sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Barroso chama Bolsonaro de farsante e diz que país é motivo de chacota mundial

História do Brasil atual

Presidente do TSE afirmou que não há espaço na democracia "para aqueles que tentam destruí-la". E disse que, em 2023, um candidato eleito democraticamente assumirá Presidência


 (crédito: Reprodução/YouTube)
(crédito: Reprodução/YouTube)

Em mais um capítulo da crise institucional causada e agravada pelo presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, chamou o mandatário de farsante e disse que o que está em curso no Brasil é uma tentativa de retorno ao autoritarismo, na tentativa de descredibilizar o processo eleitoral por meio de afirmações falsas e antidemocráticas.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que fez um pronunciamento nesta quinta-feira (9/9), disse que o Brasil não deseja entrar no grupo de países que tiveram suas democracias atacadas e citou exemplos como Hungria, Polônia, Rússia, Geórgia, Filipinas, Venezuela, Nicarágua, El Salvador, entre outros. “Em todos esses exemplos, a erosão da democracia não se deu por golpe de estado sob as armas de generais e seus comandados”, afirmou.

“A subversão democrática nesses países se deu pela condução de líderes políticos, primeiros-ministros e presidentes da República eleitos pelo voto popular e que, em seguida, medida por medida, vêm desconstruindo os pilares que sustentam a democracia e pavimentando o caminho para o autoritarismo”, pontuou Barroso.

Segundo ele, as ofensivas de líderes autoritários contra a Justiça eleitoral configuram um modus operandi que tem como objetivo alegar fraude quando a derrota for confirmada nas urnas. Diante das mentiras propagadas por Bolsonaro sobre o processo eleitoral, o voto impresso e as instituições, o ministro do STF foi além e alfinetou o presidente ao recitar uma versão alternativa de um trecho bíblico, utilizado pelo mandatário desde que era candidato à Presidência.

“O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser: ‘conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará’”, disse Barroso, fazendo referência a João 8:32, que replica as palavras de Jesus: "Conhecereis a verdade e a verdade os libertará”.

O ministro lembrou que após a live de Bolsonaro em julho, a Justiça Eleitoral convocou-o para apresentar as provas de fraudes no sistema eleitoral, mas ele não o fez — o que demonstra, segundo Barroso, que o chefe do Executivo é um farsante. “É tudo retórica vazia, política de palanque. Hoje em dia, salvo os fanáticos que são cegos pelo radicalismo e os mercenários, que são cegos pela monetização da mentira, todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história”.

“Quem decidiu que não haveria voto impresso não foi o TSE, foi o Congresso Nacional”, acrescentou.

Desvalorização global

O presidente do TSE afirmou, ainda, que o país sofre uma desvalorização global e que os brasileiros são “vítimas de chacota e de desprezo mundial”. Um desprestígio, nas palavras do ministro, pior do que a inflação, desemprego, desvalorização da moeda ou mesmo o desmatamento da Amazônia.

“Pior que tudo, a falta de compostura nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo”, pontuou.

Barroso disse que a democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas, desde que haja o respeito à Constituição. Ela só não tem lugar, segundo ele, “para quem pretenda destruí-la”.

Ao fim de seu discurso, o ministro mandou um recado a Bolsonaro e disse que em 2023, um candidato eleito democraticamente assumirá a cadeira presidencial. “Com a bênção de Deus — o Deus de verdade, do bem do amor, do respeito ao próximo — e com a proteção das instituições, um presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse em 1º de janeiro de 2023. Assim será”, concluiu.

Fonte: Correio Braziliense
Professor Edgar Bom Jardim - PE

BRAVATA ? Bolsonaro nega intenção de atacar STF e diz que falou 'no calor do momento' no 7 de Setembro



Bolsonaro em encontro dos BRICS

CRÉDITO,PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Legenda da foto,

Bolsonaro recua após chamar Moraes de 'canalha' e ameaçar não cumprir suas decisões

Após dias de ataques inflamados ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro baixou o tom por meio de uma nota oficial nesta quinta-feira (09/09). No comunicado, o presidente disse que autoridades não têm o direito de "esticar a corda" e que não teve intenção de agredir outros Poderes.

O recuo retórico veio após caminhoneiros bolsonaristas travarem dezenas de rodovias no país em apoio aos ataques do presidente contra o Poder Judiciário. Bolsonaro, porém, ficou preocupado com o impacto dessa mobilização na economia e pediu na noite de quarta-feira que seus apoiadores liberassem as estradas.

"Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar", diz o comunicado.

Após chamar o ministro do STF Alexandre de Moraes de "canalha" em discurso na Avenida Paulista durante ato em seu apoio no feriado de 7 de setembro, Bolsonaro indicou ter se excedido.

"Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de 'esticar a corda', a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia", diz ainda o comunicado.

"Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", acrescentou o presidente.

Moraes é relator de investigações contra Bolsonaro e seus aliados, entre elas o inquérito das Fake News, citado na nota presidencial.

O presidente e seus apoiadores consideram que o ministro tem cometido abusos e desrespeitado a liberdade de expressão ao determinar a prisão de seus aliados, inclusive porque algumas dessas decisões foram tomadas sem participação da Procuradoria-Geral da República.

Já os que apoiam a atuação do ministro dizem que os investigados nesses inquéritos cometem crimes ao ameaçar ministros do STF e defender o fechamento da Corte e do Congresso Nacional.

Antes dos atos em seu apoio no 7 de Setembro, Bolsonaro disse que os protestos tinham objetivo de "enquadrar" o STF. E, ao discursar no feriado, chegou a dizer que não cumpriria decisões de Moraes.

"Deixe de oprimir o povo brasileiro. Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá", discursou, na Avenida Paulista.

Caminhoneiros em bloqueio de rodovia Regis Bitencourt, em SP

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Mensagens em grupos de caminhoneiros revelam racha na categoria sobre apoio ao bloqueio de rodovias

Já na nota divulgada nesta quinta-feira, o presidente reconheceu que decisões judiciais devem ser contestadas dentro dos trâmites jurídicos.

"Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto (sic) no Art. 5º da Constituição Federal", afirmou o presidente.

"Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição", continuou.

Bolsonaro disse também que sempre esteve "disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles".

E finalizou a nota agradecendo "o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil".

Os apoiadores mais radicais do presidente, porém, demostraram frustração com seu recuo nos últimos dias. O áudio de Bolsonaro pedindo o fim dos bloqueios de rodovias pelo país provocou grande confusão em grupos de caminhoneiros e apoiadores do presidente no WhatsApp, Telegram e redes sociais monitorados pela BBC News Brasil.

Alguns bolsonaristas que participam da paralisação se disseram "decepcionados" e "traídos", enquanto muitos se recusam a acreditar que a voz seja de Bolsonaro, mesmo depois de o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, gravar um vídeo confirmando a autenticidade.

'Live' nas redes sociais

Na noite de quinta-feira, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais, na qual começou parabenizando "todos que se manifestaram pacificamente no último dia 7 pelo Brasil, dia da nossa Independência" e onde mostrou imagens e exaltou os números de manifestantes presentes.

Sem mencionar diretamente os ataques que fez naquele dia a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente Alexandre de Moraes, Bolsonaro afirmou que na avenida Paulista, na cidade de São Paulo, "talvez pela proximidade do carro de som, tudo ficou mais inflamado".

Num cartaz em inglês, manifestante pede a destituição dos ministros do STF no protesto em São Paulo

CRÉDITO,AFP

Legenda da foto,

Num cartaz em inglês, manifestante pede a destituição dos ministros do STF no protesto em São Paulo

O presidente comentou sobre a nota oficial que publicou na quinta-feira, que segundo ele foi redigida com o auxílio do ex-presidente Michel Temer (MDB) — a quem ele diz ter telefonado na noite de quarta-feira e com quem se encontrou em Brasília no dia seguinte por cerca de uma hora.

"A resposta (através da nota) foi o seguinte: eu estou pronto para conversar. Por mais problema que eu tenha com o Arthur Lira (presidente da Câmara), com o Rodrigo Pacheco (Senado), o ministro Fux (Luiz Fux, do STF), com o Barroso (Luís Roberto Barroso) lá do TSE (...) Tô pronto para conversar", disse Bolsonaro, acrescentando ter respeito às instituições.

"Você pode brigar com um ministro do Supremo, você pode brigar com um senador, mas não com o Senado, com o Supremo. Tenho certeza que bons frutos (do diálogo) aparecerão nos próximos dias."

Em um trecho da transmissão, o presidente voltou a questionar o resultado da eleição presidencial de 2018 que o alçou ao poder, afirmando acreditar ter tido mais votos do que o computado. Ele citou novamente o nome de Barroso e afirmou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deveria melhorar a segurança da votação.

O presidente mencionou ainda a paralisação de caminhoneiros em seu apoio, movimento que ele caracterizou como uma "coisa fantástica". Destacando não ter influência na decisão dos caminhoneiros, ele afirmou que estes o comunicaram pretender terminar com a paralisação no domingo.

"Falaram que iam manter o movimento até domingo, é um direito deles, e vão suspender depois de domingo, essa é a ideia de muitos deles ali. Eu não influencio nessa área. Fui bem claro, se passar de domingo, segunda, terça, a gente começa a ter problema seríssimo de abastecimento, influencia na economia, aumenta inflação. Os problemas se voltam contra nós: contra eles que fizeram o movimento e contra eu por ser chefe de Estado", disse Bolsonaro, para quem os caminhoneiros já deram um "recado enorme" a favor da Constituição.

Reação do Judiciário

A manifestação em tom mais brando de Bolsonaro veio após o presidente do STF, Luiz Fux, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, reagirem com dureza aos ataques de Bolsonaro.

Na quarta-feira, Fux enfatizou que ignorar decisões judiciais configuraria crime de responsabilidade, o que poderia culminar na abertura de um processo de cassação contra Bolsonaro.

"O Supremo Tribunal Federal jamais aceitará ameaças à sua independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções", disse Fux, ao abrir a sessão de julgamento do STF.

"O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do Chefe de qualquer dos Poderes, essa atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional", reforçou.

Já Barroso voltou a repudiar os ataques de Bolsonaro ao sistema eletrônico de votação. Sem apresentar provas, o presidente tem levantado dúvidas sobre a segurança das urnas brasileiras.

"A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la", disse o presidente do TSE.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

História do Brasil atual: O golpe começou


Por Vladimir Safatle.

Uma insurreição nunca precisou da maioria da população para impor sua vontade. Ela precisa de uma minoria substantiva, aguerrida, unificada e intimidadora, pois potencialmente armada.


Quem conhece a história do fascismo italiano sabe a quantidade inumerável de vezes que Mussolini, em sua ascensão ao poder, foi dado como politicamente morto, isolado, acuado, fragilizado. No entanto, apesar das finas análises de comentaristas da vida política italiana, apesar das sutis leituras que pareciam ser capazes de pegar as mais inusitadas nuances, Mussolini, o bronco Mussolini chegou onde queria chegar. Isso ao menos deveria servir para lembrarmos da existência de três erros que levam qualquer um a perder uma guerra, a saber, subestimar a dedicação de seu oponente, subestimar sua força e, por fim, sua capacidade de pensar estrategicamente.

O mínimo que se pode dizer é que a oposição brasileira é exímia em praticar os três erros contra Bolsonaro e seus adeptos. Ela parece animada pela capacidade de tomar seus desejos por realidade, de justificar sua paralisia como se fosse a mais madura de todas as astúcias. Agora, a isso ela acrescentou uma patologia que, nos antigos manuais de psiquiatria, chamava-se “escotomização”, ou seja, a capacidade de simplesmente não ver um fenômeno que ocorre na sua frente. Mesmo tendo 600.000 mortes nas costas por negligencia de seu governo em relação à pandemia, Bolsonaro conseguiu um 7 de setembro para chamar de seu, com mais de 100.000 pessoas na Paulista e quantidade semelhante na Esplanada dos Ministérios.

Ele se colocou como o líder inconteste de uma singular sublevação do governo contra o estado, afirmando que não reconhece mais a autoridade do STF. Ou seja, ele assumiu para o mundo que está em rota de colisão com o que restou da institucionalidade da vida política brasileira. Seus apoiadores saíram desse dia com sua identificação reforçada e compreendendo-se como protagonistas de uma insurreição popular que de fato está a ocorrer, mesmo que com sinais trocados. Uma insurreição que mostra a força do fascismo brasileiro.

De nada adianta falar que essa manifestação “flopou”, que estavam presentes apenas 6% do esperado. Uma insurreição nunca precisou da maioria da população para impor sua vontade. Ela precisa de uma minoria substantiva, aguerrida, unificada e intimidadora, pois potencialmente armada. Bolsonaro tem as quatro condições, além do apoio inconteste das Polícias Militares e das Forças Armadas, que por nada nesse mundo, mas absolutamente nada irá deixar um governo que lhe promete salários de até 126.000 reais.

Aqueles que se comprazem acreditando que o verdadeiro apoio de Bolsonaro é 12% são os que normalmente fazem de tudo para que nós não façamos nada. Mas para quem quiser de fato encarar o que está a ocorrer no Brasil, não há nada mais a dizer do que “o golpe começou”. A manifestação do 7 de setembro marcou uma clara ruptura no interior do governo Bolsonaro. De fato, acerta quem diz que o governo acabou. Mas isso significa apenas que Bolsonaro pode agora abandonar a máscara de governo e assumir a céu aberto o que esse “governo” sempre foi, desde seu primeiro dia, a saber, um movimento, uma dinâmica de ruptura que se serve da estrutura do governo para ampliar-se e ganhar força.

Assim, ele pode fortalecer seu núcleo duro, transformar eleitores em fieis seguidores sem precisar ter entregue nada que um governo normalmente entregaria, sequer a proteção contra a morte violenta produzida por uma pandemia descontrolada. Nunca um presidente falou ao povo, em seu momento de maior tensão, que partilhava abertamente o desejo de romper e ignorar uma institucionalidade que é simplesmente a representação dos clássicos interesses oligárquicos das elites brasileiras.

Infelizmente, que o “povo” em questão era a massa dos que sonham com intervenções militares, que amam torturadores, que abraçam a bandeira nacional para esconder sua história infame de racismos e genocídios, isso era algo que poucos poderiam imaginar. Por outro lado, por mais que certos setores do empresariado nacional simulem desconforto com sua presença, o que realmente conta é que Bolsonaro entrega a eles tudo o que promete, sabe preservar seus ganhos como ninguém, luta por aprofundar a espoliação da classe trabalhadora sem temer o que quer que seja.

Não por outra razão, seu 7 de setembro foi precedido por manifestos de empresários defendendo a “liberdade”: nova senha para o “direito” de intimidação e de ameaça. Enquanto isso, a oposição brasileira acha que ainda estamos no terreno dos embates políticos. Ela prepara-se para eleições, finge sonhar com frentes amplas esquecendo que, desde o fim da ditadura, sempre fomos governados por frentes amplas e vejam onde chegamos. Todos os governos eram alianças “da esquerda à direita”. Não foi por falta de frente ampla que estamos nessa situação. O cálculo simplesmente não é este. A esquerda precisa entender de uma vez por todas a natureza do embate, ouvir aqueles mais dispostos ao confronto, esses que não tiveram medo de ir para a rua hoje, e assumir uma lógica de polarização. Isso implica que ela precisa mobilizar a partir da sua própria noção de ruptura, em alto e bom som. Uma ruptura contra outra. Não há mais nada a salvar ou a preservar nesse país. Ele acabou. Um país cuja data de sua independência é comemorada dessa forma simplesmente acabou. Se for para lutar, que não seja para salvá-lo, mas para criar outro.

brasil.elpais.com/


Convocados pelo presidente Jair Bolsonaro, dezenas de milhares de manifestantes bolsonaristas foram às ruas em diversas cidades do país. O presidente discursou em duas delas, em São Paulo e Brasília. Nas falas, elevou o tom das críticas ao Supremo Tribunal Federal.A expectativa era grande, e de todos os lados. Mas afinal, qual foi o saldo deste dia? Neste vídeo, nossa repórter Camilla Veras Mota fala sobre o que aconteceu e quais podem ser os impactos políticos dos protestos pró-Bolsonaro no feriado de 7 de Setembro. Confira no vídeo. #BBCNewsBrasil #7deSetembro #Protestos

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Paulo Câmara fala em "delírios totalitários" de Bolsonaro






Horas após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursar para seu eleitorado no 7 de setembro, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), classifica como "delírios totalitários" declarações do presidente. 
"O Sete de Setembro é uma data para celebrar a liberdade, a democracia e o progresso do nosso país. Não para promoção pessoal ou para o presidente ameaçar e desrespeitar os demais poderes constituídos", avaliou Câmara. 

De acordo com o governador do Estado, o presidente "está em campanha permanente e não governa o país".
"Enquanto isso, no mundo real, longe dos delírios totalitários de Bolsonaro, a inflação, a fome e a miséria estão de volta e o Brasil segue sem perspectivas", disse o gestor socialista que tem sido um ferrenho crítico do Governo Federal. 

Recentemente, o governador e o presidente se encontraram durante passagem do Chefe do Executivo Federal pelo Estado. No entanto, eles evitaram o contato mais próximo. 

Folha de Pernambuco
Foto de arquivo
Professor Edgar Bom Jardim - PE


O Brasil violento, antidemocrático e infeliz: As ameaças de Bolsonaro em discursos no 7 de Setembro


Bolsonaro discursa para apoiadores em Brasília neste 7 de setembro

CRÉDITO,REPRODUÇÃO/FACEBOOK

Legenda da foto,

Bolsonaro discursa para apoiadores em Brasília neste 7 de setembro: presidente disse que atos são um 'ultimato' aos demais Poderes da República

O presidente Jair Bolsonaro fez uma série de ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à democracia nesta terça-feira (7/9) em discursos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na avenida Paulista, em São Paulo. Chamou as eleições de "farsa", disse que só sai da presidência "preso ou morto" e exaltou a desobediência à Justiça.

O atos de apoio a Bolsonaro, por intervenção militar e contra o STF foram organizados em diversas cidades em momento de crise e queda de popularidade do presidente.

Pule YouTube post, 1
Legenda do vídeo,Alerta: Conteúdo de terceiros pode conter publicidade

Final de YouTube post, 1

Mas a maior parte dos manifestantes concentraram em São Paulo, que reuniu caravanas vindas de diversos locais do país. Segundo a estimativa oficial da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, passaram cerca de 125 mil manifestantes pela avenida Paulista neste domingo.

Foi em São Paulo que Bolsonaro elevou o tom de golpismo, que já estava presente em seu discurso em Brasília. Ele questionou a urna eletrônica e as eleições, citou novamente o voto impresso (que já foi rejeitado pelo Congresso) e disse que não pode "participar de uma farsa como essa patrocinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)".

"Quero dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá", afirmou.

"Só saio preso, morto ou com vitória. Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."

Bolsonaro criticou o presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso, sem citá-lo nominalmente.

"Não é uma pessoa no Tribunal Superior Eleitoral que vai dizer que esse processo é seguro, usando a sua caneta desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação", disse ele, em referência a decisões da Justiça contrárias a bolsonaristas que espalharam notícias falsas sobre as eleições.

"A paciência do nosso povo já se esgotou! Nós acreditamos e queremos a democracia! A alma da democracia é o voto! E não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece segurança", afirmou Bolsonaro.

Homens seguram bandeira onde está escrito 'intervenção militar'

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Militantes de direita pedem intervenção militar na av. Paulista

Ataques ao STF

Bolsonaro concentrou suas críticas ao STF na figura do ministro Alexandre de Moraes, que determinou nesta segunda (5/9) a prisão de apoiadores do presidente que publicaram ameaças ao tribunal e a seus membros.

"Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil", disse o presidente.

"Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República", completou Bolsonaro, conclamando o presidente do STF, Luiz Fux, a interferir nas decisões de Moraes - algo que seria inconstitucional.

Em São Paulo, Bolsonaro citou Moraes nominalmente e o chamou de "canalha", dizendo que "não pode mais admitir" que ele "continue açoitando o povo brasileiro."

Antes das manifestações, Bolsonaro chegou a enviar um pedidos de impeachment de Moraes ao Senado, onde o pedido foi rejeitado.

Apesar da derrota, o presidente continuou insistindo no ataque, e disse em Brasília que Moraes "perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele tribunal".

E ameaçou: "Não queremos ruptura, não queremos brigar com Poder algum, mas não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade."

Bolsonaro com as mãos levantadas para o ar

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto,

Presidente discursou para militantes pró-governo em Brasília antes de ir a São Paulo

Contradições

Ambos os discursos de Bolsonaro tiveram contradições como dizer que "defende a democracia" e ao mesmo tempo criticar as eleições e dizer que só sai de Brasília "preso, mortos ou com vitória".

Bolsonaro usou repetidas vezes o argumento de que a Constituição Federal estaria sendo ferida por outro Poder. Mas ele próprio fez ameaças que, se concretizadas, significariam violações graves da Constituição.

"Nós todos na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair", disse, acrescentando que as manifestações do 7 de Setembro são um "ultimato" aos Poderes da República.

"Peço a Deus coragem para decidir. Não são fáceis as decisões. Não escolham o lado do conforto. Sempre estarei ao lado do povo brasileiro. Esse retrato que estamos tendo nesse dia é de vocês. É um ultimato para todos que estão na praça dos Três Poderes, inclusive eu, presidente da República, para onde devemos ir", declarou.

"A partir de hoje uma nova história começa a ser escrita aqui no Brasil. Peço a Deus mais que sabedoria, força e coragem para bem presidir", completou, sendo aplaudido por Braga Netto e demais ministros.

Conselho da República

Ao final do discurso em Brasília, Bolsonaro disse que se reuniria na quarta com o Conselho da República, para apresentar a "fotografia" de "onde todos devemos ir". O Conselho da República é um órgão consultivo previsto na lei para ser usado pelo presidente em momentos de crise, para deliberar sobre "intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio", além de decidir sobre "questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas".

Apesar do que disse Bolsonaro no discurso, não há reunião do Conselho da República marcada para quarta-feira por enquanto, segundo o vice-presidente Hamilton Mourão. "Julgo que o presidente se equivocou, pois ninguém sabe disso", afirmou o vice, cuja presença é necessária no conselho.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), líder da minoria na Câmara dos Deputados e membro do conselho, afirmou que a reunião não foi marcada e que "não será sob chantagem de um presidente que participa de uma ato que ameaça ministros, que ameaça intervenção militar e que ameaça o fechamento do Congresso, que o Conselho da República vai se reunir."

Fim do ato

Em Brasília, no carro de som, bem ao lado de Bolsonaro, presenciando as ameaças do presidente, estava o ministro da Defesa, general Braga Netto.

Já o ato em São Paulo teve a presença do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que foi abordado por dezenas de bolsonaristas para fotos, e do ex-secretário de comunicações Fabio Wajngarten.

O número de pessoas com máscaras era bem reduzido em ambos os atos que tiveram a presença do presidente. Em São Paulo, havia muitos idosos e crianças sem máscara. Policiais também eram parados com pedidos de fotos e o hino nacional era cantado reiteradamente.

Ao final, Bolsonaro deixou a Paulista em cima de um carro, com um policial levando um colete à prova de balas na frente, e se dirigiu ao comando militar em São Paulo, onde pegou o avião presidencial de volta à Brasília.

BBC

Professor Edgar Bom Jardim - PE