domingo, 3 de maio de 2015

O silêncio e a sabedoria: entrelaçamentos

Por Antonio Rezende.
Ouvir o silêncio. Difícil entender até onde a força de escutar cada coisa tem seu mistério. A reflexão é importante, mas quase não há tempo para acolher sua fertilidade. Ficamos confusos, pois os ruídos dominam, tropeçam na sensibilidade, provocam pressa no caminhar. A medida do tempo está envolvida pelo sentir. As conclusões são passageiras. Há tintas do acaso em cada muro que se perde na multiplicidade de cores. Damos formas, mas sabemos que elas voam buscando eternidades que não existem.
Mergulhar na interioridade é traçar geometrias complexas. Pense no mundo, no infinito, no seu corpo atravessado pelas fragilidades da carne. Quem se recolhe, se esconde, pouco observa da vida. Quem corre se atropela. Não há silêncios fixos, pois as identidades servem de anúncios para inventar personagens. Pouco adivinhamos, há programações controladoras, o silêncio nos ajuda a derrubar armadilhas intelectuais.
O diálogo é o que provoca a diversidade. Sem competição, ele ultrapassa as fronteiras do individualismo. No entanto, a lógica social dominante refina seus instrumentos, não cede sua vontade de poder. As verdades não duram minutos. Como posso me escutar se lá fora todos conversam só para deixar fluir?E as respostas para as perguntas estão academicamente aprisionadas? É preferível  o  discurso  à alegria? Derrubar hierarquias é sempre uma ameaça que a maioria desconfia. As reclamações empurram os ruídos e riscam sabedorias. Querem a fala barulhenta, sem visualizar as alternativas.
Não confunda solidão com isolamento, não jogue o afeto no interesse. Há regras, não podemos eliminá-las repentinamente. É necessário, contudo, buscar a trilha que renova os caminhos conhecidos. A mesmice é a antítese da sabedoria. Ela massifica, bestializa, nega a diversidade da cultura. Entrelaçar os momentos da vida fortalece a compreensão do tempo. Nada se esgota. A incompletude nos chama e nos inquieta. A simultaneidade nos alerta. Lá estão Sócrates, Descartes, Rousseau, Adorno e tanto outros celebrados pela suas teorias. Mas no silêncio, muitas vezes, reside o sossego, sem omissão, mas com profundidade.
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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