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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O que muda nas eleições com a aprovação da cláusula de barreira e o fim das coligações partidárias


CongressoDireito de imagemEVARISTO SA/AFP/GETTY IMAGES
Image captionMedida restringe propaganda eleitoral a partidos que obtiverem menos de 1,5% dos votos válidos na eleição para a Câmara (Foto: Rodolfo Stuckert)

O Senado aprovou na noite de terça-feira uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui a chamada cláusula de barreira para a eleição de 2018 e proíbe a realização de coligações partidárias em eleições para deputados e vereadores a partir de 2020.
As medidas, que dificultam a sobrevivência de partidos pequenos, já haviam sido aprovadas na Câmara dos Deputados em setembro.
A proposta altera o cenário da eleição do ano que vem. A partir de 2018, só terão acesso ao fundo eleitoral e à propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV partidos que preencham os seguintes requisitos: obtenham ao menos 1,5% dos votos válidos na eleição para a Câmara, distribuídos por ao menos nove Estados (com mínimo de 1% dos votos em cada um desses Estados); ou elejam ao menos nove deputados vindos de pelo menos nove Estados. A proposta foi aprovada quatro dias antes do fim do prazo para que as medidas possam vale já no ano que vem.
As barreiras aumentariam progressivamente até 2030, chegando a 3% dos votos em ao menos nove Estados (com mínimo de 2% em cada um deles), ou a eleição de 15 deputados em ao menos nove Estados.
A partir de 2020, o partidos não poderão mais fazer coligações partidárias nas eleições para deputados e vereadores.

Prós

Defensores das mudanças dizem que a cláusula de barreiras reduzirá o número de partidos nanicos - muitos deles criados apenas para abocanhar recursos públicos, segundo seus críticos. Hoje há 25 partidos na Câmara. Entre os que não integram coligações partidárias, dez têm menos de vinte deputados cada.
Assim, 40% dos partidos da Casa têm bancadas que não chegam a 4% das cadeiras da Câmara. O grupo dos nanicos inclui siglas com pouca visibilidade fora do horário eleitoral, como PHS, PEN, PSL e PRP.
Hoje, essas siglas são contempladas duplamente pelo fundo partidário, já que 95% dos recursos são distribuídos aos partidos na proporção dos votos que receberam na última eleição para a Câmara, e 5% são entregues em partes iguais a todas as legendas registradas na Justiça Eleitoral. O fundo aprovado para este ano soma R$ 819 milhões.
Para Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências, o grande mérito da cláusula de barreira é ampliar o controle sobre a distribuição de recursos públicos aos partidos. "A legislação atual é muito permissiva e gera incentivos perversos para a criação de novas legendas", ele afirma.
Em 2006, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), calculou que, se a cláusula de barreira aprovada pelo Congresso naquele ano já estivesse vigorando, só sete partidos receberiam recursos do fundo partidário.
Marco Aurélio foi relator de uma ação movida pelo PC do B e pelo PSC contra a aprovação de uma lei que previa a adoção da cláusula de barreira a partir da eleição seguinte. O STF julgou que a lei era inconstitucional - ou seja, a medida só poderia vigorar se a Constituição fosse alterada (por isso agora o Congresso está tratando do tema por meio de uma PEC).

Deputados federais em votação na Câmara
Image captionA proposta aprovada na terça proíbe ainda a realização de coligações partidárias em eleições proporcionais (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Muitos defensores da cláusula de barreira dizem que a medida reduzirá o número de partidos e fortalecerá as siglas maiores, o que facilitaria a governabilidade. Hoje, para conseguir aprovar suas propostas no Congresso, o governo precisa conquistar o apoio de muitos partidos, atendendo a pedidos de nomeações e liberação de verbas.
Com menos partidos na Câmara, a obtenção da maioria governista seria mais simples e exigiria menos concessões do Executivo, segundo os adeptos dessa visão.
Mas Rafael Cortez diz que a medida não facilitará necessariamente a governabilidade, pois os partidos que serão afetados não têm peso político relevante. Ele afirma ainda que, ao estimular a migração de políticos para partidos maiores, a cláusula pode ampliar as divergências internas das siglas e reduzir sua coesão. "Muito provavelmente a formação de uma coligação majoritária vai continuar dependendo de muito esforço."
Cortez elogia o fim das coligações partidárias em eleições proporcionais, medida também prevista na PEC aprovada na Câmara. Hoje, partidos podem concorrer em bloco nessas disputas, contabilizando os votos como se fossem uma única legenda. Dessa forma, os votos depositados em uma sigla podem ajudar a eleger candidatos de outra.
A prática é adotada por muitos partidos pequenos, que tentam pegar carona em candidatos populares de outras siglas. Em troca, cedem tempo de propaganda para candidatos da sigla parceira que concorrem a cargos majoritários. Muitas vezes, as coligações são desfeitas logo após a eleição.
"As coligações violam a lógica do sistema de representação proporcional ao deturpar a transferência de votos em cadeiras", afirma Cortez. A PEC aprovada não proíbe, porém, as coligações em eleições majoritárias.

Contras


O Plenário da Câmara
Image captionMedidas podem afetar partidos como a Rede e o PSOL | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Críticos à proposta aprovada no Congresso dizem que a cláusula de barreira pode dificultar a existência de partidos que, embora pequenos, cumprem um papel importante no jogo político e representam setores sociais minoritários. Entre as siglas que poderiam ser afetadas estão a Rede, partido da ex-ministra Marina Silva, e o PSOL, ambos na linha de frente da oposição ao governo Michel Temer.
Para Pedro Fassoni Arruda, professor de ciência política da PUC-SP, a cláusula traz mais prejuízos do que benefícios. "Acaba favorecendo justamente os grandes partidos e dificultando não só a atuação dos pequenos, mas o surgimento de novas legendas que possam oxigenar o debate."
Ele afirma que a existência das chamadas "legendas de aluguel" poderia ser combatida por outros meios, como dificultando migrações entre partidos durante mandatos. Hoje muitas siglas são criadas após acertos para incorporar deputados de outras legendas.
Pedro Fassoni Arruda, da PUC-SP, critica o contexto em que a reforma política tem sido promovida, quando o Congresso se vê acuado por denúncias de corrupção e é visto com descrédito por boa parte dos brasileiros. "As negociações estão sendo feitas de maneira casuística para beneficiar os partidos da ordem, que já têm as maiores bancadas no Congresso."
Atualizada em 4 de outubro, às 10:49
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Catalunha vai declarar independência

Carles PuigdemontDireito de imagemAFP/GETTY IMAGES
Image captionCarles Puigdemont, líder catalão, afirmou que seu governo "vai agir no final desta semana ou começo da próxima".
A Catalunha vai declarar sua independência da Espanha em "questão de dias", disse à BBC nesta terça-feira o líder da região autônoma, Carles Puigdemont.
Em sua primeira entrevista desde o referendo de domingo, o presidente regional disse que seu governo "vai agir no final desta semana ou começo da próxima".
"Provavelmente faremos isso quando tenhamos (computado) os votos do exterior - no final desta semana ou algo assim -, então agiremos no fim desta semana ou início da próxima", afirmou.
Questionado sobre o que fará se o governo central espanhol, em Madri, intervir e tomar o controle da administração regional, Puigdemont afirmou que isso seria "um erro que mudaria tudo".
"Cada semana, após cada erro (do governo central), ganhamos mais apoio da sociedade, uma maioria da Catalunha que não aceita esta situação. Portanto, um erro maior, como tomar controle de nossas finanças ou prender membros de nosso governo, inclusive eu, seria um erro que mudaria tudo."
Segundo Puigdemont, não há no momento nenhum diálogo em curso entre Madri - que considera ilegal o referendo de domingo - e seu governo.
O líder regional disse ainda discordar do comunicado emitido na segunda-feira pela Comissão Europeia, que afirmava que os desdobramentos na Catalunha são uma questão interna da Espanha.
A entrevista de Puigdemont ocorreu pouco depois de um pronunciamento televisionado do rei espanhol, Felipe 6º, que declarou que as lideranças catalãs que organizaram o referendo demonstraram "desrespeito pelos poderes do Estado".
"Eles romperam os princípios democráticos do Estado de direito", afirmou o monarca, pedindo união e agregando que a ruptura poderia colocar em risco conquistas econômicas catalãs e espanholas.

Críticas e repressão

Mulher carregada pela guarda municipalDireito de imagemDAVID RAMOS/GETTY IMAGES
Image captionForça local foi criticada por ser passiva pelo governo central, que acionou Guarda Civil e Polícia Nacional para impedir a votação
O referendo de domingo, que questionava a população catalã quanto a se separar ou não do restante da Espanha, foi duramente criticado pelo governo central espanhol e reprimido pela polícia do país.
Episódios de violência policial deixaram quase 900 feridos e despertaram mais protestos nessa região do nordeste espanhol.
Durante a votação, também 33 policiais ficaram feridos, segundo a imprensa local.
O referendo contou com o voto de cerca de 2,2 milhões de pessoas. Segundo o governo catalão, cerca de 90% votaram a favor da independência, mas os resultados oficiais ainda não foram divulgados.
Além disso, o comparecimento às urnas foi de apenas cerca de 42% dos votantes - índice baixo que potencialmente enfraquece Puigdemont.
O líder catalão chegou a afirmar que buscaria um novo entendimento com o governo de Madri, mas este reagiu ameaçando suspender a autonomia catalã.
O premiê espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que a votação de domingo "zombou" da democracia.
Com informação da BBC
Professor Edgar Bom Jardim - PE

273 tiroteios em massa em 2017:Estados Unidos colhe o que plantou nas últimas eleições

Polícia armada é vista do lado de fora do hotel Mandalay BayDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionPolícia armada é vista do lado de fora do hotel Mandalay Bay
O americano Stephen Paddock disparou tantos tiros de seu quarto de hotel que a leve fumaça que costuma subir após o uso de uma arma de fogo foi tão intensa que disparou o alarme de incêndio - o que teria sido o estopim para que o atirador tirasse a própria vida.
Segundo a imprensa dos EUA, o homem que matou 59 pessoas e deixou pelo menos 527 feridos em Las Vegas, na noite de domingo, tinha mais de 20 armas em seu quarto - algumas delas automáticas, com cartuchos de munição capazes de armazenar dezenas, ou até centenas de balas de uma só vez.
'É bala! É bala': brasileiro que se casaria em Las Vegas registra disparos e pânico em vídeo
O arsenal transformou Paddock, um homem nascido nos EUA há 64 anos, no autor do tiroteio em massa mais letal da história recente dos Estados Unidos.
Gráfico mostra número de mortes em ataques a tiros nos EUA.
Image captionAtaque a tiros nos EUA é o mais letal da história dos EUA
E a concorrência não é pequena. Nos primeiros 275 dias de 2017 (ou de 1º de janeiro a 2 de outubro), 273 atiradores como Paddock deixaram rastros de desolação, mortos e feridos pelo país.
Isso significa que, em média, apenas dois dias em todo o ano não tiveram incidentes como o ocorrido nesta semana em Las Vegas.
Os dados são da associação Gun Violence Archive (GVA - ou Arquivo da Violência Armada, em tradução livre), que registra episódios como este desde 2013 a partir de dados do governo e das forças de segurança dos EUA.
EUA x Brasil
Ainda segundo a GVA, 11.685 pessoas - morreram neste ano por disparos de armas de fogo nos Estados Unidos - 42 por dia.
O número impressiona, mas equivale a um terço das mortes por tiros registradas diariamente no Brasil - 123 por dia, segundo o Mapa da Violência 2016, estudo desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FPSP).
Pessoas correndo da cena do tiroteioDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionMultidão em pânico foge do festival Route 91 Harvey, alvo de ataque
O que difere os EUA do Brasil são os tiroteios em massa - pouco comuns no noticiário brasileiro, onde a maioria das mortes costuma ser resultado de confrontos entre policiais e traficantes, brigas entre grupos rivais ou disputas no campo.
Para chegar às estatísticas americanas, a Gun Violence Archive define como tiroteio em massa (ou "mass shooting") os episódios em que quatro ou mais pessoas são alvejadas ou mortas por um mesmo atirador ou grupo de atiradores.
"Apesar de não ter sido uma surpresa, por conta da frequência em todo o país, é muito difícil antecipar um tiroteio em massa como o ocorrido em Vegas", disse à BBC Brasil Mark Bryant, diretor-executivo da GVA.
Praticante de tiro nas horas vagas, Bryant costuma dizer que defende a "prevenção contra a violência vinda de armas de fogo", e não "o fim do porte de armas".
Casal usando chapéu de cowboy se abraça durante o show.Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionCasal se abraça no local do show onde atirador foi ouvido abrindo fogo.
Ele diz que a única forma de reduzir a chance de tiroteios em massa sem prejudicar o direito a posse de pistolas, rifles e revólveres, um dos pilares da Constituição americana, seria o controle na venda de cartuchos de munição de alta capacidade - como os que chegam a permitir até 200 tiros por vez.
"A Califórnia já fez isso e reduziu o limite a cartuchos de 10 tiros, no máximo. Assim, o direito de quem quer poder usar a sua arma continua preservado", afirma.
"Mas com limite. A única razão para se ter cartuchos de 120, 200 tiros em casa é a possibilidade de alvejar várias pessoas", diz Bryant.
Lobby
Atualmente, estima-se que 55 milhões de americanos tenham armas de fogo em casa - são 88 armas para cada 100 habitantes no país.
O forte lobby da indústria do armamento ajuda nesta popularidade.
Tradicionalíssima no país, a Associação Nacional de Rifles esteve entre os principais cabos eleitorais de Donald Trump e doou US$ 30 milhões (cerca de R$ 100 milhões, em valores atuais) ao republicano durante a campanha presidencial do ano passado.
Vigília em homenagem às vítimas de Las VegasDireito de imagemREUTERS
Image captionVigília é realizada após tiroteio em massa em Las Vegas
No início deste ano, o Senado americano decidiu, por maioria, suspender uma regra aprovada por Barack Obama para impedir a venda de armas para pessoas com problemas mentais.
A medida foi endossada por Trump e ampliou o acesso a armas a 75 mil pessoas em todo o país.
Há poucas semanas, a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) aprovou uma lei que torna mais fácil para que cidadãos comuns comprem silenciadores para suas armas - algo bastante criticado por Hillary Clinton, derrotada por Donald Trump na última eleição presidencial.
O tema agora aguarda discussão no Senado - onde, segundo especialistas, a chance de aprovação é mais difícil.
Na comparação com 2016, as mortes totais por tiros nos Estados Unidos subiram 6%, segundo a GVA.
"Já a quantidade de tiroteios em massa caiu um pouco menos de 20% neste ano, em relação ao anterior", diz o diretor-executivo da associação à BBC Brasil.
"Mas é impossível prever se a média continuará assim até o fim do ano", acrescenta.
O governo americano não tem uma definição oficial para "tiroteios em massa".
O FBI define apenas os "assassinatos em massa" - classificados como a morte de três ou mais pessoas no mesmo local público.
A polícia federal americana qualifica ainda como "assassino em massa" quem mata quatro ou mais pessoas em uma determinada situação.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

As instituições estão funcionando? 5 momentos em que o equilíbrio entre Poderes deu 'tilt'


Estátua representa a Justiça em frente ao STF
Image captionEstátua representa a Justiça em frente ao STF; caso de Aécio Neves evidenciou embate com o Legislativo | Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

A cada nova escalada da crise brasileira, autoridades apressam-se a garantir: "as instituições estão funcionando". Mas estariam funcionando bem? Sucessivos embates entre os Poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - indicam que o equilíbrio entre eles têm dado "tilt", ou seja, sinais de falha. E o risco que isso traz, destacam analistas ouvidos pela BBC Brasil, é o de perda de confiança na democracia.
O mais recente episódio de tensão gira em torno do afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), determinado há uma semana em decisão apertada da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que o tucano usa seu mandato para atrapalhar a operação Lava Jato.
Como não há previsão na Constituição autorizando que a corte suspenda o parlamentar, o Senado pretende votar nesta terça-feira um requerimento para derrubar a decisão do STF.
Para Rubens Glezer, professor de Direito Constitucional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o equilíbrio entre os poderes começou a falhar na controversa prisão do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e se aprofundou em outros momentos.
Ele cita as decisões contraditórias do Supremo ao primeiro barrar a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro de Dilma Rousseff para depois autorizar a de Moreira Franco no governo de Michel Temer - ambas suspeitas de servir para lhes dar foro privilegiado.
Na sua avaliação, a crise que o país atravessa não decorre de um desenho ruim de funcionamento das instituições brasileiras, mas da "má qualidade dos atores nas três esferas de Poder".
"Temos um Legislativo e um Executivo altamente comprometidos com escândalos de corrupção e uma Suprema Corte que, em vez de estabelecer regras claras, interfere nessa relação voluntariamente, casuisticamente", critica.

O senador afastado Aécio Neves
Image captionSenado pretende analisar hoje caso de Aécio | Foto: Wilson Dias/Ag. Brasil

O cientista político José Alvaro Moisés, professor da USP, ressalta que é normal haver certa tensão entre as instituições, já que o princípio do "equilíbrio entre os Poderes" prevê justamente que cada um atue para conter excessos dos outros. "O problema é quando se passa desses patamares normais de tensão, o que talvez esteja acontecendo", nota ele.
Em meio aos sucessivos embates entre Poderes, pesquisa do Instituto Datafolha divulgada neste domingo mostrou queda no percentual dos eleitores brasileiros que concordam com a noção de que a democracia é sempre melhor do que outras formas de governo - o índice caiu de 66% em dezembro de 2014 para 56% agora.
"Se há uma desconfiança persistente nas instituições, isso passa para a democracia. É muito grave, pois pode vir a solapar a legitimidade da democracia", afirma Moisés.
Nesse cenário, ainda que sob muitas críticas, tem aumentado o discurso a favor de uma "intervenção militar". "Algo inimaginável há três anos", nota Glezer.
Confira abaixo os principais momentos de tensão protagonizados entre os Poderes nos últimos anos e como eles revelam falhas nas relações institucionais.

1) Prisão de Delcídio


Delcídio do Amaral
Image captionPara especialista, prisão de Delcídio representa comprometimento do Judiciário com a agenda anticorrupção | Foto: Jane de Araújo/ Ag. Senado

Delcídio do Amaral, então líder do governo Dilma no Senado, foi preso por decisão unânime do Supremo em novembro de 2015, acusado de atrapalhar as investigações da Lava Jato. Ele foi gravado oferecendo R$ 50 mil mensais à família de Nestor Cerveró para tentar convencer o ex-diretor da Petrobras a não fechar um acordo de delação premiada.
A decisão dividiu juristas e gerou reação de parte dos senadores, já que a Constituição prevê que parlamentar só pode ser preso em flagrante ou por crime inafiançável (terrorismo, racismo, tráfico de drogas, entre outros).
Apesar disso, o Senado confirmou por 59 a 13 a manutenção da prisão. Delcídio depois firmou acordo de delação premiada e ganhou o benefício da prisão domiciliar, mas acabou cassado por seus pares.

Senado vota perda de mandato de Delcídio
Image captionDecisão do STF sobre Delcídio gerou reação de parte de senadores | Foto: Moreira Mariz/Ag. Senado

"A prisão do Delcídio é o momento em que Judiciário assume a agenda anticorrupção, mas faz isso com soluções excepcionais, de ocasião. Foi também uma chancela (do Supremo) de que havia corrupção no governo, o que teve reflexo no processo de impeachment", afirma Glezer.
Por outro lado, o professor considera que a decisão de ministros do STF de não prender Aécio, embora seu caso se assemelhe ao de Delcídio, mostra um certo "voluntarismo" nas decisões que não seria positivo.

2) Nomeação de Lula


Dilma Rousseff mostra Termo de Posse de Lula como ministro
Image captionDecisão monocrática de Gilmar Mendes derrubou nomeação de Lula como ministro da Casa Civil | Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Encurralada por enormes manifestações de rua, Dilma decidiu em março de 2016 colocar Lula como ministro da Casa Civil. O ato, no entanto, acabou barrado por decisão monocrática do ministro do STF Gilmar Mendes, que considerou que a nomeação do ex-presidente visava lhe dar foro privilegiado, tirando as investigações contra ele da primeira instância.
A decisão foi fundamentada em gravação de telefone entre Dilma e Lula que o juiz Sergio Moro tornou pública - posteriormente, o Supremo considerou a divulgação desse grampo ilegal.
Já em fevereiro de 2017, pedido semelhante contra a nomeação de Moreira Franco ministro de Temer foi rejeitado monocraticamente por outro ministro do Supremo, Celso de Mello.
Para o professor da FGV, o grande problema nesse caso foi não ter havido uma decisão colegiada do Supremo, o que poderia ter evitado a incongruência das decisões.
"O ministro Gilmar Mendes tomou monocraticamente uma decisão inédita de barrar um ministro, com efeito que era de 'tudo ou nada' para o governo vigente, e nunca levou o caso ao plenário. Depois outro ministro toma decisão oposta no caso Moreira Franco. Mais uma vez é uma situação de voluntarismo, de falta de controle e de falta de regra (no Supremo)", destaca Glezer.

3) Afastamento de Eduardo Cunha


Eduardo Cunha em sessão da Câmara
Image captionCunha se transformou em um dos personagens mais controversos do país | Foto: Ag. Brasil

Cunha foi afastado em maio de 2016 da Presidência da Câmara e do seu mandato de deputado, acusado de usar o cargo para atrapalhar investigações da Lava Jato e o andamento do processo que poderia levar a sua cassação no Conselho de Ética da Casa.
Outro argumento usado pelo relator do caso, o falecido ministro Teori Zavascki, para fundamentar o afastamento foi que Cunha era réu em uma ação penal no Supremo e por isso não poderia estar na linha sucessória da Presidência da República, ou seja, no comando da Câmara.
Sua decisão foi referendada pelos outros dez ministros - o mesmo argumento, porém, depois acabou rejeitado pela corte para afastar Renan Calheiros do comando do Senado (ver mais abaixo).
Mas a principal controvérsia nesse tipo de ação de afastamento, que está em discussão novamente no caso de Aécio, é que a Constituição não prevê a possibilidade de afastamento do mandato por decisão do STF - a princípio, apenas os próprios parlamentares podem cassar seus pares.
Como já havia um movimento na Câmara para cassar Cunha, a maioria dos deputados ficou a favor da intervenção do Supremo e o peemedebista acabou sendo cassado em setembro do ano passado.

4) Afastamento de Aécio


Os presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, deixam reunião com Cármen Lúcia no STF
Image captionOs presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, deixam reunião com Cármen Lúcia no STF; presidente da corte tenta amenizar crise entre poderes | Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil

No entanto, um dos problemas do afastamento de Cunha, considera Glezer, é que o STF criou uma nova forma de intervenção no Legislativo, mas sem prever "mecanismos de controle" sobre ela. É justamente a controvérsia que apareceu agora, no caso de Aécio, sobre o Senado poder ou não derrubar a decisão da Corte.
Para alguns juristas, se a Constituição permite que o Senado pode reverter uma decisão de prisão, então também deve poder derrubar o afastamento.
"A lógica do sistema de freios e contrapesos (entre os Poderes) é de que se você tem um poder interferindo no outro, o que é normal, possa haver uma reação de algum dos outros poderes", afirma Glezer.
O Supremo acabou marcando para o dia 11 o julgamento que analisará se o Senado pode derrubar a decisão da corte - a presidente Cármen Lúcia decidiu dar urgência ao caso para tentar amenizar a crise com o Legislativo.
Já Moisés considera que a reação do Senado é muito mais um movimento corporativista de autoproteção. Embora Aécio tenha sido gravado em uma conversa com o dono da JBS, Joesley Batista, pedindo R$ 2 milhões e também descrevendo sua atuação para tentar frear a Lava Jato com novas leis no Congresso e intervenções na Polícia Federal, o Senado nem mesmo abriu um processo contra ele no Conselho de Ética.
"Essas decisões do STF estão num contexto de nova fase que está se vivendo no Brasil de levar ao cumprimento da lei e fazer com que a lei coíba a impunidade. Eu interpretaria muito mais nessa linha do que um erro jurídico", afirmou.
A defesa de Aécio diz que os R$ 2 milhões eram apenas um pedido de empréstimo e questiona a legalidade da delação da JBS.

5) Afastamento de Renan Calheiros


Renan Calheiros
Image captionCom apoio da mesa diretora do Senado, Calheiros decidiu não cumprir decisão do STF | Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil

Em dezembro de 2016, o ministro do STF Marco Aurélio decidiu afastar Calheiros da Presidência do Senado, sob a justificativa de que ele não poderia estar na linha sucessória da Presidência da República sendo réu em ação penal no Supremo, um dos argumentos usados contra Cunha.
Com apoio da mesa diretora do Senado, Renan decidiu não cumprir a determinação até que o plenário do STF decidisse se mantinha ou não a liminar de Marco Aurélio. Os senadores fizeram fortes críticas à interferência no comando da Casa por meio de uma decisão monocrática.
A maioria da corte acabou decidindo a favor de Renan, determinando que ele poderia continuar no comando do Senado, mas não poderia assumir a Presidência na ausência de Temer ou do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Nessa hipótese, que não chegou a ocorrer, o comando do país ficaria temporariamente nas mãos da presidente do STF, Cármen Lúcia.
Para Glezer, o "voluntarismo" e o excesso de decisões monocráticas do Supremo acaba provocando a erosão da autoridade da corte, com o consequente desrespeito de decisões. Outra determinação individual de Marco Aurélio, mandando a Câmara dar seguimento ao pedido de impeachment contra Temer, também nunca foi cumprida.
Fonte:BBC Mariana Schreiber 
Professor Edgar Bom Jardim - PE