sexta-feira, 29 de abril de 2022

Comitê da ONU vê falhas em processos contra Lula. Justiça brasileira armou contra Lula

Luiz Inácio Lula da Silva

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Segundo Comitê da ONU, Lula teve seus direitos violados no processo criminal do qual foi alvo na Operação Lava Jato

O Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve seus direitos violados durante o processo criminal do qual foi alvo durante a Operação Lava Jato. A conclusão foi divulgada nesta semana e é resultado de quase seis anos de análise de uma queixa feita pela defesa de Lula junto ao comitê. Questionado, o Itamaraty disse que o governo tem a intenção de se manifestar sobre o caso no prazo dado pelo órgão.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que o Brasil estaria, em tese, obrigado a acolher as recomendações que deverão ser feitas pelo comitê em relação ao caso do ex-presidente. Eles alertam, no entanto, que o impacto jurídico da conclusão do comitê é impreciso porque não há mecanismos que obriguem efetivamente o país a adotar as orientações dadas pelo órgão.

O Comitê de Direitos Humanos da ONU é um órgão criado a partir da Convenção para Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, de 1966. Na época, o Brasil vivia sob a ditadura militar, que governou o país entre 1964 e 1985. O Brasil passou a ser signatário da convenção em 1992, sete anos depois da redemocratização.

A função do órgão é monitorar a implementação da convenção entre todos os países que são signatários do documento, entre eles o Brasil.


O comitê é formado por especialistas em direitos humanos e direito internacional e não são indicados pelos países signatários do tratado.

Eles cumprem mandatos de três anos que podem ser renovados por mais três. Além de monitorar, o comitê também analisa queixas individuais de cidadãos de quaisquer países que sejam signatários do tratado que, por algum motivo alegam que seus direitos foram violados.

Sergio Moro

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Sergio Moro condenou Lula no caso do triplex, mas STF o considerou parcial no caso

Foi com base nessa possibilidade que os advogados de Lula recorreram ao comitê, em julho de 2016, no auge da Operação Lava Jato

Lula foi um dos principais investigados da operação. Ele foi acusado de crimes como corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo as acusações, ele teria recebido vantagens indevidas de empreiteiras em troca de contratos com a Petrobras.

Em julho de 2017, ele foi condenado a nove anos de prisão por Sergio Moro no caso do apartamento tríplex no Guarujá (SP) e a 12 anos de prisão no caso do sítio de Atibaia (SP). As condenações foram mantidas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Em 2021, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) acolheu recursos da defesa do ex-presidente e anulou as condenações alegando, entre outros motivos, que os casos não deveriam ter tramitado na Justiça Federal do Paraná.

Além disso, o STF também considerou Moro suspeito (parcial) nos casos envolvendo o petista. Com as decisões, Lula recuperou o direito de concorrer a cargos eletivos. Atualmente, ele lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais deste ano.

As queixas de Lula

A denúncia feita pela defesa do ex-presidente de que seus direitos estavam sendo violados pela Justiça brasileira se baseia em quatro pontos principais:

- a detenção de Lula pela Polícia Federal em uma sala do aeroporto de Congonhas, em 2016, teria ocorrido de forma arbitrária, durante um mandato de condução coercitiva;

- a divulgação de conversas telefônicas e mensagens do ex-presidente Lula ordenada pelo então juiz Sergio Moro;

- parcialidade de Sergio Moro;

- proibição de que Lula fosse candidato à presidência em 2018.

Ao analisar a queixa de que Lula não teve direito a um julgamento justo, o comitê entendeu que os requerimentos de imparcialidade do juiz responsável, na época Sergio Moro, não teriam sido atingidos.

"O comitê considera que, para um observador razoável, os fatos que ocorreram mesmo antes da primeira condenação do autor, em 2017, mostram que o elemento objetivo do requerimento de imparcialidade não foi atingido. O comitê observa que uma decisão tomada no momento certo sobre o assunto teria evitado o prejuízo causado pelo autor, o que incluiu uma condenação, a confirmação da condenação, ser impedido de concorrer à presidência e 580 dias de prisão injusta", diz um trecho do documento.

Conselho de Direitos Humanos da ONU durante a eleição de novos membros, em 2018

CRÉDITO,AFP

Legenda da foto,

Conselho de Direitos Humanos da ONU durante a eleição de novos membros, em 2018

Em nota, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, contestou as conclusões do comitê e disse que elas foram influenciadas por decisões erradas do Supremo Tribunal Federal (STF). Moro disse ainda que Lula não foi alvo de perseguição.

"Considero a decisão do STF um grande erro judiciário e que infelizmente influenciou indevidamente o Comitê da ONU. De todo modo, nem mesmo o Comitê nega a corrupção na Petrobras ou afirma a inocência de Lula [...] Também é possível constatar, no relatório do Comitê da ONU, robustos votos vencidos que não deixam dúvidas de que a minha atuação foi legítima na aplicação da lei, no combate à corrupção e que não houve qualquer tipo de perseguição política", diz um trecho da nota de Moro.

Impacto jurídico impreciso

Para a professora de Direito Internacional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, Elaini da Silva, o Brasil é obrigado a cumprir a decisão do comitê.

Mesmo assim, ela argumenta o impacto jurídico delas ainda é impreciso. Isso acontece porque, quando se trata de direitos humanos, não há mecanismo que obrigue os Estados a cumprirem as determinações do comitê.

"No cenário político brasileiro atual, é pouco provável que a decisão do comitê tenha efeitos práticos no ordenamento brasileiro porque o sistema internacional, apesar de obrigatório não tem aplicação direta", explica.

A questão sobre a obrigatoriedade no cumprimento das medidas expedidas pelo comitê já havia sido alvo de debate em 2018, quando o comitê emitiu uma recomendação ao governo brasileiro para que Lula pudesse ser candidato nas eleições daquele ano. Como estava condenado pela Justiça, Lula foi considerado inelegível e não disputou o cargo.

Na época, o Itamaraty divulgou uma nota afirmando que as conclusões do comitê não teriam caráter "vinculante", ou seja: o Brasil não estava obrigado a cumpri-las.

"As conclusões do Comitê têm caráter de recomendação e não possuem efeito juridicamente vinculante. O teor da deliberação do Comitê será encaminhado ao Poder Judiciário", disse o Itamaraty em agosto de 2018.

Procurado após a divulgação da decisão final do comitê, o Itamaraty disse à BBC News Brasil News que o governo brasileiro já iniciou a análise do documento e que "tem a intenção" de respeitar o prazo de seis meses dado pelo órgão para se manifestar sobre o assunto. A nota não

"O governo brasileiro iniciou processo de análise do teor da decisão adotada pelo Comitê, processo que exigirá o concurso de diferentes órgãos com competência sobre a matéria. O governo tem intenção de respeitar o prazo de 180 dias para pronunciar-se a respeito das conclusões do Comitê", diz um trecho da nota enviada.

Em outro trecho, a nota diz que o Brasil "reconhece e valoriza" o papel desempenhado pelo comitê.

"O Brasil reconhece e valoriza o papel desempenhado pelos órgãos de tratados de direitos humanos, entre eles o Comitê de Direitos Humanos, na promoção dos direitos humanos e na defesa das liberdades e garantias fundamentais", diz a nota.

Procurado, o comitê disse que espera que as recomendações sejam implementadas uma vez que o Brasil é um dos signatários do tratado.

"As decisões do comitê representam interpretações oficiais do tratado em questão. Elas são decisões legais proferidas por um por um mecanismo que é quase judicial. Isso significa que o comitê não é uma corte, mas tem funções jurisdicionais, emitindo decisões que contém recomendações para os países-membros que são esperadas que sejam cumpridas", diz um trecho da nota enviada pelo órgão à BBC News Brasil.

Em outro trecho, o comitê diz que os países-membros alvo de decisões são convocados a informarem, dentro de 180 dias, se tomaram as medidas recomendadas. Caso as medidas não sejam tomadas, o caso é mantido como aberto até que ações consideradas satisfatórias sejam adotadas.

O consultor na área de direitos humanos Paulo Lugon discorda do entendimento do Itamaraty de que o Brasil não estaria obrigado a cumprir as recomendações do comitê. Entretanto, ele admite que o país ainda não tem uma tradição de seguir as determinações de instâncias internacionais.

"As cortes brasileiras ainda não desenvolveram completamente um entendimento sobre essa obrigação de implementar as decisões dos órgãos internacionais. Isso acontece muito mais por uma questão de cultura jurídica [...] Obviamente, o Executivo e o Judiciário podem optar por não implementar, mas estarão em violação do direito interno e internacional", explica.

"Quando se trata de direitos humanos em nível internacional, se um Estado não cumpre uma decisão ou uma recomendação, não existe uma figura de um oficial de justiça internacional ou algum tipo de força que obrigue o país a seguir o que foi dito", diz Lugon.

Luiz Inácio Lula da Silva

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto,

Conclusão do comitê da ONU foi tomada após denúncia feita pela defesa do ex-presidente

O que acontece se o Brasil não acatar as recomendações

Tanto Lugon quanto Elaini afirmam que, do ponto de vista prático, não há previsão de sanções ao Brasil caso ele não cumpra o que for determinado pelo comitê. As recomendações do órgão ainda deverão ser publicadas.

Mesmo assim, eles afirmam que caso o Brasil se negue a cumpri-las, isso poderia deteriorar a imagem do país junto à comunidade internacional.

"Uma negativa poderia prejudicar ainda mais a imagem do Brasil no exterior, especialmente junto aos outros países do sistema ONU. O Brasil poderia ser visto como um pária em matéria de direitos humanos", explica Paulo Lugon.

Elaini diz que o impacto de um descumprimento se daria no campo simbólico.

"Não faria bem para a imagem e a reputação do Brasil, especialmente porque o país é um dos signatários do tratado. Outro ponto é que este caso se refere à segurança jurídica. É muito ruim mandar um sinal de que pessoas podem não ter seus direitos civis e políticos respeitados em um país como o Brasil", afirma. BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Mudanças climáticas: um guia rápido para entender o aquecimento global


Foto da Terra
Legenda da foto,

A temperatura do planeta está aumentando em decorrência das atividades humanas, e as mudanças climáticas ameaçam todos os aspectos da nossa vida na Terra

As temperaturas mundiais estão subindo por causa da atividade humana, e as mudanças climáticas agora ameaçam todos os aspectos da vida humana.

Se a situação não for controlada, os humanos e a natureza passarão por um aquecimento catastrófico, com o agravamento das secas, maior aumento do nível do mar e extinção em massa de espécies.

Enfrentamos um grande desafio, mas existem soluções potenciais.

O que é mudança climática?

Clima é o conjunto de condições médias de temperatura e ambiente num lugar, ao longo de muitos anos. A mudança climática é uma mudança nessas condições média


A rápida mudança climática que estamos vendo agora é causada pelo uso humano de petróleo, gás e carvão para casas, fábricas e transporte.

Quando esses combustíveis fósseis queimam, eles liberam gases de efeito estufa — principalmente dióxido de carbono (CO2). Esses gases retêm o calor do Sol e fazem com que a temperatura do planeta aumente.

gráfico

O planeta está agora cerca de 1,2°C mais quente do que no século 19 — e a quantidade de CO2 na atmosfera aumentou em 50%.

O ritmo de aumento da temperatura precisa diminuir se quisermos evitar as piores consequências das mudanças climáticas, dizem os cientistas. Eles afirmam que o aquecimento global precisa ser mantido em 1,5°C até o ano 2100.

No entanto, a menos que outras ações sejam tomadas, o planeta ainda pode aquecer mais de 2°C até o final deste século.

Se nada for feito, os cientistas acreditam que o aquecimento global pode ultrapassar os 4ºC, levando a ondas de calor devastadoras, milhões perdendo suas casas devido à elevação do nível do mar e perda irreversível de espécies vegetais e animais.

Legenda do vídeo,

Qual a diferença de clima e tempo?

Qual o impacto das mudanças climáticas?

Eventos climáticos extremos já estão mais intensos, ameaçando vidas e meios de subsistência.

Com o aquecimento adicional, algumas regiões podem se tornar inabitáveis, à medida que as terras agrícolas se transformam em desertos. Em outras regiões, está acontecendo o contrário, com chuvas extremas causando inundações históricas — como visto recentemente na China, Alemanha, Bélgica e Holanda.

As pessoas nos países mais pobres sofrerão mais, pois não têm dinheiro para se adaptar às mudanças climáticas. Muitas cidades em países em desenvolvimento já têm que suportar climas muito quentes e isso só vai piorar.

gráfico

Nossos oceanos e seus habitats também estão ameaçados. A Grande Barreira de Corais na Austrália, por exemplo, já perdeu metade de seus corais desde 1995 devido aos mares mais quentes causados ​​pela mudança climática.

Os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes à medida que as mudanças climáticas aumentam a incidência de clima quente e seco.

E à medida que o solo congelado derrete em lugares como a Sibéria, gases de efeito estufa aprisionados por séculos serão liberados na atmosfera, agravando a mudança climática.

Em um mundo mais quente, os animais terão mais dificuldade para encontrar a comida e a água de que precisam para viver. Por exemplo, os ursos polares podem morrer à medida que o gelo de que dependem derrete, e os elefantes terão dificuldade em encontrar os 150-300 litros de água de que precisam por dia.

Cientistas acreditam que pelo menos 550 espécies podem desaparecer neste século, se medidas não forem adotadas.

coral

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Se a temperatura média global continuar a aumentar, quase todos os corais de água mais quente poderão desaparecer

Como as diferentes partes do mundo serão afetadas?

As mudanças climáticas têm efeitos distintos em diferentes áreas do mundo. Alguns lugares aquecerão mais do que outros, alguns receberão mais chuvas e outros enfrentarão mais secas.

Se o aumento da temperatura não puder ser mantido dentro de 1,5°C:

• O Reino Unido e a Europa serão vulneráveis ​​a inundações causadas por chuvas extremas

• Os países do Oriente Médio passarão por ondas de calor extremas e as terras agrícolas podem se transformar em deserto

• Nações insulares na região do Pacífico podem desaparecer com a elevação do mar

• Muitas nações africanas podem sofrer secas e escassez de alimentos

• As condições de seca são prováveis ​​no oeste dos EUA, enquanto outras áreas verão tempestades mais intensas

• A Austrália provavelmente sofrerá extremos de calor e seca

carros na água em Londres

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

Inundações em Londres em 2021

O que os governos estão fazendo?

Os países concordam que a mudança climática só pode ser enfrentada trabalhando juntos e, em um acordo histórico em Paris em 2015, eles se comprometeram a tentar manter o aquecimento global em 1,5°C.

O Reino Unido vai sediar uma cúpula para líderes mundiais, chamada COP26, em novembro, onde os países definirão seus planos de redução de carbono para 2030.

Muitos países se comprometeram a chegar à neutralidade de carbono até 2050. Isso significa reduzir as emissões de gases de efeito estufa tanto quanto possível e equilibrar as emissões restantes absorvendo uma quantidade equivalente da atmosfera, por meio de tecnologias de captura de carbono, por exemplo.

A maioria dos especialistas acredita que isso é possível, mas exigirá que governos, empresas e indivíduos façam grandes mudanças.

O que os indivíduos podem fazer?

Grandes mudanças precisam vir de governos e empresas, mas os cientistas dizem que algumas pequenas mudanças no dia a dia podem limitar nosso impacto no clima:

• Pegue menos voos

• Não use carros ou opte por carro elétrico

• Compre produtos com eficiência energética, como máquinas de lavar, quando precisarem de substituição

• Mude de um sistema de aquecimento a gás para uma bomba de calor elétrica

• Use material que isole sua casa do frio e do calor, evitando com isso usar aquecimento e ar-condicionado. fonte:BBC


Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 20 de março de 2022

Danilo Cabral participa de agendas do Plano Retomada no Sertão do Pajeú







deputado federal e pré-candidato ao governo de Pernambuco pelo PSB, Danilo Cabral, cumpriu agenda no Sertão do Pajeú nesta sexta-feira (18). O parlamentar acompanhou a comitiva do governador Paulo Câmara (PSB) em uma série de ações ações do Plano Retomada. Em entrevista a rádios locais, o socialista se comprometeu a fazer muitos mais pela região
“Eu quero dizer ao povo de Flores, ao povo do Pajeú: se muito nós fizemos até aqui, tenha a certeza, Flores; tenha a certeza, Pajeú, muito mais nós iremos fazer em 2023 por Pernambuco”, cravou Danilo, muito saudado durante toda sua passagem pelo Pajeú. O socialista assegurou estar preparado para governar Pernambuco e fez acenos ao PT

“Sei da responsabilidade que tenho de embalar sonhos, de mudar a vida das pessoas; de construir vida na vida das pessoas. Tenho a certeza que estou preparado para a missão. Tenho a certeza que, a partir de janeiro de 2023, nós vamos juntar Pernambuco. Nós queremos Pernambuco sintonizado lá em cima com Lula presidente

Plano Retomada 

 Danilo esteve com Paulo Câmara, deputados, prefeitos, vereadores, secretários e lideranças em quatro municípios: Serra Talhada, Calumbi, Flores e Afogados da Ingazeira. Na ocasião, o governador inspecionou a restauração da PE-365, no trecho que liga Serra à cidade de Triunfo. Também inaugurou a requalificação do Terminal Rodoviário de Calumbi, um investimento de R$ 319 mil. 

Em Flores, Paulo inaugurou a PE-337 e anunciou ações nas áreas de desenvolvimento urbano e assistência social. A obra faz parte do programa Caminhos de Pernambuco, que prevê investimentos de R$ 2,2 bilhões. O trecho tem 41,7 Km de extensão, indo do entroncamento da BR-232, em Sítio dos Nunes, até a divisa com o estado da Paraíba, passando pela sede do município. A agenda foi encerrada em Afogados, com uma visita ao Hospital Regional Emília Câmara

Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 19 de março de 2022

Crimes na Internet: Alexandre de Moraes determinou bloqueio do aplicativo Telegram para atender pedido da Polícia Federal



Logo do app Telegram

CRÉDITO,NURPHOTO

Reportagem atualizada às 18h15 de 19/3

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou na quinta-feira (17/3) que a atividade do aplicativo Telegram seja interrompida no Brasil por provedores de internet e outras plataformas. A decisão, divulgada na sexta (18/3), atende a uma solicitação feita pela Polícia Federal.

O não cumprimento da decisão acarretará ao infrator multa diária de R$ 100 mil. É especificado que Google e Apple devem retirar o Telegram de suas lojas digitais onde o aplicativo é baixado.

No sábado (19/3), Moraes determinou que o Telegram cumpra em 24 horas uma ordem judicial do próprio STF que vinha sendo descumprida pela empresa


A intimação foi encaminhada para um e-mail indicado pelo Telegram, após o fundador do aplicativo, Pavel Durov, afirmar que não tinha cumprido ordens de determinadas pela Justiça anteriormente porque o STF teria mandado e-mail para um endereço errado

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o ministro fez quatro determinações na nova decisão: necessidade de indicação do representante da empresa no Brasil (pessoa física ou jurídica); informação de todas as providências adotadas para combater desinformação e divulgação de notícias falsas no canal; imediata exclusão de publicações no link jairbolsonarobrasil/2030; e bloqueio do canal claudiolessajornalista.

Conforme o magistrado, apenas após o cumprimento integral das determinações será possível rever o bloqueio do Telegram no país


Na quinta-feira, Moraes justificou a decisão de suspender as atividades do Telegram no Brasil citando afirmação da Polícia Federal de que "o aplicativo Telegram é notoriamente conhecido por sua postura de não cooperar com autoridades judiciais e policiais de diversos países, inclusive colocando essa atitude não colaborativa como uma vantagem em relação a outros aplicativos de comunicação, o que o torna um terreno livre para proliferação de diversos conteúdos, inclusive com repercussão na área criminal".

O ministro afirma que o Telegram se recusou a cumprir determinações judiciais. Ele diz que a plataforma bloqueou perfis ligados ao blogueiro Allan dos Santos (@allandossantos, @tercalivre e @artigo220), como estipulado em pedido judicial feito em fevereiro, mas a empresa não forneceu informações solicitadas sobre monetização e doações financeiras aos canais.

Ainda diz que o Telegram não bloqueou perfil ligado a Allan dos Santos criado como substituto.

Consta na decisão que a investigação policial apontou que o blogueiro "migrou sua atuação para o TELEGRAM, com repetição do modo de agir já descrito nos autos, inclusive buscando a obtenção de remuneração por meio de recepção de moedas digitais (bitcoin), cujas doações são solicitadas por meio de divulgação em seu perfil no TELEGRAM".

No começo da noite de sexta, o diretor-executivo do Telegram, Pavel Durov, divulgou um comunicado em que cita problemas com endereços de e-mail.

"Parece que tivemos um problema com e-mails entre nossos endereços corporativos no telegram.org e o Supremo Tribunal brasileiro. Como resultado dessa falha de comunicação, o Tribunal decidiu bloquear o Telegram por não estar respondendo."

"O Tribunal utilizou o endereço de e-mail antigo, que tem um propósito mais amplo e geral, nas outras tentativas de nos contatar. Como resultado, perdemos a decisão que continha um pedido de suspensão subsequente no início de março", diz outro trecho do comunicado.

"Como dezenas de milhões de brasileiros dependem do Telegram para se comunicar com a família, amigos e colegas, peço ao Tribunal que considere adiar sua decisão por alguns dias a seu critério para nos permitir remediar a situação nomeando um representante no Brasil e criando uma estrutura para reagir de forma rápida a futuras questões urgentes como essa."

O ministro do STF Alexandre de Moraes

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,

O ministro do STF Alexandre de Moraes

Na época da solicitação judicial de bloqueio de seus canais, o blogueiro Allan dos Santos respondeu em um vídeo com palavrões contra Moraes dizendo que criaria novos perfis se os atuais fossem bloqueados.

Perfis voltados a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, como é o caso de Allan dos Santos, têm se popularizado no Telegram. O canal de Bolsonaro tem mais de 1 milhão de inscritos desde o fim do ano passado e é constantemente promovido em lives semanais do presidente.

Bolsonaro diz que decisão é 'inadmissível'

Na noite de sexta-feira (18/3), Bolsonaro disse que é "inadmissível" a decisão de Moraes de suspender o aplicativo Telegram no Brasil.

"É inadmissível uma decisão dessa natureza. Porque não conseguiu atingir duas ou três pessoas que na cabeça dele deveriam ser banidos do Telegram, ele atinge 70 milhões de pessoas", declarou o presidente durante encontro com líderes religiosos em Rio Branco (AC).

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que a decisão pode "causar óbitos" no Brasil "por falta de contato entre paciente e médicos".

Após a decisão de Moraes, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, acionou o STF contra a ordem de bloqueio do Telegram.

De acordo com o G1, o pedido da AGU, embora cite a decisão sobre o Telegram, foi feito em outra ação que já tramita na Corte e contesta bloqueios judiciais de aplicativos de mensagens. A AGU defende que o Marco Civil da Internet não pode ser aplicado para bloquear aplicativos que não cumprem as ordens judiciais, segundo a reportagem, e argumenta que o caso que gerou o bloqueio do Telegram se refere a pessoas específicas e não poderia atingir outros usuários do aplicativo.

Embate anterior

Nos últimos meses, diversos órgãos do Judiciário brasileiro se pronunciaram a respeito da falta de resposta do aplicativo criado pelo russo Pavel Durov a solicitações de contato.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tentou falar com Durov para discutir estratégias de combate à desinformação e à propagação de boatos e notícias falsas no app de troca de mensagens durante a próxima eleição brasileira. Nunca obteve uma resposta ou mesmo um contato.

A Polícia Federal também não obteve resposta da plataforma para colaboração em investigações.

O Telegram não tem sede nem representante legal no Brasil. Apesar de ter sido criada na Rússia, a empresa hoje tem sede em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Em reportagem de fevereiro, a BBC News Brasil tentou contato com o Telegram por meio de um canal no serviço que aceita solicitações da imprensa, mas não obteve resposta.

O ministro Luís Roberto Barroso, que foi presidente do TSE até o mês passado, havia dito que "nenhum ator relevante no processo eleitoral pode atuar no país sem que esteja sujeito à legislação e a determinações da Justiça brasileira. Isso vale para qualquer plataforma".

"O Brasil não é casa da sogra para ter aplicativos que façam apologia ao nazismo, ao terrorismo, que vendam armas ou que sejam sede de ataques à democracia que a nossa geração lutou tanto para construir", disse ele em entrevista ao jornal O Globo.

Barroso havia dito que o bloqueio da plataforma era uma possibilidade: "Como já se fez em outras partes do mundo, eu penso que uma plataforma, qualquer que seja, que não queira se submeter às leis brasileiras deva ser simplesmente suspensa. Na minha casa, entra quem eu quero e quem cumpre as minhas regras."

Após o fim do mandato de Barroso à frente do TSE assumiram os cargos de presidente e vice-presidente do tribunal os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, respectivamente.

Mas Fachin fica na presidência somente até o dia 17 de agosto porque se encerra o seu período limite de dois anos dentro do TSE.

Moraes será empossado a seguir como presidente da corte. Ele é o relator do "inquérito das fake news" que investiga a divulgação de notícias falsas e ameaças a integrantes do STF. O ministro é um dos principais alvos dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Crimes no Telegram

Outro ponto citado como suporte para a decisão está a investigação sobre ação de pedófilos dentro da plataforma: "Dentre os aplicativos de mensageria mais usados pelos abusadores sexuais de crianças, por exemplo, está o TELEGRAM. Esses criminosos se utilizam de forma individual e, principalmente, por meio de grupos (cibernéticos) para cometerem crimes gravíssimos contra crianças e adolescentes".

É citado também no documento que ocorrem dentro da plataforma atividades como estelionato, propaganda neonazista, venda de notas falsas e falsificação de documentos e de certificados de vacinação.

Em novembro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) também instaurou um inquérito civil público em São Paulo para investigar o que as principais plataformas em operação no Brasil têm feito ou deixado de fazer diante de práticas organizadas de desinformação em geral e violência no mundo digital.

Foram expedidos ofícios ao Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, TikTok, WhatsApp e Telegram, com perguntas sobre políticas de moderação e regulação de conteúdo. O Telegram foi o único a não enviar resposta ao MPF-SP.

  • Shin Suzuki e Leandro Prazeres
  • Da BBC News Brasil em São Paulo e Brasília

Professor Edgar Bom Jardim - PE