sábado, 24 de agosto de 2013

Quem não visualiza a paixão, a crença, o sentimento?

Por Antonio Rezende.

A paixão não se extinguiu no famoso reino da razão. Acreditar no que parece fantasia está para além de qualquer sinal de loucura. O raciocínio elaborado atiça, às vezes, impaciência. As multidões fazem apostas ou sacodem suas escolhas para o acaso. Querem o delírio e não cortejam, apenas, o comum. Os exemplos existem no cotidiano. Não precisa abrir romances, fugir da atmosfera terrestre. Portanto, paixão e fé têm lugares privilegiados entre as maiorias. Se há frustrações e perdas, elas passam. Observe o mundo, suas voltas, o que as TVs programam nos noticiários. Como aprisionar tantas possibilidades sem sair do eixo da serenidade? O mundo da cultura possui muitos ritmos,  dilui preconceitos ou sente saudades do que se perdeu.
A visita de Francisco desarrumou uma cidade ou trouxe um efêmero flutuar? Transformou expectativas. Os mandamentos da religião consagram dogmas. Os conservadorismos resistem, porque as tradições seculares não se desmancham magicamente. No entanto, há também o inesperado. O discurso de humildade do papa encantou milhões. Foi compatível com as carências tão presentes numa sociedade tão desigual. Se houve manipulações, se os especialistas dos espetáculos armaram estratégias, se as aparências ganharam espaços, como ficam as crenças das multidões? Mas não podemos desprezar o impacto do que aconteceu, nem espalhar suspeitas como donos de certezas.
Não se articulam os grandes eventos sem as manobras  da mídia. Elas não são, contudo, absolutas. Os indivíduos possuem astúcias, não são marionetes. Francisco conseguiu provocar emoções. Não vamos fabricar caricaturas. Ele se difere do antecessor. Percebeu que a Igreja Católica se curvava para o abismo. Não temos como negar  sinalizações de mudança. Há dúvidas e controvérsias. Tudo se mistura de uma forma pouco esperada. As vestes das orações não escondem a nudez dos sofrimentos. A história de Francisco circulou. Há ironias dos descrentes e críticas que  fazem parte das leituras de mundo.
As manifestações de euforia religiosa coincidiram com a disputa da final  da Libertadores. Gosto de futebol. Voltei-me para observar quem superaria as dificuldades e sairia com a taça. Achava o Atlético numa situação no mínimo complicado. Fiquei colado na telinha, analisando os detalhes e perplexo com o fanatismo da torcida. O território do sagrado transferia-se para as artimanhas do jogo? A paixão estava traçada nos olhos da torcida, nos gestos, nos gritos. E o time maneiro venceu, com a ajuda do seu goleiro, santificado. O altar do lúdico se ornamentou.Não se trata se inventar ficções desmedidas.
Quem viu tudo afastado e aborrecido não guardou maiores lembranças. Não sou religioso, nem tampouco torcedor do Atlético. Tenho, porém,  curiosidades, curto a fraternidade, reflito sobre as permanências e os encontros. Quando as inquietudes se mostram procuro compreender os sentimentos que as motivam. Nem sempre é possível. A sociedade retoma práticas, não despreza sonhos de eternidades. Quem aposta na soberania das verdades racionais enfrenta desmantelos lógicos. Ou será essa a lucidez que nos resta? Os mitos não se foram,  se cobrem com mantos. A história não rascunhou seu ponto final.

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