segunda-feira, 24 de maio de 2021

Como a fome deixa 19 milhões de brasileiros mais vulneráveis à covid-19: 'Não há sistema imune que resista'



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A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia

"Quem quer que tenha sido o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente", diz o médico Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), em referência a um lema da nutrologia.

A falta de alimentos em quantidade e qualidade nutricional suficientes pode acarretar em crianças danos neurológicos, problemas de saúde mental, queda no rendimento escolar, diabetes, obesidade, hipertensão e maior vulnerabilidade a doenças infecciosas como a covid-19.

A fome, que crescia no Brasil na última década, acabou se agravando na pandemia. Em 2020, 19 milhões de pessoas viviam em situação de fome no país, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil. Em 2018, eram 10,3 milhões. Ou seja, em dois anos houve um aumento de 27,6% (ou quase 9 milhões de pessoas a mais).

A Unicef (braço da ONU voltado para crianças e adolescentes) afirmou que, no mundo, "6,7 milhões de crianças menores de cinco anos podem sofrer definhamento (baixo peso para a altura) — e, portanto, tornar-se perigosamente subnutridas — em 2020 como resultado do impacto socioeconômico da pandemia de covid-19".

O fechamento das escolas em grande parte do país também levou a interrupções da merenda escolar, fundamental na alimentação de parte dos alunos da rede pública. Sem falar da inflação, que corroeu o poder de compra da população, principalmente de alimentos pela parcela mais pobre.


O impacto é também imunológico. A piora na alimentação de muitos brasileiros na pandemia tem impacto direto, segundo estudos e especialistas, na capacidade do corpo de combater invasores como o Sars-CoV-2. E por muito tempo.

Um estudo recente da Universidade da Califórnia sobre a prevalência de doenças crônicas no Brasil apontou que adultos que passaram fome na infância tinham maior probabilidade de desenvolver diabetes e osteoporose décadas depois.

A BBC News Brasil explica abaixo o que é a fome e qual foi o impacto dela durante a pandemia no prato e no sistema imunológico de milhões de brasileiros.

O impacto da fome no sistema imunológico

Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano, embora ela por si só não seja capaz de prevenir doenças infecciosas como a covid-19. O que comemos afeta diretamente seu funcionamento e, por isso, como nos sentimos.

Para entender esses mecanismos, é preciso primeiro entender como a fome física é ativada e inibida. Nosso corpo precisa de energia para funcionar, e sua geração demanda "combustível", no caso os nutrientes: os macro, que são as proteínas, carboidratos e gorduras, e os micro, que incluem vitaminas e minerais.

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Uma dieta equilibrada é fundamental para o sistema imunológico do corpo humano

A ingestão deles é controlada pelo hipotálamo, parte do cérebro localizada atrás dos olhos. Células nervosas presentes ali produzem, ao serem ativadas, a sensação de fome. Isso ocorre por meio de duas proteínas que "causam" a fome. Perto dali há outra região do sistema nervoso capaz de "neutralizar" a fome, por meio de outras duas proteínas.

A grosso modo, esse dois conjuntos de células nervosas estão ligados a sinais como "estou com fome" ou "estou sem fome". A transmissão desses sinais envolve também hormônios que circulam no sangue, principalmente, que podem chegar de várias regiões do corpo que cuidam da ingestão de alimentos e do armazenamento de energia, como o intestino e o pâncreas.

Mas o que é a fome em si e de onde vêm os "dados" para o cérebro "saber o que fazer"?

Bem, a fome física é a necessidade de comer, que nos leva a sair em busca de alimentos para, portanto, continuarmos vivos. É um sinal fisiológico. Mas também tem a ver com subalimentação e desnutrição, ou melhor, a impossibilidade de se alimentar ou o fato de fazer isso de forma errada. Logo, não se trata apenas de estômago cheio ou vazio, mas também da carga de nutrientes no intestino delgado, por exemplo. Uma pessoa obesa pode estar desnutrida.

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que o eixo intestino-cérebro é responsável por essa transmissão de mão dupla. A microbiota intestinal, composta principalmente por bactérias que colonizam o corpo logo após o nascimento, produz diversas substâncias que modulam o sistema nervoso central. É dessa relação com o sistema nervoso central que surgem as ordens como "coma mais" ou "coma menos" e a regulação do metabolismo.

O alimento e seus nutrientes entram como combustível necessário para o funcionamento desses processos.

Imagine uma cenoura, vegetal rico em uma substância antioxidante que protege a célula, o carotenoide. Ela é mastigada, segue pelo trato digestório, é digerida no estômago e absorvida no intestino delgado. Depois de uma série de processos de quebra, a cenoura é transformada em macro e micronutrientes, segue pela corrente sanguínea até o fígado, onde é metabolizada por meio de milhares de reações enzimáticas. Depois volta para a corrente sanguínea e, com ajuda do coração, chega ao organismo como um todo.

Um dos destinos são células, que para sobreviver também precisam de energia, que é basicamente a glicose, uma das moléculas resultantes da quebra dos nutrientes da cenoura.

Mas "cada refeição que você ingere, você está alimentando não apenas você, mas milhões e trilhões de bactérias no seu intestino", explica Ribas Filho.

E essas bactérias presentes no intestino têm papel fundamental nas defesas do corpo contra invasores, já que o sistema imunológico tem em sua base a "microbiota comensal". A maioria das células imunes do corpo ficam nessa região, e a microbiota intestinal atua no amadurecimento, no desenvolvimento e na regulação imunológica.

Mas não é qualquer quantidade ou variedade de comida que fará todo esse processo dar certo. "O segredo da vida está no meio", resume o nutrólogo.

Em níveis adequados, os nutrientes fazem com que o sistema imunológico adquirido, aquele que foi gerado ao longo da vida, tenha uma "produção maior de imunoglobulina, mais eliminação de bactérias, mais eliminação de vírus, mais eliminação de fungos, uma resposta autoimune maior e destruição de células, quer seja cancerosas ou infectadas por vírus".

Nutrientes também estimulam o timo (glândula do sistema imunológico) a produzir linfócitos, que expressam citocinas anti-inflamatórias e macrófagos, que farão fagocitose (processo de ingestão e destruição) e te defendem contra agentes bacterianos, fungicidas, fúngicos, vírus e células cancerosas."

E a falta de nutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo. "Quando há deficiência de nutrientes, há, vamos assim dizer, uma diminuição na produção de imunoglobulinas, ou seja, aquelas células, aquelas proteínas que lhe protegem. E, consequentemente, você tem uma redução na sua eliminação bacteriana e na sua destruição de células infectadas."

Segundo Ribas Filho, não é por acaso que, em geral, pessoas desnutridas demandam mais cuidados intensivos do que atletas, por exemplo. A relação direta com uma maior gravidade da doença vale também para obesidade, tabagismo e sedentarismo, por exemplo.

Só que a solução não é tirar o atraso de uma hora para a outra.

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A falta de nutrientes faz toda a diferença na defesa do corpo

"O problema é que muitas vezes se confunde, e se oferece uma grande quantidade de energia para aquela pessoa achando que está desnutrida e magra. Mas se você for observar em favelas, nas classes mais pobres, no Brasil e em outros países, a grande maioria são mulheres obesas. E elas estão desnutridas. Mas porque têm uma ingestão altíssima de calorias, de macronutrientes, principalmente carboidratos, que são baratos, e gorduras."

Mas qual seria o tempo ideal? Bem, isso varia de uma pessoa para outra, mas em geral dura pelo menos três meses para mudanças na alimentação começarem a surtir efeito no sistema imunológico.

"O sistema imunológico demanda tempo para começar a produzir as suas células de defesa, pois tem as células inatas, com as quais você já nasce, e outras que com o passar do tempo você vai se adaptando e vai recebendo e seu organismo vai se defendendo. Se nós fizéssemos uma avaliação, por exemplo, em um paciente X que tem deficiência de zinco e cálcio e fizéssemos a reposição, é lógico, evidente, que seria o ideal. Mas também não posso dar altas doses de vitaminas ou de minerais porque o excesso também tem ação pró-oxidante. A falta é um problema e o excesso também. Baseado nisso, é o velho segredo da vida que está no meio."

Consequências da desnutrição no combate ao coronavírus

Ao longo da pandemia, grupos de pesquisa investigaram as consequências da nutrição deficiente em pacientes infectados com covid-19. E as causas para problemas de alimentação vão além da fome ligada à pobreza.

Um dos primeiros estudos sobre o tema foi publicado no European Journal of Clinical Nutrition em abril de 2020 a partir de dados de 182 pacientes de Wuhan, cidade chinesa onde começou oficialmente a pandemia, no fim de 2019.

Os pesquisadores levantaram diversas hipóteses para os quadros de desnutrição, presente em metade dos pacientes com covid-19, principalmente os idosos. Entre eles, o impacto de sintomas gastrointestinais na ingestão de alimentos, a perda de apetite por ansiedade, a redução dos níveis de algumas proteínas durante a resposta do corpo ante uma inflamação grave e o quadro de diabetes mellitus (associado a problemas no metabolismo de nutrientes).

Outro estudo sobre o tema foi publicado no British Journal of Nutrition e produzido por pesquisadores de Toulouse, cidade do sul da França. Eles acompanharam 80 pacientes diagnosticados com covid-19 que foram internados em um hospital da região.

Do total, 30 foram diagnosticados com subnutrição. Esse quadro é definido a partir de diversos critérios, como o índice de massa corporal (relação entre peso e altura), perda de peso recente e redução na ingestão de comida.

No caso desses pacientes, muitos passaram a ter problema com alimentação depois de contraírem covid-19, que costuma afetar o olfato e o paladar dos pacientes. Por exemplo, 46% dos pacientes reduziram pela metade o consumo de alimentos durante a infecção e 28% tiveram perda de apetite.

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A falta de acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos entre famílias carentes colocam-nas em maior risco de desnutrição, fome oculta (deficiência de micronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação

Segundo os pesquisadores, ao chegarem aos hospitais, esses pacientes tinham uma concentração da proteína albumina no sangue tão baixa quanto a detectada em outras doenças inflamatórias graves. Essa proteína, ligada à regulação do pH sanguíneo, é usada por profissionais de saúde como indicador do nível nutricional do paciente, e a presença dela em níveis muito baixos é associada a uma mortalidade maior.

O número reduzido de pacientes envolvidos nesse estudo não permite conclusões amplas sobre o impacto de subnutrição na mortalidade por covid-19. De todo modo, por um lado, o número de pacientes nutridos e subnutridos que precisaram de um leito UTI era equivalente; de outro, os únicos três pacientes que morreram eram subnutridos. "Tendo em vista a alta prevalência, é um elemento essencial o suporte nutricional para pacientes em tratamento por covid-19", afirmam os pesquisadores franceses.

Impacto da alimentação em relação à covid-19

Para o médico Arnold R. Eiser, professor emérito da Universidade da Pensilvânia (EUA), a alimentação adequada talvez seja o fator mais importante na origem da tempestade de citocinas, nome dado a uma reação desmedida do sistema imunológico contra invasores como a covid-19 que acaba prejudicando o próprio corpo e em alguns casos levando à morte.

Em artigo publicado no Journal of Alternative and Complementary Medicine, ele discorre sobre características anti-inflamatórias das dietas japonesa e mediterrânea (ricas em ômega 3, verduras, legumes e cereais integrais, por exemplo) em comparação ao perfil pró-inflamatório da dieta ocidental, rica em carne vermelha, laticínios e açúcar, entre outros. Estes estão ligados a reações inflamatórias do corpo e também estão entre os fatores associados ao surgimento de doenças cardiovasculares e obesidade, por exemplo.

Eiser defende mais pesquisas sobre o papel anti-inflamatório e preventivo da alimentação na pandemia. "A profilaxia da supressão de citocinas por meio de mudanças na dieta pode ser benéfica na redução da letalidade em uma pandemia como a da covid-19. Mudanças dietéticas em direção a uma dieta anti-inflamatória também têm benefícios adicionais à saúde, incluindo redução da morbidade e mortalidade cardiovascular, redução da prevalência de demência e efeitos antidiabéticos, de modo que a saúde pública poderia se beneficiar mais amplamente do que apenas na pandemia de covid-19."

Por outro lado, um grupo de dezenas de pesquisadores europeus aventa outras hipóteses, como a relação entre alimentação e os níveis de ACE2, enzima usada como porta de entrada pelo coronavírus para invadir as células humanas. Ou seja, alimentos ricos em gordura saturada (como carne vermelha e laticínios) podem deixar algumas pessoas mais vulneráveis à doença. Na direção oposta, alimentos com potencial antioxidante podem ser benéficos.

Para a especialista em saúde pública nutricional Amanda Avery, professora da Universidade de Nottingham (Reino Unido), outro fator possível passa pela relação entre alimentação e os conjuntos de micro-organismos (microbiota ou flora) presentes no intestino e nos pulmões.

Alimentos fermentados e probióticos, afirma ela, têm potencial para ajudar o organismo a prevenir infecções como a covid-19. No intestino, por exemplo, vivem bactérias que se nutrem do que comemos e assim se proliferam e produzem mais nutrientes.

Todos os pesquisadores defendem estudos mais aprofundados sobre o tema.

Qualidade da alimentação e disparidades raciais

Em artigo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, um grupo de cinco pesquisadores de instituições dos EUA, entre elas a Universidade Harvard, e um da Universidade de Atenas (Grécia), tratam do impacto muito maior da pandemia sobre comunidades negras, latinas e indígenas em território americano a partir do ponto de vista da alimentação.

Segundo eles, essas comunidades são proporcionalmente mais afetadas por problemas nutricionais, obesidade e outras doenças crônicas em razão de fatores socioeconômicos, educacionais e ambientais. "Pessoas em situação de insegurança alimentar e vivendo em desertos de comidas (lugares com pouca oferta de alimentos saudáveis) têm acesso predominante a alimentos baratos e processados."

Essas disparidades ficaram ainda mais nítidas durante a pandemia, que atingiu desproporcionalmente pessoas negras, latinas e indígenas nos EUA. Esses grupos chegaram a ter taxas de internação cinco vezes maior que a dos brancos, por exemplo, e a mortalidade dos negros é duas vezes maior.

"As disparidades de saúde em nutrição e obesidade estão intimamente relacionadas às alarmantes discrepâncias raciais e étnicas relacionadas à covid-19."

A qualidade da alimentação não é, obviamente, o único fator envolvido no impacto em minorias étnicas ou classes menos favorecidas. Pesquisadores apontam outras razões, como a natureza dos empregos (mais presenciais e, portanto, expostos), o acesso desigual ao sistema de saúde, a densidade populacional das habitações, a falta de saneamento básico e a insegurança alimentar.

Nos EUA, o número de famílias latinas e negras que enfrentam a possibilidade de não ter o que comer é três vezes maior do que entre famílias brancas, segundo pesquisa publicada pelo Urban Institute a partir de dados da Pesquisa de Rastreamento do Coronavírus nos EUA. Durante a pandemia, o número de americanos que passam fome passou de 35 milhões para 50 milhões.

A situação não é diferente nas favelas brasileiras, que somam cerca de 13 milhões de habitantes.

Um estudo feito em duas favelas de São Paulo no início da quarentena investigou a insegurança alimentar entre março e junho de 2020 a partir de 909 chefes de família. A conclusão dos pesquisadores foi a de que a falta de acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos por essas famílias colocam-nas em maior risco de desnutrição, fome oculta (deficiência de micronutrientes), obesidade e doenças crônicas relacionadas à alimentação.

Na pesquisa, 88% das famílias são chefiadas por mulheres jovens que trabalham como faxineiras, auxiliares de cozinha e em serviços de vendas, algumas das categorias profissionais mais expostas ao contágio da covid-19. A cada dez, nove relataram incertezas sobre a compra ou o recebimento de alimentos, seis comiam menos do que deveriam e cinco viveram insegurança alimentar moderada ou grave. Os fatores associados à fome são baixa renda, baixa escolaridade e morar em casa sem filhos (o que reduz o valor do Bolsa Família ou do auxílio emergencial).

Um quinto das famílias recebia Bolsa Família, principal fator de proteção socioeconômica. Ao longo da pandemia, os pesquisadores avaliaram o acesso a alimentos nas duas favelas (Heliópolis e Vila São José) a cada seis meses, e ficou claro como a trajetória da escassez de alimentos (saudáveis ou não) era marcada por altos e baixos. O auxílio emergencial deu um certo alívio, mas a interrupção, a redução do valor e a limitação para beneficiários trouxe de volta a insegurança alimentar.

Essa situação, entretanto, não começou com a pandemia, mas se agravou com ela.

Em entrevista à BBC News Brasil, a nutricionista Luciana Tomita, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo em São Paulo, disse que o mais chocante foi encontrar quase metade das famílias já nas primeiras semanas da pandemia em situação de escassez de alimentos moderada ou grave. "A redução da renda dessa população foi quase automática", disse Tomita.

Grande parte dessas famílias tem empregos temporários, sem carteira assinada, de renda instável e insuficiente. Além disso, há uma dificuldade de oferta e acesso a alimentos e ainda mais nutritivos. Perto das comunidades há fácil acesso a alimentos ultraprocessados. Os preços também foram monitorados. Os pesquisadores relataram ouvir como resposta ao não consumo de alimentos saudáveis a frase "é caro e não enche barriga".

E quais são as saídas possíveis?

arroz e feijão

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Durante a pandemia, houve alta dos preços de alimentos no Brasil, que afetam mais as famílias mais pobres

Segundo a legislação brasileira, a segurança alimentar e nutricional "consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais."

Por outro lado, a insegurança alimentar ocorre em três níveis, segundo a escala Ebia. Leve, quando há incerteza ou receio a respeito da capacidade de passar fome em um futuro próximo ou em conseguir alimentos; moderada, situação em que há restrição na quantidade e na qualidade do alimento para a família; e grave, quando as pessoas que relatam passar fome, quando não se consome comida por um dia inteiro ou mais.

Em estudo sobre a fome durante a pandemia de covid-19, publicada na revista SER Social, a socióloga Sirlândia Schappo, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz: "a ausência do direito humano à alimentação envolve não apenas a falta de renda ou da disponibilidade de alimentos, mas de vários outros fatores, como o não acesso ao alimento, a falta de condições adequadas para produzir o alimento, o não acesso à terra, a falta de condições de saúde ou de habitação, entre outras".

Uma das propostas do estudo coliderado por Tomita nas duas favelas paulistanas é a agricultura familiar, setor responsável por produzir 75% dos alimentos consumidos no Brasil, segundo dados da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura).

A pesquisadora também acompanhou estudantes de uma escola pública em Heliópolis onde construíram uma horta pedagógica com a intenção de incentivar a alimentação saudável e a produção própria. E ficou claro que o sucesso do projeto depende em envolver a comunidade como um todo. "Segurança alimentar e nutricional é isso, né? Acesso a alimentos saudáveis, seguros, em quantidade e qualidade."

Além disso, Tomita defende a ampliação de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o auxílio emergencial. Para ela, o benefício precisa atender bem também os idosos e os adultos que não têm filhos, "com um valor que permita comprar alimentos, botijão de gás e materiais básicos de necessidade e higiene para que consiga garantir o seu direito à alimentação adequada e saudável".

O pagamento do auxílio emergencial começou em abril de 2020, sendo R$ 600 ou R$ 1.200 para mães chefes de família. Depois de cinco parcelas, o valor caiu pela metade. O último dos repasses, de R$ 300 ou R$ 600, ocorreu em dezembro. O programa foi retomado em 2021 com quatro parcelas de R$ 250 e menos beneficiários.

Estima-se que o custo dos pagamentos para 68 milhões de pessoas tenha chegado a R$ 300 bilhões em 2020, quase dez vezes o valor do Bolsa Família, que beneficia cerca de 14 milhões de famílias com repasse médio de quase R$ 200.

  • Cristiane Martins
  • De Londres para a BBC News Brasil
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 23 de maio de 2021

Náutico derrota Sport e fica com o título do Pernambucano


Kieza comemora gol marcado no clássicoPode comemorar, torcedor alvirrubro, o título do Campeonato Pernambucano 2021 é seu. Depois do empate em 1x1 no tempo regulamentar, nos Aflitos, neste domingo, (23), o Náutico levou a melhor nos pênaltis sobre o Sport e quebrou um tabu de 53 anos. Desde 1968 o time da Rosa e Silva não passava pelo rival em uma final de Estadual. Foi o 23º título do certame levantado pelo time vermelho e branco. O quarto do técnico Hélio dos Anjos, que já havia conseguido o feito em três ocasiões, exatamente com o Leão. 

O jogo

Como era de se esperar, nenhum time mostrou superioridade durante o clássico. Principalmente na etapa inicial. Do início ao fim do primeiro tempo, o encontro foi de raras oportunidades para ambos os lados. Diferente do último jogo, o Sport não pôde contar desde o início com Thiago Lopes, com um desconforto no tendão. Por isso, mesmo longe da forma ideal, Thiago Neves foi titular, e o Leão entrou em campo com três volantes. Entretanto, a escalação pouco surtiu efeito. O técnico Umberto Louzer ainda perdeu Everaldo nos minutos iniciais e teve que acionar Toró. Completo, o Náutico foi o primeiro a chegar com perigo. Após cobrança de escanteio, aos 18 minutos, Maílson saiu mal, e Kieza bateu para o gol. Bem posicionado, Maidana afastou o perigo sobre a linha. 

Mesmo sofrendo ofensivamente, a resposta do Sport veio no minuto seguinte. Depois da boa troca de passes no setor ofensivo, Zé Welison recebeu na intermediária e finalizou para defesa tranquila de Alex Alves. A partir do lance, o jogo nos 45 minutos inicias ficou pegado, sem grandes oportunidades para os dois lados. Aos 37, Vinícius até tentou de fora da área, mas a bola foi sem força à direção de Maílson.

Sob a chuva que caiu no final da tarde na capital pernambucana, o Náutico tentou fazer valer o mando de campo e se impôs ao rival nos minutos iniciais da etapa complementar. Porém, sem muita eficácia, o Timbu pouco assustou a meta adversária. O Sport, por sua vez, apostava nas escapadas pelos lados, mas também pouco produzia. 

A partida só voltou a ganhar emoção a partir dos 25. E mais uma vez com o Alvirrubro, que buscava mais as ações ofensivas. Em boa trama pela direita, Hereda cruzou e Kieza subiu livre para cabecear. Caprichosamente, a bola carimbou o travessão de Maílson. No rebote, Jean Carlos bateu de primeira com a perna direita. Mas, quando se preparava para sair para comemorar, apareceu Maidana, mais uma vez, para afastar o perigo sobre a linha e impedir a abertura do placar. Aos 32 minutos, porém, o fogo amigo botou tudo a perder.

Na saída de bola rubro-negra, Marcão foi tentar virar o jogo, mas a bola acabou parando nos pés de Kieza. Livre de marcação, o camisa 9 correu em direção à área e bateu firme para fazer seu décimo gol no Estadual e fazer 1x0. Precisando do empate para levar o jogo para os pênaltis, o Sport, mesmo sem jogar bem conseguiu chegar à igualdade. Aos 41, Toró recebeu nas costas da marcação e cabeceou para o meio. Livre de marcação, Mikael se jogou na pelota para deixar tudo igual. 

Nas penalidades máximas, ficou com a taça quem procurou sempre o gol durante os dois jogos. Jean Carlos, Hereda, Vinícius, Geovanny e Kieza convertaram as cobranças para o Timbu, viram Marquinhos desperdiçar para o Leão, e fizeram 5x3 para os donos da casa. 

Ficha do jogo

Náutico 1 (5)
Alex Alves; Hereda, Wagner Leonardo, Camutanga (Ronaldo Alves) e Bryan; Djavan (Matheus Trindade), Rhaldney (Marciel) e Jean Carlos; Erick (Giovanny), Vinícius e Kieza. Técnico: Hélio dos Anjos.

Sport 1 (3)
Maílson; Patric, Maidana, Adryelson e Sander; Marcão Tréllez), Júnior Tavares, Zé Welison (Thiago Lopes) e Thiago Neves (Mikael); Neílton (Marquinhos) e Everaldo (Toró). Técnico: Umberto Louzer.

Estádio: Aflitos (Recife/PE)
Árbitro: Rodolfo Toski (FIFA/PR)
Assistentes: Marcelo Van Gasse (FIFA/SP) e Guilherme Camilo (FIFA/MG)
VAR: Carlos Braga (CBF/RJ)
Gols: Kieza, aos 32' do 2T (NAU); Mikael, aos 41' do 2T (SPT)
Cartões amarelos: Rhaldney, Bryan, Erick, Jean Carlos (NAU); Maidana, Tréllez, Adryelson, Marquinhos (SPT)


Ninguém do elenco do Náutico era nascido em 1968. Nem mesmo o presidente do clube, Edno Melo. O técnico Hélio dos Anjos era apenas um jovem de 10 anos. E boa parte da torcida também não existia na última vez em que o Timbu havia derrotado o Sport em uma final. Um passado não vivido, mas com um trauma herdado. Sempre presente quando os alvirrubros encontravam o rival em uma decisão. De derrota em derrota, um jejum de mais de meio século foi criado. Hoje, o tabu foi quebrado. A contagem regressiva para o encerramento da amarga escrita chegou ao fim em 2021.

Mais do que o 23º título do Campeonato Pernambucano, este ano ficará marcado pelo fim de um ciclo frustrante para o Náutico. Desde a conquista do hexacampeonato, no final da década de 60, o Timbu não vencia o Sport em uma decisão. De lá para cá, a equipe perdeu todas as finais para o Leão. O placar de confrontos valendo título, que em 1968 estava em 6x2 para os alvirrubros, passou a ser 12x6 para os rubro-negros até 2020.

O Sport vinha de uma sequência de 10 títulos consecutivos diante do Náutico, nos estaduais de 1955, 1961, 1975, 1977, 1981, 1988, 1991, 1992, 1994, 2010, 2014 e 2019. O Timbu, além deste ano, também superou o rival em 1951, 1954, 1963, 1965, 1966 e 1968 (ano do hexacampeonaro estadual). Após 53 anos, o clube da Rosa e Silva vou a levar a melhor perante o Leão. A sétima na história das finais dos Clássicos dos Clássicos.

Vencer nos Aflitos também acabou com o jejum do Náutico de mais de 40 anos sem levantar uma taça dentro de casa. A última vez fora em 1974, perante o Santa Cruz, vencendo o Tricolor por 1x0. Até então, após esse período, o Timbu tinha somente mais uma decisão no Eládio de Barros Carvalho. Foi no ano seguinte, em 1975, sofrendo um revés para o Sport. As demais vezes que os alvirrubros foram campões aconteceram no Arruda (1984, 1985, 1989, 2001, 2002 e 2004) e Arena de Pernambuco (2018). 

Essa foi a terceira quebra de jejum do Náutico nos últimos anos. A primeira, em 2018, acabou com o período de quase uma década e meia sem títulos estaduais. Ao derrotar o Central na final, o Timbu voltou a levantar a taça do Pernambucano - a última vez fora em 2004. No ano seguinte, com o troféu da Série C do Campeonato Brasileiro, os alvirrubros comemoraram a primeira conquista nacional na história centenária.

Com informações de folha de Pernambuco
Professor Edgar Bom Jardim - PE

sábado, 22 de maio de 2021

Os sambas de Bráulio de Castro Adriana B lança EP "Do Cais ao Terço"




Adriana BAdriana B - Foto: Divulgação - Folha de Pernambuco.

Mais que frevo, Pernambuco tem uma pluraridade imensa de ritmos, dentre eles, o samba. Que o digam Adriana B e Bráulio de Castro. Ela, desde 1980 canta e encanta.. Ele, compositor de Bom Jardim que já tem mais de 55 anos de carreira. Os caminhos dos dois representantes do ritmo se cruzam definitivamente nessa sexta, dia 21, quando Adriana lança o EP "Do Cais ao Terço - Os sambas de Bráulio de Castro", com cinco músicas do veterano.

O projeto celebra os 35 anos de carreira de Adriana. Além do EP, a cantora assina a produção de um documentário de mesmo nome, que estará disponível no YouTube, contando a história desse pernambucano que foi gravado por grandes medalhões, conviveu com o mestre Adoniran Barbosa e que ajudou muitos artistas pernambucanos em São Paulo, cidade que adotou no início dos anos 1970. Caju e Castanha e Genival Lacerda estão entre os nomes apoiados por Braúlio na capital paulista.

"É muito importante celebrar a importância dessas pessoas enquanto elas estão vivas. Poder proporcionar essa emoção ao Braúlio não tem preço", comenta Adriana, em bate-papo com a Folha de Pernambuco. "Hoje em dia, com as facilidades do audiovisual hoje, temos a possibilidade de oferecer flores em vida para esses músicos veteranos, muitas vezes até esquecidos. Isso nos engrandece não só como artistas, mas como seres humanos", completa a pernambucana, que iniciou sua carreira em 1986 participando dos principais festivais de música do Recife. Depois, radicou-se no Rio de Janeiro durante 15 anos, onde ajudou a fundar o famoso Rio Maracatu. Com este grupo, ganhou o Prêmio da Música Brasileira.

O EP traz cinco músicas lançadas entre 1973 e 1987. São elas: "Cartão Amarelo" (Bráulio e Paulo Elias), "Festa no Meu Coração" (Bráulio e Jorge Costa), "Samba no Recife" (Bráulio e Roque Netto), "Borracha do Tempo" (outra de Bráulio e Jorge Costa) e "Festa na Valzea" (só de Bráulio), essa última feita em homenagem a Adoniran Barbosa, baseada no jeito engraçada dele falar. Ex-fiscal do IBC (Instituto Brasileiro do Café), ex-bancário e ex-corretor de imóveis, Bráulio de Castro teve suas músicas gravadas por nomes do porte de Jair Rodrigues, Noite Ilustrada, Zeca Pagodinho, Demônios da Garoa, Benito di Paula e a diva Alcione. "Só tem gente fina envolvida com a obra dele", comemora.



Por falar em Alcione, ela é um dos nomes que aparecem no doc "Do Cais ao Terço". Quem quiser conferir, é só entrar no canal de Adriana B no YouTube e testemunhar a relevância de Bráulio de Castro para a música nacional. "Foram quatro anos entre a gravação do primeiro depoimento até hoje. É uma alegria sem tamanho ver esse projeto na rua", exalta Adriana.

Link do documentário: https://www.youtube.com/watch?v=9vPip4J2Ld0

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Conflito entre Israel e palestinos: como os 2 lados reivindicam vitória após cessar-fogo

Imagem mostra uma casa danificada em Gaza

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A trégua põe fim a 11 dias de combates nos quais mais de 250 pessoas foram mortas

Um cessar-fogo entre Israel e o grupo extremista palestino Hamas na Faixa de Gaza entrou em vigor, com os dois lados - e seus aliados - reivindicando vitória.

O cessar-fogo, mediado pelo Egito, começou na manhã desta sexta-feira (21/5 - noite de quinta-feira, 20/5, no Brasil), encerrando 11 dias de combates nos quais mais de 250 pessoas foram mortas, a maioria delas em Gaza.

Apesar disso, manifestantes palestinos e a polícia israelense entraram em confronto novamente no complexo da mesquita de al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém.

Enfrentamentos no local, um dos mais sagrados para os muçulmanos, foram o estopim para a nova escalada de violência entre israelenses e o Hamas.

Palestinos comemoram o cessar-fogo intermediado pelo Egito entre Israel e o movimento islâmico Hamas, na Cidade de Gaza

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Para palestinos, cessar-fogo foi considerado vitória

Um comunicado da força policial de Israel diz que "estourou um motim" assim que as orações de sexta-feira terminaram, com centenas de jovens jogando pedras e coquetéis molotov em policiais.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Em resposta, o comandante da polícia de Jerusalém ordenou que os policiais entrassem no local e "lidassem com os desordeiros", acrescenta a nota.

Testemunhas dizem que os policiais dispararam granadas de choque e gás lacrimogêneo.

Palestinos inspecionam os escombros de sua casa destruída após ataques aéreos israelenses

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Palestinos inspecionam os escombros de sua casa destruída após ataques aéreos israelenses

O que dizem os palestinos

Palestinos tomaram as ruas de Gaza logo após o início da trégua. Em Gaza, motoristas fizeram buzinaço, enquanto os alto-falantes das mesquitas falavam sobre "a vitória da resistência".

Um porta-voz do Hamas disse, no entanto, que o grupo não baixou a guarda e considerou o cessar-fogo tanto uma vitória para o povo palestino quanto uma derrota para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Nesta sexta-feira (21/5), o grupo xiita libanês Hezbollah, inimigo de Israel, elogiou os palestinos por uma "rodada heróica de confronto".

"A resistência palestina ... estabeleceu novas regras que abrirão o caminho para a grande vitória que se aproxima", informou o Hezbollah.

O grupo acrescentou que a sua "vitória ... terá repercussões estratégicas, políticas e culturais de extrema importância no futuro do conflito na região".

O Hezbollah, fortemente armado e financiado pelo Irã, é a força armada mais poderosa do Líbano ao lado do exército libanês e - junto com seus aliados políticos - é uma força influente no governo.

Uma soldado israelense observa enquanto o sistema anti-míssil de Israel, o Domo de Ferro, intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza

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Uma soldado israelense observa enquanto o sistema anti-míssil de Israel, o Domo de Ferro, intercepta foguetes lançados da Faixa de Gaza

O que diz Israel

Em pronunciamento nesta sexta-feira (21/5), Netanyahu disse que a operação contra o território palestino teve como objetivo "desferir um golpe severo contra as organizações terroristas e restaurar a calma".

"Nem tudo é conhecido do público ainda, nem do Hamas, mas toda a gama de conquistas será revelada com o tempo", diz ele, citado pelo jornal israelense Jerusalem Post.

"Posso dizer que fizemos coisas novas e ousadas - se fosse necessário fazer uma invasão terrestre, teríamos feito, mas pensei que poderíamos alcançar o objetivo de maneiras mais seguras."

Segundo Netanyahu, a operação em Gaza "mudou a equação" com o Hamas e fará com que o grupo militante seja mais cuidadoso no futuro com qualquer ataque a Israel.

Ele descreveu a campanha aérea como um "sucesso excepcional", de acordo com o jornal israelense Times of Israel.

Segundo Netanyahu, a ofensiva destruiu a rede de túneis subterrâneos do Hamas, além de atingir a capacidade do grupo militante de lançar foguetes contra cidades israelenses.

O premiê afirmou também que mais de 200 militantes, incluindo 25 altos funcionários, foram mortos em ataques israelenses, acrescentando: "E aqueles que não morreram sabem que podemos alcançá-los - acima ou abaixo do solo".

Netanyahu também insiste que os militares israelenses fizeram todo o possível para evitar baixas civis, tomando medidas que nenhum outro país do mundo faria.

Irmãs palestinas sentam em um míssil não detonado disparado por aviões de guerra israelenses em Gaza

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Irmãs palestinas sentam em um míssil não detonado disparado por aviões de guerra israelenses em Gaza

Mas o Ministério da Saúde palestino em Gaza diz que 66 crianças e 39 mulheres estavam entre as 243 pessoas mortas em ataques israelenses.

Em Israel, 12 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em ataques de foguetes palestinos, segundo autoridades.

Horas antes, o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, disse que a ofensiva em Gaza rendeu "ganhos militares sem precedentes".

Mas os prefeitos de Sderot e Ashkelon - duas das cidades israelenses mais atingidas pelos foguetes de Gaza - criticaram o cessar-fogo, dizendo que o Hamas deveria ter sido eliminado.

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, aliado histórico de Israel, disse que a trégua trouxe uma "oportunidade genuína" para o progresso.

Em Israel, o exército suspendeu quase todas as restrições de emergência ao movimento e várias companhias aéreas disseram que retomarão os voos para Tel Aviv no domingo.

O papa Francisco elogiou a trégua entre Israel e o Hamas e exortou os católicos a orar pela paz no Oriente Médio.

"Agradeço a Deus pela decisão de deter os conflitos armados e os atos de violência e rezo pela busca de caminhos de diálogo e paz", disse ele no Vaticano nesta sexta-feira.

"Que todas as comunidades rezem ao Espírito Santo para que israelenses e palestinos encontrem o caminho do diálogo e do perdão, sejam pacientes construtores de paz e justiça e estejam abertos, passo a passo, a uma esperança comum, à convivência entre irmãos e irmãs", acrescentou.

Palestinos inspecionam danos a prédios na rua Al-Saftawi, no norte da Cidade de Gaza

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Pelo menos 232 pessoas, incluindo mais de 100 mulheres e crianças, foram mortas em Gaza

Escalada de violência

Os confrontos começaram em 10 de maio, após semanas de tensão crescente entre israelenses e palestinos em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel.

O Hamas começou a disparar foguetes após alertar Israel para se retirar do local, desencadeando ataques aéreos de retaliação.

Pelo menos 243 pessoas, incluindo mais de 100 mulheres e crianças, foram mortas em Gaza, de acordo com seu ministério da saúde. Israel disse que matou pelo menos 225 militantes durante o conflito. O Hamas não informou os números de baixas entre os seus combatentes.

Em Israel, 12 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas, segundo seu serviço médico.

Os militares israelenses dizem que mais de 4,3 mil foguetes foram disparados contra seu território por militantes e que atingiu mais de mil alvos militantes em Gaza.

Um homem palestino inspeciona os danos em seu quarto após ataques aéreos israelenses em seu bairro no campo de refugiados de Jabalia, Faixa de Gaza do Norte em 20 de maio de 2021

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Maior parte dos mortes está do lado palestino

Como os dois lados anunciaram a trégua?

O Gabinete de Segurança Política de Israel disse na noite de quinta-feira que "aceitou unanimemente a recomendação" de um cessar-fogo.

"Os líderes políticos enfatizaram que a realidade local determinará o futuro da campanha", disse o órgão, por meio de um comunicado.

Adi Vaizel, analisa os danos causados ​​à cozinha de sua casa após ser atingida por um foguete lançado da Faixa de Gaza

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Um israelense observa danos na cozinha de sua casa

Um morador de Tel Aviv afirmou à agência de notícias Reuters: "É bom que o conflito termine, mas infelizmente não acho que temos muito tempo antes da próxima escalada."

Já em Gaza, um palestino disse: "Este é o dia da vitória, o dia da liberdade, e é o dia mais lindo que já vivemos".

Palestinos tomaram as ruas de Gaza logo após o início da trégua

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Palestinos tomaram as ruas de Gaza logo após o início da trégua

Mas Basem Naim, do Conselho de Relações Internacionais do Hamas, disse à BBC estar cético sobre se a trégua duraria "sem justiça para os palestinos, sem parar a agressão israelense e as atrocidades israelenses".

Um membro do gabinete político do Hamas, Izzat al-Reshiq, fez um alerta a Israel.

"É verdade que a batalha termina hoje, mas [o primeiro-ministro de Israel, Benjamin] Netanyahu e o mundo inteiro devem saber que nosso dedo está no gatilho e continuaremos a aumentar as capacidades dessa resistência", disse ele à Reuters.