NOVA ESCOLA lançou seu primeiro número em março de 1986. Naquela edição, um passeio pelas reportagens e seções revelava um cardápio de dificuldades tão rico quanto recorrente: “jornadas excessivas”, “remuneração insuficiente”, “crianças agitadas” e “famílias com poucos recursos”. Soa familiar?
Provavelmente, sim. Apesar dos inegáveis avanços em termos de acesso à escola e mesmo de alguma evolução quanto à qualidade do ensino, a Educação brasileira continua sendo fonte das mesmas queixas dos professores. Durante o mês de janeiro passado, realizamos uma enquete no Facebook: “Educador, qual problema tira seu so- no?”. Algumas das dificuldades mais lembradas foram falta de tempo, salário baixo, indisciplina e famílias desestruturadas.
Mudou a forma de se referir às dificuldades. Mas, se você reparar bem, são exatamente os mesmos obstáculos que apareceram em nossa edição inaugural. A diferença – para pior – é que agora eles vêm acompanhados de outras reclamações que não eram tão comuns em 1986. O desafio da inclusão. Relação conflituosa com os chefes. Alu- nos desinteressados no que você tem a dizer.
Não vamos minimizar as barreiras. Muitas dessas dificuldades são consequência da desvalorização da carreira docente e da falta de investimento e de planejamento por parte dos governos. Mas também não vamos ficar só nas queixas, comparando o presente com o passado.Nossa proposta é aproveitar esta edição 300 para refletir sobre como nosso futuro pode ser melhor. Há pequenas revoluções possíveis de incorporar no dia a dia da escola, da sala de aula e em sua rotina pessoal. Esta reportagem é sobre elas.
Dessa vez, juntamos o conhecimento de profissionais de Educação a uma nova metodologia de desenvolvimento pessoal: o coaching – palavra de origem inglesa que indica um percurso de formação em que um parceiro mais experiente ajuda outro a evoluir em alguma área da vida.
A ideia desse método é que você consiga resolver problemas complicados ou realizar sonhos ambiciosos. Para chegar lá, entram em jogo técnicas e ferramentas de diferentes áreas: gestão de pessoas, planejamento estratégico, Psicologia, Neurociências e Administração.
Com esse aporte, o coach (quem instrui, o nosso papel nesta reportagem) e o coachee (quem está sendo instruído – aqui é você) traçam metas graduais e planejam tarefas de curto, médio e longo prazo. Também preveem avaliações periódicas para garantir que continuam no caminho certo. Pouco a pouco, essas ações vão produzindo mudanças pessoais e no trabalho. Assim, você fica cada vez mais perto da linha de chegada.
O trajeto que convidamos você a percorrer junto conosco é bem didático. Está dividido em primeiros passos, ações práticas, recursos úteis, avaliação e indicações de materiais. O calendário sugerido prevê um prazo de 300 dias – ou seja, de agora até o fim do ano. É tempo suficiente para colocar em prática sua revolução pessoal. Convide os colegas para encarar o desafio. Vamos nessa?
Primeiros passos

Recursos úteis

- Abra o caderno e, na página da esquerda, anote o nome do mês em questão. Numere todos os dias. Marque reuniões, aniversários e outros eventos já programados.
- Na página da direita, faça a lista de todos os afazeres que você já sabe que terá que cumprir naquele mês, mas que ainda não têm data. Por exemplo: “marcar dermatologista”.
- Em cada uma das folhas seguintes, insira três dias – já com a lista de eventos programados e afazeres (que passam a ter data certa). Crie quadrinhos para lembretes do tipo “beber mais água”.
- Em uma página em branco, liste o que foi cumprido (v), cancelado (x) ou adiado (>) e prioridades (*).
- Pense em outras seções que ajudem na organização: livros para ler, ideias de projetos e lugares para visitar, por exemplo.
Ações práticas
Planeje mais rápido

Use ferramentas de organização

Avaliação do processo
Precisa ser diária! O monitoramento é contínuo,já que a ideia é você verificar se está dando conta do que planejou. Toda noite, faça os ajustes necessários para conseguir cumprir as metas.
Saiba mais
- Várias instituições de ensino oferecem cursos sobre gestão do tempo. O Senac é uma delas. Veja as informações.
- No canal do TEDx no YouTube há diversas palestras curtas com dicas preciosas sobre o tema. Entre elas, a do consultor português Marco Ramos.
Atenção

Primeiros passos

Avaliação do processo

- A meta segue sendo atingível.
- O prazo estipulado ainda é factível.
- Você está satisfeito com ela.
Não tem problema se as respostas forem não. O essencial é o planejamento guiá-lo na direção certa.
Recursos úteis
Controlar os gastos é uma forma de tentar fazer com que sobre uma grana no fim do mês. Há diversas planilhas disponíveis gratuitamente na internet. Nelas, normalmente, a divisão é entre receitas e despesas, sendo que esta última contém as seguintes categorias:
- Habitação
- Transporte
- Saúde
- Educação
- Impostos
- Lazer
- Vestuário
- Extras
Outra opção são os aplicativos. Um deles, o GuiaBolso, captura os dados diretos da conta bancária e faz a categorização automaticamente. Ele ainda permite que você adicione metas de gastos por serviço, facilitando o planejamento.
Ações práticas



Liste oportunidades na sua rede
- Em quase todos estados e municípios, professores que se qualificam têm aumento de salário. Outras iniciativas, como provas de mérito, também rendem pontos na carreira dos educadores que atingem as metas.
Invista em sua formação
- Busque cursos na região ou pela internet, e que se encaixem no seu orçamento. Prefira os que desenvolvam habilidades que o diferenciem dos demais. Vale conversar com ex-alunos para saber o impacto da formação na carreira.
Faça a autoavaliação
- Registros reflexivos permitem um avanço contínuo em direção a propostas mais eficazes.
Embora tenham que respeitar o piso nacional, cada rede estabelece seu próprio salário-base e plano de carreira. Isso significa que uma cidade vizinha à sua pode pagar mais para o professor. Veja se esse é o caso e se vale prestar concurso em outro município.
Atenção

Saiba mais
A matéria de capa de março de 2016 da NOVA ESCOLA apresenta prós e contras de nove modalidades de formação continuada. Leia sobre elas.

Primeiros passos

Avaliação do processo
Responda ao seguinte questionário:


- Dou oportunidade para que os alunos decidam e façam escolhas sobre a rotina do dia?
- Promovo atividades em grupo com frequência?
- Minhas aulas permitem discussões para que apresentem ideias sobre os temas?
- Utilizo diferentes metodologias nas aulas?
- Solicito a participação dos alunos? Se sim, de todos, sem distinção?
- Faço as correções registrando para mim mesmo onde estão as principais dificuldades dos estudantes?
Ao lado das questões coloque números de 0 a 5, onde 0 é “não fiz isso ainda” e 5 é “faço sempre”. Em junho, mais da metade das respostas devem receber ao menos a nota 3. Em novembro, nenhum tópico pode ter menos que 2 e cinco deles devem ter nota 5.
Ações práticas
Compartilhe os objetivos
Registrar na lousa a agenda do dia e os objetivos de aprendizagem. Assim, os alunos conseguem acompanhar o próprio progresso e se mobilizam para cumprir as expectativas.
Valorize (mesmo) o saber de seus alunos
Semanalmente, abra inscrição para que três estudantes contem aos colegas sobre o que gostam de fazer e deem dicas de filme, música, livro ou game. Registre as sugestões que, depois, podem ser incorporadas nas aulas.
Inove
Experimente a Rotação por Estações de Aprendizagem, na qual o professor organiza diferentes cantos na sala, cada um com uma atividade diferente do mesmo tema. Divididos em pequenos grupos, os alunos fazem um rodízio até completarem o circuito.
Saiba mais
- Em fevereiro, NOVA ESCOLA apresentou seis metodologias inovadoras na Educação, entre as quais design thinking, cultura maker e aula invertida.
- Talvez nem tudo se aplique a sua realidade, mas o livro Aula Nota 10, do norte-americano Doug Lemov, traz estratégias para tornar as aulas mais dinâmicas e favorecer a participação dos alunos.
Atenção

- Vale insistir em uma ação que, de primeira, pode não ter dado certo. Na maioria das vezes, as mudanças demoram a acontecer.
- Fique atento para ver se a estratégia está sendo bem planejada. Peça ajuda para o coordenador pedagógico para encontrar erros no processo e sugerir ações mais efetivas.

Primeiros passos

Avaliação do processo



Os alunos devem responder ao seguinte questionário:
- Peço desculpas quando agi mal com alguém?
- Digo a verdade se fiz algo errado?
- Tento cumprir as regras combinadas?
- Respeito a vez do colega para falar ou brincar?
- Controlo a raiva sem explodir nem bater em ninguém?
- Não participo de gozações e brincadeiras que possam deixar um colega chateado?
- Defendo um colega quando ele está sendo maltratado?
- Se o professor quer silêncio ou que todos fiquem sentados, eu respeito o pedido?
- Procuro conservar limpo os ambientes da escola?
As respostas podem ser anônimas, com notas de 0 a 3, sendo que 0 é nunca e 3 é sempre. Tabule os dados e veja quais os pontos precisam de mais atenção. Reaplique-o em junho e em novembro para avaliar se as ações têm sido efetivas.
Ações práticas



Reveja as sanções
- Castigos costumam agir sobre a pessoa, para causar sofrimento, e não sobre o comportamento. Para conscientizar, busque reparações ligadas à falta. No caso de uma criança estar atrapalhando uma atividade em grupo, vale tirá-la temporariamente da atividade, após alguns alertas.
Organize assembleias
- Estabeleça momentos quinzenais para os alunos discutirem a qualidade das relações e sugerirem formas não violentas de resolver os conflitos. Invista em outras ações como a mediação de conflitos e o professor tutor. Leia mais sobre elas.
Entenda os problemas
- Quando uma situação foge do controle, a primeira reação é mandar os alunos para a diretoria. Em vez disso, dialogue com os alunos, ouvindo o que eles têm a dizer e demonstrando respeito pelos valores de cada um. Ao identificar os geradores de conflito, é mais fácil encontrar formas de preveni-los.
Saiba mais
O livro Bullying: Quem Tem Medo?, de Luciene Tognetta, traz uma proposta de um programa de convivência para ser implantado na escola. A ideia é que as ações sugeridas na obra previnam todo o tipo de conflito que surja no ambiente escolar – não só o do título do livro.
Atenção

- Diante de um conflito, tenha calma e controle suas reações. Você não precisa dar conta dele de imediato: o improviso pode levar a atitudes que pioram o problema.
- Indisciplina não se resolve com base no senso comum. É preciso entender como funciona o desenvolvimento moral e ético das crianças, como elas aprendem e quais sanções são mais adequadas. Que tal entrar ou criar um grupo de estudo sobre o tema?

Primeiros passos

Saiba mais
No canal de GESTÃO ESCOLAR no YouTube, você encontra uma série de vídeos sobre as relações entre professores e gestores na escola.
Ações práticas



Sugira um comitê de clima
- A estratégia serve não só para melhorar a relação com os gestores mas também a de toda a comunidade. Seus membros são responsáveis por realizar a cada quatro meses um questionário com todos os segmentos, pensar em conjunto em ações, monitorar se elas estão sendo desenvolvidas e se os canais de comunicação têm sido eficientes.
Analise seus erros
- Às vezes, você nem percebe, mas seu comportamento pode ajudar a criar um mal-estar com os gestores. Para identificar isso, peça para três pessoas da sua maior confiança para que listem suas principais qualidades e defeitos. Analise as respostas, peça exemplos quando achar necessário e liste possíveis caminhos para corrigir os pontos negativos.
Crie espaços de integração
- Confraternizações e momentos de conversa informal permitem que as pessoas se conheçam melhor, descubram afinidades e estreitem os laços de confiança. Vale até criar um momento, na sala dos professores, em que a cada semana alguém divida com os colegas histórias pessoais e profissionais.
Avaliação do processo


Responda ao seguinte questionário:
- Fico estressado com o volume de demandas que a direção exige.
- Penso em me transferir para outra escola.
- Quando tenho problemas com a minha classe, os gestores não tomam a iniciativa de discuti-los.
- As decisões que dizem respeito ao meu trabalho são tomadas sem a minha participação.
- O diretor não esclarece para os professores o que é esperado do nosso trabalho.
- A gestão dá pouca ou nenhuma importância ao nosso bem-estar.
- Não me sinto estimulado pelos gestores a melhorar o meu trabalho em sala de aula.
- Não há momentos para discussões coletivas.
Estabeleça uma pontuação para cada questão, tendo 0 como o pior indíce da escala e 4 como o melhor. Depois de seis meses, todas as repostas precisam ter tido um aumento de ao menos 50% na nota.
Atenção


Primeiros passos

Avaliação do processo


É importante estabelecer metas de participação da família – quantitativas e qualitativas. Exemplos: terminar o primeiro semestre com 40% das famílias participando dos encontros, número que deve subir para 75% no segundo semestre; e, no fim do ano, ter conseguido que dois pais, daqueles considerados mais ausentes, tenham se envolvido em alguma proposta, como compartilhar a história do processo migratório da sua familía com a turma.
Recursos úteis
Envie o seguinte questionário aos pais:
- Você se sente respeitado pelas pessoas que trabalham na escola?
- Quando pede informações sobre seu filho, é atendido com atenção?
- Você conhece a proposta do professor para o trabalho com os alunos?
- Você sabe o que seu filho deve aprender ao longo deste ano?
- Você já foi chamado na escola para receber elogios sobre seu filho?
- Há espaço para discutir ou fazer sugestão de propostas?
Em quadradinhos, as famílias deverão atribuir cores: verde para sim, amarelo quando for às vezes e vermelho para não. Deixe espaço para que elas comentem o porquê das escolhas e proponham mudanças. Exponha o resultado em um mural, junto com as ações que estão sendo feitas para reverter a situação para que a família veja que sua participação é reconhecida e valorizada.
Saiba mais
A pesquisa Família, Escola, Território Vulnerável, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), está disponível.
Ações práticas



Repense as reuniões
- Em vez de encontros focados em críticas, promova momentos de integração. Descubra as potencialidades dos estudantes e convide os pais para apresentações nas quais possam ver os filhos de forma positiva. Valorize também os saberes das famílias. Pergunte aos alunos o que os pais sabem fazer e chame-os para dividir suas experiências com a garotada.
Encontre aliados
- Convide os pais mais participativos para serem mobilizadores dos demais.
Atenção


Primeiros passos

Avaliação do processo

Recursos úteis
O plano educacional individualizado (PEI) é o instrumento norteador do trabalho a ser desenvolvido pelo professor da sala regular e do AEE com cada aluno com deficiência. Entre os tópicos que devem ser contemplados estão:
- Histórico escolar
- Perfil
- Estratégias para o processo de aprendizagem
- Metas específicas
- Avaliação
Ações práticas



Converse com a gestão
- É o diretor quem pode cobrar a secretaria para adaptar o espaço físico e contratar auxiliares. Para isso, no entanto, ele precisa ter clareza das necessidades dos professores e suas turmas – é aí que você entra.
Busque a parceria do AEE
- Procure ajuda do profissional do atendimento educacional especializado para encontrar soluções específicas para cada aluno. Ele tem conhecimento para pensar em materiais alternativos, como o engrossador de lápis para quem tem mobilidade reduzida.
Reforce sua formação
- O MEC, junto com universidades públicas, oferece cursos gratuitos na área. Um deles é o Tecnologia Assistiva, Projetos e Acessibilidade: Promovendo a Inclusão, da Unesp. Busque também oportunidades na rede.
Saiba mais
- O site Diversa apresenta um artigo sobre o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), que prevê a criação de estratégias didáticas, materiais e avaliações que funcionem com todos os alunos. Não como uma solução única, mas por meio de uma abordagem mais flexível, que pode ser personalizada e ajustada às necessidades individuais.
- A Microsoft, em parceria com o Instituto de Tecnologia Social (ITS Brasil), publicou um guia com sugestões de recursos básicos de acessibilidade digital para pessoas com deficiência.
Atenção

Fontes: Ângelo de Souza, professor do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná, Luciene Tognetta, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, Marília Dias, coordenadora da Comunidade Educativa Cedac, Tania Resende, pesquisadora do Observatório Família-Escola, Maria Carolina Nogueira, coordenadora de projetos da Fundação Lemann, Joe Garcia, professor da pós-graduação em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, Carlota Moraes, gerente de desenvolvimento da OD&M Consulting, Caio Polizel, coordenador de consultoria da Hoper Educação e Felipe Maluf, consultor da YCoach.
Ilustrações: Camila Marques
Professor Edgar Bom Jardim - PE
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