segunda-feira, 7 de junho de 2021

Provas 'contundentes' apontam lavagem de dinheiro da Universal em Angola, dizem investigadores




Culto da Universal (IURD) em Angola

CRÉDITO,DIVULGAÇÃO/IURD

Legenda da foto,

Igreja Universal do Reino de Deus iniciou suas operações em Angola em 1992 e tem mais de 300 templos no país

As provas reunidas contra quatro integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola denunciados sob acusação de crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e associação criminosa no país são fartas e contundentes, afirmam a Procuradoria-Geral da República (PGR) de Angola e o Serviço de Investigação Criminal (SIC, a polícia federal angolana) em entrevista à BBC News Brasil.

Os quatro investigados no caso são: Honorilton Gonçalves da Costa, ex-representante máximo da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola, Fernando Henriques Teixeira, ex-diretor da TV Record África, o bispo António Pedro Correia da Silva (então representante legal da Record e presidente do conselho da IURD em Angola) e o pastor Valdir de Sousa dos Santos.

O processo corre atualmente sob sigilo, mas deve vir a público em breve durante a tramitação judicial que começou em maio, após um ano e meio de investigações por parte da PGR e do SIC.

"Quando você retira dinheiro de um Estado de forma não lícita, você já está a branquear e a violar a lei", explicou Álvaro João, porta-voz da PGR. Segundo ele, há fatos e provas "que nos levam a chegar à conclusão de que de fato há branqueamento de capitais ou crimes conexos". O conceito de branqueamento de capitais no ordenamento jurídico angolano é equivalente à lavagem de dinheiro na legislação brasileira, que se trata de esconder a origem de recursos ilegais por meio de operações comerciais ou financeiras.

Manuel Halaiwa, superintendente do Serviço de Investigação Criminal (SIC), afirmou à reportagem que se as provas não fossem contundentes os investigadores da polícia federal angolana não teriam indiciado os quatro acusados brasileiros.



Tanto João quanto Halaiwa disseram não poder dar detalhes das provas obtidas porque o processo está sob sigilo. Mas membros angolanos da Igreja Universal que assumiram o comando da instituição no país têm falado publicamente sobre parte das provas que entregaram aos investigadores e sobre detalhes de como, segundo eles, funcionava o esquema criminoso no país.

Valente Bezerra Luís, bispo que está há 30 anos na IURD Angola e atualmente ocupa o cargo máximo da igreja no país, disse, por exemplo, que grande parte do dinheiro arrecadado com dízimos e doações não passava por contas bancárias, era convertido em dólar no mercado informal e depois levado por bispos e pastores na bagagem para o Brasil ou escondido em carros de luxo para a África do Sul.

Segundo Bezerra Luís, o esquema de lavagem de dinheiro da Universal envolvia o braço da Record no país. "Antonio Pedro Correia da Silva era o representante legal da Record e ao mesmo tempo era presidente do conselho de direção da igreja. Então vamos entender. A igreja faz programas na Record e a igreja paga. Quem assina o cheque para pagar a Record é o mesmo representante legal da Record e é o mesmo presidente do conselho de direção da igreja. Quer dizer, ele paga a ele", disse em entrevista à emissora pública angolana (TPA) no fim de maio.

Atualmente, a Record está fora do ar em Angola, mas isso não tem relação direta com a investigação (leia mais abaixo). Estima-se que a IURD em Angola arrecadava anualmente por meio de seus 354 templos cerca de US$ 80 milhões (quase R$ 400 milhões), e mais da metade seja enviado para o exterior de forma ilícita, segundo a denúncia. Atualmente, em razão da investigação, grande parte dos templos foi alvo de busca e apreensão e está de portas fechadas.

Procurada pela BBC News Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil refutou todas as acusações, as classificou de fake news e disse que os quatro membros acusados ainda não conseguiram acesso à investigação formal. "Nem a Universal, nem seus bispos e pastores praticaram crimes em Angola."

Além disso, a instituição afirmou que brasileiros têm sido alvos de deportações arbitrárias (25 até agora) e que membros angolanos da instituição deram um golpe para assumir o controle da IURD no país. "A Universal de Angola é vítima de uma trama elaborada por um grupo de ex-oficiais que foram expulsos da Igreja em decorrência de graves desvios de conduta. Além de promover ataques, invasões e saques, eles espalharam notícias falsas em parceria espúria com alguns veículos de comunicação e a conivência de autoridades locais, para tentar expulsar a Igreja do país." Leia mais abaixo sobre o posicionamento da Universal acerca das denúncias.

Denúncias de racismo e esterilização forçada

As investigações começaram em novembro de 2019, quando um grupo de 330 bispos e pastores angolanos da Universal (dentre quase 550 membros ao todo) divulgaram um manifesto com acusações públicas contra representantes brasileiros da igreja em Angola, onde atua oficialmente desde 1992.

Segundo a PGR de Angola, apenas uma parte das acusações feitas por bispos e pastores angolanos foi investigada pela polícia e pelo Ministério Público porque na denúncia pública havia também questões individuais.

Entre eles, os relatos de racismo (o bispo Edir Macedo é acusado de ter afirmado numa conferência que os negros vieram dos macacos), de vasectomia ou retirada de útero forçadas para que os pastores não tivessem filhos e "desviassem o foco" da igreja (acusação feita também em outros países como o Brasil) e de perseguições a pastores que engravidassem suas mulheres (com redução de salário, de cargo e do status da moradia oferecida pela igreja).

"Nos últimos 12 meses, a anterior e actual liderança brasileira por orientação do Bispo Edir Macedo tem forçado os Pastores solteiros e casados a submeterem-se a um procedimento cirúrgico de "esterilização", tecnicamente conhecido como vasectomia que, são claras violações graves dos direitos humanos, da lei e da Constituição da República de Angola, práticas estas que são estranhas aos costumes da nossa realidade africana e angolana", afirmava o comunicado divulgado no fim de 2019.

Bispo Edir Macedo

CRÉDITO,ALAN SANTOS/PR

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A Universal é liderada pelo bispo brasileiro Edir Macedo, que foi acusado de racismo por missionários angolanos; ele nega a acusação

Não é a primeira vez que a Universal é acusada de esterilização forçada por ex-missionários. Acusações como essa ocorreram em outros países, como São Tomé e Príncipe e Brasil, onde a instituição foi condenada recentemente a indenizar um pastor pela prática.

Desde o fim de 2019, a situação desandou para os brasileiros da Universal. Todos foram destituídos dos cargos de liderança na seção angolana da igreja, 25 bispos e pastores foram obrigados a deixar o país, o controle dos templos foi transferido com anuência do governo angolano e a TV Record África saiu do ar em abril de 2021 por, segundo o governo, descumprir regras que proíbem estrangeiros no comando da emissora e que exigem o credenciamento oficial de estrangeiros atuando como jornalistas.

Em comunicados, a Record em Angola afirmou que "pauta e sempre pautou pela legalidade nos mais de 15 anos presentes em Angola e em todo continente africano", que não havia nenhum jornalista estrangeiro em seus quadros no país e que o diretor-executivo Fernando Henrique Teixeira (um dos quatro denunciados pela Procuradoria-Geral da República), que ocupava o cargo havia dez anos, seria substituído pelo jornalista angolano Simeão Mundula.

Entidades jornalísticas de Angola expressaram preocupação com o fechamento da Record e de outros dois canais ligados ao ex-presidente José Eduardo dos Santos (Zap Viva e Vida TV). Representantes do Instituto para a Comunicação Social da África Austral em Angola (MISA-Angola) afirmaram à imprensa local que a medida asfixia a liberdade de imprensa e que as emissoras deveriam ter sido notificadas das supostas irregularidades, e não fechadas abruptamente.

Vale lembrar que a Record em Angola chegou a ser advertida pela Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (Erca) por veicular ataques e críticas a religiosos angolanos que passaram a comandar a igreja no país.

Até o momento, a emissora continua sob o comando de nomes ligados à Universal no Brasil, mas os dissidentes angolanos têm dado sinalizações de que podem iniciar uma guerra para assumir o controle da emissora no país porque, segundo eles, ela foi erguida com dinheiro recolhido nos templos e pertence à igreja.

Acusação de evasão de divisas após Fogueira Santa

Novo líder da Universal em Angola, Bezerra Luís afirmou à televisão pública do país que a antiga liderança da igreja usava bispos, pastores e suas mulheres a fim de levar parte do dinheiro arrecadado em Angola para outros países, como Brasil e África do Sul, geralmente depois de eventos conhecidos como Fogueira Santa.

Nesses eventos, os fiéis são instados a sacrificarem valores elevados em dinheiro para receber em retorno de Deus. "É uma troca. Deus nos dá a Sua plenitude e nós O entregamos tudo o que somos", explica o site da Universal.

Prédio da Igreja Universal em Lajeado, no Rio Grande do Sul

CRÉDITO,JONAS SAMUEL BETTI/BBC BRASIL

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Fiel da Igreja Universal em Lajeado (RS), na foto, disse ter sido coagida a doar tudo em um evento chamado 'Fogueira Santa', mas depois foi indenizada na Justiça

Em 2018, a gaúcha Carla Dalvitt conseguiu vencer uma disputa judicial com a igreja brasileira na qual afirmava ter sido coagida pela congregação religiosa a doar a ela tudo o que tinha e acabou ficando sem dinheiro e sem carro. Ela disse estar desesperada naquele momento, mas acabou mudando de ideia.

A igreja, entretanto, se recusou a devolver-lhe os valores. À época, a instituição afirmou que "o dízimo e todas as doações recebidas pela Universal seguem orientações bíblicas e legais, e são sempre totalmente voluntários e espontâneos".

O novo comando da IURD em Angola afirmou que não seguirá mais a teologia da prosperidade, doutrina que defende o pagamento de dízimo e considera a riqueza material uma benção de Deus, mas não está claro que linha doutrinária devem seguir.

Segundo Bezerra Luís, quantias enormes eram arrecadadas de fiéis pela Universal em Angola durante a Fogueira Santa. Em seguida, grupos de até 150 missionários angolanos e brasileiros que atuavam em Angola eram designados para visitar o Brasil e cada um deles, junto com suas mulheres, recebiam cerca de US$ 15 mil (quase R$ 75 mil em valores atuais) em dinheiro vivo para serem transportados na bagagem pessoal e entregues a um representante da igreja no Brasil.

A Receita Federal brasileira autoriza a entrada de até R$ 10 mil (ou o equivalente em moeda estrangeira) por pessoa sem necessidade de declarar a quantia às autoridades.

Além disso, a liderança angolana afirmou que havia também envio de dinheiro vivo escondido em carros de luxo que seguiam em direção à África do Sul, onde a Universal também atua desde 1992.

Por que só agora?

Diversos bispos e pastores angolanos afirmam que todos esses problemas ocorrem há anos. Mas por que só agora se movimentaram contra as lideranças brasileiras?

Há dois pontos principais. O primeiro foi a mudança de governo, mais especificamente a saída de José Eduardo dos Santos, que comandou Angola de 1979 a 2017.

A chegada de João Lourenço à Presidência e a mudança nas lideranças no país fizeram com que bispos e pastores angolanos da Universal no país avaliassem que a proximidade da igreja com o poder havia perdido força e, portanto, a tentativa de mudar o comando da instituição poderia prosperar.

O segundo ponto foi a chegada do bispo Honorilton Gonçalves a Angola em 2019 para liderar e tentar controlar as insatisfações internas da denominação no país, onde 41% da população é católica e 38%, protestante, segundo os dados mais recentes do governo angolano.

Segundo Acúrcio Estêvão, diretor jurídico e porta-voz da Ordem de Pastores Evangélicos de Angola, os relatos de vasectomia forçada e discriminação racial, por exemplo, são feitos há anos por missionários angolanos, que cobravam uma participação maior deles na condução dos rumos da instituição.

"Os bispos anteriores souberam gerir essa relação. Tinham consciência dos problemas. E quando arrebentasse um ou outro cano, eles conseguiam estancar aquilo e se mantinha um problema interno. Há muitos anos, ouço falar de problemas na Igreja Universal, mas era muito difícil ver um pastor ou um obreiro comentar esse problema fora da esfera da igreja. Mas isso ocorreu com Honorilton, porque os problemas não são novos, mas houve uma forma nova de lidar com eles, com arrogância."

Estêvão afirmou ter tentado mediar uma conciliação entre as lideranças brasileiras e os dissidentes angolanos a fim de evitar que o caso tomasse as proporções atuais. Mas os brasileiros rejeitaram qualquer negociação e disseram a ele que "Deus nunca negociou com o Diabo".

Crise levou a pressão sobre Bolsonaro

A crise teve desdobramentos políticos no Brasil. O governo Bolsonaro e parlamentares passaram a ser cobrados publicamente por membros da Universal com o objetivo de reverter a perda de comando da igreja em Angola, um dos 134 países em que a denominação evangélica divulga atuar.

O caso se agravou em meados de 2020, quando uma assembleia com membros da Universal em Angola determinou a dissolução de sua diretoria e a destituição do bispo brasileiro Honorilton Gonçalves e do presidente do conselho de direção da Universal, bispo Antonio Pedro Correia da Silva, além de ter encerrado o serviço eclesiástico de missionários brasileiros da Universal em todo o território de Angola. A Universal no Brasil disse que a assembleia foi fraudulenta.

À época, o próprio presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, havia tentando interceder em favor da igreja de Macedo, seu aliado e eleitor na campanha à Presidência. Ele enviou uma carta para o colega angolano, o presidente João Lourenço, manifestando preocupação com os acontecimentos no país e pedindo o aumento de proteção aos brasileiros.

Jair Bolsonaro de máscara

CRÉDITO,REUTERS/ADRIANO MACHADO/AGÊNCIA BRASIL

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Bolsonaro enviou carta ao presidente de Angola manifestando preocupação: 'Aumente a proteção de membros da IURD'

Além disso, a pressão da Universal e da bancada evangélica fez com que Bolsonaro, o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o embaixador do Brasil em Angola, Paulino Franco de Carvalho Neto, assumissem publicamente posições em defesa da igreja no país africano.

Mas a ofensiva diplomática não surtiu efeito e desde aquela época a Universal no país é comandada por angolanos. Membros do governo de Angola se apressaram em dizer publicamente que o caso era isolado e não prejudicaria a relação entre os dois países.

No Brasil, a crise gerou alguns sinais de que a igreja liderada por Edir Macedo poderia romper com Bolsonaro por causa da insatisfação com a atuação das autoridades brasileiras no caso. "O governo brasileiro, que deveria proteger os brasileiros em Angola, falhou nessa missão. Foi omisso e não atuou de forma ativa para evitar a deportação", disse a TV Record brasileira.

Mas especialistas ouvidos pela BBC News Brasil em maio de 2021 avaliaram que o possível rompimento com o presidente não iria além de ameaças por parte de Macedo.

"Há milhões de reais para o financiamento direto de campanhas de propaganda para a Record no governo Bolsonaro, via Secom (Secretaria de Comunicação). Como ela recebe por isso, não vai abdicar dessas verbas. Não vai sair de uma forma tão explícita do governo agora", disse à época o teólogo protestante Fábio Py, professor do programa de pós-graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

Universal nega acusações e fala em perseguição

A Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil emitiu diversos comunicados sobre o assunto desde que foi alvo das primeiras denúncias, em novembro de 2019. Segundo a instituição religiosa, desde então criminosos têm usado violência e fraude para expulsar a Universal de Angola e roubar "o patrimônio construído com o suor de todos os fiéis angolanos ao longo de muitos anos".

A IURD costuma afirmar que sempre se pautou pela moralidade, respeito às autoridades constituídas e a legislação vigente, e que até o momento não pode ter acesso à investigação e apresentar esclarecimentos sobre as acusações que circulam na imprensa angolana.

"Pese embora as gravíssimas imputações criminais vertidas no comunicado à imprensa, cumpre esclarecer que a IURD Angola e os seus actuais representantes nunca tiveram acesso aos factos e aos elementos de prova que, em concreto, sustentam as referidas imputações criminais."

Para a Universal no Brasil, há vazamentos constantes da investigação sigilosa na mídia angola com o objetivo de "fazer o julgamento no 'tribunal das ruas' e das 'redes sociais', criando na opinião pública a ideia de que a IURD e os seus representantes são um conjunto de criminosos a actuar no território angolano".

A igreja disse não reconhecer Valente Bezerra Luís como líder religioso da denominação em Angola, alçado ao posto numa assembleia fraudada, segundo ela. Segundo a Universal no Brasil, o braço angolano da instituição é comandado atualmente pelo bispo Alberto Segunda.

Fachada do Templo de Salomão, da Universal, em São Paulo

CRÉDITO,AGÊNCIA BRASIL

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Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil afirma ser vítima de perseguição e fake news

Sobre a expulsão de membros brasileiros da Igreja de Angola, a Universal no Brasil afirmou, por exemplo, que em 10 de maio de 2021, 34 missionários e suas esposas foram chamados à PGR para prestar esclarecimentos sobre a investigação.

Mas "num acto que reputamos de contrário da dignidade da pessoa humana", segundo a igreja, nove deles passaram horas sem comida e depois foram deportados do país sem a permissão de buscar pertences pessoais.

Acerca das acusações de racismo, a igreja afirmou à BBC News Brasil que essas denúncias são "mentiras absurdas" que visam "confundir a sociedade angolana" e que, na verdade, são os membros brasileiros do seu corpo eclesiástico que têm sido alvo de racismo e xenofobia.

"Basta frequentar qualquer culto da Universal, em qualquer país do mundo, para comprovar que bispos, pastores e fiéis são de todas as origens e tons de pele, de todas as classes sociais."

"Imagine se agora chegarmos no Brasil e expulsarmos do Brasil os angolanos que não fizeram nada. Isso é xenofobia. A ONU, obviamente, vai tomar providências porque nós vamos apelar para a ONU para ver o que eles vão fazer porque essa situação não pode continuar", afirmou Edir Macedo em vídeo divulgado em março deste ano.

"Estaremos orando para que o Espírito Santo venha sobre todos nós, inclusive sobre as autoridades angolanas, para que todos tenham seus olhos abertos e atentos à palavra do Senhor Jesus."

Questionada pela reportagem sobre as acusações de esterilização forçada, a Universal no Brasil disse que essa é "uma fake news facilmente desmentida pelo fato de que muitos bispos e pastores da Universal, em todos os níveis de hierarquia da Igreja, têm filhos, inclusive em Angola".

A instituição afirmou que o que estimula "é o planejamento familiar, debatido de forma responsável por cada casal" e que "cada indivíduo é livre para manifestar sua vontade".

  • Matheus Magenta
  • Da BBC News Brasil em Londres
Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 1 de junho de 2021

Covid-19: pandemia pode gerar perdas bilionárias a gerações que estão na escola, diz estudo



Volta às aulas em São Paulo

CRÉDITO,EPA

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Jovens que perderam conteúdo escolar entre 2020 e 2021 podem ter perdas de renda futura que, se somada, pode passar de R$ 700 bi, segundo economista

As circunstâncias impostas pela covid-19 à educação no mundo inteiro, junto à falta de engajamento dos jovens com o ensino remoto e a evasão escolar no Brasil, estão provocando perdas significativas de ensino que - se não mitigadas rapidamente - vão se traduzir em perdas econômicas bilionárias para uma geração inteira de crianças brasileiras.

A estimativa é do estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, publicado nesta terça (1/6) pelo Insper e pelo Instituto Unibanco - e seus autores pedem ações urgentes tanto no controle da pandemia quanto em um compromisso social para evitar que a defasagem da educação da geração atual se converta em um problema permanente, tanto na vida futura dessas crianças quanto na produtividade de todo o país.

Liderado pelo economista Ricardo Paes de Barros, o estudo traça um modelo, a partir de parâmetros nacionais e internacionais de aprendizagem tradicional versus remota e a partir do engajamento dos alunos com o ensino, para estimar o quanto os estudantes brasileiros perderam (e seguem perdendo) em conhecimento e renda futura, por conta das disrupções causadas pela pandemia de covid-19.

O foco principal da pesquisa é nos estudantes que concluíram o 2° ano do ensino médio em 2020 e iniciaram o 3° ano em 2021 - e que, portanto, têm pouco tempo restante na educação básica para que possam ter sua aprendizagem recuperada.

A conclusão é de que esses jovens perderam, ao longo de 2020, proficiência em matemática equivalente a 10 pontos na escala Saeb (avaliação nacional que mede, periodicamente, o desempenho dos alunos). Em língua portuguesa, a perda estimada é de 9 pontos.


Isso equivale a quase a metade do que um aluno tipicamente aprende em português ao longo de todos os três anos de ensino médio e a dois terços de tudo o que ele aprende em matemática nessa etapa de ensino.

Se nada for feito, a perda dos alunos que cursam o 3° ano em 2021 pode chegar, ao final de 2021, a mais da metade de todo o aprendido em português e praticamente à totalidade do que seria aprendido em matemática no ensino médio.

A consequência direta disso é uma perda econômica futura.

"As pessoas serão menos produtivas, e vão ganhar menos porque vão produzir menos", explica Paes de Barros à BBC News Brasil. "Portanto, o PIB (Produto Interno Bruto, ou total de bens e serviços produzidos pelo país) vai ser menor. Elas perdem e o país perde."

O tamanho dessa perda vai depender de o quanto o país investir e agir para recuperar a aprendizagem perdida, diz ele. Mas, caso nada seja feito, os cálculos de Paes de Barros estimam que cada criança com ampla defasagem de aprendizagem na pandemia poder [a ter uma perda de renda de R$ 20 mil a R$ 40 mil ao longo de sua vida.

Extrapolando isso para todo o conjunto de estudantes dos ensinos fundamental e médio que estão tendo seu ensino descontinuado, chega-se a uma perda coletiva futura de renda de R$ 700 bilhões, podendo chegar a R$ 1,5 trilhão caso nada seja feito para mudar essa trajetória.

"Mas é uma perda potencial", ressalta Paes de Barros, que é um dos maiores especialistas do Brasil em estudo de desigualdade social e na educação.

Para impedi-la, diz ele, será necessário "um compromisso da sociedade brasileira com essa geração por uma ou duas décadas".

Estudante de m[ascara no notebook

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Engajamento com ensino remoto e combate à evasão escolar são consideradas estratégias cruciais para mitigar perdas na educação

Esses R$ 700 bilhões potenciais equivalem, nos valores atuais, a muito mais do que o país já perdeu economicamente com a crise sanitária da covid-19 no ano passado:

"O valor da queda na remuneração futura decorrente da perda de 10 pontos de proficiência durante a pandemia em 2020 é o dobro do valor social (R$ 350 bilhões) dos quase 200 mil óbitos por covid-19 também ocorridos em 2020 no país", diz o estudo.

Como minimizar as perdas

Embora algumas perdas ocorridas em 2020 tenham sido consideradas por Paes de Barros inevitáveis - no Brasil e no mundo inteiro - por conta da necessidade de interromper o ensino presencial e da tradicional menor eficiência do ensino remoto, outras poderiam (e ainda podem) ser mitigadas.

Os cálculos do economista estimam que ainda será possível evitar de 35% a 40% das perdas de ensino (e consequentemente de renda) caso se dobre o envolvimento dos alunos com o ensino remoto, se promovam ações mais intensas para evitar que os alunos desistam da escola e se aumentem as oportunidades de aprendizagem - por exemplo, com iniciativas de recuperação dos alunos, ações criativas para otimizar o ensino, além da adoção, a partir do segundo semestre, do ensino híbrido (ou seja, abrir as escolas para o ensino presencial, mesmo que apenas parcialmente, desde que haja circunstâncias sanitárias viáveis para tal).

"Entender o tamanho do desastre é o primeiro passo para não condenar essa geração", opina à BBC News Brasil Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, que participa do estudo.

"O urgentíssimo são os alunos do ensino médio, porque eles não têm muito tempo (restante na educação básica). Mas esta pandemia atravessa uma geração inteira, desde os que estão na educação infantil até aos 20 anos de idade."

Dito isso, Henriques prossegue, "não há por que ter determinismo de que (o futuro delas) está comprometido. Para não ter esse determinismo, a sociedade tem que gerar um acordo com todos os seus gestores. Preciso ter mais atenção com esta geração do que com qualquer outra geração que já tivemos. Esse atravessamento (da pandemia) é tão avassalador que, se a gente não fizer nada, teremos (essa perda) de R$ 700 bilhões, a produtividade desses jovens vai ser permanentemente baixa."

Retomada de atividades presenciais em SP no final de 2020

CRÉDITO,REUTERS

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Iniciativas de recuperação dos alunos, ações criativas para otimizar o ensino, além da adoção, a partir do segundo semestre, do ensino híbrido são ações que podem mitigar as perdas, segundo autores

Um dos elementos que balizaram os resultados do estudo foi a constatação, pela pesquisa Pnad Covid do IBGE, de que o grau de engajamento dos estudantes do ensino médio com o ensino remoto nas redes estaduais foi de, em média, 36% - ou seja, aproveitou-se pouco mais de um terço das horas letivas ministradas remotamente nessas redes.

Portanto, além de esforços para atrair os jovens de volta às aulas e permitir seu acesso ao ensino remoto, Henriques propõe a adoção urgente de políticas que aumentem a atratividade da educação, evitando que adolescentes abandonem o ensino e entrem precocemente no mercado de trabalho, em empregos sub-remunerados.

"Precisamos de políticas complementares, a principal dela é de renda", diz Henriques, defendendo subsídios financeiros para os jovens mais vulneráveis.

Para além dos estudantes do ensino médio, uma preocupação latente dos especialistas é com as crianças que estão em fase de alfabetização, processo que tem sido duramente prejudicado pelo ensino remoto.

Um estudo do Unicef, braço da ONU para a infância, apontou em maio que as crianças de 6 a 10 anos representavam o maior contingente entre os alunos que estavam sem acesso à educação no final do ano passado.

"Crianças de 6 a 10 anos sem acesso à educação eram exceção no Brasil, antes da pandemia. Essa mudança observada em 2020 pode ter impactos em toda uma geração", disse o Unicef.

Controle da pandemia e educação como prioridade real

Henriques critica a inércia do Ministério da Educação durante a pandemia, mas diz que tem observado ímpeto, em secretarias estaduais e municipais de ensino, na busca por soluções que permitam otimizar a educação nas difíceis circunstâncias atuais.

Testagem de covid-19 em escolas estaduais paulistas, em foto de outubro de 2020

CRÉDITO,GOVERNO DO ESTADO DE SP

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"Não tem jeito de tentar abrir a escola passando por cima da saúde. Mas temos que considerar, sim, a educação como atividade absolutamente essencial, que tem que ser executada com todos os critérios de cuidados de saúde possíveis, e garantir a vacinação de todos os envolvidos na educação e protocolos extremamente rígidos", defende Paes de Barros; acima, testagem de alunos e professores na rede estadual paulista, em foto de outubro de 2020

"A gente precisa criar um ambiente de inovação, que não é só tecnologia, mas de caminhos alternativos, saber o que está na fronteira em termos de adequação curricular, metodologias ativas (que colocam o aluno como protagonista de seu ensino), e efetivamente dizer que educação é prioridade. A sociedade brasileira nunca consegue dizer isso", argumenta.

"Ou a gente diz agora, ou vai ser muito difícil lá na frente. Isso não quer dizer que a gente vai resolver a educação. Mas o ciclo virtuoso é que as melhoras que fizermos para mitigar as perdas desta geração vão ter utilidade para uma educação de mais qualidade lá na frente."

O ponto de partida essencial, porém, é o controle da pandemia, opina Paes de Barros.

"Não tem jeito de tentar abrir a escola passando por cima da saúde. Mas temos que considerar, sim, a educação como atividade absolutamente essencial, que tem que ser executada com todos os critérios de cuidados de saúde possíveis, e garantir a vacinação de todos os envolvidos na educação e protocolos extremamente rígidos", defende o economista.

"Não dá para haver (a reabertura de escolas) a qualquer custo, não faz sentido fazer isso a qualquer custo, apesar do valor imenso sendo perdido com a educação. Isso só aumenta pressão de que, hoje, a melhor política educacional brasileira é a política de saúde. O que não quer dizer que não há um milhão de coisas que se possa fazer na educação enquanto isso."

Paes de Barros defende, ainda, que é preciso lançar mais luz sobre o tamanho das perdas da pandemia sobre a educação.

"Enquanto telejornais mostram todo dia o número de óbitos da pandemia e falam mensalmente na perda de renda (pelo desemprego), raramente a gente escuta sobre o quanto está sendo perdido de proficiência no Brasil. Todo dia temos 35 milhões de crianças deixando de aprender um monte de coisas. É algo imenso. (Mas), ao contrário do que aconteceu com a saúde, a perda com a educação é remediável. (...) O Brasil tem educadores excepcionais, capazes de fazer com que a educação chegue ao nível na canadense, finlandesa, se quiser. A questão é dar voz a essas pessoas. Se a gente não quer que esta geração seja marcada pra sempre, que por décadas reduzam o PIB brasileiro, a gente precisa dar a elas educação que não deu a nenhuma outra geração. É o grande desafio brasileiro. Ainda podemos tirar dessas crianças um fantástico cientista, médico, escritor, jornalista, engenheiro. Temos tempo, mas não vai ser fácil, nem barato. Vai precisar de muito trabalho."

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Homem baleado pela PM perdeu o olho, mas nem estava na manifestação



Daniel Campelo da Silva, 51 anos, morador dos Torrões, zona oeste do Recife, foi uma das pessoas violentamente atingidas pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco
Crédito: Hugo Muniz

Daniel Campelo da Silva, 51 anos, morador dos Torrões, zona oeste do Recife, foi uma das pessoas violentamente atingidas pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco na manifestação que pediu vacinas e Fora Bolsonaro. A bala de borracha disparada por um policial do Batalhão de Choque atingiu o olho esquerdo dele. No final da tarde, a família foi avisada que Daniel havia perdido o globo ocular.

E ele sequer estava participando do ato deste sábado, 29 de maio. Daniel trabalha com adesivagem de carros e havia ido ao centro da cidade para comprar material. Um amigo taxista que passava pelo local socorreu a vítima, que foi levada ao Hospital da Restauração (HR). Em seguida, Daniel foi transferido para a Fundação Altino Ventura (FAV), mas, por conta do edema muito grande, não conseguiu passar pelo procedimento cirúrgico necessário. Foi então reencaminhado ao HR, onde está sendo medicado e ficará em observação até amanhã de manhã, quando voltará à FAV para a cirurgia. 

“Painho nem liga muito para protesto, nem é de assistir, não gosta muito dessas coisas de política. Ele estava indo trabalhar”, lamenta a filha Daniele de Sena, atualmente desempregada. Autônomo, Daniel tem uma filha recém-nascida e um filho de três anos com autismo.

Além dele, deram entrada no HR Jonas Correia de França e Ednaldo Pereira de Lima, nenhum dos dois tiveram as idades informadas. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, Jonas também foi ferido nos olhos. Depois de receber atendimento na unidade foi transferido com quadro estável para a FAV.

A informação é de que Jonas tinha largado do trabalho pouco antes do ataque da polícia e também não participava da manifestação. Já Ednaldo foi atingido por uma bala de borracha em uma das pernas. Ele permanece sendo atendido no HR com previsão de alta ainda hoje.

Com dificuldades financeiras, a família da Daniel pede ajuda. Quem puder fazer doações de qualquer quantia, o PIX é 70951990438 (Evelyn Maria).

https://marcozero.org/

Raíssa Ebrahim, Kleber Nunes


Professor Edgar Bom Jardim - PE

MINISTÉRIO DA SAÚDE CEDE À INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E ATRASA COMBATE A DOENÇAS CRÔNICAS





CONTRA AS BOAS PRÁTICAS que a condução da coisa pública prevê, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, atendeu a um pedido da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, a Abia, e atrasou a divulgação do próximo plano estratégico para combate às doenças crônicas não transmissíveis, elaborado após consulta pública.

A decisão do chefe da Secretaria de Vigilância em Saúde, a SVS, provocou um mal-estar entre funcionários da área técnica, que o acusam de má gestão. Também escreve mais uma página nos registros de interferência das empresas de alimentação em políticas sanitárias.

Depois de sucessivas tentativas barradas pelos técnicos da pasta, a Abia — que representa empresas como BRF, Bunge, Danone, McDonald’s e Nestlé — obteve uma audiência com Medeiros em 4 de março deste ano para tratar da edição de 2021-2030 do “Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil”.

Na reunião, a associação de empresas afirmou que queria, mas não conseguiu participar da consulta pública sobre o documento. Além disso, criticou a forma como ela foi elaborada. As informações constam na ata do encontro, obtida pela reportagem de O Joio e O Trigo por meio da Lei de Acesso à Informação, a LAI.


Márcio Maciel, diretor de Assuntos Institucionais e Inteligência Competitiva da Abia, justificou a ausência nas discussões do plano dizendo que “não conseguiram encaminhar sugestões por não se sentirem seguros com o curto prazo estipulado”.

A consulta pública foi aberta inicialmente pelo período compreendido entre 30 de setembro e 29 de outubro do ano passado. Para permitir maior participação de interessados, o tempo de recebimento de contribuições foi estendido até 30 de novembro, perfazendo 62 dias ao todo — que é considerado um longo prazo para práticas do tipo, segundo fontes que conhecem o processo e que falaram em condição de anonimato.

O Ministério da Saúde informou a esta reportagem, em nota enviada pela assessoria de imprensa, que a consulta pública “contou com ampla participação da sociedade”. Contabilizou contribuições vindas de 17 estados e do Distrito Federal, feitas por cidadãos, entidades públicas e privadas, como universidades, fundações, sociedades científicas e, também, empresas e associações. Ainda assim, a Abia nem procurou ou quis participar.

Apesar disso, Medeiros atendeu ao chororô da indústria de alimentos, afirmando que “o plano não será publicado sem a contribuição” da Abia, conforme a ata da audiência de março.

Ao tomar a decisão, o secretário ainda declarou que a associação de empresas é “representante ativo e relevante para a construção de políticas públicas, acenando com uma questionável, no mínimo, proximidade entre os interesses público e privado. Em consonância com o secretário, Maciel, o diretor da Abia, disse que a entidade tem uma “parceria de longa data” com o Ministério da Saúde.

Na reunião, ficou acordado que as contribuições da Abia deveriam ser enviadas por escrito, em um ofício — que ainda não aconteceu.

Até esta quarta-feira, 19 de maio, o plano de combate a doenças crônicas não foi publicado, mesmo que a versão anterior já esteja ultrapassada. Por enquanto, há apenas uma versão parcial do documento, não consolidada, acessível no site do Ministério da Saúde.

A demora da Abia para se manifestar levanta entre técnicos da pasta, ouvidos sob condição de anonimato — por temerem represálias —, a suspeita de que a indústria alimentícia não quer deixar os seus objetivos claros neste caso.

Um dos propósitos seria desincentivar o uso do termo alimentos ultraprocessados nos rótulos e embalagens. Outro, o de evitar expor a relação do maior consumo de produtos das empresas associadas com o aumento dos índices de obesidade no país nas últimas décadas. Caso a entidade remeta um ofício por escrito, teria, então, que assumir publicamente uma postura anticientífica e antissaúde.

Procurada por meio de sua assessoria de imprensa para comentar o desfecho da reunião com a SVS, a Abia não retornou aos contatos desta reportagem.

Abia contra o uso do conceito ultraprocessados

O conceito de alimentos ultraprocessados é uma pedra no sapato das corporações alimentícias. Oriundo da teoria da Classificação Nova de Alimentos, datada de 2009, o termo abrange grande parte do portfólio de produtos das empresas afiliadas à Abia. O consumo de ultraprocessados está relacionado ao desenvolvimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis e, também, ao ganho de peso corporal.

Confrontada com o crescente de evidências científicas que ligam os ultraprocessados a problemas de saúde, a postura da Abia é tergiversar. Faz isso ao dizer que o combate às doenças crônicas precisa de uma abordagem mais ampla, e, não raro, usa argumentos que sugerem que esses problemas de saúde são resultado de condutas individuais, como a falta de atividade física na população.

Essa, aliás, não é a primeira vez que a Abia investe contra o uso do conceito alimentos ultraprocessados. Desde a publicação do Guia Alimentar para a População Brasileira, em 2014, a indústria nacional se queixa da utilização desse termo científico. Como mostramos, o então presidente da Abia, Edmundo Klotz, já naquela época, tentou engavetar a publicação do Guia Alimentar, pressionando o ministro Arthur Chioro — que, por sua vez, não cedeu.

Em setembro do ano passado, a associação tentou outra vez, mas o tiro saiu pela culatra. Articulou com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Mapa, um pedido de reedição do Guia Alimentar para a População Brasileira.

O objetivo era conseguir a revisão do uso do termo alimentos ultraprocessados. O conceito chegou a ser chamado de “algo cômico” em um ofício do Mapa ao Ministério da Saúde, a despeito de seu uso cada vez mais consolidado no meio científico. Sob intensas críticas de cientistas, profissionais de saúde e organizações da sociedade civil, a iniciativa não vingou.

A investida da indústria de alimentos sobre o Ministério da Saúde, portanto, não é bem uma novidade. O que muda, nesse caso, é o fato de funcionários do alto escalão da pasta estarem dispostos a atender de pronto aos pedidos das corporações. O presidente-executivo da Abia, João Dornellas, já disse, em um evento da indústria realizado em junho de 2019, que a eleição de Jair Bolsonaro era uma chance de aproximação entre o governo federal e as empresas.

Em alguns estados, essa aproximação desejada por Dornellas já é uma realidade. Em São Paulo, como mostramos recentemente em O Joio e O Trigo, o representante da Abia foi indicado pelo governador João Doria, do PSDB, para ser o presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo, o Consea-SP.

Ele foi eleito para o cargo após uma articulação do setor empresarial com o Executivo paulista garantir o seu nome como o mais votado de uma lista tríplice chancelada por Doria. Controversa, no mínimo, a escolha provocou intensas críticas de organizações da sociedade civil. Apesar de o resultado não ter sido divulgado oficialmente, Dornellas já presidiu o primeiro encontro do Consea-SP em 15 de abril.

Consequências internas e externas

Após a decisão de Medeiros favorável à Abia, a então coordenadora-geral de Vigilância e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, a nutricionista Luciana Monteiro Vasconcelos Sardinha, pediu demissão. Ela era uma das principais integrantes do quadro técnico da pasta contrárias a atender às demandas da Abia.

De acordo com o relato de colegas — que falaram sob a condição de não serem identificados —, Sardinha se opunha à ideia de receber sugestões no plano de combate a doenças crônicas após o encerramento da consulta pública.

A resistência da nutricionista, cuja experiência é de mais de 20 anos no planejamento e execução de políticas de saúde pública, rendeu-lhe represálias. A interlocutores, ela disse que se sentiu pressionada pelo chefe da SVS a ceder aos caprichos da Abia.

A decisão do secretário de se reunir com a associação foi a gota d’água para Sardinha colocar o cargo à disposição, segundo outros servidores do Ministério da Saúde ouvidos pelo Joio. A exoneração da coordenadora foi publicada em 22 de março deste ano.

Considerando a trajetória, a conduta de Medeiros é um tanto incomum. Seu currículo mostra que ele é um pesquisador com experiência em instituições públicas, tendo ocupado postos em universidades e hospitais universitários.

Medeiros é graduado em química, com mestrado pela Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, e doutorado pela Universidade de São Paulo, a USP. Apesar de chefiar a área de vigilância em saúde, tem um perfil clínico, de especialidade em abordagens individuais, e não epidemiológico — isto é, de abordagens coletivas.

Ele chegou à SVS após ser entrevistado e contratado pelo então ministro e general da ativa do Exército Eduardo Pazuello. O secretário foi indicado ao cargo por um dos líderes do bloco de deputados federais denominado de “centrão”, informa reportagem do site Poder 360.

A estranha cumplicidade entre Medeiros e Abia levanta a suspeita de infrações à Constituição e ao Código Penal. Essa é a opinião do advogado e doutorando em filosofia do direito pela USP, Victor Barau, que comentou, a pedido desta reportagem, as implicações do caso sem ser informado dos nomes e dos postos dos atores envolvidos. “O problema é se existem ganhos de vantagens diretas ou indiretas para um ou para ambos os lados da relação”, ele diz.

Quando um agente público quebra um rito administrativo habitual e favorece um determinado ator privado, há implicações. O servidor em questão pode ser investigado por dois motivos, segundo o advogado. Tanto por não cumprir os preceitos de impessoalidade, previstos no artigo 37, da Constituição Federal (sobre a moralidade pública), quanto por infração do artigo 321, do Código Penal, que versa sobre patrocinar interesse privado no meio público.

“Em tese, poderíamos caracterizar o que foi apurado até aqui como atos que poderiam ser caracterizados como crime de advocacia administrativa. Ou até mesmo de improbidade administrativa, por se atentar contra princípios da administração pública ante a ausência de transparência necessária a tais atos oficiais, ou até mesmo, se for o caso, por tal regulação implicar numa afetação de preços de mercado”, afirma o advogado.

“Daí que toda essa situação, a meu ver, justificaria uma análise mais detalhada e aprofundada sobre o assunto pelas autoridades judiciárias competentes para se apurar a conduta dos agentes públicos envolvidos e os atores sociais que participaram de tais atos”, conclui Barau.

Questionado por meio da assessoria de imprensa sobre a motivação do encontro do titular da SVS com a Abia, o Ministério da Saúde não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Em um e-mail enviado a esta reportagem, a SVS limitou-se a informar que o “plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil” está atualmente “em fase de diagramação” e “assim que for concluído será divulgado pela pasta”.

Indústria e doenças crônicas

Por mais que a Abia diga que não, tentando tapar o sol com a peneira, o corpo de evidências científicas que mostram a relação do consumo de ultraprocessados com o desenvolvimento de doenças crônicas e o ganho de peso corporal tem se tornado mais robusto e consolidado nos últimos anos. Para não deixar dúvida, alguns exemplos desses alimentos são macarrões instantâneos, bolachas, doces, embutidos, entre outros.

Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou, em um artigo científico, que 65% dos alimentos industrializados no Brasil contêm açúcares adicionados à formulação. Para obter esse percentual, os autores do estudo, integrantes do Núcleo de Pesquisas de Nutrição em Produção de Refeições (NUPPRE), analisaram as informações contidas nos rótulos de 4.805 produtos disponíveis na loja de uma grande rede de supermercados do país.

O achado da pesquisa soma-se a outros indícios do uso excessivo de açúcar pela população brasileira, ao lado do maior consumo de alimentos ultraprocessados, conforme mostram alguns indicadores, como a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda para adultos um consumo diário de até 50 gramas do ingrediente. A mediana de açúcar adicionado encontrado nos produtos analisados pelo estudo era de 18,2 a cada 100 gramas — a mediana é uma espécie de cálculo de média, usado em estatística para corrigir eventuais distorções na base da amostra.

Entre os alimentos com açúcares adicionados estavam até alguns que supostamente são considerados de melhor qualidade. Na verdade, não são, mas costumam ser propagandeados dessa maneira.

“Muitos alimentos que têm esse halo saudável como, por exemplo, produtos lácteos e barras de cereal — um terço delas é açúcar — não são tão saudáveis quanto as pessoas imaginam que sejam”, comenta Tailane Scapin, uma das autoras do estudo, doutoranda do programa de pós-gradução em nutrição da UFSC e do NUPPRE.

No Brasil, o consumo de alimentos ultraprocessados vem em uma crescente nas últimas duas décadas. De 12,6% do total de calorias adquiridas para consumo em casa pelas famílias brasileiras entre 2002 e 2003, esses itens saltaram para 18,4% entre 2017 e 2018, de acordo com as informações mais recentes da Pesquisa de Orçamento Familiares, a POF, do IBGE.

Entre outras explicações, um dos motivos para essa tendência é a diminuição no preço dos ultraprocessados e o aumento do custo da comida in natura e minimamente processada.

Paralelo a isso, no mesmo período, os índices de obesidade e excesso de peso deram um salto. A obesidade passou de 9,6% entre homens e 14,5% entre mulheres em 2002-2003, segundo a POF, para 22,8% entre homens e 30,2% entre mulheres, informa a medição da Pesquisa Nacional de Saúde.

Nas duas categorias, o sobrepeso também disparou de 43%, no início dos anos 2000, para mais de 60% no período mais recente. Como se sabe, o excesso de peso é um fator de risco para diversas enfermidades.

Anteriormente à pandemia de coronavírus, as doenças crônicas não transmissíveis correspondiam à principal causa de morte no Brasil. Apresentavam, em 2017, uma taxa de 172,4 mortes a cada 100 mil habitantes, um patamar bem superior às provocadas por doenças infecciosas (36,1 a cada 100 mil) e causas externas (77,6 a cada 100 mil).

Não custa lembrar que todas essas condições crônicas assinaladas também estão, reconhecidamente, relacionadas aos casos mais graves de covid-19 e à maior mortalidade de uma doença que já matou mais de 430 mil brasileiros, segundo o site covid.saude.gov.br.

 POR: theintercept.com/

Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 30 de maio de 2021

Carta do Cacique Seattle para o presidente americano




Cacique Seattle em 1860
Cacique Seattle em 1860 - Wikimedia Commons


"Tudo quanto fere a Terra, fere também os filhos da terra." (Cacique Seattle, 1885) Carta do Cacique Seattle, da tribo Duwamish, do Estado de Washington, para o Presidente Franklin Pierce, dos Estados Unidos, em 1855, depois de o governo ter dado a entender que pretendia comprar o território da tribo. "O grande chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. 

O grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e sua benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Porém, vamos pensar em tua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe em Washington pode confiar no que o chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alternação das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem". Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é-nos estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água. Como podes então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre o nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias arenosas, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual a outro. Porque ele é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de exauri-la, ele vai embora. Deixa para trás o túmulo dos seus pais, sem remorsos de consciência. Rouba a terra dos seus filhos. Nada respeita. Esquece a sepultura dos antepassados e o direito dos filhos. 

Sua ganância empobrecerá a terra e vai deixar atrás de si os desertos. A vista de suas cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas talvez isso seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem um lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem da primavera ou o tinir das asas de insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é para mim uma afronta contra os ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo, à noite? 

Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho da água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho. Porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar - animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo ele é insensível ao seu cheiro. Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição. O homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser certo de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso do que um bisão que nós, os índios, matamos apenas para sustentar nossa própria vida.

 O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, os homens morreriam de solidão espiritual porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo está relacionado entre si. Tudo que fere a terra fere também os filhos da terra. Os nossos filhos viram seus pais serem humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, e envenenam seu corpo com alimentos doces e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, até mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que tem vagueado em pequenos bandos nos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso. De uma coisa sabemos que o homem branco talvez venha um dia a descobrir: - O nosso Deus é o mesmo Deus! - Julgas, talvez, que o podes possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira. E quer bem igualmente ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. E causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo seu Criador. O homem branco também vai desaparecer talvez mais depressa do que as outras raças. Continua poluindo tua própria cama, e hás de morrer uma noite, sufocado nos teus próprios dejetos! Depois de abatido o último bisonte e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, e quando as colinas escarpadas se encherem de mulheres a tagarelar - onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará o adeus à andorinha da torre e à caça, o fim da vida e o começo da luta para sobreviver. 

Talvez compreenderíamos se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar os desejos para o dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos, temos de escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos, é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os últimos dias conforme desejamos. 

Depois do último homem ter partido e a sua lembrança não passar de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças como era a terra quando dela tomaste posse. E com toda tua força, o teu poder, e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum." 

Biblioteca Funai

Professor Edgar Bom Jardim - PE

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Bom Jardim perde o Pastor Valdeci, o Pastor do povo





O Corpo do Pastor Valdeci será sepultado no início da noite de hoje. Antes de ir para o Cemitério de Bom Jardim, haverá uma passagem do carro funerário em frente à Igreja Batista. 

Nossa querida Bom Jardim perde nesta quinta-feira, 27 de maio de 2021, um grande servo do cristianismo em nossa cidade. Pastor Valdecí Manoel da Silva, homem generoso, amigo de todos, pessoa simples que vivia no meio de todos nós. Grande pai, esposo e amigão da Igreja e do povão.

Pastor Valdeci, natural de Limoeiro, chegou em Bom Jardim no início dos anos 90.  A Igreja Batista da nossa cidade tinha poucos membros. Com sua fé, carisma, simplicidade, união  e trabalho de evangelização conseguiu novos adeptos para a Igreja. Homem simples, pobre, honesto, trabalhador, grande empreendedor na ação evangelizadora, atuou atraindo novos devotos, falava simples, falava a linguagem do povo. Fez um trabalho social muito importante. Ajudou famílias carentes, trouxe a juventude bonjardinense para dentro  da Igreja Batista. Pregou a união de todas igrejas aqui em Bom Jardim. Fez amizades com padres e  pastores de outras denominações religiosas. Deixou um grande trabalho espiritual.

Na condição de líder espiritual e cidadão também participava da vida pública, marcava presença em   conferências  municipais de saúde, educação, assistência social, reivindicava melhorias para a comunidade em geral e para sua Igreja.  Visitava escolas, feiras livres, lojas, comunidades. Organizou passeios para os irmãos da Igreja. Constantemente convidava  pastores de outras cidades para celebrar, fazer palestras e  encontros de irmãos em nossa cidade. 

Pastor Valdeci foi um um revolucionário, reformou , ampliou o prédio da Igreja Batista, gostava de cantar,  organizou grupo musical da Juventude Batista, inovou a administração,  ajudou a construir outros templos em comunidades do município. Pastor Valdeci conseguiu ajudar muita gente. Livrou pessoas do mundo das drogas e de caminhos errantes. Vez ou outra falava de seu namoro com Dona Maria Soares, contava suas histórias de vida errante, dificuldades e superação.  É de fato um vencedor. Sempre agradecia ao bom Deus por suas vitórias com o povo da Igreja e familiares. Em suas pregações sempre pedia a Deus por Bom Jardim, por nosso povo e pelos enfermos. Sempre!

Firme na sua fé, firme na sua Igreja, firme na vontade de servir ao próximo, firme na arte de fazer amigos.  Estas são algumas memórias do Pastor Valdeci, servo da Igreja Batista, Crente no amor e na infinita bondade de Jesus. Obrigado Pastor!

Por. Edgar Severino dos Santos.

*Imagem Igreja Batista

Professor Edgar Bom Jardim - PE