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sábado, 15 de janeiro de 2022

Como realmente é o clitóris - e suas semelhanças com o pênis



Legenda do áudio,

Em áudio: Como realmente é o clitóris - e suas semelhanças com o pênis

Enquanto as informações sobre a genitália masculina são abundantes, o clitóris entrou e saiu da literatura médica ao longo da história.

A anatomia completa do clitóris (o nome deriva da palavra grega kleitoris, que significa "pequeno monte") só foi descrita pela primeira vez em 2005 pela urologista australiana Helen O'Connell, que também analisou sua relação com estruturas adjacentes como a uretra, a vagina e glândulas vestibulares (responsáveis pela lubrificação).

Na ausência de material de estudo adequado sobre o clitóris, O'Donnell começou a investigá-lo minuciosamente: dissecando cadáveres, usando ressonância magnética em mulheres vivas e estudando tecidos.

Seu estudo mostra que o que é visível é apenas uma parte minúscula do clitóris: cerca de 90% da estrutura deste órgão feminino está dentro do corpo.

Orquídea

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Os órgãos sexuais femininos muitas vezes são representados por metáforas, e não por ilustrações anatômicas

Estrutura

"A pequena ponta que vemos, que é o que sempre se acreditou ser o clitóris, é na verdade a ponta de um iceberg", explica à BBC Mundo a psicóloga e sexóloga basca Laura Morán.


"A parte que fica para fora é a glande do clitóris (localizada entre os pequenos lábios, 'escondida' sob um capuz) e o resto é um órgão interno", acrescenta.

Fora do campo visual, o clitóris se estende sob a pele. Seu tronco tem forma cilíndrica composta por duas colunas de tecido erétil - chamadas de corpos cavernosos - que se estendem, unidas, em direção à cavidade púbica.

Em sua extremidade estão as raízes, também conhecidas como crus clitóris - feixes de tecido erétil que correm ao longo dos ossos pubianos e envolvem a uretra e a vagina.

Ao lado de cada uma das raízes está outra região de tecido erétil conhecida como bulbos do clitóris, que ficam atrás das paredes vaginais.

"A parede vaginal é, na verdade, o clitóris", disse O'Connell à BBC em 2006.

Gráfico

Semelhanças e diferenças



Devido às semelhanças entre eles, a comparação do clitóris com o pênis é muito útil para entender sua forma.

Os dois são chamados órgãos homólogos: têm a mesma origem embrionária e são semelhantes na sua estrutura interna, embora possam ter funções diferentes.

De uma ponta à outra, o órgão feminino tem um tamanho médio de cerca de 10 centímetros e, como o pênis, o tecido que o compõe é esponjoso e erétil. Ou seja, quando a mulher se excita, ele incha e cresce com o fluxo de sangue.

"Alguns se referem ao clitóris como um pênis interno, mas outros dirão que o pênis é apenas um clitóris externo. É assim que gosto de explicar para mim mesma", diz Laurie Mintz, psicóloga e terapeuta sexual.

Outra coisa que os diferencia é que o pênis tem uma dupla função: faz parte do processo de reprodução sexual e do aparelho urinário.

O clitóris, por outro lado, tem apenas um: é um órgão cuja função é proporcionar prazer.

O clitóris tem cerca de 8 mil terminações nervosas. Já o órgão masculino tem entre 4 mil e 6 mil.

Ambos são a área do corpo mais densamente povoada por terminações nervosas, explica Mintz.

"Imagine todos os nervos da ponta do pênis, mas em uma superfície do tamanho de uma borracha de lápis", diz ela sobre o órgão feminino.

Ilustração de um feto

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Ambos os órgãos têm a mesma origem embrionária

Mesma origem

A razão de o clitóris e o pênis terem tantas semelhanças é que eles são formados a partir dos mesmos tecidos embrionários durante o desenvolvimento do feto no útero da mãe.

Eles só começam a ficar diferentes a partir da sexta ou sétima semana, quando os embriões começam a expressar seus cromossomos sexuais.

A partir daí, a liberação de testosterona em embriões com cromossomos sexuais XY levará à formação de órgãos sexuais masculinos, enquanto a falta desse hormônio sexual em embriões XX levará à formação de órgãos sexuais femininos.

Em um caso, eles crescerão para fora e, no outro, para dentro.

Em casos onde a composição dos cromossomos sexuais difere desse binômio (não é nem XY e nem XX), o desenvolvimento dos órgãos sexuais pode ser atípico.

Desconhecimento

A ignorância sobre a anatomia e a função do clitóris - que tanto Laura Morán quanto Laurie Mintz atribuem em parte ao machismo, patriarcado e à desvalorização do prazer sexual feminino - tem um impacto direto na prática médica, mas também afeta profundamente a vida sexual das mulheres.

"Priva as mulheres do prazer", afirma Morán. "É como se te dessem um carro e você não tivesse aprendido a dirigir."

"Essa ignorância causa frustração, claro, porque nos dão o carro e dizem que temos de usá-lo. Mas as únicas referências que nos dão são filmes pornô ou filmes românticos, e ali não se vê estimulação do clitóris", diz a psicóloga e sexóloga.

"Sempre há penetração, e a penetração por si só não é a técnica que melhor estimula o clitóris. Não é um facilitador do orgasmo."

Além disso, comenta Morán, "muitas mulheres que descobriram por meio da autoexploração que a estimulação do clitóris lhes proporciona prazer e orgasmos, acham que esses têm qualidade inferior".

"Algumas mulheres dizem que sim, que têm orgasmos, 'mas só' se estimularem o clitóris com a mão, como se isso fosse um defeito de fábrica."

"Não apenas não sabem que o clitóris está ali, como também não sabem que esse é o órgão mais fácil para chegar a um orgasmo", assegura Morán.

Golfinhos

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Todos os mamíferos têm fêmeas com clitóris

O poder das palavras

Mintz concorda que essa lacuna no prazer está ligada à falta de conhecimento das mulheres sobre sua própria anatomia e dos homens sobre a anatomia feminina.

"Infelizmente, muitas mulheres ainda hoje nem sabem o potencial da parte do clitóris que podem ver e tocar", explica.

Mas a sexóloga também considera que "a linguagem que usamos em nossa cultura reflete e perpetua" essa situação.

"Chamamos tudo o que acontece antes da penetração na relação sexual de "preliminares", como se fossem algo secundário de um evento principal", afirma Mintz. "Sendo que é essa estimulação que em geral têm maior probabilidade de levar a maioria das mulheres ao orgasmo."

Mudar esse cenário exige educação sexual, diz a autora.

É necessário "ensinar as pessoas sobre prazer sexual e consentimento", afirma, citando a Holanda. "Graças à educação sexual, o país tem menos agressões sexuais e uma menor diferença da quantidade e qualidade dos orgasmos femininos e masculinos".

  • Laura Plitt
  • BBC News Mundo

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Vacina infantil contra covid-19: efeitos colaterais graves são 'raríssimos', aponta CDC



Criança sendo vacinada contra a covid-19 nos EUA

CRÉDITO,REUTERS

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Criança sendo vacinada contra a covid-19 nos EUA; 8,7 milhões de doses já foram aplicadas na faixa etária de 5 a 11 anos, e vigilância recebeu 4,2 mil alertas de afeitos adversos, dos quais 97% foram não sérios

Reações adversas de crianças de 5 a 11 anos à vacina de covid-19 são raríssimas, apontou nesta quinta-feira o órgão governamental Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) ao publicar uma revisão de dados levantados após 8,7 milhões de doses terem sido aplicadas nessa faixa etária no país.

A vacinação infantil foi autorizada nos EUA em 29 de outubro, com o imunizante da Pfizer-BioNTech, na mesma dosagem (0,2 mL, equivalente a 10 microgramas, um terço da dos adultos) autorizada no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 16 de dezembro.

Com o início da campanha de vacinação, o sistema Vaers (vigilância de segurança em vacinas administrado pelo CDC e pela FDA, agência americana de regulamentação de alimentos e medicamentos) passou a receber comunicados de efeitos adversos em crianças, feitos por equipes de saúde, fabricantes de vacina ou por membros do público em geral.

Segundo o relatório semanal do CDC, publicado com a data de sexta-feira (31/12), o sistema Vaers recebeu, entre 3 de novembro e 19 de dezembro, 4.249 comunicados de efeitos adversos no universo de 8,7 milhões de doses aplicadas nesse grupo etário, com idade média de 8 anos.

Desse total, 97,6% não foram efeitos adversos sérios.

Esses 4.149 casos incluem desde erros na dosagem administrada ou erro de estocagem até vômito, febre, dor de cabeça, tontura, síncope, fadiga, náusea e coceiras. Foram considerados de pouca seriedade porque não causaram hospitalizações ou problemas de longo prazo ou potencialmente fatais.

Entre os 100 relatos restantes, nos quais sim houve efeitos considerados sérios com necessidade de hospitalização, havia: febre, vômito, elevação de troponina (o que é associado a problemas cardíacos) e 12 casos graves de convulsão.

E houve ainda 15 relatos preliminares de miocardite, desses quais 11 puderam ser verificados - sete crianças se recuperaram e quatro estão em recuperação. (Um outro estudo sobre miocardite e outros males cardíacos, realizado no Reino Unido e publicado em 14 de dezembro, apontou que o risco de desenvolver problemas do coração após a vacinação era de no máximo 10 em 1 milhão - muito menor do que o risco de miocardite causado pela própria covid-19).

O Vaers recebeu também dois relatos de mortes - de duas meninas, de 5 e 6 anos - durante o período de monitoramento da vacinação, que estão sendo investigados, segundo o CDC.

"Ambas tinham histórico médico complicado e estavam com a saúde fragilizada antes da vacinação", diz o relatório. "Nenhum dos dados sugere uma associação causal entre as mortes e a vacinação."

Criança sendo vacinada contra a covid-19 na França

CRÉDITO,REUTERS

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Estudo com 700 crianças e adolescentes internados por covid-19 nos EUA apontou que apenas 0,4% haviam recebido o esquema vacinal completo

O CDC diz também ter monitorado ativamente um grupo de 42,5 mil crianças vacinadas com duas doses. Nelas, as principais reações à vacina foram dor no local da injeção, fadiga ou dor de cabeça.

"Pais e cuidadores de crianças de 5 a 11 anos devem ser informados de que reações locais ou sistêmicas são esperadas após a vacinação com a vacina da Pfizer-BioNTech e são mais comuns após a segunda dose", diz o relatório.

Com isso, o CDC reforça que "a vacinação é a forma mais eficiente de prevenir a covid-19, e a FDA vai continuar a monitorar a segurança da vacinação e trazer atualizações".

Hospitalizações foram mais comuns entre crianças não vacinadas


Uma segunda análise do CDC tornada pública nesta quinta avaliou cerca de 700 hospitalizações por covid-19 entre crianças e adolescentes nos EUA.

A principal conclusão foi que, entre 77,9% das crianças e adolescentes internados com covid-19 aguda, apenas 0,4% dos pacientes em idade vacinável haviam recebido o esquema vacinal completo.

Outra observação é de que, no grupo de 12 a 17 anos, dois terços dos jovens internados sofriam de obesidade.

"A vacinação contra covid-19 e outras estratégias de prevenção são importantes para proteger as crianças contra covid-19, particularmente crianças com obesidade e outras pré-condições de saúde", diz o relatório.

No Brasil, apesar da autorização da Anvisa, a vacinação do público infantil enfrenta resistência por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro, que falou que não pretende vacinar sua filha de 11 anos.

O Ministério da Saúde abriu uma consulta pública a respeito do tema e recomendou que a imunização de crianças a partir de 5 anos ocorra sob prescrição médica - medidas que sofreram críticas de especialistas em imunização.

Alguns Estados afirmaram que não pretendem seguir a recomendação do ministério. Em resposta a isso, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que esses governadores não são médicos e estão interferindo nas Secretarias de Saúde de seus Estados.

BBC

30/12/2021

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Como o vírus ômicron atua e como podemos nos proteger dele?



Coronavírus

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Ômicron vem se espalhando por vários países do mundo a ritmo extremamente veloz

A ômicron chegou trazendo caos.

Em tempos de fadiga pandêmica generalizada, no entanto, é essencial lembrar que espalhar o pânico não funciona. Verificamos isso com as mudanças climáticas: mensagens catastróficas acabam soando entediantes e fazem com que muitas pessoas se desconectem do problema, como na história infantil de Pedro e o Lobo.

Mais uma vez, com a ômicron, é tempo de rigor, transparência (dizer o que se sabe e o que não se sabe) e, sobretudo, propor soluções.

A ômicron é mais transmissível?

Desde que foi detectada há algumas semanas, a variante está se alastrando rapidamente em muitos países. Parece que seu crescimento está disparado, é exponencial e que em poucas semanas substituirá a variante Delta, até agora dominante.

No entanto, embora ainda seja muito cedo para dizer, alguns dados sugerem que essa alta incidência não está levando a uma maior mortalidade.


Sobre isso, ainda existem dados conflitantes e é difícil saber o que vai acontecer. O nível de incerteza permanece muito alto. É verdade que hospitalizações, admissões em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e óbitos ocorrem com defasagem de algumas semanas.

O problema é que uma variante muito mais transmissível, mesmo que menos virulenta, não significa necessariamente que cause menos mortes: se crescer a uma velocidade tão alta, se houver muitos casos em muito pouco tempo, pode haver mais mortes.

Uma sexta onda intensa e rápida em número de casos vai gerar um colapso no sistema de saúde, algo que, como já vimos, tem consequências muito graves.

As agências internacionais de saúde classificam a situação como de risco muito alto. Por esse motivo, alguns dizem que "é preciso se preparar para o pior".

Não sabemos se é mais grave ou mais branda

Embora o número de hospitalizações permaneça baixo, não há evidências de que a ômicron seja menos virulenta do que a variante Delta.


Em comparação com outras variantes, os resultados preliminares sugerem que a ômicron se multiplica 70 vezes mais rápido nos brônquios humanos, o que poderia explicar por que essa variante pode ser transmitida mais rapidamente.

No entanto, o mesmo estudo mostra que a infecção por ômicron no pulmão é significativamente menor do que com a SARS-CoV-2 original. Isso talvez explique por que produz uma gravidade menor da doença.

Outros trabalhos preliminares apontam que o soro de indivíduos vacinados neutralizou a variante ômicron em um nível muito mais baixo do que qualquer outra variante.

No mesmo trabalho, contudo, cientistas também sinalizam que os soros de indivíduos superimunes (aqueles que foram infectados e vacinados ou que foram vacinados e foram posteriormente infectados) foram capazes de neutralizar a nova variante.

Os anticorpos previnem a infecção, portanto, esse escape parcial da resposta imune (anticorpos) também pode influenciar sua maior transmissibilidade.

Contra a ômicron, ou contra qualquer outra variante ainda mais perigosa, o que temos que fazer é lembrar o que já sabemos e fazer: vacinas, máscaras, ventilação, distância, testes de antígenos, autocontenção, reforço sanitário.

Mulher sendo vacinada

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Surgimento de novas variante não significa que vacinas não funcionam

As vacinas funcionam, claro que funcionam

Com a incidência atual, se essa sexta onda nos atingisse e não estivéssemos vacinados, seria uma verdadeira carnificina.

Já constatamos isso com a quinta onda, em que o número de casos aumentou (devido à variante Delta, mais transmissível e que acabou se tornando dominante), mas não se refletiu no aumento de óbitos como nas ondas anteriores.

A diferença é que a maioria dos idosos mais vulneráveis​​já foi vacinada. Com um certo otimismo, algo semelhante vai acontecer agora. Em três ou quatro semanas saberemos.

Com a tremenda transmissibilidade da ômicron, é provável que muitos de nós sejamos infectados. Se formos infectados, o melhor é que o vírus nos pegue vacinados.

Pessoas sem proteção (sem vacina ou sem infecção anterior) correm maior risco. As vacinas não são armaduras de aço impenetráveis, podemos nos infectar e infectar outras pessoas, embora com menor probabilidade.

Mas isso não significa que as vacinas não estejam funcionando. Essas vacinas estão prevenindo casos graves da doença, reduzindo as internações hospitalares e em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e reduzindo a mortalidade.

Esse era o seu objetivo. É por isso que devemos ser vacinados, não apenas para nos proteger, mas para proteger os outros.

As vacinas induzem uma resposta imunológica poderosa. A imunidade é muito mais do que anticorpos.

Os anticorpos previnem infecções e a imunidade celular previne doenças graves e mortalidade. Mas ambos são necessários.

Por isso, as pessoas mais vulneráveis ​​precisam de anticorpos e imunidade celular, pois só a infecção pode levá-las ao hospital.

Em pessoas mais velhas, seu sistema imunológico também envelhece (imunosenescência) e eles respondem pior aos estímulos da vacina.

Também pode acontecer que a resposta do anticorpo diminua com o tempo. Portanto, uma dose de reforço pode ser recomendada, as famosas terceiras doses.

Como já dissemos, parece que a capacidade de neutralização dos anticorpos induzida pelas vacinas pode ser diminuída com a ômicron. Outros estudos sugerem, no entanto, que a resposta celular poderia de fato controlar a nova variante.

No entanto, vários estudos com diferentes vacinas (AstraZeneca, Johnson & Johnson, Modena, Novavax, Pfizer e Valneva) sugerem que uma dose de reforço reduz a covid-19 grave em qualquer faixa etária e aumenta a atividade neutralizante contra a ômicron de uma forma muito significativa.

Não há dúvida de que a melhor forma de proteção contra o SARS-CoV-2, independentemente da variante, é a vacinação. A prioridade deve ser:

1) Convencer aqueles que ainda não foram vacinados a se vacinar.

2) Vacinar com uma terceira dose de reforço nas pessoas mais vulneráveis ​​(idosos, com patologias prévias, etc.).

Além disso, não se deve esquecer que estamos vivendo uma pandemia e o que acontece na África do Sul, Peru ou Índia nos influencia, por isso as vacinas devem ser fornecidas nos países onde as taxas de vacinação ainda são muito baixas.

Criança sendo vacinada

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Alguns argumentam que vacinar crianças para proteger idosos não faz sentido, mas vacinas sempre tiveram componente social: nos protegem e protegem os outros

Vacinamos crianças menores de 12 anos?

Estamos em uma situação extraordinária. Embora os casos de covid-19 grave sejam muito raros em menores, isso não significa que não tenham ocorrido casos graves e até mesmo mortes.

Os ensaios clínicos demonstraram que as vacinas para crianças entre 5 e 12 anos são seguras e eficazes.

Além disso, mais de 5 milhões de crianças foram vacinadas nos Estados Unidos e nenhum caso secundário grave foi relatado.

Embora do ponto de vista individual se possa duvidar da necessidade de vacinação infantil, a vacinação de menores pode ter outros efeitos benéficos, não apenas preventivos, mas até terapêuticos: pode ajudar a reduzir a incidência da doença, melhorar a situação das crianças, escolas e diminuir estresse psicoemocional a que também estão sujeitos os menores e suas famílias.

Alguns argumentam que vacinar crianças para proteger os idosos é uma aberração, mas as vacinas sempre tiveram um componente social: nos protegem e protegem os outros.

Insisto, a situação neste momento não é normal, estamos vivendo em uma pandemia.

Sobre esse ponto, deve-se lembrar que em muitos países a vacinação não é obrigatória.

Vacinar crianças é uma decisão que os pais devem autorizar conscienciosamente. Se tiver dúvidas, procure seu pediatra. Mas precisamos respeitar a decisão deles e não discriminar ninguém.

Essa sexta onda não é culpa dos não vacinados. Os não vacinados estão em maior risco, mas não são culpados pelo aumento da incidência do vírus.

Se as vacinas não impedem a circulação do vírus, o que fazemos?

Agora é um bom momento para lembrar a metáfora do queijo suíço.

Não temos uma parede de aço impenetrável bloqueando o vírus, nem mesmo com as vacinas. As vacinas não são a única solução, são parte da solução.

Nenhuma medida isolada é perfeita para prevenir a propagação do vírus (cada camada de queijo tem buracos). Mas uma sobreposição de medidas compensa as falhas individuais e reduz significativamente o risco.

Lembre-se de que o vírus é transmitido por aerossóis, como se fosse fumaça de cigarro.

Vamos imaginar uma pessoa perto de nós fumando. Assim como a fumaça do tabaco se move ao nosso redor e acabamos respirando-a, o vírus também se moverá se tivermos uma pessoa infectada ao nosso lado.

Portanto, um local fechado, mal ventilado, com muita gente, pessoas conversando muito e sem máscara, é o melhor lugar para se infectar. As máscaras provaram ser uma medida muito eficaz para prevenir o contágio.

Pessoas de máscara

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Máscaras ainda são essenciais para impedir propagação do vírus

As máscaras são necessárias em ambientes internos e externos se não houver distância de segurança. Do lado de fora e com uma distância de segurança, a máscara não é necessária.

O risco de infecção em ambientes externos é muito menor do que em ambientes fechados. Essa é uma das razões pelas quais há mais infecções de patógenos respiratórios no inverno, porque passamos mais tempo juntos dentro de casa.

Não faz sentido, portanto, fechar os parques como foi feito em outros momentos da pandemia. Qualquer atividade, melhor fora do que dentro.

Sair na rua com a máscara e tirar ao entrar em um espaço fechado é como sair com o capacete na rua e tirar ao andar de motocicleta.

O que faz mais sentido é promover a instalação de medidores de CO₂ internos.

Uma forma de medir a qualidade do ar que respiramos é medir a concentração de CO₂ que expelimos quando respiramos. Quanto maior a concentração de CO₂, maior será a quantidade de ar já respirada por outra pessoa.

Como não podemos ver o vírus e não podemos medir sua concentração no ar, a medição de CO₂ é um bom indicador. Estamos em uma pandemia há mais de 20 meses, por que os medidores de CO₂ não foram instalados em locais públicos fechados?

Para melhorar a qualidade do ar, a ventilação cruzada ainda é essencial.

Se isso não for possível, um sistema de filtragem pode ser usado. Por que os sistemas de filtragem de ar não foram instalados em locais públicos fechados?

Fazemos um teste de antígeno?

Os testes de antígeno já estão disponíveis há vários meses. Bem usados, permitem detectar casos em sua fase mais contagiosa.

Se o teste for positivo, você deve se isolar e ficar em casa.

Se for negativo, não relaxe. Pode não haver carga viral suficiente ainda. O melhor seria repetir nos dias seguintes. No caso de uma celebração, o melhor é fazê-lo um pouco antes do evento.

Esse tipo de teste pode ser muito útil em situações como a atual, em que já existe um colapso do sistema de saúde. Por que ainda não são vendidos fora das farmácias, como em outros países?

Se for conveniente repetir o teste, por que não são mais baratos ou até mesmo distribuídos gratuitamente para a população, como em outros países?

Mas também há boas notícias, embora muito preliminares.

Por exemplo, o medicamento oral Paxlovid foi quase 90% eficaz na prevenção da hospitalização e morte por covid-19 em um estudo com mais de 2,2 mil pacientes de alto risco. A eficácia sobe para 94% em pessoas com mais de 65 anos de idade.

Fortalecer o sistema de saúde não é responsabilidade do cidadão

Esta época do ano no hemisfério norte é a estação do muco, resfriados, bronquite, pneumonia, gripe... e coronavírus.

As estatísticas de mortalidade ao longo do ano (antes da pandemia) mostram que sempre morrem mais pessoas no inverno do que no verão, há centenas de vírus e bactérias que se transmitem pelo ar e causam esses tipos de problemas respiratórios.

Prevê-se, portanto, que a cada ano haja um pico de incidência e que o sistema de saúde sofra alguma tensão e acúmulo de pacientes.

Neste inverno, em meio a uma pandemia, o colapso do sistema era mais do que previsível. A grande maioria dos cidadãos foi obediente: cumprimos nossas obrigações e nos vacinamos.

De quem é a responsabilidade de o sistema de saúde estar agora sendo bastante demandado? Obviamente do vírus, mas estamos em uma pandemia há mais de 20 meses.

Existem responsabilidades pessoais: vacinar-se, usar máscaras, distância física, evitar contágio, evitar espaços lotados, isolar-se em caso de sintomas, informar o serviço de saúde em caso de contágio, cumprir quarentenas...

E as dos gestores públicos: reforçando a equipe de rastreadores, médicos/enfermeiros, atenção primária e emergências, laboratórios de diagnóstico, leitos de UTI, provendo CO₂ medidores, sistemas de ventilação e filtração, provendo e/ou facilitando o acesso aos testes de antígenos, adequando os sistemas legais, coordenação, comunicação eficaz...

Toda essa combinação de medidas e responsabilidades nos ajudará a controlar melhor a pandemia, independentemente da variante do momento.

A situação é muito delicada. Vamos ser responsáveis e cuidar de nós mesmos.

*Ignacio López-Goñi é Professor de Microbiologia da Universidade de Navarra, Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

  • Ignacio López-Goñi
  • The Conversation*

Professor Edgar Bom Jardim - PE