terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os segredos da previdência complementar



Contribuição que cabe no bolso

Com planos a partir de 25 reais, seguradoras se desdobram para conquistar o grupo que mais cresce no país: o consumidor emergente

Por Bárbara Ladeia (redacao.vocesa@abril.com.br)  09/08/2012
Crédito: Thinkstock
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Quando a chamada classe emergente começou a tomar conta do noticiário nacional, houve quem questionasse a capacidade de consumo desse público. No entanto, hoje não restam dúvidas de que essa turma veio para ficar e revolucionar o mercado. São essas pessoas que enchem os olhos das grandes companhias no Brasil como um importante nicho de mercado a ser explorado.

De olho nesse filão, as seguradoras não demoraram a perceber que, assim que a nova classe C sanar suas necessidades mais básicas de consumo, começará a se preocupar com a aposentadoria e, para fisgá-la, criaram planos de previdência a partir de 25 reais.

Embora já tenha avançado muito sobre os produtos financeiros, a classe emergente ainda resiste quando o assunto é previdência privada. Segundo pesquisa da Data Popular, companhia de pesquisas voltada para o público de baixa renda, 56,1% da aposentadoria complementar ainda é composta por indivíduos de alta renda (chamadas classes A e B). Entre os clientes da Brasilprev, uma das maiores gestoras de planos de previdência do país, apenas 25% dos clientes têm renda de até 4 000 reais e saldo de até 10 000 no plano.
Depois da estabilidade econômica, o conceito de longo prazo vem passando por várias transformações. Exatamente por isso, a maior parte do movimento do público emergente na direção do mercado de previdência ainda está por vir. Renato Meirelles, sócio-diretor da Data Popular, vê no aumento da longevidade o principal gatilho para a ampliação do mercado de aposentadoria privada.

"Eles ainda estão muito jovens, têm uma demanda de consumo reprimida e, para completar, eram menos longevos. A preocupação com a velhice tende a aumentar daqui para a frente", analisa. O atraso no planejamento financeiro para a velhice tem a ver com a lista de prioridades. Antes da aposentadoria, foi necessário suprir uma série de demandas antigas, como a qualidade da alimentação, a aquisição de alguns eletrodomésticos, a compra do computador pessoal, entre outras. "Para que possam se preocupar com o futuro e projetar a velhice, é necessário rever a qualidade de vida hoje", afirma Renato. No segundo momento, as famílias irão buscar gerir a velhice por meio do empreendedorismo, atividade que sustentaria o presente e também o futuro se bem-sucedida.
O fato é que os produtos financeiros voltados ao planejamento da aposentadoria acabaram em terceiro plano. O presidente do Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio de Oliveira, diz que, embora as vendas desses produtos tenham crescido, não há perspectiva de uma grande onda nessa direção. Na instituição, os produtos de baixo tíquete (a partir de 50 reais de colaboração mensal) não ultrapassam 25% do total de 2,1 milhões de clientes de planos de previdência aberta do Bradesco. "Estamos experimentando um interesse maior, mas a grande onda não deve vir por enquanto", afirma Lúcio Flávio.

Desde cedo
Os produtos de previdência com tíquete mais barato também têm conquistado os jovens profissionais, que estão dando os primeiros passos no mercado de trabalho. O caso de Luís Felipe Paixão Pereira, consultor de vendas da Tim, de 23 anos, do Rio de Janeiro, é um exemplo da nova safra de investidores em previdência. 

Desde dezembro do ano passado, quando começou a trabalhar em uma loja da operadora na capital fluminense, ele contribui mensalmente com 80 reais para seu Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) corporativo. A empresa aplica outros 80 reais. "Esse dinheiro é para a minha aposentadoria mesmo, não toco nele. Se amanhã eu sair da empresa, vou levar meu plano comigo para outro banco", conta. 

Embora não entenda o extrato detalhado que recebe mensalmente, Luís Felipe tem certeza de que está garantindo seu futuro com essas aplicações. "É um complemento da previdência social", diz. O caso do dentista Fabiano Ahualle, de 33 anos, de São Paulo, mostra como as contribuições podem aumentar conforme o momento da vida.
No começo, oito anos atrás, só conseguia tirar 50 reais de seus ganhos para investir na aposentadoria. Conforme os rendimentos aumentavam, ele elevava seus aportes. Hoje, a aplicação mensal em seu VGBL é quatro vezes maior do que no início. "Foi pensando no longo prazo que escolhi a tabela regressiva de tributação", conta. Embora ele não acompanhe de perto o investimento, prefere deixar o dinheiro lá, reservado. Casado há cinco anos, sua mulher também tem um plano de aposentadoria. O mais novo a entrar na onda da família é o filho do casal, Fabiano — que tem o mesmo nome do pai. Todo mês, seu plano de previdência recebe aportes de 50 reais, investidos pelo pai. "Minha ideia é que o dinheiro vá para a pós-graduação dele."

Só para menores

Por ora, a maior atenção recai sobre os planos para menores, uma vez que o custeio da educação dos filhos também é uma das prioridades além da aposentadoria. Por meio de pequenos aportes, a partir de 25 reais, o público tem adotado planos voltados para o futuro da prole. Esse é o produto com mais apelo para essa categoria de clientes, que está dando os primeiros passos no mundo das finanças. Do 1,6 milhão de clientes da Brasilprev, 54% estão na previdência jovem. Para o superintendente de produtos da Brasilprev, João Batista Mendes Angelo, a expectativa de oferecer uma melhor formação para os filhos é o que alimenta esse mercado.

Em contrapartida ao baixo valor de contribuição mensal, há o alto custo da operação. As taxas de administração giram em torno dos 3% quando a contribuição é baixa, o que come boa parte dos rendimentos da previdência e tende a ir diminuindo conforme aumenta o tíquete mensal do cliente. "A expectativa de 100% desse público é que essa poupança possa financiar desde um curso de inglês até uma faculdade ou uma pós-graduação no exterior.

O montante acaba sempre associado à vida profissional dos filhos", afirma João Batista. Segundo o executivo, esse produto é, por essência, o maior retentor de clientes. Isso porque o público vê grande valor emocional nesse tipo de plano. "O que os clientes dizem nas consultas em que fazemos é que lançar mão do dinheiro da previdência do filho é como quebrar o cofrinho da criança. Entende-se que é um dinheiro quase ‘sagrado’."

Professor Edgar Bom Jardim - PE

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