segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Quem se lembra do século XIX

Não crie hierarquias temporais. A ideia do progresso é perigosa. Observe as diferenças, mas não se sacuda nas ideologias desenvolvimentistas. Há muitas traições nas teorias que marcam políticas dominantes. Sei que a desconfiança corrói. Não caia, no entanto, na ingenuidade. Abra os olhos. A história entrelaça tempos, se mostra complexa. Não fique encantado com as aventuras tecnológicas. Elas são usadas, também, para oprimir e espalhar violências. As guerra continuam, as armas são sofisticadas, as ciências justificam, muitas vezes, preconceitos raciais. Portanto, não eleja verdades definitivas, flutue enganando a lei de gravidade.
Um viagem ao passado faz bem. Há experiências que merecem ser lembradas. Darwin abalou o conhecimento com suas descobertas. Deixou as religiões perplexas e provocou debates infindáveis. Não é à toa que ainda seja odiado por  fanáticos. Mostrou que somos animais, estamos envolvidos no processo de evolução. Tocou em dogmas, desfez arrogâncias, abriu espaços para o conhecimento. Tudo que fere a vaidade provoca a sociedade, desmancha esquemas de poder. Daí, as mudanças nas concepções de mundo e nos comportamentos humanos. O avesso sobrevive, a linha estreita se alarga.
O capitalismo se alimenta e transforma em mercadorias as ousadias das ciências. Mas há choques. Ele quer manter tradições, aceita apenas o que o torna mais opressor. Marx, admirador de Darwin, colocou o capitalismo na berlinda. Cortou seus laços de sedução, afirmando suas táticas de exploração. A sociedade é atravessada por lutas políticas que precisam ser denunciadas, pois expõem interesses e subordinações. As reflexões de Marx não morreram. sofreram releituras, porém estão vivas e inquietas. Entraram nas heterogeneidades dos saberes, quebraram hierarquias, traçaram caminhos para as revoluções.
Quem pode esquecer de Nietzsche? Seus textos são belos e arquitetam dúvidas. Zaratustra falou pensando na possibilidade da recriações de valores, da relatividade da história, do perigo de se amarrar em crença absolutas. Nietzsche retorna, desafia, influencia. Ganha lugar privilegiado nos ensinamentos acadêmicos. Dê uma lida em Foucault e não estranhe seus diálogos com Nietzsche. O tempo não corrompeu sua luta, suas acusações contra o cristianismo, seu desejo de ressaltar a força da arte. O homem julga, está cercado de mandamentos, por isso não deve a abandonar a crítica e a interpretação de cada sentimento. Esclareça-se: as religiões são companheiras da fé trazem deslumbramentos e paralisias. possuem pacto com o invisível e o discurso da salvação.
Tudo isso é um pouco do que foi o século XIX. É preciso lembrar os colonialismos, o imperialismo, a concentração de riquezas. Mas existiam contrapontos atuantes e resistências às repressões contínuas. Se hoje temos abalos incríveis e permanências perversas é importante costurar os tempos, não negar as semelhanças, recordar que Freud não se descuidou do sonho, nem das frustrações. Os avisos de juízo final são comuns na história. Não se assombre, nem exagere. Selecionar o melhor dos mundo é uma ilusão que não se foi. Cuidado com as culpas e com a lama que está debaixo do pé. Sua interioridade pede imaginação. Não contemple sem multiplicar a coragem. O eterno retorno não é compromisso com o que se esvaziou.
PS: Quadro acima é do pintor Coubert, expressão artística da época.
POR Paulo Rezende
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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