terça-feira, 11 de maio de 2021

Filosofia e outros conhecimentos: a cientista 'detetive' que acendeu alerta sobre hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19

Medicamento hidroxicloroquina, em foto de 2020

CRÉDITO,REUTERS

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Frasco de hidroxicloroquina; medicamento entrou no radar contra covid a partir de estudo francês que foi, desde o princípio, alvo de diversos questionamentos

A holandesa Elisabeth Bik tem se dedicado a uma tarefa peculiar no meio científico: ela passa horas diante de seu computador, analisando centenas de estudos, atenta a falhas (intencionais ou acidentais) como duplicações ou adulterações de imagens, plágio, conflitos de interesse nos dados apresentados ou incongruências nas evidências científicas.

A microbiologista virou uma especialista em "integridade científica": na prática, isso consiste na análise (não remunerada) de milhares de estudos biomédicos, em busca de erros que possam comprometer seus resultados. Bik também tem um trabalho pago, de consultoria e palestras para universidades e centros de pesquisa, sobre como melhorar seus processos.

Faz pouco mais de um ano que Bik foi uma das cientistas a levantar preocupações sobre um estudo que ganharia proporções não previstas na época: trata-se da pesquisa do instituto médico francês IHU-Méditerranée Infection, em Marselha, publicada inicialmente em março de 2020 com a afirmação de que "a cloroquina e a hidroxicloroquina eram eficientes contra o SARS-CoV-2", o vírus da covid-19.

Foi a partir desse estudo que esses remédios passaram a ser exaltados pelo então presidente americano Donald Trump, publicamente promovidos pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, incorporados no criticado "tratamento precoce" contra a doença no Brasil, receitados preventivamente por alguns médicos daqui e até usados, em alguns casos, em nebulizadores - apesar de advertências de que ainda não foram encontrados benefícios concretos da cloroquina e, ao contrário, terem sido identificados significativos riscos colaterais dessa medicação. Hoje, o uso amplo do medicamento é um dos alvos da investigação da CPI da Covid, em curso no Senado.

Para Bik, foi a a politização do estudo inicial que fez com que ele ganhasse tanto alcance, apesar de seus resultados clínicos serem considerados insuficientes pela comunidade científica.


"Eu não estava contra o uso da hidroxicloroquina, apenas achei que o estudo do laboratório de Didier Raoult (um renomado epidemiologista francês e um dos principais autores da pesquisa) não havia sido bem executado, e era muito cedo para basear uma grande decisão apenas naquela pesquisa - era necessário haver mais evidências, e essas evidências nunca vieram", diz Bik à BBC News Brasil.

"Mas rapidamente isso foi politizado, porque Trump endossou o estudo ao tuitar a respeito. Daí aconteceu que se você fosse republicano, basicamente tinha de ser a favor do estudo e se fosse democrata tinha de ser contra. O que é muito estranho - discussões sobre ciência não costumam pular para a política, mas nesse caso aconteceu. Virou algo grande: muitas pessoas passaram a defender o estudo. Mas os cientistas estavam em sua maioria vendo que o medicamento não era útil."

Em setembro, Didier Raoult foi denunciado pela Sociedade de Patologia Infecciosa de Língua Francesa (SPILF) por "promoção indevida de medicamento". Em janeiro deste ano, o médico admitiu numa carta ter excluído alguns voluntários do resultado da pesquisa (veja mais detalhes abaixo). Mas ele mantém a defesa de seu estudo original e da eficácia da hidroxicloroquina em parcela dos casos de covid-19.

Quanto a Elisabeth Bik, no dia em que conversou com a BBC News Brasil, a pesquisadora havia acabado de receber a notificação de que está sendo processada por difamação por Raoult, que em declarações públicas prévias a chamou de "maluca" e "caçadora de bruxas" por suas críticas.

Elisabeth Bik, em entrevista à BBC News Brasil

CRÉDITO,REPRODUÇÃO

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'Discussões sobre ciência não costumam pular para a política, mas nesse caso aconteceu', diz Elisabeth Bik

Na conversa com a reportagem, Bik (que fez seu PhD na Holanda e foi pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos EUA e também de empresas privadas) detalha as críticas feitas ao estudo francês e também explica o trabalho de desmascarar problemas em pesquisas científicas - os quais, segundo ela, prejudicam toda a comunidade de pesquisas global e ajudam a erodir a confiança do público na ciência.

A hidroxicloroquina, um ano depois

Em 24 de março do ano passado, Bik fez uma longa resenha em seu blog (em inglês) sobre o estudo de Didier Raoult e colegas, os quais apresentavam resultados da hidroxicloroquina em 26 pacientes de covid-19, em comparação com um grupo de controle de 16 pacientes.

Após serem tratados com a droga (e também com o antibiótico azitromicina, no caso de seis dos 26 pacientes), todos eles tiveram testes RT-PCR negativos para o novo coronavírus, o que levou-os a concluir que a droga contra a malária funcionaria contra a covid-19.

Mas Bik levantou questionamentos sobre a metodologia usada pelo estudo, que segundo ela prejudicam as conclusões, como:

- Lapsos no cronograma: os dados apresentados no estudo não deixam claro qual foi o resultado do teste PCR dos pacientes na metade do estudo, como havia sido originalmente planejado. Isso despertou preocupações quanto a se dados potencialmente negativos poderiam ter sido omitidos.

- Havia muitas diferenças entre os grupos de controle (ou seja, pessoas que não foram tratadas com hidroxicloroquina) e o grupo de pacientes do estudo, o que dificulta a comparação entre ambos e, portanto, os resultados da pesquisa.

- Embora o estudo tenha começado com 26 pacientes, termina apresentando dados de apenas 20 deles. Dos seis faltantes, três haviam sido transferidos para a UTI, um morreu e dois abandonaram a medicação. "É como dizer 'meus resultados são incríveis se eu tiro as pessoas em que eles se saíram muito mal'. É claro que (o estudo) parece ótimo (se você tira os pacientes que morreram), mas não é honesto fazer isso", diz Bik à BBC News Brasil.

- Um dos autores é também editor-chefe do periódico onde o estudo foi publicado, o International Journal of Antimicrobial Agents. "Isso pode ser percebido como um enorme conflito de interesses, em particular ao lado de um processo de revisão de pares (quando cientistas revisam o estudo de seus colegas) que durou menos de 24 horas", escreveu Bik na época. "É o equivalente a permitir que um estudante dê a nota de seu próprio trabalho escolar."

Bolsonaro com caixa de cloroquina, em foto de setembro de 2020

CRÉDITO,CAROLINA ANTUNES/PR

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Bolsonaro com caixa de cloroquina, em foto de setembro de 2020; o chamado 'kit covid' tem sido apontado como prejudicial ao tratamento da covid-19

'Era necessário pesquisar mais'

A pesquisadora concorda que, em meio a uma pandemia, processos científicos tradicionalmente lentos precisam mesmo ser apressados.

"Isso (os questionamentos) não necessariamente indica que a hidroxicloroquina não funciona, mas sim que o estudo não era bem feito. O que é compreensível: em março do ano passado, tudo era tão incerto e todos buscavam uma droga maravilhosa que pudesse ajudar", prossegue a pesquisadora.

"Mas não acho que com base nesse estudo em particular era possível tomar grandes decisões sobre como tratar milhões de pessoas. Era necessário pesquisar muito mais."

A BBC News Brasil consultou Didier Raoult por e-mail a respeito das críticas a suas pesquisas e sobre o processo legal contra Bik, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

Em entrevista recente ao jornal francês Le Figaro, Raoult diz que não tem arrependimentos. "Nunca disse que (a droga) curaria 100% dos pacientes. Mas sustento que essa molécula melhora as condições de pacientes precoces ou avançados, mas não na fase final (da doença)", declarou.

Desde esse estudo inicial, diz Bik à BBC News Brasil, "eu esperava que haveria outro estudo para sustentar (as conclusões), mas ainda não vi nenhum outro estudo mostrando que esse primeiro estava correto. Houve estudos mostrando que estava errado e houve muitos estudos em uma zona cinza, (dizendo que) em algumas situações (a cloroquina) pode ter ajudado um pouquinho, mas na maioria dos casos não parece ter ajudado e, na verdade, parece ter deixado os pacientes em pior estado, principalmente se eles já estivessem muito doentes. O que, por sinal, era o que o estudo inicial alegava - não dizia que (a hidroxicloroquina) era para ser profilático ou preventivo, e sim que era para melhorar pessoas muito doentes. É o que o estudo tentou provar inicialmente, mas não provou, não apresentou dados."

É bom destacar que foram encontrados erros também na outra ponta do espectro: em junho de 2020, o prestigioso periódico The Lancet anunciou a retratação de um artigo científico publicado no mês anterior que refutava os benefícios da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Retratações ocorrem quando quando algum tipo de má-conduta, como fraude ou erro, é detectada no estudo.

O saldo desse debate neste momento é de que a cloroquina, junto ao conjunto de remédios do chamado "kit covid-19", não são reconhecidos - ou são ativamente contraindicados - pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no tratamento do coronavírus.

Dr Didier Raoult

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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Didier Raoult, conhecido médico francês, é o autor do estudo inicial e mantém a defesa dele

"Quando esse estudo na The Lancet foi retratado, fez com que muita gente dissesse: 'nenhuma pesquisa é confiável'. O que, na minha opinião, não está correto", afirma Elisabeth Bik.

"Houve tanta informação em 2020, e acho que algumas pessoas estão prontas para acreditar no que quer que escutem (...), mais do que nos cientistas. O que é uma pena, porque a ciência é a resposta para resolver problemas. Mas as pessoas não conseguem mais distinguir a verdade da mentira", lamenta.

Trabalho de 'detetive científico' encontrou 'usinas de estudos' fraudados

O trabalho de Bik em integridade científica às vezes é comparado com o de um detetive: "recebo muitas dicas, gente pedindo: 'você pode olhar estas imagens, ver estes estudos?'", conta.

"Também tenho uma grande planilha de estudos em que já identifiquei (incongruências) no passado e dos quais ainda não tive tempo de investigar os estudos dos mesmos autores. Às vezes 'photoshopam' (ou seja, copiam imagens de outros estudos) e você pensa: se fizeram uma vez, podem ter feito outras. Mas nunca sobra tempo para checar todos os pedidos, recebo muito mais dicas do que consigo investigar."

O foco principal de Bik é na duplicação de imagens, ou seja, no uso irregular de imagens antigas para ilustrar estudos novos, como se elas apresentassem uma nova descoberta. A cientista também esmiúça eventuais conflitos de interesse nas pesquisas.

"Por exemplo, casos em que o autor é fundador de uma startup e promove determinada descoberta, da qual ele também tem a patente, mas sem revelar isso. É preciso explicitar essa informação. Você pode publicar, claro, mas precisa explicitar que 'sou fundador dessa startup e posso enriquecer com o que é promovido por esta pesquisa'."

Além das críticas ao estudo francês da cloroquina, o trabalho de Bik também teve repercussão no ano passado ao ajudar a desmascarar o que ela chama de "usinas de estudos" fraudulentos: junto com outros pesquisadores, ela identificou, particularmente na China, mais de 500 estudos que parecem ter sido copiados entre si, e depois vendidos a "clientes" - médicos de hospitais chineses que dependem de ter estudos publicados em seu nome para avançar na carreira, diz ela.

"Às vezes as pessoas são forçadas a escrever estudos sob condições irreais. Temos esse exemplo da China: se você é um médico que concluiu a universidade, precisa publicar um estudo mesmo que não queira ser pesquisador, queira apenas trabalhar em um hospital. Mas você sequer tem tempo sobrando para fazer pesquisa, ou seu hospital sequer tem infraestrutura de espaço ou equipamentos para pesquisa. Essas pessoas se veem sem saída, então acabam comprando um estudo. E há empresas dedicadas a fazer estudos falsos. São 'usinas de estudos' (paper mills, em inglês). Acreditamos que sejam grupos de crime organizado, dedicados a vender e publicar estudos falsos."

Em agosto do ano passado, autoridades chinesas iniciaram uma investigação sobre o caso.

Laboratório científico

CRÉDITO,GETTY IMAGES

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'Em uma emergência (como a pandemia), você quebra as regras, porque todos estão esperando por respostas. Mas aprendemos que a ciência rápida não é necessariamente a melhor ciência', diz Bik

Pressão para publicar

Para Bik, para além dessas usinas, erros e problemas em pesquisas podem ser acidentais ou de boa-fé, relacionados à pressão enorme sobre pesquisadores para que tenham trabalhos publicados com rapidez - particularmente em momentos de crise, como a pandemia atual. Idas e vindas são também parte normal do trabalho científico, que muitas vezes exige anos até que se tenha clareza sobre o impacto de um determinado tratamento ou medicamento, por exemplo.

Em outros casos, porém, erros parecem ser fruto de problemas mais graves.

"Há cientistas trabalhando em universidades que têm grandes expectativas. Podem ter publicado estudos bem-sucedidos, mas pode ser que as pesquisas (atuais) não estejam indo muito bem, então podem cometer fraude para continuar a ter bons resultados. Há também pesquisadores que trabalham em laboratórios sob o comando de professores assediadores: 'se você não me trouxer esses resultados, será demitido e contratarei alguém que os consiga'. Alguns são ameaçados verbalmente ou, por exemplo, ameaçados de perder seu visto e ter de voltar para seu país de origem", explica.

Essa ciência malfeita, opina Bik, tem consequências de longo prazo: torna mais difícil que cientistas consigam reproduzir os experimentos ou tirar conclusões a partir deles. E assim uma grande cadeia de pesquisas científicas pode ser prejudicada.

A principal lição tirada por Bik de 2020, ano em que tanta pesquisa foi feita, é de que "normalmente, estudos médicos levam muito tempo. Um bom projeto costuma levar ao menos um ano ou vários anos para ser concluído, então qualquer coisa pesquisada em poucas semanas em uma pandemia não vai ter a melhor qualidade, embora seja necessária - em uma emergência, você quebra as regras, porque todos estão esperando por respostas. Mas aprendemos que a ciência rápida não é necessariamente a melhor ciência".

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasil em São Paulo
Professor Edgar Bom Jardim - PE

domingo, 9 de maio de 2021

Povos pré-colombianos

Povos pré-colombianos são aqueles que viviam na América antes da chegada de Cristóvão Colombo.

Este termo é usado para se referir aos povos nativos da América Hispânica e da América Anglo-saxônica. Para o Brasil se utiliza o termo pré-cabralino.

Entre as culturas pré-colombianas podemos encontrar incas, astecas, maias, aimaras, tikunas, nazcas e muitas outras.

Civilizações pré-colombianas

As civilizações pré-colombianas mais estudadas são os incas, astecas e maias.

Estes três povos eram sedentários e viviam em cidades onde havia templos, palácios, mercados e casas. Embora sejam muito diferentes entre si, podemos destacar algumas características comuns das sociedades pré-colombianas.

As sociedade pré-colombianas eram extremamente hierarquizadas com o imperador no topo da hierarquia, seguido pelos sacerdotes, chefes militares, guerreiros e camponeses que cultivavam a terra.

A agricultura era a base de sua economia e plantavam milho, batata e abóbora, entre outros. Praticavam o artesanato, especialmente a cerâmica, mas também faziam peças de metais.

Igualmente, davam importância à vestimenta, na qual existia uma distinção muito clara entre as roupas dos nobres e as das pessoas comuns.

Por fim, outra característica das sociedades pré-colombianas é o politeísmo. Vários deuses ligados ao ciclo da vida eram cultuados em cerimônias que incluíam procissões e sacrifícios de humanos e animais.

Maias

Os maias se estabeleceram onde atualmente é o sul do México, Guatemala, Belize e Honduras. Cultivavam algodão, milho, tabaco e desenvolveram um sofisticado sistema numérico.

No entanto, o que mais nos chama atenção nos maias é sua impressionante arquitetura. Até hoje sobrevivem pirâmides onde se ofereciam sacrifícios humanos e de animais. Estas construções eram ricamente decoradas com estátuas de animais e símbolos diversos.

Como eram excelentes astrônomos, criaram calendários onde podiam conhecer as datas dos eclipses e estações do ano. Tudo isso era fundamental para a realização das atividades agrícolas e dos rituais aos seus deuses.

Pirâmide maia
Exemplo de pirâmide maia, em Chichén Itzá, México

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Astecas

Os astecas viviam, originalmente, no norte do atual México.

Imigraram para o centro deste território e foram submetendo vários povos e, em 1325, se estabeleceram no meio do planalto mexicano onde construíram sua capital, Tenochtitlan, no centro de um lago. Esta cidade se tornou o centro do grande império e impressionou aos espanhóis com suas ruas largas e limpas.

O povo asteca se organizava como um verdadeiro império e cobrava tributos dos povos subjugados. Cultivavam amendoim, milho, tomate, cacau (para fazer chocolate), feijão, abóbora, pimenta, melão, abacate e comercializavam artesanato com as populações vizinhas.

Os astecas também aproveitavam as guerras para capturar bravos guerreiros e assim oferecê-los aos deuses em rituais religiosos.

Veja tambémAstecas

Incas

Viveram na região onde estão os atuais Peru, Equador, parte do Chile e da Argentina.

Os incas submeteram vários povos e estabeleceram uma rede de impostos e contribuições de trabalho que atingia todo império. Registravam a cobrança de tributos e acontecimentos num sistema denominado quipo. Este consistia em uma série de fios coloridos onde eram feitos nós de 1 até 9.

Plantavam milho, bata e coca, e domesticaram animais como a lhana da qual obtinha lã, leite, carne, além de ajudar na carga de mercadorias.

Assim como os demais povos pré-colombianos, os incas eram politeístas e honravam a natureza. Para isso realizavam cerimônias grandiosas a cada mudança de estação que incluíam procissões, músicas, sacrifícios de animais e humanos.

Veja tambémIncas

Economia dos povos pré-colombianos

A base da economia dos povos pré-colombianos era a agricultura. Para isso, no caso dos incas, desenvolveram um sofisticado sistema de irrigação e de cultivo por “andares” . Os astecas, por sua vez, aprenderam a aterrar e fazer locais de plantios em pleno lago, em locais que recebiam o nome de "chinampas".

Tanto os incas como os astecas também cobravam impostos dos povos que haviam conquistado. Igualmente, as famílias deveriam mandar os filhos (ou as filhas) para servir ao imperador.

Em contrapartida, os camponeses tinham direito a um terreno de acordo com o tamanho de sua família. Na época de fome ou peste, podiam servir-se das reservas de grãos fornecidas pelo imperador. Por isso, estas sociedades não conheceram a fome ou a miséria.


7) (Uece 2016) - Viveram na região andina préhispânica diferentes povos possuidores de uma ampla e antiga diversificação cultural que incluía os paracas, moches, nascas, tiahuanaco, huari, chimus, colas, lupacas e, finalmente,
a) maias. 
b) toltecas.
c) incas.
d) quetzalcoatl.

8) (Acafe 2016) - Os povos pré-colombianos, habitantes do continente americano, formaram sociedades complexas com diversas características sociais. Sobre esses povos é correto afirmar, exceto:
a) A construção de canais de irrigação levava as águas dos rios até as áreas de plantio. Os astecas também criaram os chinampas, ilhas artificiais sobre a água dos lagos, onde os astecas cultivavam flores e hortaliças.
b) A cidade de Machu Picchu, importante centro religioso dos Incas, foi invadida e destruída pelos espanhóis colonizadores, que promoveram uma verdadeira pilhagem em seus templos.
c) A civilização asteca desenvolveu-se principalmente onde hoje se localiza o território mexicano. A própria bandeira do México tem no centro uma imagem mitológica creditada aos astecas.
d) A guerra era um elemento sagrado para alguns dos povos pré-colombianos, pois garantia prisioneiros que serviam de oferendas para os deuses cultuados.


Civilizações pré-colombianas/ questões vestibulares/ cb


Professor Edgar Bom Jardim - PE

Revolução Russa de 1917: o que mudou?


Soldados após a Revolução Russa de Fevereiro de 1917 (Foto: Nestori Jaakkola | Wikimedia).

Soldados após a Revolução Russa de Fevereiro de 1917 (Foto: Nestori Jaakkola | Wikimedia).

Revolução Russa (1917-1928) foi constituída de uma série de eventos responsáveis por derrubar a monarquia que comandava o Império Russo até então e criar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o primeiro país socialista do mundo. Essa revolução não é importante apenas na história da Rússia, pois trata-se de um período que impactou todo o andamento do século XX. Que tal entender mais sobre esse momento?

O QUE ACONTECEU ANTES DA REVOLUÇÃO RUSSA?

É comum que revoluções sejam antecedidas por períodos de grande insatisfação popular e isso não foi diferente com a Revolução Russa. Os principais fatores que levaram o povo a derrubar o governo foram os seguintes:

Persistência do absolutismo

Antes da Revolução Russa, cuja concretização foi em 1917, o sistema político que organizava o país desde o século XVI era o czarismo. Tratava-se de uma forma de absolutismo, no qual o czar (imperador) concentrava em suas mãos todos os poderes.

Ao czar estavam submetidas todas as classes sociais, desde os servos até a nobreza – conhecida como boiardos – e a Igreja Católica Ortodoxa. Esses dois últimos grupos eram considerados mais livres do que os servos, mas mesmo assim tinham suas liberdades controladas pelo Império. A Ochrana – polícia política – vigiava e controlava a educação e os tribunais; no país também  não existia liberdade de imprensa. Já os camponeses viviam em extrema miséria e ainda pagavam altos impostos para manter o sistema czarista.

Pobreza e miséria

No século XIX a Rússia, juntamente com Reino Unido, Alemanha, França e Áustria-Hungria, era um dos principais países da Europa. Contudo, os russos ficaram para trás na Revolução Industrial e viram seus vizinhos modernizarem-se e investirem na indústria, enquanto a Rússia continuava sendo uma economia agrícola.  O Império Russo a era conhecido como o “Gigante dos Pés de Barro”, uma vez que sob o sistema feudalista – organização política-social na qual servos trabalhavam para donos de terra, os quais geralmente tinham laços com a nobreza –, os senhores feudais não tinham interesse em modernizar as plantações ou investir em indústrias,.

Quando a Rússia foi derrotada na Guerra da Criméia (1854-1856) por conta dos problemas sociais e econômicos que enfrentava, o czar Alexandre II instituiu algumas mudanças. Em 1861 houve a abolição da servidão, junto com a ocupação de novas terras, vendidas aos camponeses. Isso permitiu o país a aumentar sua produção e tornar-se um exportador de grãos. Com as medidas, também houve um crescimento populacional que acabou aprofundando os problemas sociais na Rússia. Com mais pessoas morando no país, o desemprego cresceu e a produção agrícola insuficiente para alimentar a população gerou fome e revoltas.



Buscando contornar a situação, o czar passou a estimular a industrialização, financiada por investimentos estrangeiros. Com a instalação de indústrias na Rússia, cresceu a migração no país. Tanto estrangeiros quanto pessoas de outras regiões russas mudaram-se para as novas cidades industriais, como Moscou e Petrogrado, em busca de emprego. Assim, nas últimas décadas do século XIX o Império Russo finalmente se modernizou. Contudo, o absolutismo e as precárias condições de vida persistiram no campo e na cidade, onde os operários recebiam salários muito baixos.

A política antes da Revolução Russa

Como a industrialização foi feita com capital inglês e francês, majoritariamente, naquele momento a Rússia não viu surgir uma burguesia local que pudesse alterar a dinâmica política do país. Em contrapartida, os operários – que ainda formavam um grupo pequeno – passaram a se organizar cada vez mais. Os operários, que recebiam influência de ideias vindas da Europa Ocidental e mantinham contato com os camponeses, formaram grupos de oposição ao czarismo. Mesmo os partidos políticos sendo proibidos, vários existiam clandestinamente. O Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), inspirado nos ideais marxistas e liderado por Plekhanov e Lenin, era o mais famoso deles.

As divergências ideológicas dentro do partido fizeram surgir dois grupos essenciais na Revolução Russa:

  • Mencheviques: palavra russa para “minoria” do POSDR, liderados por Plekhanov, acreditava que era possível chegar ao poder de maneira pacífica, como por meio de eleições. Apesar de defender a implantação do socialismo na Rússia, os mencheviques acreditavam que a transição para esse tipo de governo deveria ser gradual e feita por reformas políticas e econômicas.
  • Bolcheviques: a “maioria”, os bolcheviques eram liderados por Lenin e defendiam a necessidade de uma revolução armada para tirar o czar do poder. Os bolcheviques também pretendiam instalar o socialismo no país, mas de maneira imediata.

Entendeu as divergências entre os dois grupos? Guarde essa informação porque mais a frente ela será necessária!

Leia mais: o que é social democracia?

Domingo Sangrento de 1905,por Wojciech Kossak (Foto: Wikimedia).

Domingo Sangrento de 1905, por Wojciech Kossak (Foto: Wikimedia).

Domingo sangrento

Em 1904, a Rússia entrou em conflito com o Japão pelos territórios da China e da Manchúria. Em 1905, a Guerra Russo-Japonesa acabava com a derrota russa e a oposição ao czar ganhou força. Descontente com a desorganização da economia gerada pelo conflito e humilhados pela derrota, o povo iniciou a Revolução de 1905. O movimento não tinha liderança ou objetivos claros, mas um de seus episódios marcou a história do país: o Domingo Sangrento.

Nesse dia, um protesto pacífico organizado pelo padre Gregori Gapone, que tinha como finalidade entregar um abaixo assinado com uma série de exigências ao czar, foi violentamente repreendido. O czar Nicolau II ordenou sua guarda, que abriu fogo contra os manifestantes e deixou centenas de mortos.

A tragédia fortaleceu a oposição de vários setores da sociedade ao czar. Operários, camponeses e soldados formaram conselhos chamados de sovietes, já a burguesia que nascia no país pressionou o czar para que um Parlamento fosse criado. A fim de acalmar os ânimos, o líder russo promulgou uma Constituição e convocou eleições para a Duma (Parlamento). Dessa forma, a Rússia passava a ser uma monarquia constitucional, na qual o czar continuava concentrando grande parte do poder e o Parlamento tinha suas ações limitadas.

Com essas medidas o czar conseguiu conter as revoltas e entre 1907 e 1914 o país viveu certa tranquilidade.

Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918)

Em 1914, após o assassinato de Francisco Ferdinando, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. O czar Nicolau II partiu em defesa dos aliados sérvios e logo lutava com a Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial. Os gastos com o conflito aprofundaram a pobreza no país e prejudicaram a Rússia nos campos de batalha, pois até mesmo com falta de munição as forças russas sofriam.

Estoura a Revolução Russa

A crise socioeconômica e a insatisfação do povo foi, então, o estopim para uma série de acontecimentos que formariam a Revolução Russa.

Revolução de Fevereiro de 1917

Em fevereiro de 1917, uma marcha pelo dia das mulheres transformou-se em um protesto geral, no qual o povo invadiu o palácio e forçou o czar a renunciar. Assim, começava a Revolução Russa. Esse primeiro episódio, em específico, ficou conhecido como Revolução de Fevereiro e levou os mencheviques – grupo moderado, apoiado pela burguesia russa – ao poder.

Após o acontecimento, também conhecido como Revolução Menchevique, um governo de caráter liberal foi instalado na Rússia – a República de Duma. Na liderança do governo estava o príncipe Lvov, que manteve a Rússia na Primeira Guerra mesmo sofrendo sucessivas derrotas. Seu fracasso levou à substituição de Lvov por um socialista moderado (menchevique), Alexander Kerensky, que também não retirou a Rússia da guerra.

O governo de Kerensky adotou algumas medidas que agradaram à burguesia, como a anistia para presos políticos, redução da jornada de trabalho para oito horas e a liberdade de imprensa. Entretanto, os mencheviques não atenderam às reivindicações dos camponeses – por terras – e nem dos operários – por melhores salários.

Com os russos ainda lutando a Primeira Guerra e a pobreza agravando-se no país, a oposição bolchevique se fortaleceu. Leon Trotsky, que liderava o soviete de Petrogrado, organizou a Guarda Vermelha – composta por operários bolcheviques. Lenin, que estava exilado na Finlândia, voltou à Rússia clandestinamente e também passou a organizar os sovietes. Para Lenin, os operários deveriam tomar o poder por meio da revolução.

Com lemas simples como “pão, paz e terra”, “todo o poder aos sovietes” e promessas de reforma agrária, os bolcheviques recrutavam mais operários e camponeses para sua causa.

Revolução de Outubro de 1917

Após meses de organização, os bolcheviques – apoiados pelo povo – derrubaram a República da Duma e instalaram o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenin. Começava, assim, a nova fase da Revolução Russa.

A partir desse episódio, conhecido como Revolução de Outubro ou Revolução Bolchevique, iniciaram-se mudanças no sistema econômico russo. Terras da Igreja, nobreza e burguesia foram desapropriadas e concedidas aos camponeses, as indústrias passaram a ser controladas pelos operários e os bancos foram estatizados. Essas ações eram guiadas pela ideia marxista de que sem propriedade não existiriam exploradores (proprietários) e explorados (trabalhadores).

Em março de 1918 a Rússia finalmente assinava um tratado de paz com a Alemanha e deixava a Primeira Guerra Mundial, aceitando entregar a Polônia, Ucrânia e Finlândia aos alemães. Além disso, os bolcheviques também instituíram o unipartidarismo no país – ou seja, apenas o Partido Comunista Russo (antigo POSDR) era permitido.

Ao proibir demais partidos políticos e perseguir qualquer outro tipo de oposição, o governo mostrava-se crescentemente autoritário e afastava-se dos ideais de igualdade e liberdade.

Guerra Civil na Russia (1918 – 1921)

Claro que os mencheviques não ficaram satisfeitos em perder o comando da Rússia e se aliaram aos aristocratas (a antiga família real). Assim, apoiados pelo Reino Unido, França, Japão e Estados Unidos – países que tinham investido capital na Rússia e/ou temiam que uma onda socialista se espalhasse em direção ao Ocidente –, os mencheviques reagiram. O Exército Branco (mencheviques) então entrou em confronto direto com o Exército Vermelho (bolchevique – antiga Guarda Vermelha) e, em 1918, o país mergulhou em uma guerra civil.

Como não recebiam financiamento externo, os bolcheviques implantaram uma política econômica chamada de “comunismo de guerra” para conseguirem combater o Exército Branco. Assim, o governo confiscou toda a produção russa para destiná-la à guerra e perseguiu a oposição, considerada “anti-revolucionária”.

Em 1921 o Exército Vermelho derrotou seus inimigos e “salvou” a Revolução Russa, mas teve que pagar um alto preço: a paralisação quase completa da economia por conta do comunismo de guerra. Tentando reverter os efeitos do comunismo de guerra, Lenin estabeleceu a Nova Política Econômica (NEP), uma série de medidas capitalistas temporárias. Assim, o governo autorizou a entrada de capital estrangeiro no país para que o “terreno” fosse preparado para a instalação do socialismo.

Mesmo conferindo algumas liberdades econômicas ao povo – como permissão para criação de empresas privadas e comércio em pequena escala –, o Estado mantinha-se extremamente presente. A NEP deu resultados, alimentando o crescimento industrial e agrícola na Rússia, mas também aprofundou a desigualdade social.

Surge a União Soviética

Ao mesmo tempo em que acontecia a Revolução Russa, outro país nas proximidades revoltava-se contra seu governante: a Ucrânia. Em 1918, iniciou-se a Revolução Ucraniana, que buscava instalar um sistema anarquista no país. O Partido Comunista Russo, temendo avanços dessa revolução para dentro de seu território, anexou a Ucrânia em 1921. Nascia assim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou apenas URSS.

A Revolução Russa só foi acabar em 1928, quando Stálin chegou ao poder e passou a ampliar a União Soviética, anexando mais e mais territórios. Esse regime é conhecido como stalinismo.

1. (Unesp 2014) No final da primavera de 1921, um grande artigo de Lenin define o que será a NEP [Nova política econômica]: supressão das requisições, impostos em gêneros (para os camponeses); liberdade de comércio; liberdade de produção artesanal; concessões aos capitalistas estrangeiros; liberdade de empresa – é verdade que restrita – para os cidadãos soviéticos. [...] Ao mesmo tempo, recusa qualquer liberdade política ao país: “Os mencheviques continuarão presos”, e anuncia uma depuração do partido, dirigida contra os revolucionários oriundos de outros partidos, isto é, não imbuídos da mentalidade bolchevique. 
(Victor Serge. Memórias de um revolucionário, 1987.) 

O texto identifica duas características do processo de constituição da União Soviética: 
a) a reconciliação entre as principais facções socialdemocratas e a implantação de um sistema político que atribuía todo poder aos sovietes de soldados, operários e camponeses. 
b) o reconhecimento do fracasso político e social dos ideais comunistas e o restabelecimento do capitalismo liberal como modo de produção hegemônico no país. 
c) a estatização das empresas e dos capitais estrangeiros investidos no país e a nacionalização de todos os meios de produção, com a implantação do chamado comunismo de guerra. 
d) a aguda centralização do poder nas mãos do partido governante e o restabelecimento temporário de algumas práticas capitalistas, que visavam à aceleração do crescimento econômico do país. 
e) o fim da participação russa na Guerra Mundial, defendida pelas principais lideranças do Exército Vermelho, e a legalização de todos os partidos socialistas. 

2. (Udesc 2014) Leia o documento abaixo: 
“Um terço do país se encontra submetido a um regime de vigilância especial, isto é, fora da lei. As forças policiais, sejam visíveis ou secretas, aumentam dia a dia. Nas prisões e nas colônias penais, além das centenas de milhares de criminosos comuns, há uma enorme quantidade de condenados políticos, e agora ali se encontram até mesmo os operários. [...] As perseguições religiosas nunca foram tão frequentes nem tão cruéis. Em todas as cidades e centros industriais, agrupam-se tropas enviadas, de armas nas mãos, contra o povo. [...] Apesar do orçamento do Estado, que aumenta de maneira desmesurada [...], essa intensa e terrível atividade do governo acentua de ano a ano o empobrecimento da população agrícola, isto é, os cem milhões de homens sobre os quais repousa a potência da Rússia. Por esta razão, a fome agora é um fenômeno normal. O descontentamento geral de todos os grupos sociais e sua hostilidade para com o governo também são um fenômeno normal.” 
Carta do escritor Leon Tolstoi ao czar Nicolau II, 16 de janeiro de 1902. In: SALOMONI, Antonella. Lênin e a Revolução Russa. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 16-17. 

Analise as proposições considerando as informações da carta acima e o contexto histórico da Rússia, no início do século XX. 
I. Leon Tolstoi, em sua carta, está criticando o governo do Czar russo devido às perseguições políticas e religiosas e por causa da pobreza, na qual viviam milhões de pessoas na Rússia. 
II. Apesar do crescimento industrial e urbano, ocorrido no final do século XIX e início do século XX, a maioria da população russa vivia em condições miseráveis no campo, uma vez que muitos camponeses não eram proprietários das terras nas quais trabalhavam. 
III. O governo da Rússia, neste período, era uma monarquia absolutista, governado pelo Czar. Este tipo de governo é caracterizado pela divisão igualitária do poder entre o monarca e os representantes eleitos pelo povo. 
IV. Nas duas primeiras décadas do século XX, na Rússia, ocorreram inúmeras revoltas populares, entre as quais a que ficou conhecida como Domingo Sangrento, que ocorreu em janeiro de 1905, quando centenas de pessoas foram mortas, durante uma manifestação que reivindicava direito à greve, melhores condições de vida e convocação de uma Assembleia Constituinte. 

Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. 
b) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. 
c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. 
d) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. 
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 

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Professor Edgar Bom Jardim - PE