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sábado, 5 de novembro de 2016

O divã de Freud não é pequeno

Freud é um pensador que me atrai. Não sou psicanalista, mas admiro suas reflexões e forma com viu o avesso da coisas. Leio, atualmente, um biografia dele, escrita por Elizabeth Roudinesco. Muito bem elaborada, atraente, desperta especulações e prima pela erudição. Debato texto de Freud nas minhas aulas, apesar de haver historiadores que desprezem o mestre que tanto enalteço. Aprendi muito com seus livros e seus intérpretes. Há preconceitos que, também, invadem às academias e invejas que circulam agressivamente. A disputa intelectual é parte das lutas dos que se embriagam com o saber. O passado não está fora do que vivemos agora. Devemos compreendê-lo.
Freud desnudou o homem e seus desejo. Trouxe polêmicas e ambiguidade. Assustou a sociedade. Não hesitou. Falou da sexualidade, mostrou a densidade das escolhas e poder dos sonhos. Era senhor de muitos  caminhos. Não se intimidava com as questões de seus críticos. Ampliava vaidades, rompeu com amigos, conviveu com cientistas famosos. Sustentou desafios. Usou cocaína durante uns anos, fumava charutos, dialogava com as novidades que abalavam as universidades da época. Criou uma obra que não se foi. Sua hermenêutica é  um cristal precioso. Decifra, se engana, produz dúvidas e inquietações. Enfrenta as limitações e as máscaras do humano.
Não foi uniforme. Senti o golpe da primeira Guerra Mundial. Abraçou o pessimismo, desconfiou de certas generosidades e proclamou o lugar da violência e da pulsão de morte. Na literatura, encontrou-se com o mitos gregos, cultivou as tragédias, apaixonou-se por Shakespeare. Lá estão Édipo, Hamlet e as inúmeras fantasia que moram no humano. Observava o cotidiano como poucos , anotava detalhes, desenhava neuroses, assumia modelos, queria ser respeitado. Conseguiu êxito. Visitou os Estados Unidos com grande alarde. Tornou-se uma figura ímpar, embora não gozasse de unanimidade. Morreu deixando vasta influência.
Roudinesco escreve com elegância. Não esquece as curiosidade, visita fontes devastadoras, não foge de se colocar nas polêmicas. Trata-se de um livro singular. Lembrou-me de uma outra biografia de Freud, escrita por Peter Gay. Roudinesco já tem uma vasta obra, inclusive com livros traduzidos no Brasil. Num mundo complexo, navegar pelos oceanos da psicanálise é indispensável. Não termos todas as respostas, mas agitaremos apatias. Como o divã de Freud caberia os clientes contemporâneos? Já imaginou Cunha, Malafaia, Renan, Temer, Moro, Dilma numa sessão de terapia? E aquelas personagens cínicas que andam ocupando a imprensa com notícias tenebrosas?
As relações que tocam o sentimento provocam dissidências. Há quem se esconda, se transfira para negócio obscuros. As drogas prometem curam dissabores e estimular valentias. Será? O jogo dos remédios é comum. As farmácias habitam nas esquinas e as pessoas se apressam. Resistem à reflexão, buscam curas milagrosas. Falta paciência ou vontade de não conviver com a dor? A incompletude esvazia a coragem de muitos. O mito da eternidade possui seu público. Há religiões que tornam a fé um bem especial. A grana corre. Como Freud se sentiria na plenitude de narcisismo monstruoso? Mudaria sua teorias? Congelaria suas ideias?
Por Paulo Rezende.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Nietzsche: o apodrecimento dos valores


A palavra crise tornou-se comum. Seria difícil, porém, pensar uma sociedade sem tensões. O ritmo tem suas variações. O mundo está contaminado por explorações e violências cotidianas. É fundamental não desprezar o passado. É possível localizar tantas guerras, tantas disputas políticas, tantas hierarquias sufocantes. Observar a profundidade da crise ajuda a solucioná-la. Nem sempre há caminhos, muitas vezes surgem abismos imensos. Lembro-me das leituras das obras de Nietzsche, das aulas, dos debates. É um autor que desvendou enigmas e enfrentou os atropelos da vida com coragem, não  fez da estética um espelho da mesmice. Não se prendeu aos estigmas do seu tempo. Foi além do bem e do mal.
A sua preocupação com os valores era marcante. Não perdia olhar atentos aos desmandos da chamada civilização ocidental. Crítico do platonismo e do cristianismo buscava denunciar as covardias, as massificações. a falta de reflexão. Anunciava a necessidade de superar valores carcomidos. O homem é uma ponte, não está terminado. As travessias são desafios, pois as verdades são históricas, merecem ser ameaçadas para não congelar deuses absolutos e escravizantes. Nietzsche não foi bem recebido pelo seu tempo. Era muito estranho o que dizia para quem estava envolvido com as tradições, quem admirava as religiões ligadas à exaltação da culpa.
Hoje, sua obra influencia, de forma determinante, pensadores que gozam de prestígio. Como negar que os valores estão apodrecendo e que a hipocrisia ganha espaço? A crise é forte, porque destrói paradigmas, alimenta o apego ao individualismo. Quais os sinais de solidariedade? A sociedade não vive sem regras, mas quem  pode fazê-las, quem ataca as desigualdades? A dispersão é esquizofrênica. Os noticiários modificam suas manchetes, apresentam-se descartáveis. As denúncias de corrupção assustam. As quadrilhas políticas são ágeis e procuram criar legitimidade. Possuem consultores que enfeitam os saberes acadêmicos com milhões de análises e reais.
As mercadorias ficam firmes nas vitrines da cada esquina. Cada um é pelo que aparece. Uma sociedade atordoada, sem respiração, vestida da tatuagens sombrias inventa pesadelos niilistas. As dúvidas e sugestões de Nietzsche ainda permanecem com eco grandioso. O mundo investe no desperdício e no vazio da nudez dos objetos sofisticado. Quem consagra apostas, na magia da grana, desengana-se. A complexidade atinge intimidade, lamenta o desamor, teme que não haja salvação. Talvez, a crise seja uma continuidade da história. No entanto, movimentos se arquitetam para que a dimensão ética não se resuma a delações e ao desejo de eliminar ferozmente o outro. Se a política se constitui um vil e traiçoeiro mercado de negócios, o deus nietzschiano, que dança e ri, se exila na agonia. Fonte: Astúcia de Ulisses.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 28 de novembro de 2015

Estudantes da EREM Justulino Ferreira Gomes vivenciaram a II Semana de Humanas


Estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Justulino Ferreira Gomes, localizada no município de Bom Jardim, Agreste do Estado, realizaram, na última quinta-feira (19), a II Semana de Humanas. Com o tema da Semana intitulado: “Revoluções: Um povo que se transforma”, os estudantes apresentaram os movimentos sociais que marcaram a história do Brasil e provocaram importantes mudanças no cenário nacional. O evento contou com a coordenação dos professores das disciplinas de Humanas e a equipe gestora.
O projeto teve com objetivo principal mostrar que a escola é um espaço de reflexão, debate e formação crítica para o devido exercício da cidadania. As atividades foram realizadas durante os meses de outubro e novembro, através das quais os estudantes buscaram demonstrar a ideologia que movia as mentes de diferentes épocas da nossa história, com ênfase no caráter reivindicatório. As apresentações contaram com a participação da comunidade escolar.
“A Era Vargas”, “Os grandes Festivais da Música Popular Brasileira – MPB”, “A Ditadura Militar”, “O Movimento Estudantil”, “Os Caras Pintadas” foram alguns dos conteúdos explorados pelos estudantes e apresentados para o público, através de diversas peças teatrais, musicais e exposições. A estudante, Janaína Carla, 15 anos, do 2º ano, explica que o projeto fez com que ela tivesse um entendimento melhor sobre os assuntos. “Este projeto nos deu a oportunidade de vivenciarmos os movimentos que revolucionaram a trajetória do nosso país”, comentou.

Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer, de forma dinâmica e interativa, um pouco sobre a luta do povo brasileiro pela conquista da democracia e reconhecimento de seus direitos, conforme afirmou a estudante Thalia Gomes, 16 anos, 3º ano. “Adentramos em períodos da história repletos de significativos movimentos sociais. A Semana de Humanas ampliou nosso conhecimento e despertou a ânsia de lutar por nossos ideais, acima de qualquer circunstância”, finalizou. educacao.pe.gov.br
Fotos:
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 13 de setembro de 2015

A nova espécie do gênero humano

Cientistas acabam de descobrir uma possível nova espécie do gênero humano em uma tumba em cavernas da África do Sul - algo que pode mudar o que sabemos hoje sobre os ancestrais humanos.

A descoberta de esqueletos parciais de 15 indivíduos é a maior do seu tipo na África do Sul e impressionou os pesquisadores.
Os estudos, divulgados na publicação científica Elife, também indicam que esses indivíduos seriam capazes de ter um comportamento ritual.
As espécies, que foram nomeadas naledi, foram classificadas no grupo, ou gênero,Homo, que é o mesmo a que pertence o humano moderno.
Os pesquisadores não conseguiram precisar a data exata em que essas criaturas viveram, mas o cientista que liderou a equipe, Lee Berger, disse à BBC que esses indivíduos poderiam ser os primeiros desse tipo (Homo) e poderiam ter vivido na África há cerca de 3 milhões de anos.
Berger acredita que o Homo naledi pode ser considerado uma "ponte" entre os primatas bípedes e os humanos modernos.
"Fomos para lá com a ideia de recuperar um fóssil. Isso acabou se tornando uma descoberta de múltiplos fósseis. Que se tornou a descoberta de múltiplos esqueletos e múltiplos indivíduos!"
"Então, até o fim daquela experiência inesquecível de 21 dias, nós tínhamos descoberto o maior conjunto de fósseis humanos (da história) no continente africano. Essa foi uma experiência extraordinária!"
Chris Stringer, do Museu de História Natural britânico, classificou a descoberta como "muito importante".
"Estamos descobrindo mais e mais espécies de criaturas, o que sugere que a natureza estava 'experimentando' qual seria a melhor forma de evoluir os seres humanos, dando assim origem a vários tipos diferentes de criaturas 'humanoides' em diferentes partes da África. Apenas uma linha deles, porém, sobreviveu para dar origem a nós", disse ele à BBC.

Importância

As ossadas estão sendo mantidas em um quarto seguro na Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo, na África do Sul, e a BBC visitou o local com Lee Berger.
A porta para o quarto parece aquelas que fecham os cofres de bancos. Berger explicou que todo o nosso conhecimento sobre os ancestrais humanos é baseado em esqueletos parciais e crânios.
As ossadas de 15 esqueletos parciais incluem ossos de homens e mulheres de idades variadas – desde crianças a idosos. A descoberta é inédita na África e jogará luz sobre futuras conclusões sobre como os primeiros seres humanos evoluíram.

Como aconteceu a descoberta

Uma das perguntas mais intrigantes que surgiram após a descoberta foi: como aqueles ossos foram parar ali?
A BBC visitou o local onde os esqueletos foram encontrados, a uma hora de carro da universidade. É uma área chamada de "Berço da Humanidade". A caverna leva a um túnel subterrâneo por onde parte da equipe de Berger foi rastejando em uma expedição bancada pela National Geographic Society.
Como o túnel era estreito, coube às mulheres menores rastejar pela escuridão, iluminadas apenas por suas lanternas na cabeça em uma jornada precária que durou 20 minutos - até encontrarem uma câmara que continha centenas de ossos.
Uma dessas mulheres era Marina Elliott. Ela mostrou a entrada estreita para a caverna e depois descreveu como se sentiu quando viu pela primeira vez a câmara.





"A primeira vez que fui para o local da escavação, eu comparava com a sensação que (o arqueólogo) Howard Carter deve ter tido quando abriu a tumba (do faraó egípcio) Tutancâmon – você está em um espaço muito pequeno e, de repente, ele se abre e você pode ver coisas maravilhosas! Foi incrível", disse ela.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 28 de junho de 2015

O machismo costura histórias seculares

Por Antônio Paulo Rezende.
As mudanças ocorrem e direitos são assegurados. Os ritmos variam e se misturam com os devaneios.No entanto, permanecem desencontros que pareciam ser superados pelos iluminismos tão exaltados. Quebrou-se a sociedade da servidão, as cidades anunciavam liberdade, as revoluções queriam definir outras relações. Chegou-se a acreditar que as ciências desvendariam mistérios e conseguiria firmar a paz. Mas a desconfiança não se foi. As guerras e as colonizações mostravam uma violência desproporcional. A dominação impunha costumes culturais, ampliava preconceitos, submetia povos inteiros. Genocídios marcam a história, apesar dos discursos generosos que mascaram a vontade de poder.
Esquecemos que somos animais. Temos sofisticações, inventamos tecnologias. Procuramos sempre afirmar inteligências e competir com astúcias especiais. Há teorias que circulam prometendo futuros paraísos. As notícias não são animadoras. Na prática, somem os desejos de igualdade, prevalece o terror, o susto acorda pesadelos. Olha-se a sexualidade com estudos diferentes. Condena-se comportamentos do passado. Apesar de tantos debates, de conquistas, de rebeldias, a sociedade cultiva machismos, sepulta afetos, mascara e justifica opressões. Somos animais sociais, produzimos fantasias, andamos em pântanos que sustentam nossos voos azuis. As interrogações nos agoniam, riscam possibilidades de salvação.
É difícil compreender o vaivém da história. A questão do bem e do mal perdura. As culpas não sossegam, os arrependimentos clamam por perdões. As religiões dizem se comunicar com deuses, que a bondade é possível. A população aumentou e a complexidade também. É um exílio viver num mundo em que as imagens passam com velocidade. Estamos no Brasil assistindo ao que acontece na França. O vídeo confunde, a novela tumultua sentimentos, o consumo confunde valores. Num delírio inexplicável, as coisas tomam conta do humano, a ambição move disputas e hipocrisias, os pertencimentos são efêmeros e traiçoeiros.
Muitas carências num mundo com  diversidade imensa. As insatisfações não cessam. Na política, o machismo faz vítimas, segrega; no cotidiano envolve drama familiares. Houve deslocamentos, perdas, desafios. A psicanálise lê  sentimentos, dialoga com os traumas infantis, ajuda a decifrar desacertos. Se aceitamos que a incompletude nos acompanha, se nos lembramos de Édipo e seus destinos, das tantas  lendas que atravessam séculos, a surpresa se apresenta como companheira dos fazeres afetivos. As dores e as saudades se mantêm. Nossos malabarismos trazem novas trilhas e reinventam ilusões. Os discursos se chocam como barcos sem cais. O jogo tem cartas, cores, sangue, mas contém segredos e viajam sem direção.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Contando as histórias: perdas e desfazeres


Contar a história é sempre um forma de evitar esquecimentos. Não significa que tudo pode ser lembrado, que podemos fazer um catálogo definitivo dos acontecimentos. Sabemos das ambiguidades da memória, sabemos das velocidades que invadem nossos afetos. Mas não custa semear cuidados. Não é apenas o passado que compõe a história. É preciso destacar o entrelaçamento dos tempos, insistir nos significados dos mitos, multiplicar as interpretações, inventar leituras que ajudem a se desfazer de perdas e construir outras alternativas.
Se as crises continuam nos cercando no cotidiano, os ressentimentos crescem, porque as culpas são levantadas. Há quem negue a participação coletiva, há quem se sinta completo afirmando acusações. Os desacertos existem e seu sujeitos não possuem a ingenuidade que afirmam. Se a lógica da acumulação segue as peripécias do capitalismo, a corrupção não vai deixar de acompanhá-la. A desigualdade não existe por acaso, nem todos são seus cúmplices.Mas se a exploração não se vai e a concentração de riqueza anima a minoria que costura o poder é impossível impedir as perdas.
As sociedades vivem conflitos, seus territórios registram misérias e violências. Elas se espalham e provocam instabilidades constantes.Na Europa, o desequilíbrio vence tradições, o números de desempregados aumenta, universidades fecham cursos, os centros urbanos recebem emigrantes em busca de saídas. O avesso: os antigos colonizados desejam respirar, cobram lugares para refazer suas vidas. O choque cultural se aprofunda, com as religiões exacerbando suas crenças e motivando vinganças.
As epidemias são frequentes, apesar de tecnologias e saberes sofisticados.Há milhões de pessoas sem moradias, com dificuldades de encontrar alimentação.A mídia reforça o negativo quando justifica situações precárias e centraliza noticiários. O mundo, na sua diversidade cultural, possui labirintos e impasses na comunicação afetiva. A produção de armas, o comércio das drogas, os terrorismos, a vitimização escondem histórias. O exibicionismo tem seu preço, cria espelhos para acolher ambições, não se arquitetam convivências sem fantasias.
Quando observamos que os tempos conversam, que as desarmonias marcam os registros da memória, sentimos que as perdas coletivas assombram. Vender imagens como mercadorias, como uma estética da dominação é optar que as pedras nunca saiam do meio do caminho. Se os poetas anunciam apocalipses, há também possibilidades de reinvenções. A sociedade tem se fechado no culto a valores e julgamentos que despedaçam corpos e ânimos. As portas podem ser abertas, porém as chaves estão enterradas. Os divertimentos transformam-se em rituais perigosos e tensos. Enganam.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O dia seguinte ao fim da escravidão

Por Douglas Belchior

Imagine um amigo seu ou um parente que fosse tratado como um animal. Imagine as pessoas que você ama vivendo sem ter nenhum direito, podendo ser vendidos, trocados, castigados, mutilados ou mesmo mortos sem que ninguém ou nenhuma instituição pudesse intervir em seu favor. Imagine você, seu pai, sua mãe ou seu filho sendo tratados como coisa qualquer, como um porco, um cavalo, ou um cachorro. Imagine sua filha sendo levada ou mesmo ao seu lado, estuprada, todos os dias e depois, grávida à serventia do negócio de seu dono.

Clóvis Moura (Moura, 1989, p.15-16), faz o relato sem personagens. Eu os incluí para pedir que imagine.

Você que já chorou diante das cenas que remetem o sofrimento de Jesus Cristo na sexta feira da paixão; Você que fechou os olhos frente às fortes imagens deDjango Livre; Você que se emocionou com 12 anos de escravidão, imagine.

Imagine – e saiba – que teu país e as riquezas que o conformam existem em função de 4 séculos de escravidão. E de tudo que deste período e deste sistema decorreu a partir de então.

Mas enfim, a escravidão acabou: 13 de maio, princesa Isabel e muita festa! Festa e promessa de abonança, tal qual desrespeitosamente a amiga Globo nos lembrou.

E no dia seguinte tudo seria diferente.

Desde que acompanho o movimento negro, aprendi que dia 14 de maio, o dia seguinte ao fim da escravidão, foi o dia mais longo da história. Aliás, dizem outros, é o dia que não terminou.

Depois de séculos de sequestros, escravidão e assassinatos, o que se viu nos anos pós-abolição foi a formação e o desenvolvimento de um país que negou e ainda nega à população negra condições mínimas de integração e participação na riqueza.

Sem terra, sem empregos, sem educação, sem saúde, sem teto, sem representação. Sequer a mais liberal das reformas, a agrária, fora possível no país das capitanias hereditárias. Vamos olhar para o campo e observar as fileiras ou os acampamentos de Sem Terra, maioria negras e negros. Vamos buscar na memória os rostos de quem conforma o pelotão que estremece São Paulo na justa luta por moradia capitaneada pelos movimentos de Sem-Teto nos dias de hoje: negras e negros! Bora olhar para as filas dos hospitais, para os que esperam exames e tratamentos, para os analfabetos ou para as crianças em idade escolar que estão fora da escola. Vamos olhar para a população carceráriae suas condições de existência. Vamos olhar para as vítimas de violência policial, para os números de desaparecimentos e homicídios. Vamos olhar para os dependentes do bolsa-família ou da previdência social. Vamos olhar para a pobreza. De fato, ela atinge a todos. Mas a presença de negras e negros nas condições narradas aqui, tem sido desproporcional e pouco se alterou desde 1888.

O dia seguinte, a década seguinte, os 127 anos seguintes ao fim da escravidão não foram suficientes para nos livrar de uma herança racista, reafirmada cotidianamente pelos descendentes dos colonizadores que sempre dirigiram o Brasil. Estes mantém a posse do latifúndio, hoje rebatizado agronegócio. Mantém o domínio dos grandes meios de comunicação, são donos das grandes empresas, bancos, conglomerados educacionais-empresariais, além de dirigir politicamente as maiores Igrejas. Com isso garantem o poderio econômico a supremacia política e a representação eleitoral de maneira a manter intocáveis seus interesses.

Nada diferente do que tem sido os últimos 127 anos. Ou os últimos 515?

E nesse dia seguinte ao 13 de maio, nesse dia depois do “fim da escravidão”, resistimos! E em saraus, cursinhos comunitários, coletivos negros, nas rodas de samba e candomblé, nos bondes funkeiros, no hip-hop, na poesia, na literatura, nas artes, na internet, no movimento negro, e aos pouquinhos, nas universidades, existimos.

E sendo assim, dotados de tamanha resiliência, imaginem a revolta!

negrobelchior.cartacapital.com
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 14 de março de 2015

Jornal da Festa - Bom Jardim 1964.

VEJA O JORNAL DA FESTA DE SÃO SEBASTIÃO NO DIA 25.01.64 - TEMOS TODOS OS JORNAIS EM CD DO DIA 25.01.64 A 02.02.64


Divulgação:
Francisco BarbosaProfessor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 4 de março de 2015

Mandíbula de 2,8 milhões de anos é fóssil mais antigo do gênero Homo. Fósseis foram encontrados em 2013 na Etiópia. Leia Mais.

Uma mandíbula com dentes de 2,8 milhões de anos, encontrada na Etiópia, é o fóssil mais antigo do gênero Homo encontrado até agora e, segundo pesquisa publicada na revista "Science", sua descoberta antecipa em 400 mil anos a origem da nossa espécie.
A descoberta, anunciada nesta quarta-feira (4) na edição digital da revista, lança luz sobre a origem do gênero Homo, ao qual pertence a espécie humana, explicam os cientistas na "Science".
"A época da qual data a mandíbula inferior reduz a brecha na evolução entre o Australopiteco - a célebre Lucy, que data de 3,2 milhões de anos - e as primeiras espécies do tipo Homo como o erectus ou o habilis", explicam os cientistas.
"Este fóssil é um excelente exemplo de uma transição de espécies em um período chave da evolução humana", acrescentam.
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 Pesquisador segura mandíbula encontrada na Etiópia  (Foto: Kaye Reed/Divulgação)Pesquisador segura mandíbula encontrada na Etiópia (Foto: Kaye Reed/Divulgação)
Esta mandíbula foi encontrada em 2013 em uma zona de rastreamento denominada Ledi-Geraru, na região Afar, na Etiópia, por um grupo internacional de pesquisadores chefiado por Kaye Reed, da Universidade do Arizona, e Brian Villmoare, da Universidade de Nevada.
Há décadas, cientistas buscam fósseis na África para encontrar indícios da linhagem Homo, embora com sucesso limitado, pois eles descobriram muito poucos fósseis do período entre três milhões e 2,5 milhões de anos atrás.
"Os fósseis da linhagem Homo com mais de dois milhões de anos são muito raros e o fato de ter um esclarecimento sobre as primeiras fases da evolução da nossa linhagem é particularmente emocionante", disse Brian Villmoare, principal autor do artigo.
No entanto, os cientistas alertam que não estão em condições de dizer, com esta única mandíbula, se se trata ou não de uma nova subespécie dentro do tipo Homo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE/ G1.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O dúbio caminho do sucesso

Paulo Ezende.
Não fica perdido o apelo que ouvimos, pequenos, de que trilhemos o caminho do sucesso. É preciso ser gigante para enfrentar as competições que nos cercam, dizem os donos de sabedorias. O capitalismo pede movimento de grana ágil e astúcia para sair de labirintos. É uma regra: busque se promover e se mostrar capaz. Já ouvi, muitas vezes, que vale a sutileza manhosa nas manobras da vida. A corrida é grande e a velocidade não tem limites. A fama atrai, fabrica discursos, inventa ambições desmedidas. O eco das escolhas mal feitas destrói existências, desenha demônios nos negócios. Os ruídos contraditórios confundem e acendem debates.
Nem tudo garante a subida da ladeira. As quedas acontecem, é importante não se achar imbatível. As surpresas ampliam seus espaços. A sociedade estimula concorrências, brinca com as imagens, lança no mercado maldições e abonos. Difícil é esclarecer e festejar transparências. Na política, as frustrações visitam lugares que pareciam inexpugnáveis e as descrenças aumentam aceleradamente. Há controles, mas o jogo é forte com máscaras nunca destruídas. Ninguém está livre de um voo desfigurado, de uma denúncia repentina. Como afastar a dubiedade num mundo tão complexo e tenso?
A bolsa de valores fotografa instabilidades. Os milhões se evaporam ou a riqueza se espalha envolvida pela esperteza.Há quem conheça as idas e vindas das manipulações e aposte nas profecias do mercado. É confuso entrar no circo, onde os acrobatas escondem habilidades e deixam o público desconfiado. Contar as histórias das ações é um risco. As verdades têm pernas curtas e as incertezas não fogem. Quem consegue sintetizar o tamanho das imagens das felicidades? Os espelhos não estão gastos?A moda traz fanatismos. Espera-se que os deuses desfilem, sem o peso do pecado original.
Quando os fracassos surgem, muita gente some e descobre que as vacilações diminuem o fôlego. Não se pode negar que se  industrializam comportamentos e modelos. Os exemplos são amplos e discutíveis. Sarney viveu a política com uma eternidade de faraó; Anderson Silva tropeça na própria sorte ou enganação dos esquemas; Xuxa se foi da Globo depois de séculos; as religiões usam propagandas para firmar a fé dos seus adeptos. As estradas curvas garantem que a vida passa e o perigo sempre está próximo. O sucesso é uma armadilha, desde a história de Adão e Eva.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cai na PROVA do ENEM - Brasil, 200 Milhões - Matéria de Capa. Assista ao Vídeo em LEIA MAIS




Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Estude vai cair na Prova do ENEM - Matéria de Capa - 50 anos do golpe. Assista o vídeo em LEIA MAIS.




Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 1 de novembro de 2014

Assista, Estude para ENEM e VESTIBULAR Matéria de Capa - 50 anos do golpe




Pode cair na PROVA do ENEM. Assista ao Vídeo.Click em LEIA MAIS.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 11 de março de 2014

Não esqueça sua história e sua ousadia

O cerco das informações não é acidental. Ele tem seus objetivos e refaz, constantemente, os valores do mundo das mercadorias. Toda atenção é pouca. Os anúncios trazem dizeres que ficam colados na memória. Consagram-se como verdades cotidianas. É a conexão direta que não dispensa muito esforço. O humor é refinado. Não é surpresa. O capitalismo tem que mover sua produção e divulgar seus fascínios. Há admiradores persistentes e animados. O perigo é que o envolvimento não é crítico. Nada é feito só para tornar a vida mais leve e viajar no tapete mágico.
Os poderes da dominação se lançam com sedes secretas, mas eficazes. Portanto, comentamos tanto o que está fora de nós que desprezamos emoções que nos conduzem na intimidade. Uma atitude ingênua, às vezes, que adquire uma permanência nas conversas. Tomamos sustos com as aventuras eleitas pela imprensa e naufragamos nos mares internos. Carregar novidades nos faz ganhar destaque nos colóquios sociais. Não é a aparência que promove sucesso?  Não é preciso aprimorar a inteligência basta saber reproduzir e soltar o riso que não lhe pertence. As identidades sempre se multiplicam. Elas têm rostos e máscaras. procuram espelhos, festeja êxitos na acumulação.
O movimento é grande, porém não há justificativas para tanto adormecimento ou quem seduz concentra magias impenetráveis? As histórias circulam, não poderia ser diferente. Elas devem, no entanto, articular-se com o que foi vivido. Quando quebramos o deslocamento das memórias, o risco de perder-se é imenso. Está na história é ousar. Exaltamos sonhos, definimos felicidades, nos confundimos com as coisas que estão na vitrine. Tudo isso apaga contrariedades e descarta o desejo de não se curvar diante de tantas imagens programadas.
Se a aldeia global nos aproxima de culturas diferentes, não dá para vê-las, apenas, como exotismos. Quando nos ligamos na história não sacudimos fora as experiências, mas as socializamos buscando trilhas nunca percorridas. Quem engana não é indestrutível. Há fragilidade. O labirinto da grana possui suas idealizações, sofistica medos, dificulta convivências. Há distâncias entre as situações, porém os toques de semelhança atravessam séculos. Não delire com as informações, nem se sinta um porta-voz dos noticiários.
Observe sua história e compreenda as imagens que atraem e traçam seu estar no mundo.Olhar o outro não é fugir de si. As identidades precisam de contrapontos. As massificações totalitárias arrastam culpas, prometem salvações, firmam-se como mensageiras de divindades. As religiões dialogam com a política e usam seus artifícios. Estamos na era do profissionalismo utilitário. Se a história que está sendo curtida pela maioria merece seus encantamentos, dê uma analisada no seu cotidiano.
Não esqueça que o estudo do passado faz parte dos conhecimento mínimos. Não adiantam livros, teorias, pesquisas, contudo, se  o saber se reduz a discussões acadêmicas brilhantes e passividade das exibições. O mundo do espetáculo diverte e aprisiona. Não custa um pouco de sossego. Qual o meu território, até posso onde esticá-lo? Quem não pergunta desconhece as possibilidades da história e nunca desconfia de que há quedas que oprimem e outras que sacodem a apatia. astuciadeulisses.com.br

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Congresso faz devolução do mandato presidencial a Jango



A presidente da República, Dilma Rousseff, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, além de ministros de Estado participam da sessão solene do Congresso Nacional, coordenada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros.
Deputados e senadores estão reunidos, neste momento, no plenário do Senado para a sessão solene destinada a devolver simbolicamente o mandato presidencial a João Goulart (1919-1976). Um golpe de Estado depôs Jango em 1964, dando início ao regime militar, que durou até 1985.
Participam da solenidade os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na presidência dos trabalhos; da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); a presidente da República, Dilma Rousseff; o vice-presidente, Michel Temer, além de ministros e integrantes das Forças Armadas, entre outros. Da parte da família de João Goulart, está presente o filho, João Vicente Goulart.
Antes da sessão, Renan afirmou que esta sessão “é uma reparação histórica”. Para Henrique Eduardo Alves, “é com muita honra que a Câmara participa ao lado do Senado desse momento histórico. É um momento de resgatar direitos e a honra do presidente João Goulart”.
No dia 21 de novembro, por proposta dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), foi anulada a sessão de 2 de abril de 1964, na qual o então presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República, tornando possível o afastamento de João Goulart do poder.

“A história comete erros, sim. Por isso, para reparar um erro e deixar claro que o movimento de 1964 foi um golpe, o Congresso anulou a sessão, que de forma ilegal e inconstitucional decretou vaga a presidência da República.” A frase foi dita na sexta-feira (6), em São Borja (RS), pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) em diálogo com o comandante militar do Sul, general Carlos Bolivar Goellner.Com Informações da Agência Senado
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 15 de dezembro de 2013

Mandela descansa ao lado de seus filhos


O corpo do ex-presidente da África do Sul e líder antiapartheid Nelson Mandela foi enterrado neste domingo (15) em seu vilarejo ancestral de Qunu, na África do Sul, após dez dias de homenagens e funerais. Mandela morreu no dia 5 de dezembro aos 95 anos, e foi enterrado ao lado dos restos mortais de três de seus filhos.
O ganhador do Nobel da Paz, que ficou preso durante o Apartheid por 27 anos, antes de emergir para pregar o perdão e a reconciliação no país, foi colocado para descansar na casa de seus ancestrais em Qunu, depois de uma despedida que misturou pompa militar e os ritos tradicionais de seu clã Xhosa abaThembu.
O enterro foi acompanhado por cerca de 450 convidados – familiares de Mandela, integrantes da comunidade de Qunu e amigos pessoais e alguns dignitários.
mapa qunu mandela (Foto: 1)
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, ficou de pé no momento em que o caixão foi colocado no túmulo. Helicópteros militares e aviões de combate sobrevoaram a região e disparos de canhão foram realizados, antes de uma cerimônia tradicional privada, que não teve a presença da imprensa.
"A sua foi realmente uma longa caminhada até a liberdade, e agora você conseguiu a liberdade definitiva no seio de seu criador", disse um capelão militar durante a cerimônia no jazigo da família, onde três dos filhos de Mandela já estão enterrados.
Antes do enterro, foi realizada uma cerimônia de três horas na qual amigos, familiares e líderes mundiais fizeram discursos relembrando a vida e o trabalho de Mandela.
A cerimônia de Estado foi acompanhada por cerca de 4,5 mil pessoas.
Estiveram em Qunu o reverendo americano e ativista dos direitos civis Jesse Jackson, o magnata britânico Richard Branson, o ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin, o político norte-irlandês Gerry Adams, a apresentadora de televisão americana Oprah Winfrey e os atores Forrest Whitaker e Idris Elba, que interpreta Mandela no cinema, além do príncipe Charles.
Diversos discursos foram realizados – todos eles com toques pessoais sobre a personalidade de Mandela e lembranças da vida do líder. "A melhor lição que nos deixou foi: fazer o bem, e também que dentro de cada um de nós está a capacidade de fazer o que queremos na vida", disse Nandi Mandela, uma das netas Mandela.
"Sentiremos saudades de sua voz severa, de quando estava aborrecido, seu riso, porque tinha um grande senso do humor, e de suas histórias; era um grande contador de histórias", lembrou.
Zuma expressou seu agradecimento Mandela por ser e representar “o que toda uma nação necessitava em um momento tão crítico”, na luta contra o regime racista do Apartheid.
O atual líder, que antes entoou uma canção política sobre a opressão, assegurou que a  África do Sul vai continuar o caminho que Mandela trilhou aplicando as lições que ainda se extraem de “tão extraordinária vida”.
As ruas próximas à tenda onde foi realizada a cerimônia – em uma propriedade da família Mandela – e ao local do enterro foram bloqueadas - mesmo assim, dezenas de pessoas foram até a região para tentar participar, em vão.
Ao fim da cerimônia de Estado, o corpo de Mandela seguiu em um cortejo acompanhado de uma banda militar. A bandeira da África do Sul que envolvia o caixão foi retirada, e caças da Força Aérea sul-africana sobrevoaram o local para homenageá-lo.
Na noite anterior ao enterro, o corpo de Mandela ficou sob a guarda de sua família e dos anciãos de Qunu. Diversos rituais tribais haviam sido anunciados antes do funeral - incluindo o sacrifício de um boi. Não se sabe se eles ocorreram antes das cerimônias deste domingo ou durante o enterro, quando as imagens do local deixaram de ser transmitidas para preservar a intimidade da família.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Congresso anula deposição do presidente João Goulart feita pela ditadura de 1964


Afastamento em 2 de abril de 1964 abriu caminho para o regime militar.
Ato de restituição do cargo tem valor simbólico e não afeta legislação.


Professor Edgar Bom Jardim - PE

O Congresso Nacional aprovou na madrugada desta quinta-feira (21), por votação simbólica, um projeto de resolução que anula a sessão legislativa que destituiu o ex-presidente da República João Goulart do cargo em 1964. A decisão abriu caminho para a instalação do regime militar e a posse do marechal Castelo Branco na Presidência.

O projeto aprovado nesta quarta pelo Congresso torna nula a declaração de vacância da Presidência da República, feita em 2 de abril de 1964 pelo então presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade. Na época, Andrade usou o argumento de que João Goulart tinha viajado para o exterior sem autorização dos deputados e senadores.

Jango, contudo, estava no Rio Grande do Sul em busca de apoio de aliados, uma vez que estava na iminência de ser detido por forças golpistas, segundo relata o projeto. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), um dos autores do projeto, a sessão que depôs o presidente foi convocada "ao arrepio" da Constituição às 2h40 da madrugada.

"Queremos anular essa triste sessão que declarou vaga a Presidência com o presidente em território nacional", disse o senador amapaense.

A anulação da sessão que depôs Jango tem um valor simbólico e não reflete juridicamente na legislação atual. Na prática, devolve o mandato de presidente e "tira os ares de legalidade" do golpe militar de 1964, conforme Randolfe Rodrigues.

"Trata-se do resgate da história e da verdade, visando tornar clara a manobra golpista levada a cabo no plenário deste Congresso Nacional e corrigir, ainda que tardiamente, uma vergonha da história para o poder Legislativo brasileiro", disse o senador.

De acordo com Pedro Simon (PMDB-RS), que assina o projeto juntamente com Rodrigues, o ex-deputado Tancredo Neves, durante a sessão de 1964, leu uma mensagem da Casa Civil informando sobre o paradeiro de Jango.

"A sessão foi convocada de última hora no grito pelo presidente do Senado e pura e simplesmente caçou o mandato do presidente, embora houvesse uma carta do chefe da Casa Civil dizendo que ele estava em Porto Alegre, no comando do terceiro Exército", disse Simon.

Durante a votação desta quarta, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) discursou na tribuna da Câmara para criticar a anulação da sessão que depôs Goulart. Ele citou que a sessão de deposição do então presidente da República teve a presença de personalidades tidas como democratas, como Ulysses Guimarães, que presidiu a Assembleia Nacional Constituinte, e o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek.

"Não podemos apagar a história. Não estamos num regime comunista. Não é Stalin que está presidindo. Passamos 20 anos não de ditadura, mas um regime de autoridade, onde o Brasil cresceu, tinha pleno emprego. Nenhum presidente militar enriqueceu", disse.

Exumação
O projeto aprovado pelo Congresso foi apresentado na mesma semana em que o corpo de Jango foi exumado, no dia 13 de novembro. O objetivo da exumação, que durou 15 horas, é submeter os restos mortais à perícia da Polícia Federal para identificar a causa da morte do ex-presidente, deposto pelo golpe militar.

Os restos mortais do ex-presidente foram velados em Brasília, no último dia 14, com honras militares fúnebres concedidas a chefes de Estado, às quais não teve direito quando morreu.

A cerimônia que recebeu o caixão com os restos mortais de Jango durou cerca de 25 minutos e teve a participação da presidente Dilma Rousseff e dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney. Fernando Henrique Cardoso não compareceu, pois se recupera de uma diverticulite. Também estavam presentes ministros de Estado.

Morte ocorreu em exílio na Argentina
Deposto no golpe militar de 1964, Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente pode ter sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de Jango, João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.

Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado. Com informações de Priscilla Mendes e Nathalia Passarinho
Do G1.

Haddad foi vaiado em ato político da Consciência Negra


Prefeito participou de ato político no Vale do Anhangabaú.
'É um ano de protesto, tem que se acostumar', disse Haddad.


Netinho de Paula (e) e o prefeito Fernando Haddad (d), durante comemoração do Dia da Consciência Negra no Anhangabaú no centro de São Paulo, SP, nesta quarta-feira (20). (Foto: Dário Oliveira/Futura Press/Estadão Conteúdo)Netinho de Paula e Haddad durante comemoração do Dia da Consciência Negra. (Foto: Dário Oliveira/Futura Press/Estadão Conteúdo)
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi vaiado durante discurso no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, durante ato político em comemoração ao Dia da Consciência Negra nesta quarta-feira (20). O político falava a respeito da data quando foi hostilizado e também alvo de objetos lançados no palco. Garrafas, camisas e outros itens foram arremessados.
Ao lado do prefeito, o secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula, fez gestos pedindo compreensão do público. Mesmo hostilizado desde antes de começar a falar, o prefeito continuou no palco e fez um breve discurso.
Se eu precisei criar, se nós precisamos cobrar um pouquinho de IPTU de quem tem muito para levar para quem tem pouco na periferia, nós não vamos nos intimidar. Não é a desinformação de programa popular que vai nos intimidar"
Fernando Haddad,
prefeito de São Paulo
"Se eu precisei criar, se nós precisamos cobrar um pouquinho de IPTU de quem tem muito para levar para quem tem pouco na periferia, nós não vamos nos intimidar", afirmou Haddad durante o discurso. "Não é a desinformação de programa popular que vai nos intimidar", afirmou, pouco antes de encerrar seu pronunciamento.
Haddad chegou a afirmar que não deveria ser recebido nem com vaias nem com aplausos, e fez referência ao aumento do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) como motivo da insatisfação popular.
A primeira reação contra o a presença de Haddad ocorreu logo após ele ser anunciado pelo secretário Netinho de Paula. Enquanto parte do público fazia sinal de negativo, Netinho defendeu Haddad, dizendo que era a primeira vez que ato do tipo ocorria em São Paulo e que ele não teria sido realizado sem apoio da Prefeitura.
"O ano é esse, é o ano de protesto, tem que se acostumar", disse Haddad aos jornalistas após o evento. O prefeito afirmou ainda que houve muita desinformação relacionada ao aumento do IPTU e que a situação vai mudar quando os boletos chegarem às casas dos contribuintes.
"Acho que tem muita desinformação, estão achando q o IPTU da periferia vaio subir e vai cair, mas como a população está desinformada, na hora que chegar o carnê, tudo muda", disse.
10ª Marcha 
Haddad participou do ato que encerrou a 10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo. A caminhada reuniu cerca de 800 pessoas, segundo a Polícia Militar (PM). Os manifestantes saíram do Masp, na Avenida Paulista, em direção ao Vale do Anhangabaú, no Centro, onde acompanharam um ato político e shows musicais.
Stencil lembra frase de Douglas, morto pela PM no Jaçanã (Foto: Lais Cattassini/G1)Stencil lembra frase de Douglas, morto pela PM
no Jaçanã: 'Por que o senhor atirou em mim'
(Foto: Lais Cattassini/G1)
A marcha começou às 14h, com concentração no Masp. Após ocupar faixas da Avenida Paulista e da Rua da Consolação, o grupo chegou ao Vale do Anhangabaú às 16h30. O objetivo da manifestação é despertar a necessidade de reflexão sobre a questão racial em São Paulo e no Brasil. Ao final da marcha, o grupo participou de evento no Vale do Anhangabaú.
Contra violência policial
Em cartazes ou stencil aplicados durante a marcha, manifestantes pedem a desmilitarização da polícia e citam casos de violência cometidos por agentes de segurança. O assassinato do a morte do estudante Douglas Rodrigues, no Jaçanã, cometido por um policial militar, foi lembrada.
Além das faixas citando Douglas, a frase que ele disse antes de morrer foi lembrada na aplicação de stencil em lixeiras: “Por que o senhor atirou em mim?”.
Ato político e shows
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) tinha participação prevista no ato político no Vale do Anhangabau. Estavam previstos ainda shows dos grupos Os Danados, Menor do Chapa, Menor HM, Negra Soul, Mc Pet, Mc Leo da Baixada e Mc Thauane.  Em seguida, estava previstoo o baile black e apresentação dos grupos Turma do Pagode, Dexter, Keith Sweat e Emicida. G1.
10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo (Foto: Lais Cattassini/G1)10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo (Foto: Lais Cattassini/G1)
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10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo é acompanhada pela PM (Foto: Lais Cattassini/G1)10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo é acompanhada pela PM (Foto: Lais Cattassini/G1)
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10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo (Foto: Lais Cattassini/G1)10ª Marcha da Consciência Negra em São Paulo (Foto: Lais Cattassini/G1)
Professor Edgar Bom Jardim - PE