segunda-feira, 2 de abril de 2012

Maus serviços no Sassepe


Usuário do Sassepe enfrenta via-crúcis


Adalcindo Freire reclama das dificuldades em marcar consultas para a tia Mª Jeruza / Foto: Thiago Neuenschwander/Especial para o JC

Adalcindo Freire reclama das dificuldades em marcar consultas para a tia Mª Jeruza

Foto: Thiago Neuenschwander/Especial para o JC

No dia 5 de março, o funcionário aposentado do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), José de Melo, de 79 anos, deu entrada no Hospital dos Servidores do Estado (HSE) sentindo fortes dores abdominais. Com histórico de problemas hepáticos, recorreu ao Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco (Sassepe) em busca de atendimento. Mas no lugar de um tratamento adequado ao seu problema, encontrou apenas descaso e indiferença. Segundo a família, durante dez dias, tempo em que esteve internado, o servidor recebeu apenas remédios para dor. Nenhum exame específico foi realizado. Como o único hepatologista do hospital estava de férias, uma médica, amiga dos filhos de José de Melo, foi chamada às pressas e ordenou sua transferência imediata para a Prontolinda. Dois dias depois, uma hemorragia agravou o quadro do paciente, que pouco depois veio a falecer por complicações de uma cirrose.

A trágica história do aposentado do DER é apenas um exemplo da via-crúcis enfrentada pelos usuários do Sassepe em busca de atendimento médico adequado. Uma entre as dezenas de e-mails que chegam semanalmente à Voz do Leitor. Somente este ano, o Jornal do Commercio recebeu mais de 20 denúncias contra os maus serviços prestados pelo plano de saúde do Estado. O caso de José de Melo foi um dos mais graves. A família já contratou um advogado e na próxima semana vai ao Ministério Público para entrar com uma ação contra o Estado. “Não vamos deixar esse caso impune. Vamos às últimas consequências”, garantiu a viúva Severina Alves de Melo. Ela que já reuniu todos os indícios para fundamentar a acusação. “Os médicos da Prontolinda disseram que se ele tivesse recebido o atendimento adequado poderia estar vivo. Temos os prontuários do HSE e da Prontolinda. Está tudo documentado”, contou.

Uma funcionária do HSE, que pediu para não ser identificada com medo de represálias, confirmou a história e descreveu algumas das dificuldades do hospital e do Sassepe. “Há pouco tempo houve a mudança do call center que faz a marcação das consultas e o negócio degringolou. A dificuldade para conseguir um especialista é tremenda. No hospital, o ambulatório está sempre lotado, médicos chegam atrasados, não há cardiologista e só há um hepatologista para todo o centro médico. Um verdadeiro absurdo”, desabafa a servidora. Ela conta que no segundo andar, na clínica médica, não há intercorrentista. “Se há uma intercorrência, um médico da emergência tem que subir. O problema nem é tanto estrutural, o bloco cirúrgico está perfeito. O problema é de pessoal. Não há médicos suficientes e muitas clínicas e hospitais credenciados estão deixando de atender pelo Sassepe, ou por falta de pagamento ou por pagamento de valores inferiores ao de tabela”, acrescenta.
O grosso das queixas contra o plano diz respeito ao processo de marcação de consultas. O Sassepe disponibiliza uma central (0800-284-2727) para o agendamento, que funciona das 7h às 19h. Os usuários, contudo, reclamam que ficam pendurados no telefone por mais de uma hora e não conseguem marcar o médico desejado. “Faz quase dois anos que tento marcar um angiologista e a resposta da telefonista é sempre a mesma: não há vagas, ligue amanhã. Tenho um problema na perna que precisa ser examinado. Às vezes vou ao serviço de urgência do HSE e também não há especialista. Os planos privados são supervisionados. Quem supervisiona o do Estado? Pago todo mês, com o desconto no contracheque. Já procurei a ouvidoria, o serviço social, ninguém tem solução”, conta a professora Suzana Maria Dias.
Face à grande quantidade de queixas contra o 0800, a reportagem decidiu tentar marcar uma consulta para um dos segurados, na última quinta-feira. Pontualmente às 7h10 a primeira ligação foi feita, mas o telefone encontrava-se ocupado. A cada dez minutos, nova ligação e o resultado era sempre o mesmo. Apenas às 8h, o JC conseguiu contato. Durante cerca de 20 minutos, uma gravação pedia desculpas pelos transtornos causados pela troca do call center e compreensão durante o período de transição. Não houve qualquer conversa com atendentes e a tentativa de conseguir um médico para o servidor acabou após quase uma hora e meia ao telefone.
“Tentamos marcar consultas em hospitais e clínicas que têm convênio com o Sassepe e demoramos até três ou quatro meses. Depois que o call center passou a ser em Recife, ficou mais difícil. O governo deve dar mais atenção a seus funcionários públicos.
”
Palmiro Borges da Silva, professor
Como se não bastassem todas as dificuldades, alguns servidores ainda são obrigados a pagar duas vezes por um serviço que não funciona. É o caso da professora e técnica em gestão Simone Santos. “Além de não conseguir marcar médico nem para mim e nem para a minha mãe, que tem 94 anos e precisa de um cardiologista, ainda sofro com outro problema. Fiz a adesão ao plano quando me tornei professora há cinco anos. Há dois, assumi também o cargo de técnica em gestão e passaram a me cobrar duas vezes o valor do Sassepe, sem nenhuma consulta prévia. O engraçado é que para o desconto me consideram duas vezes, mas para os benefícios, só me consideram uma”, desabafa a servidora, referindo-se ao vale-alimentação, que só consta em um dos contracheques.

Governo só fala das denúncias por meio de nota

Na última quinta-feira, o JC entrou em contato com o Instituto de Recursos Humanos (IRH) do governo do Estado, órgão ligado à Secretaria de Administração que gerencia o Sassepe, para tentar marcar uma entrevista com o presidente em exercício do IRH e titular da Secretaria, Ricardo Dantas. Através da assessoria de imprensa, ele informou que só se pronunciaria por meio de uma nota para responder às denúncias feitas à Voz do Leitor.

INFOGRÁFICO

O Sassepe em números e as reclamações
No comunicado, o IRH explica que o beneficiário José de Melo, de 79 anos, deu entrada no Hospital dos Servidores do Estado (HSE) com quadro de cirrose hepática grave. Apesar do hepatologista do hospital estar de férias, o paciente já possuía diagnóstico de cirrose hepática, portanto a ausência do especialista em hipótese alguma teria influído no recebimento da assistência necessária para a condução do caso e para que a equipe médica do HSE prestasse todo o atendimento possível.

Segundo o hospital, a decisão de transferência do paciente para a Prontolinda ocorreu por conta de uma hemorragia abdominal e a necessidade de cuidados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), não disponível no HSE naquele momento.

Com relação aos casos da professora Simone Santos e da pensionista Maria Jeruza Bezerra, o IRH informou que, de acordo com lei estadual, a contribuição mensal dos beneficiários titulares é de 4,5% sobre o total da sua remuneração a qualquer título, subsídios, proventos ou pensão previdenciária, a ser descontado em folha de pagamento.

No que diz respeito à marcação de consultas, esclareceu que, em janeiro e fevereiro, o Sassepe recebeu 110.488 e 82.869 chamadas respectivamente. Destas, 62% seriam atendidas em menos de 30 segundos. Nos meses de janeiro e fevereiro foram agendadas 13.467 consultas na rede própria (HSE). Desse quantitativo, mais de 2.581 pacientes simplesmente não compareceram à consulta agendada. Em algumas especialidades, como ortopedia, citada na matéria, foram disponibilizadas, somente no mês de março, mais de 1.300 vagas e algumas teriam chegado a sobrar.

Por fim, o IRH esclarece que nos meses de janeiro e fevereiro a ouvidoria recebeu uma média de 300 manifestações. As demandas seriam de diversas naturezas, como elogios, informações de utilidade, solicitações, sugestões, reclamações e também denúncias. Com relação ao HSE, afirma que, no último semestre, houve um aporte de R$ 3 milhões para reforma da unidade de Pronto-atendimento e ambulatórios.


Por:Professor Edgar Bom Jardim - PE

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