sábado, 11 de abril de 2015

Existo, logo me assusto

Descartes inspirou muitas reflexões. Derrubou tradições, trouxe a filosofia para navegar por turbulências desconhecidas. Ligou-se na força de uma razão, buscava o esclarecimento. A história possui tempos e desafios. Podemos vê-la inteira ou configurá-la em compartimentos. Isso é uma polêmica que não cessa e constrange os mais crédulos. Hoje, Descartes é criticado, há quem não goste de citá-lo. As ideias mudam de lugar, as tecnologias instigam desconfianças e os conflitos ameaçam sonhos de harmonia. Estamos com receio de que os abismos se aprofundem e os caos signifique desistência.
Existo, logo me assusto. Não dá para sustentar apatias e naturalizar violências. A reinvenção refaz sentimentos, mas o inesperado se apresenta no cotidiano. O desastre que aconteceu nos Alpes provocou perplexidades radicais. Parecia um mistério, algo inexplicável.Muitas mortes inquietaram a sociedade, mostraram a fragilidade da segurança tão cantada por especialistas. O avião desmanchou-se, as vidas se foram, as famílias se desfizeram. Resta reconstituir, avaliar culpas e expressar compaixões, compreender os limites do humano.
Quando se ressalta que os desamparos contaminam a convivência, há quem considere exagero e receba as notícias como filmes de aventuras macabras. Não é sem razão que as depressões se estendem, que a psicanálise multiplica seus divãs, que as drogas enganam com seus alívios ilusórios. Há um entrelaçamento de desacertos, um medo de não ser feliz. As pessoas não são números, nem o consumo é a solução para apagar as tristezas e validar os prazeres.
Os descontentamentos são, muitas vezes, escondidos e frustrações se colam nas interioridades. A vida segue, porém o passado pesa, as perdas agoniam. Nem sempre conseguimos traduzir o tamanho das assimetrias.A história não tem forma definida. Por isso, os sustos e as desconfianças, os filósofos empenhados em desmontar os dilemas, os jornais envolvidos com sensacionalismo aumentando suas tiragens. Tudo traçado por uma ambiguidade que atormenta e atrai.
Os acontecimentos anunciam que é preciso saber que os enigmas não se esgotam. Nas ondas do mercado, eles se tornam também mercadorias. Construímos valores, mas também contradições. Há raivas, racismos, guerras, cultos estranhos. A loucura é instituinte, dilui fronteiras, diversifica as dimensões das racionalidades. Não adianta viajar no absoluto ou justificar onipotências. Temos marcas de tragédias, os espelhos desenham ternuras e desfigurações. O voo é mais curto, não existe eternidades prontas.
Fonte:astuciadeulisses
Professor Edgar Bom Jardim - PE

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