resposta imediata que temos à excitação de um nervo.

A menina conquista a internet com suas explicações científicas e seu sorriso (Foto: Amoy Antunet/Facebook)
Image captionA menina conquista a internet com suas explicações científicas e seu sorriso (Foto: Amoy Antunet/Facebook)

"Gostaria de um dia virar neurocirurgiã, para ajudar a pessoas com transtornos neurológicos, e também de ter meu próprio programa para que as crianças aprendam sobre ciência", diz, em frente à câmera.
É incontestável que o talento da menina desperta surpresa e fascinação por parte de muitos.
Apesar disso, alguns comentários na rede social sugerem que seu pai, Davin Antonio Shepherd, talvez tenha feito pressão demais para transformá-la em uma estrela da internet.
Ele se defende das críticas.
"Não se pode pressionar alguém a aprender algo que não quer aprender", disse ele à BBC.
"Ela é muito apaixonada por ciência. Se quisesse ser cozinheira, eu cozinharia com ela. Mas quer fazer experimentos científicos. E sempre foi muito fácil para mim ajudar a alimentar sua paixão."
Fonte: BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE