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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Carnaval:homenageados da 40ª edição do Baile dos Artistas


O Baile dos Artistas quebra e resgata tradições nesta 40ª edição. Além do deslocamento de local - do Internacional, onde ocorria até 2017, para o Baile Perfumado-, rolou mudança também nos homenageados. O talismã, que era uma reverência sempre a alguma jornalista, desta vez irá para a produtora Maria do Céu. Cida Pedrosa será a Rainha; e Germano Haiut, o homenageado oficial. 

Valdi Coutinho e a produção trazem de volta à programação as reverências por segmentos. Ana Veloso será a homenageada na categoria Artes Plásticas; Lirinha, na Música; Carmen Virgínia, na Gastronomia; Mônica Lira, na Dança; Paço do Frevo, no Carnaval; Walter Moreira Santos, na Literatura; Renata Pinheiro, no Cinema; o Marco Pernambucano da Moda, na Moda; Gleide Selma, na Fotografia; e Mão Molenga, no Teatro. 

Vale lembrar que Mart'nália é o nome principal do agito, que ainda terá a DJ Lala K e a Orquestra de Frevo Ademir Araújo. Promete bombar!
Folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Relembre os grandes momentos da rainha do rock brasileiro

A rainha do rock brasileiro chega aos 70 anos: "É uma força-tarefa" (Foto: Guilherme Samora)
Eternizada por Caetano Veloso como “a mais completa tradução” de São Paulo, na música “Sampa”, Rita Lee Jones nasceu na capital paulista em 31 de dezembro de 1947. Considerada uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos – recordista em vendas de discos –, a cantora que acumula 50 anos de carreira também se mostrou, no ano passado, uma escritora best-seller, com o lançamento de sua autobiografia: o livro se manteve no ranking dos mais lidos durante meses. 
Na publicação, Rita passou toda sua vida a limpo, desde a infância, passando pela formação dos Mutantes, as aventuras psicodélicas, prisão, casamento e parceria com Roberto de Carvalho, o sucesso estrondoso e a relação com os três filhos – Beto, João e Antonio –, sem deixar de se autocriticar e de também revelar seus reveses. Ela contou com a ajuda do jornalista e grande amigo Guilherme Samora para localizar na linha do tempo acontecimentos importantes de sua trajetória. 
“Fazer 70 anos não é um privilégio, é uma força-tarefa. Haja inteligência emocional”, resume Rita à coluna, em uma balanço sobre a data. Aposentada da música desde 2012, quando lançou o álbum Reza e se despediu dos palcos, hoje a cantora vive rodeada por seus bichos – ela é uma grande ativista contra os maus-tratos aos animais – e se dedica mais à escrita. 
Rita Lee, cantora (Foto: IVO BARRETI/ESTADÃO CONTEÚDO)

Em 2017, ela lançou um novo livro, Dropz, com contos de ficção, retornando mais uma vez à lista dos mais vendidos. Entre 1986 e 1992, publicou quatro livros infantis, tendo como protagonista o rato cientista Dr. Alex. Em 2013, também publicou o livro Storynhas, ilustrado por Laerte.
Plural, Rita também fez as vezes de atriz nos filmes As amorosas (1968), Fogo e paixão (1988), Dias melhores virão (1989), Tanta estrela por aí..., em que encarnou Raul Seixas, e Durval Discos (2003), além de dublar a personagem dos quadrinhos Rê Bordosa, para a animação Wood & Stock: sexo, orégano e rock 'n' roll. Na TV, participou das novelas Top modelVamp Celebridade
Dos 35 álbuns que lançou, a estreia veio com o primeiro disco dos Mutantes, chamado apenas de Os mutantes (1968), do grupo que formou com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, seguido pelo LP-manifesto Tropicália - Ou panis et circenses, ao lado de Caetano VelosoGilberto GilNara LeãoGal CostaRogério DupratTom Zé e Torquato Neto.   
O encontro com os baianos levou Rita ao III Festival de Música Popular, em 1967, para defender com a banda e Gilberto Gil a canção “Domingo no parque”, executada debaixo de vaias por causa da introdução da guitarra elétrica. No ano seguinte, a irreverência da cantora fez história. Ela surgiu vestida de noiva para cantar “Caminhante noturno”. O vestido tinha sido emprestado por Leila Diniz e nunca foi devolvido.  
Rita com Arnaldo e Sérgio na capa do álbum Mutantes (1969): vestido de noiva foi emprestado por Leila Diniz  (Foto: Reprodução)
Depois de seis discos lançados com os Mutantes e dois que assinou solo, mas que tinham a mão dos músicos, Rita foi expulsa da banda. “Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silenciosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei Danny (a cadela) e adiós. No meio da estradinha da Cantareira, parei no acostamento e chorei, gritei, descabelei, xinguei feito louca abraçada a Danny, que colaborava com uivos e latidos”, descreve a cantora em sua autobiografia.
A cantora em foto da capa do disco Fruto proibido, divisor de águas em sua carreira  (Foto: Reprodução)
Passado o episódio, Rita formou com Lúcia Turnbull a dupla Cilibrinas do Éden, que logo evoluiu para o grupo Tutti Frutti. O primeiro disco com eles, Atrás do porto tem uma cidade, foi lançado em 1974, puxado já por três hits: “Mamãe natureza”, primeira música inteiramente feita por Rita, “Ando jururu” e “Menino bonito”. 
Em 1975, com o lançamento do álbum Fruto proibido, divisor de águas de sua carreira, Rita deixou sua marca na história do rock nacional, influenciando diversas gerações. A música “Ovelha negra” logo se tornou onipresente nas rádios e é até hoje um hino da rebeldia. 
Rita conheceu Roberto de Carvalho durante as gravações do disco. “Um amigo que me levou. Mas o encontro em que rolou um clima foi no MAM do Rio. Ia ter show do Ney Matogrosso, mas foi cancelado por causa de uma tempestade. Eu estava no bar, a Rita chegou e alguma coisa começou a acontecer ali”, recorda o músico, casado com a cantora desde 1976. 
Com o fim do Tutti Frutti, os dois iniciaram uma bem-sucedida parceria em discos antológicos como Rita Lee (1979), Rita Lee (Lança Perfurme) (1980), Saúde (1981) e Rita Lee e Roberto de Carvalho (1982). Em 1983, a dupla caiu na estrada com uma turnê que passou por diversos estádios brasileiros, tamanho o sucesso de músicas como “Baila comigo”, “Mania de você”, “Doce vampiro”, “Saúde” e “Flagra”, entre muitas outras. Os discos dessa fase venderam milhões e milhões de cópias.  
Rita e Roberto: milhões e milhões de cópias vendidas dos discos da dupla recheados de hits  (Foto: Reprodução)
No início dos anos 1990, Rita também foi precursora do formato acústico, com o show Bossa 'n' roll, que também virou disco. Apesar de bem-sucedida, a fase foi marcada por uma breve separação do casal, problemas com drogas e bebida alcoólica. Em seu livro, Rita diz que nesta época a ajuda do filho mais velho, Beto, com quem morava, foi essencial para a sua sobrevivência.  
Embora esteja longe da bebida e das drogas há mais de dez anos, Rita reconhece que deve a elas grandes momentos de sua obra. “As melhores músicas eu fiz alterada, e as piores também", conta a avó de Izabela, de 11 anos, e de Arthur, nascido neste ano.
Por causa do aniversário de 70 anos, a cantora ganhou uma homenagem de Lulu Santos com o álbum Baby baby, em que o cantor dá nova roupagem a diversos sucessos da Rainha do Rock. “Ao ler a biografia dela, percebi quanto aquilo também era minha própria história. Rita é a artista brasileira de quem sou mais fã, estrela dos shows que mais vi e cujas letras sei, a grande maioria, de cor”, derrete-se Lulu. 
Revista Época/Bruno Astuto
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Artes:Filme com Harry Dean Stanton conta a história de um homem que chegou ao fim de uma vida que não acaba

Em setembro deste ano, o ator Harry Dean Stanton faleceu, aos 91 anos. A carreira longeva começou em 1954, mas seu primeiro papel principal só chegou 20 anos depois, em Paris, Texas. O filme do diretor Wim Wenders o catapultou para a fama. Daí em diante, ele nunca mais voltou a ser anônimo, embora continuasse quase inteiramente dedicado a papéis de apoio. Ele foi o pai desempregado de Molly Ringwald no romance adolescente A garota de rosa-shocking; o apóstolo Paulo em Última tentação de Cristo, de Martin Scorsese; um detetive particular em Coração selvagem, de David Lynch; um juiz em Medo e delírio, de Terry Gilliam; um poligâmico corrupto na série Amor imenso, da HBO. Antes de morrer, Stanton retornou ao posto de protagonista. Ele estrela o filme Lucky, em cartaz no Brasil.
Harry Dean Stanton é um senhor que viveu demais no filme Lucky, o último de sua carreira (Foto: Divulgação)
Na superfície, o longa-metragem é a história de um homem velho e solitário, que atende pelo apelido de Lucky (sortudo, em português), e a vida rotineira que ele leva. Enquanto o público acompanha esse senhor frágil em sua travessia incessante pela cidade poeirenta onde mora, o filme ganha cada vez mais profundidade. Quando menos se espera, a trama se transforma em uma argumentação sobre grandes questões: a mortalidade e o significado da vida, o valor dos relacionamentos e a vulnerabilidade que eles exigem.
Lucky marca a estreia do ator John Carroll Lynch na direção – outro ator famoso por papéis secundários importantes, como em Fargo,Zodíaco Ilha do medo. Também é a primeira vez que um roteiro da dupla Logan Sparks e Drago Sumonja chega às telonas. Eles escreveram a história com Stanton em mente, o que explica semelhanças importantes entre personagem e ator: Stanton também serviu na Marinha durante a Segunda Guerra Mundial, nunca casou, nem teve filhos.
Todos os dias, Lucky segue uma rotina rigorosa. Liga o rádio, faz cinco exercícios de ioga com sua roupa de baixo, fuma três cigarros, toma um copo de leite frio (que ele retira de uma geladeira praticamente vazia), escova os dentes, penteia os cabelos, se troca e sai para uma caminhada. Ele para numa lanchonete, onde faz as palavras cruzadas e troca conversas espaçadas com os funcionários. Segue para uma loja de conveniência onde compra mais cigarros e leite. Então, vai para casa, onde assiste a programas de auditório. À noite, ele se dirige a um bar, para tomar drinques de  bloody mary e ouvir os moradores da cidade discursarem nostálgicos sobre suas vidas.
Lucky é como um relógio, que todos os dias faz as mesmas coisas e percorre a mesma volta. Até que um dia uma das engrenagens sai do lugar. Hipnotizado pelo visor digital de sua cafeteira, Lucky desmaia. Seu médico não encontra nada de errado, apesar da vasta idade do paciente. A causa da queda é simples: Lucky está velho. Seu corpo insiste em viver, mas aos poucos não aguentará mais o fardo. A ideia abala o protagonista. Ele sabe que o fim está próximo, mas está tão perto que é impossível enxergá-lo. Memórias antigas começam a borbulhar em seus pensamentos, e suas tendências eremíticas tornam-se mais pronunciadas e agressivas. Ao mesmo tempo, sua fala se torna mais caudalosa e profunda. Tomado pela iluminação de seu apagão, ele profere frases de efeito como: “Realismo é aceitar uma coisa como ela é. Mas o que você vê não é o que eu vejo”.
A idade avançada de Stanton contribui para deixar o retrato de um Lucky próximo da morte verossímil: ele caminha a passos curtos, com uma cadência bem marcada de quem busca equilíbrio cada vez que a sola do pé toca o chão. Os olhos escuros estão apoiados sobre bolsas inchadas, as bochechas têm vincos profundos e a fala parece precisar de uma força descomunal para passar dos pulmões à boca. Enquanto fuma seus cigarros, observa o nada, como quem não vê mais o futuro, porque já ultrapassou o seu próprio. Com seu charme, o personagem mostra como a velhice precisa ser vista com maior empatia por todos.
A única certeza que o ser humano tem é que um dia deixará de existir. O que acontece depois disso fica a cargo da fé (ou falta dela) de cada um. Enquanto os créditos de nossa vida não sobem, nos resta escolher entre ser protagonistas ou coadjuvantes. Harry Dean Stanton prova que é possível levar o filme de sua vida até o fim com maestria, mesmo que demore.
Época
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Natal para tod@s


Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Vídeo SAMARICA PARTEIRA- Luiz Gonzaga


 Oi sertão!
- Ooi!
- Sertão d' Capitão Barbino! Sertão dos caba valente...
- Tá falando com ele!...
- ...e dos caba frouxo também.
-...já num tô dento.
- Há, há, há... [risos]
- sertão das mulhé bonita...
– ôoopa
- ...e dos caba fei' também ha, ha
- ...há, há, há... [risos]

- Lula!
- Pronto patrão.
- Monte na bestinha melada e risque. Vá ligeiro buscar Samarica parteira que Juvita já tá com dô de menino.

Ah, menino! Quando eu já ia riscando, Capitão Barbino ainda deu a última instrução:
- Olha, Lula, vou cuspi no chão, hein?! Tu tem que vortá antes do cuspe secá!
Foi a maior carreira que eu dei na minha vida. A eguinha tava miada.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
uma cancela: nheeeiim ... pá...
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri
outra cancela: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri pir... êpa !
Cancela como o diabo nesse sertão: nheeeiim... pá!
Piriri piriri piriri piriri
Um lajedo: patatac patatac patatac patatac patatac . Saí por fora !
Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Uma lagoa, lagoão: bluu bluu, oi oi, kik' k' - a saparia tava cantando.

Aha! Ah menino! Na velocidade que eu vinha essa égua deu uma freada tão danada na beirada dessa lagoa, minha cabeça foi junto com a dela!... e o sapo gritou lá de dentro d'água:
- ói, ói, ói ele agora quaje cai!

... Sapequei a espora pro suvaco no vazi' dessa égua, ela se jogou n'água parecia uma jangada cearense: [bluu bluu, oi oi, kik' k'] Tchi, tchi, tchi.
Saí por fora.

Piriri piriri piriri piriri piriri piriri piriri
Outra cancela: nheeeiim... pá!
piriri piriri piriri piriri piriri piriri

Um rancho, rancho de pobe...
- Au au!
Cachorro de pobe, cachorro de pobe late fino...
- Tá me estranhan'o cruvina?
Era cruvina mermo. Balançô o rabo. Não sei porque cachorro de pobe tem sempre nome de peixe: é cruvina, traíra, piaba, matrinxã, baleia, piranha.
Há! Maguinho mas caçadozinh' como o diabo!
Cachorro de rico é gooordo, num caça nada, rabo grosso, só vive dormindo. Há há ... num presta prá nada, só presta prá bufar, agora o nome é bonito: é white, flike, rex, whiski, jumm.
Há! Cachorro de pobe é ximbica!

- Samarica, ooooh, Samarica parteeeeira!

Qual o quê, aquelas hora no sertão, meu fi', só responde s'a gente dê o prefixo:
- Louvado seja nosso senhor J'us Cristo!
- Para sempre seja Deus louvado.

- Samarica, é Lula... Capitão Barbino mandou vê a senhora que Dona Juvita já tá com dô de menino.
- Essas hora, Lula?
- Nesse instante, Capitão Barbino cuspiu no chão, eu tem que vortá antes do cuspe secá.

Peguei o cavalo véi de Samarica que comia no murturo ? Todo cavalo de parteira é danado prá comer no murturo, não sei porque. Botei a cela no lombo desse cavalo e acochei a cia peguei a véia joguei em riba, quase que ela imbica p'outa banda.

- Vamos s'imbora Samarica que eu tô avexado!
- Vamo fazê um negócio Lula? Meu cavalin' é mago, sua eguinha é gorda, eu vou na frente.
- Que é que há Samarica, prá gente num chegá hoje? Já viu cavalo andar na frente de égua, Samarica? Vamo s'imbora que eu tô avexado!!

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri tic tic piriri tic tic
bluu oi oi bluu oi, uu, uu

- ói, ói, ói ele já voltoooou!

Saí por fora.

Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
Patateco teco teco, patateco teco teco, patateco teco teco

Saí por fora da pedreira

Piriri piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá !
Piriri tic tic piriri tic tic piriri tic tic
nheeeiim... pá!
Piriri piriri tic tic piriri tic tic

- Uu uu.

- Tá me estranhando, Nero? Capitão Barbino, Samarica chegou.

- Samarica chegou!!

Samarica sartou do cavalo véi embaixo, cumprimentou o Capitão, entrou prá camarinha, vestiu o vestido verde e amerelo, padrão nacioná, amarrou a cabeça c'um pano e foi dando as instrução:

- Acende um incenso. Boa noite, D. Juvita.
- Ai, Samarica, que dô !
- É assim mermo, minha fi'a, aproveite a dô. Chama as muié dessa casa, p'a rezá a oração de São Reimundo, que esse cristão vem ao mundo nesse instante. B'a noite, cumade Tota.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Gerolina.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Toinha.
- B'a noite, Samarica.
- B'a noite, cumade Zefa.
- B'a noite, Samarica.
- Vosmecês sabe a oração de São Reimundo?
- Nós sabe.
- Ah Sabe, né? Pois vão rezando aí, já viu??

[vozes rezando]

- Capitão Barbiiino! Capitão Barbino tem fumo de Arapiraca? Me dê uma capinha pr' ela mastigar. Pegue D. Juvita, mastigue essa capinha de fumo e não se incomode. É do bom! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando] Mastiga o fumo, D. Juvita... Capitão Barbino, tem cibola do Cabrobró?
- Ai Samarica! Cebola não, que eu espirro.
- Pois é prá espirrar mesmo minha fi'a, ajuda.
- Ui.
- Aproveite a dor, minha fi'a. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando] Mastigue o fumo D. Juvita.
- Capitão Barbiiino, bote uma faca fria na ponta do dedão do pé dela, bote. Mastigue o fumo, D. Juvita. Aguenta nas oração, muié. [vozes rezando alto].
- Ai Samarica, se eu soubesse que era assim, eu num tinha casado com o diabo desse véi macho.
- Pois é assim merm' minha fi'a, vosmecê casou com o vein' pensando que ela num era de nada? Agora cumpra seu dever, minha fi'a. Desde que o mundo é muundo, que a muié tem que passar por esse pedacinh'. Ai, que saudade! Aguenta nas oração, muié! [vozes rezando alto].Mastigue o fumo, D. Juvita.
- Ai, que dô!
- Aproveite a dô, minha fi'a. Dê uma garrafa pr' ela soprá, dê. Ô, muié, hein? Essa é a oração de S. Reimundo, mermo?
- É..é [muitas vozes].
- Vosmecês num sabe outra oração?
- Nós num sabe... [muitas vozes].
- Uma oração mais forte que essa, vocês num têm?
- Tem não, tem não, essa é boa [muitas vozes]
- Pois deixe comigo, deixe comigo, eu vou rezar uma oração aqui, que se ele num nascer, ele num tá nem cum diabo de num nascer: "Sant' Antoin pequenino, mansadô de burro brabo, fazei nascer esse menino, com mil e seiscentos diabo!"
[choro de criança]

- Nasceu e é menino homem!
- E é macho!
- Ah, se é menino homem, olha se é? Venha vê os documento dele! E essa voz!

Capitão Barbino foi lá detrás da porta, pegou o bacamarte que tava guardado a mais de 8 dia, chegou no terreiro, destambocou no oco do mundo, deu um tiro tão danado, que lascou o cano. Samarica dixe:

- Lascou, Capitão?
- Lascou, Samarica. É mas em redor de 7 légua, não tem fi' duma égua que num tenha escutado. Prepare aí a meladinha, ah, prepare a meladinha, que o nome do menino... é Bastião.
Compositorr Orlando Rodrigues
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Apologia ao jumento ( Luiz Gonzaga)







É verdade, meu senhor
Essa história do sertão
Padre Vieira falou
Que o jumento é nosso irmão
Ão ão ão ão ão ão

O jumento é nosso irmão, quer queira, quer não
O jumento sempre foi o maior "desenvolvimentista"
do sertão...

Ajudou o homem na vida diária
Ajudou o homem, ajudou o Brasil a se desenvolver

Arrastou lenha... Madeira... Pedra, cal, cimento,
tijolo... Telha
Fez açude, estrada de rodagem
Carregou água pra casa do homem
Fez a feira e serviu de montaria
O jumento é nosso irmão...

E o homem... em retribuição o que, que lhe dá?
Castigo... Pancada, pau nas pernas, pau no lombo,
Pau no pescoço, pau na cara, nas orelhas.
Ha...jumento é bom o homem é mal

E quando o pobre não aguenta mais o peso
De uma carga, e se deita no chão
Você pensa que o homem chega ajuda
O "bichin" a se levantar? Hun, pois sim,
Faz é um foguinho debaixo do rabo dele
O jumento é bom...
O jumento é sagrado...O homem é mau.

O homem só presta pra botar apelido no jumento
O pobrezinho tem apelido que não acaba mais:
Babau, gangão, bregueço, fofarquichão,
Imagem do cão, musgueiro, corneteiro, seresteiro,
Cineiro...Relógio, É, ele dar a hora certa do sertão
Tudo isso é apelido que o jumento tem
Astronauta, professor, estudante...
Advogado das bestas...

É chamado de estudante
Porque quando o estudante não sabe a lição
na escola, o professor grita logo:
"Você não sabe porque você é um jumento".
E o estudante pra se vingar botou o apelido
no jumento de "professor"
Porque o professor ensina a ler de graça
Pois sim, quem ensina a ler de graça
É o jumento, meu filho! É assim:
A.. E, I, O, U, U
"Ypsilone" (Y), "Ypsilone" (Y),
"Ypsilone" (Y), "Ypsilone" (Y),
"Ypsilone" (Y), "Ypsilone" (Y)...

Só não aprende a ler quem não quer
Esse é o jumento, nosso irmão, animal sagrado
Serviu de transporte pro Nosso Senhor
Quando ele ía para o Egito
Quando o Nosso Senhor era "perritotinho"...

Todo jumento tem uma cruz nas costas
Não tem? Pode olhar que tem
Todo jumento tem uma cruz nas costas
Foi ali que o menino santo fez um "pipizinho"
Por isso ele é chamado de sagrado
Ah, ha...jumento meu irmão, o maior amigo do sertão

Ele é cheio de presepada sim senhor
Uma vez ele me fez uma menino,
Que eu não me esqueci mais
Quando dar as primeiras chuvas no sertão,
Agente planta logo um milhozinho
No monturo da casa da gente, porque dá ligeiro
E é milho doce, dá ligeirinho, ligeirinho
O jumento cismou de ser meu sócio
Eu disse: "Eu pego ele...".
Quando ele invadiu minha roça...he!
Eu preparei uma armadilha, cheguei perto dele:
"Comendo meu milho, hein!... Vou lhe pegar".
Ele balançou a cabeça, ligou as atenas,
"troceu" o rabo, "troceu", "troceu", "troceu"
deu corda e disparou...
Deu um pulo tão danado na cerca que nem triscou na minha armadilha
Correu uns 10 metros, fez meia volta
Olhou pra mim e me gozou:
"Seu Luiz... Seu Luiz! Comi seu milho...
E como, e como, e como, e como...".
Filho da peste, comeu mesmo

Mas eu gosto dele...
Porque ele é servidorzinho que é danado
Animal sagrado
Jumento, meu irmão, eu reconheço teu valor
Tu és um patriota, tu és um grande brasileiro
Eu "tô" aqui jumento, pra reconhecer o teu valor, meu irmão...

Agora meu patriota, em nome do meu sertão
Acompanha seu vigário, nesta eterna gratidão
Aceita nossa homenagem
Ó, jumento, nosso irmão
Ão, ão, ão, ão, ão, ão, ão,
https://www.youtube.com/watch?time_continue=14&v=h-jBeuB5osM

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

'Virei pintor após ficar tetraplégico'

Aos 34 anos, a rotina de Ronaldo Serafim era bastante agitada. Dentista, começava cedo no consultório, de onde saía apenas à noite, diretamente para a faculdade onde dava aulas. Voltava para casa tarde e ainda assim invadia a madrugada estudando para o mestrado. Serafim queria atender às expectativas de ser um profissional de sucesso: especializações, cursos no exterior, e trabalho, trabalho, trabalho.
Não havia tempo a perder, nem mesmo com o sono. A estratégia dele era reservar apenas três ou quatro horas diárias para dormir, algo considerado abaixo do necessário por especialistas. Até que um desses dias comuns na sua rotina terminou mal: na volta para casa de madrugada, ele dormiu ao volante.
"Eu estava com tanto sono que, um minuto antes do acidente, eu tirei o cinto de segurança. Estava chegando em casa. Só deu tempo de segurar no volante. Com sono, você não raciocina. Quando bati, eu fui projetado para o painel do carro, e aí fraturei entre a sexta e sétima vértebra da medula", contou à BBC Brasil.
Após o acidente em agosto de 2009, Serafim passou 40 dias no hospital e saiu de lá em uma maca, tetraplégico. Ele não mexia as pernas, as mãos e o abdômen, e tinha apenas alguns movimentos nos punhos e nos ombros. Teve de reaprender as coisas mais básicas com seu novo corpo - tarefas "simples" como ficar sentado, se alimentar e escovar os dentes viraram grandes desafios.
Mas as limitações não trouxeram apenas obstáculos e fizeram o então dentista descobrir uma nova vocação: as artes plásticas.
Foi no Centro de Reabilitação Sarah, no Rio de Janeiro, que Serafim entendeu que poderia ter uma vida "normal" com uma rotina diferente, porém não menos prazerosa.
"Durante a reabilitação, tem um pessoal que te mostra tudo o que você pode fazer. Lá eu vi que era possível ir para uma academia malhar, conheci o esporte que pratico hoje, o rúgbi em cadeira de rodas. E descobri que eu poderia pintar", afirmou.
Ronaldo Serafim pintando
Image captionSerafim moldou adaptador para conseguir segurar pincel e descobriu nova paixão | Foto: Arquivo Pessoal

Sem controle da temperatura corporal

Ronaldo Serafim havia inaugurado seu consultório próprio de Odontologia no Rio de Janeiro apenas duas semanas antes de sofrer o acidente que o afastaria definitivamente da profissão. No começo, resistiu em se desfazer do aparato de trabalho.
"Na época, ainda no hospital, eu não entendia a gravidade. Achava que se me esforçasse bastante, com muita fisioterapia e força de vontade, seria possível reverter (o quadro de tetraplegia)", contou.
O primeiro choque na volta para casa veio justamente com as ações mais prosaicas. "Nos três primeiros dias depois de chegar em casa, fiquei sem banho. Tivemos que adaptar o banheiro para eu poder entrar. Fora o fato de que, como fiquei muitos dias no hospital deitado, quando eu sentava para tomar banho, eu desmaiava. A primeira semana é bem punk, você tem que ter paciência para absorver aquilo."
Ronaldo Serafim na praia
Image caption"O acidente me fez enxergar que muitas vezes a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos", disse Ronaldo Serafim
Tetraplégicos não conseguem transpirar, por exemplo, e isso exige um cuidado especial com a temperatura ambiente. As necessidades fisiológicas também requerem uma atenção diferente.
"Pelo fato da lesão ser alta, ela atinge uma região da medula que faz uma regulação automática de uma série de ações da gente. Então, no calor, em vez de eu ficar transpirando, eu transpiro zero e a temperatura do corpo começa a subir. Você sente um calor absurdo e não se alivia, é desesperador. Eu já saí de um jogo de rúgbi com mais de 40 graus, por exemplo. O frio também é muito ruim, porque a sua temperatura abaixa muito", relata.
Ronaldo Serafim no rúgbi de cadeira de rodas
Image captionApós acidente, Serafim passou a jogar rúgbi de cadeira de rodas e viajou o país todo em competições (Foto: Thelma Vidales)
"Esse mesmo centro regulador é responsável por contrair a bexiga, então não há a capacidade de urinar sozinho. Preciso esvaziá-la de tempos em tempos, passar a sonda de 4 a 5 vezes ao dia. E aí é preciso de um lugar higiênico para não correr riscos de se contaminar".
Foi principalmente quando começou no rúgbi de cadeira de rodas, em 2012, que Serafim teve contato com outras pessoas que tinham a mesma deficiência e aprendeu estratégias para "driblar" as limitações físicas e levar uma vida independente.
"Quando você é cadeirante, parece que fica infantilizado. As pessoas começam a falar com você como se fosse uma criança. E todo mundo quer fazer tudo para você, para te ajudar. Isso acaba até te tolhendo de certa forma."
Ronaldo na academia
"O maior ganho para mim com o rúgbi é poder estar com gente que tem o mesmo problema que eu, isso é um aprendizado constante. Eu via os caras viajando de carro para os jogos e aí fui atrás de entender como poderia dirigir. Você participa de torneio, viaja de avião, vai para lugares que não são adaptados, e isso exige mais criatividade. Vai te dando segurança, autoconfiança."

Pintura

Se voltar a se exercitar e retomar atividades cotidianas trouxe alívio na rotina, a mudança mais profunda na vida de Serafim veio com a redescoberta da pintura. Acostumado a exercer uma profissão que exigia habilidades motoras e fina precisão manual, ele entendeu pouco tempo depois do acidente que o trabalho como dentista era inviável. Mas o talento com as mãos ainda poderia ser explorado.
Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Image captionCom adaptador, Serafim consegue segurar pincel e ter estabilidade no traço
Adaptador criado por Serafim para poder pintar
Image captionAdaptador criado por Serafim para poder pintar
"A pintura era muito esporádica para mim (antes do acidente), se eu fizesse dois trabalhos por ano era lucro. Depois (como tetraplégico), eu não conseguia ver minha mão segurando um pincel ou um lápis. A gente não sabe nosso potencial e tem que estar com alguém que nos mostre que é possível."
Ainda no Centro de Habilitação, em 2011, Serafim pode experimentar um primeiro adaptador. A ferramenta não oferecia tanta estabilidade, mas operou maravilhas na auto-estima. "Eu pensei: bom, alguma coisa na vida eu vou conseguir fazer."
Já em casa, o conhecimento como dentista lhe valeu. Ele usou as resinas que antes aplicava nos dentes de pacientes para moldar seu próprio adaptador. "Peguei a resina, manipulei, fingi a posição da mão segurando uma caneta. Fiz um protótipo que durou cinco anos", contou.
Com ele, Serafim passou a pintar com frequência, melhorou sua técnica e viu que seria possível também escrever com um traço perfeito, como fazia antes do acidente. Assim, decidiu voltar a estudar e foi fazer um curso de alemão.
pintura de Ronaldo Serafim
Image captionRonaldo Serafim gosta de se inspirar em paisagens do mundo todo para fazer suas pinturas (Arquivo Pessoal)
"Você cria uma coisa e ela te abre possibilidades que antes você não pensava, porque você estava travado", disse.
Hoje, o adaptador que ele usa é um pouco mais sofisticado e resistente. "Moldei a mão no silicone industrial e, a partir dessa empunhadura, consegui esculpir um novo adaptador com mais refinamento. Para não quebrar quando caísse, eu usei três lâminas de fibra de carbono. Comprei material, estudei. Me acidentar e parar de trabalhar como dentista me fez ver possibilidades de aprender coisas novas."

Realizações

A rotina de Serafim hoje é bem mais tranquila do que a que levava como dentista. Aposentado na profissão, ele sobrevive com o valor do benefício que recebe do INSS e alguns rendimentos dos investimentos que aprendeu a fazer estudando finanças pela internet após o acidente. Treina rúgbi de cadeira de rodas duas vezes por semana, vai à academia com a mesma frequência e reserva um tempo quase diário para a pintura. E exercita a paciência a cada vez que sai de casa.
Com carro próprio, ele consegue amenizar um pouco as dificuldades rotineiras pelas quais passa um cadeirante no Brasil, mas reforça que a falta de lugares adaptados para pessoas com deficiência ainda é um grande impeditivo que faz com que muitos fiquem "presos".
quadro de Ronaldo
Image captionQuadro que Serafim começou a pintar com a reportagem da BBC Brasil (Arquivo Pessoal)
"Quem para na vaga de deficiente na rua é multado. Mas no shopping ainda não é. Eu já parei num shopping e aquela área grande do lado que é marcada com as linhas, uma moto da prefeitura parou exatamente na minha porta. O cara acha que aquela área rabiscadinha é para moto estacionar...e o carro que está ali do lado que se dane", contou.
Ronaldo Serafim e os obstáculos no caminho para a praia
Image captionNo caminho para a praia, Ronaldo Serafim precisa ir boa parte do trajeto pela rua por causa da falta de espaço nas calçadas
Com 42 anos de idade e quase uma década de tetraplegia, Ronaldo Serafim já aprendeu alemão, morou em Heidelberg (a 600 km de Berlim) por alguns meses, viajou o Brasil todo e visitou outros vários lugares do mundo jogando rúgbi em cadeira de rodas. Agora, ele usa sua memória visual das paisagens que conheceu para transformá-las em arte nos quadros que pinta em casa.
"Eu gostava de correr e jogar futebol, isso me faz falta. Mas substituindo uma coisa pela outra, eu vejo assim: antes, apesar de eu fazer tudo isso, eu tinha uma vida muito mais presa por causa do trabalho", pondera.
"Se existisse uma super cura, eu não voltaria para a Odontologia. Eu me profissionalizaria em artes plásticas. O acidente me fez enxergar isso. Que muitas vezes a gente faz opções porque a gente se escraviza com a rotina, se escraviza com a vida financeira. Não é que o dinheiro manda na gente, mas a gente pensa muito no fator dinheiro antes dos nossos sonhos. Comparando a vida que eu tenho hoje com a que eu tinha, é até difícil de dizer qual é melhor. "
*Edição do vídeo: Ana Terra
Fonte: Renata Mendonça* B B C
Professor Edgar Bom Jardim - PE