sábado, 4 de julho de 2015

Das aulas à praça: o drama global da Grécia.


Por Cristovam Buarque.
Foi na Grécia que teve início a base científica e filosófica que permitiu a marcha da humanidade em direção ao tipo de progresso que se consolidou a partir do século XX, tendo como propósito o crescimento econômico para atender a voracidade da demanda por bens de consumo. Dois mil e quinhentos anos depois, a Grécia faz um plebiscito que pode ser o primeiro passo político para um novo tipo de progresso, que ainda não vai começar a partir de amanhã, nem dos próximos meses ou anos, mas começa a se manifestar na prática: a opção por um progresso austero no consumo. Se vencer o SIM, o povo grego optou pela "austeridade submissa" às determinações do FMI e do BC Europeu que reduzirá o consumo pelo corte de renda em Euros dos assalariados; se vencer o NÃO, o povo optou pela "austeridade soberana" provocada pelo BC Grego que reduzirá o consumo ao diminuir a quantidade de bens comprados com a nova moeda desvalorizada por causa da inflação. No primeiro caso diminui a quantidade de dinheiro estável que o comprador leva para o mercado,o Euro, no segundo diminui a quantidade de bens que ele traz para casa comprados com dinheiro desvalorizado, o Dracma.
O SIM dará cobertura imediata para as grandes concessões ao sistema financeiro europeu e ao FMI. Mesmo que a vitória do NÃO permita ao governo extrair algumas concessões dos credores, ele terá de fazer concessões de austeridade, se não imediatamente, em algum momento no futuro.
Pode ser que pouco mude de imediato, mas na Grécia inicia-se o debate político sobre um novo tipo de progresso, com base em uma "austeridade negociada" democraticamente, mas sem as ilusões vendidas nas últimas décadas de que o progresso baseado no consumo supérfluo chegaria a todos por meio do endividamento descontrolado das pessoas e dos governos.
É um belo gesto, com muito drama como nas tragédias gregas do período clássico, mas com a força das idéias que saem dos debates teóricos e chegam à praça pela política. Não é por acaso que este fato ocorre duas semanas depois do Papa Francisco lançar sua Encíclica tratando dos limites do progresso econômico, material, centrado na busca do consumo.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

0 >-->Escreva seu comentários >-->:

Postar um comentário

Amigos (as) poste seus comentarios no Blog