quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Brasil: o que está em jogo no julgamento do STF sobre povos indígenas na pandemia

Em tenda de atendimento, homem indígena de costas é atendido, do outro lado da mesa, por profissional de saúde todo coberto por jaleco e face shieldDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionHomem do povo yanomami é atendido em Alto Alegre, Roraima; plenário do STF deve se debruçar sobre pauta acerca do papel do governo federal na proteção das terras indígenas na pandemia de coronavírus

O plenário do Supremo Tribunal Federal decide, na tarde desta quarta-feira (05/07), se mantém ou não decisão liminar (provisória) do ministro Luís Roberto Barroso que obrigou o governo federal a tomar medidas para proteger comunidades indígenas durante a pandemia do novo coronavírus.

Na decisão do começo de julho, Barroso obrigou a União a manter barreiras sanitárias para impedir que a doença se espalhe em 31 terras indígenas.

O ministro também determinou a criação de uma "sala de situação" com representantes das comunidades indígenas, do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública da União, para acompanhar e discutir medidas relacionadas ao combate à pandemia entre os povos originários.

Nesta quarta, os ministros do STF poderão decidir ainda sobre um outro pedido dos indígenas: o de que o governo federal realize a retirada de dezenas de milhares de não-índios que invadiram terras demarcadas, como garimpeiros, posseiros e outros.

Em sua decisão liminar, Barroso disse que a retirada dos invasores é "medida imperativa e imprescindível", mas que não poderia ser feita com uma canetada.

"A remoção de dezenas de milhares de pessoas deve considerar: a) o risco de conflitos; e b) a necessidade de ingresso nas terras indígenas de forças policiais e militares, agravando o perigo de contaminação", escreveu o ministro.

Este ponto é agora contestado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que ingressou com a ação.

Além da Apib, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709 é assinada por seis partidos políticos de esquerda (PC do B, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede).

O julgamento da ADPF foi iniciado na última segunda-feira (03), quando o Supremo Tribunal Federal retomou as atividades após o recesso do Judiciário.

Na ocasião, não houve votos de ministros: só se manifestaram as partes e o relator do caso, Luís Roberto Barroso. O ministro votou pela manutenção da liminar, posição que também foi adotada pelo Ministério Público Federal.

O ministro Luís Roberto Barroso fala no plenário do STF, sentado e gesticulandoDireito de imagemNELSON JR./SCO/STF
Image captionEm liminar de julho, Barroso obrigou a União a manter barreiras sanitárias para impedir que a covid-19 se espalhe nas terras indígenas

Já o advogado-geral da União, José Levi, representando o governo, pediu ao STF que reconhecesse as ações já desenvolvidas pelo Executivo para garantir a saúde das comunidades indígenas.

Comunidades indígenas foram fortemente atingidas pela covid-19. Segundo a Apib, a pandemia já vitimou 623 indígenas, e 21.646 foram contaminados. A doença chegou a 146 povos, nos Estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Roraima e Maranhão.

Na petição inicial, a Apib afirma ainda que o novo coronavírus parece ser mais letal para os indígenas do que para a população brasileira em geral. Até agora, a letalidade do vírus entre os povos indígenas é de 9,6%, ante 5,6% para a população brasileira em geral, segundo a entidade.

Entidade recorre para remover invasores

Na terça-feira, a Apib recorreu contra o trecho da decisão de Barroso em que ele rejeitou o pedido de expulsar os invasores das terras indígenas. Em sua decisão, Barroso disse apenas que a União deveria elaborar um plano para a expulsão dos invasores, mas sem determinar um prazo para que a ação fosse tomada.

No recurso, a entidade diz que "a elaboração de plano para a desintrusão é medida absolutamente insuficiente, incompatível com a gravidade do quadro descrito pela própria decisão (de Barroso)".

Na petição, a Apib pede que a União aja para remover os invasores de sete terras indígenas: Yanomami, Karipuma, Uru-Eu-Wau-Wau, Kayapó, Araribóia, Mundukuru e Trincheira Bacajá.

"Os riscos à saúde dos povos indígenas decorrentes da presença e das atividades criminosas dos invasores são incomparavelmente superiores aos de uma operação para a retirada dessas pessoas. E esses riscos sanitários eventualmente provocados por operações de extrusão podem ser minimizados, com a adoção de cautelas fundamentais, tais como a testagem prévia e quarentena obrigatória dos agentes estatais envolvidos nessas operações", escreveu a Apib.

Se não for possível remover os invasores imediatamente, pede a Apib, o STF deveria ao menos fixar prazos para que a União apresente — e cumpra — o plano de desintrusão dos invasores nestas terras indígenas.

"Temos que esperar o julgamento, mas a nossa impressão é essa (de que a liminar de Barroso será mantida). O que estamos tentando é avançar na questão da desintrusão, que o ministro Barroso não concedeu", diz à BBC News Brasil o assessor jurídico da Apib, Luiz Eloy Terena.

"A gente espera que amanhã (nesta quarta, 05/08) os outros ministros possam trazer um voto indo um pouco além do que Barroso já foi. A decisão dele é boa, mas no que toca à desintrusão, a gente entende que poderia ir além", disse.

"Mesmo com o ministro dizendo que não é o caso do Tribunal determinar à União que faça isso, entendemos que o STF pode dar pelo menos um prazo para que seja cumprida (a desintrusão)", diz Eloy. "Deixar sem um prazo fixo (para o cumprimento) é o mesmo que não ter uma garantia de execução", pontua ele.

No começo da semana, o fotógrafo Sebastião Salgado se juntou à demanda pela expulsão dos invasores das terras indígenas. Salgado gravou um vídeo de pouco mais de dois minutos, com um apelo aos ministros do STF.

"É com humildade e com humanidade que eu venho a vocês solicitar o apoio às comunidades indígenas. Não é só necessário, hoje, socorrer as comunidades criando esse cordão sanitário de proteção, como é necessário também a expulsão dos invasores. Essas invasões são, como vocês sabem melhor que eu, completamente ilegais (...). Vocês são o último recurso, a última possibilidade de que a justiça realmente se faça no Brasil", diz Salgado.

Ação judicial pode representar marco histórico

Índio do povo Guarani Kaiowa aparece de perfil em frente ao prédio do STF em BrasíliaDireito de imagemREUTERS/ADRIANO MACHADO
Image captionÍndio do povo guarani kaiowa em frente ao prédio do STF, em foto de arquivo

O fato de a Apib ter ido diretamente ao Supremo tem implicações que vão além apenas da ação em questão, segundo o professor de direito Daniel Sarmento, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que também assina o documento.

A decisão de Barroso de reconhecer a legitimidade dos indígenas para apresentar a ação pode gerar jurisprudência para que outras entidades, como representantes de mulheres, defensores de direitos LGBT e etc também possam ir à Corte com ações semelhantes, caso seja referendada pelo plenário do STF.

Isso porque a Constituição de 1988 estabelece uma série de instituições que podem entrar com uma ação do tipo no STF, entre as "entidades de classe". A jurisprudência do Supremo costumava entender entidades de classe como entidades profissionais, como sindicatos, por exemplo.

Em sua decisão, Barroso diz que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) "possui legitimidade ativa para propor ação direta perante o STF", ou seja, reconhece que a entidade também é uma entidades de classe, mesmo que não represente um grupo econômico, mas sim setores da população brasileira.

Entre as entidades que tinham o direito já garantido de entrar com ações do tipo estão os partidos políticos com representação no Congresso. Por garantia, seis partidos políticos foram convidados a participar do processo pela Apib e aceitaram — PSB, PSOL, PCdoB, Rede, PT, PDT assinam a ação em conjunto com a entidade.

"É uma garantia mas serve também para mostrar que os indígenas são apoiados pelas forças políticas, todos os partidos de oposição convidados aceitaram participar", afirma Sarmento.

Em sua resposta, a AGU não contestava a legitimidade da Apib, mas alegava que há outras formas de garantir direitos sem ser uma ação no STF. Barroso, no entanto, decidiu que o pedido é legítimo e que há necessidade de diálogo entre o Judiciário e o Executivo "em matéria de políticas públicas decorrentes da Constituição".

O que querem os indígenas?

Indígena com bebê no colo, rodeado por vários outros espalhados em campoDireito de imagemEPA/JOEDSON ALVES
Image captionMembros do povo yanomami ao redor de posto de atendimento em Roraima

Na ação, a Apib pede ao STF seis providências pelo poder público para frear o avanço da pandemia nas populações indígenas.

Uma das principais é a determinação da criação de barreiras sanitárias "para proteção das terras indígenas em que estão localizados povos indígenas isolados e de recente contato."

O documento da Apib cita 21 terras de povos isolados em diversos Estados e 20 terras de povos de recente contato para os quais a entrada de pessoas de fora pode ser catastrófica.

Barroso determinou um prazo de 10 dias para que a União apresente um plano para evitar a entrada de terceiros em territórios desses povos.

Outros pedidos deferidos pelo Supremo foram o de que se crie uma sala de situação para coordenar a resposta à pandemia com a participação de representantes indígenas e da sociedade, como a Defensoria Pública; e o pedido de que a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) atenda também indígenas que vivem em áreas não demarcadas e nas cidades.

Em resposta à afirmação da entidade de que o plano atual do governo é vago e ineficaz, a Justiça determinou que poder público formule e coloque em prática um "Plano de Enfrentamento da Covid-19 para os Povos Indígenas Brasileiros", com participação de indígenas e representantes da sociedade civil. O governo tem 30 dias para apresentar um plano, que deve seguir uma série determinações do STF, como ter o apoio técnico da Fiocruz.

Professor Edgar Bom Jardim - PE

terça-feira, 4 de agosto de 2020

PT de Bom Jardim apoia Miguel Barbosa




O Partido dos Trabalhadores (PT) de Bom Jardim oficializou, na tarde desse sábado (1), apoio a pré-candidatura de Miguel Barbosa (PP). O destino da sigla nas eleições deste ano foi definido durante reunião do diretório com o grupo de pré-candidatos. “Por unanimidade, os presentes aprovaram o indicativo de apoio a pré-candidatura a prefeito de Miguel, que esteve no ato para agradecer o apoio”, disse o presidente da legenda, Maciel Santos.


Segundo o presidente, a sigla lançará uma chapa proporcional após as convenções com, no mínimo, 11 candidatos a vereador. “O PT lutará para garantir dois assentos no legislativo municipal”, completou. Durante entrevista concedida ao programa Revista da Manhã, na Rádio Jornal Limoeiro, Maciel disse acreditar no registro da candidatura de Miguel. O ex-prefeito enfrenta um processo no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE). Clique no link e confira.

 Com informações do Blog do Agreste - Alfredo Neto
Professor Edgar Bom Jardim - PE

Como investir seu dinheiro


Neste espaço, você encontra esclarecimentos de especialistas sobre como investir o seu dinheiro. Mande sua pergunta para folhafinancas@folhape.com.br ou para o WhatsApp (81) 9479-6141. Nesta semana, quem responde é Rita Pedrosa, economista (UFCG), mestre em engenharia de produção (UFPE), professora da UNIFG e consultora financeira e avaliadora de projetos sociais pelo Itaú Social.

Quero começar a investir, quais os primeiros passos? O que tenho que ter em mente? (João Matos)

Olá leitor, investir não é uma tarefa simples, primeiro passo e imprescindível é conhecer, estudar e analisar as diversas aplicações financeiras no mercado, seus retornos, prazos e riscos existentes, além de saber qual o seu perfil de investidor: conservador (averso ao risco), moderado ou arrojado (amante do risco). Para os iniciantes, as aplicações de renda fixas são mais pertinentes. É preciso ter em mente que o ponto principal ao decidir onde investir é o seu objetivo ou metas traçadas para sua vida, ou seja, o que você pretende alcançar com esse investimento, com base na suas resposta você poderá determinar o horizonte de tempo e realizar um planejamento estratégico. A determinação do seu perfil de investidor, lhe ajudará a selecionar os investimentos que condizem com o seu objetivo. 

E se o banco emissor quebrar? O que aconteceria? (Júlio Constantino)

Caro leitor, o sistema financeiro nacional oferece garantias aos investidores e correntistas brasileiros, protegendo suas aplicações em caso de insolvência de uma instituição financeira para as aplicações em renda fixa. Sendo assim, se um banco quebrar, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) criado em 1995 é a instituição principal que garante os ressarcimentos aos investidores se um banco emissor de títulos privados como os LCI, LCA, CDB e poupança, quebrar ou der calote. A maiorias das instituições financeiras do país está vinculada ao FGC, mas é importante você confirmar se sua instituição faz parte. É importante saber que há um limite determinado pelo FGC de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. Ou de até R$ 1 milhão para a soma das aplicações e depósitos em diferentes instituições para que os recursos sejam 100% cobertos. 

Folha de Pernambuco

Professor Edgar Bom Jardim - PE

Malala defende Fundeb e diz que não há meritocracia no Brasil sem igualdade na educação



Com véu, Malala sorri enquanto fala em entrevista
Image caption'Conheci garotas em todo o país e aprendi sobre sua luta pela educação e por igualdade, portanto sei muito bem quão fortes são as meninas brasileiras', diz Malala em entrevista exclusiva à BBC News Brasil

Não há no Brasil extremismo à altura do Talebã, que por anos proibiu que meninas fossem à escolas no vale onde nasceu Malala Yousafzai, no Paquistão. Aos 15 anos, já conhecida por lutar pela educação, Malala foi alvejada no olho por um extremista e entrou em coma. Mas o tiro saiu pela culatra: recuperada, a menina ganhou projeção e poder político, trouxe a atenção do mundo para as estudantes de seu vilarejo e se tornou a pessoa mais jovem da história a ganhar um prêmio Nobel da Paz. Ela só tinha 17 anos.

Hoje, aos 23, formada em filosofia, política e economia pela universidade de Oxford, Malala diz se preocupar com o futuro das brasileiras — especialmente o de meninas negras e indígenas que, por razões diferentes das dela, não conseguem estudar e correm o risco de ver suas escolas fecharem.

“Mais de 1,5 milhão de meninas estão fora da escola no Brasil”, diz Malala em entrevista exclusiva à BBC News Brasil.

“Meninas negras e indígenas estão entre as que têm menos chance de completar 12 anos de educação, por conta da pobreza, do racismo estrutural e de outras barreiras sociais.”

À reportagem, por escrito, a jovem que tinha apenas 11 anos quando narrou o terror talebã em um blog anônimo mostra intimidade com o debate sobre educação em Brasília.

“É animador ver que estamos chegando perto de diminuir as diferenças na educação para milhões de meninas do Brasil”, diz Malala à BBC News Brasil.

“O Fundeb é fundamental para assegurar um futuro em que todas as meninas brasileiras possam ir à escola, não importa onde vivam.”

Alvo da votação mais importante do ano sobre a educação no Brasil, o Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) é responsável pela distribuição de R$ 150 bilhões anuais em verbas para escolas e professores, da creche ao ensino médio.

Com a meta de reduzir a desigualdade na educação pública, o fundo reforça o caixa educacional dos municípios mais pobres do país. Se ele não for renovado nos próximos meses, será extinto em 31 de dezembro.

'Um futuro melhor para o Brasil'

Contra um forte lobby do governo de Jair Bolsonaro, que tentava empurrar a renovação do Fundeb para 2022, a Câmara dos Deputados aprovou, em 21 de julho, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que aumenta os recursos repassados pela União.

Nos próximos dias, o Senado pode confirmar a decisão, que também torna o fundo permanente, ou devolvê-la aos deputados.

A paquistanesa teve contato com o tema durante conversas com estudantes e ativistas em 2018, durante sua única visita ao Brasil — quando comemorou 21 anos.

“No fim do ano passado, ativistas do Fundo Malala e meninas brasileiras se reuniram com parlamentares no Congresso Nacional. Elas falaram sobre os desafios que as meninas brasileiras enfrentam em suas comunidades e trouxeram atenção nacional ao Fundeb”, conta a ativista internacional.

Fundado por Malala e pelo pai, Ziauddin Yousafzai, em 2013, o Fundo Malala investe e apoia ativistas da educação no Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia. O objetivo da ONG é lutar por educação gratuita para e de qualidade para meninas.

Em 2018, Malala comemorou o aniversário de 21 anos no Brasil e conheceu meninas indígenas e quilombolas de todo o país (esta foto foi tirada em Salvador/BA)Direito de imagemLUISA DORR/MALALA FUND
Image captionEm 2018, Malala comemorou o aniversário de 21 anos no Brasil e conheceu meninas indígenas e quilombolas de todo o país (esta foto foi tirada em Salvador/BA)

Na ocasião, as emissárias da ativista paquistanesa tiveram uma audiência pública com parlamentares e um encontro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Sem acesso igualitário à educação, não pode haver meritocracia", diz à BBC News Brasil Malala, que faz uma defesa enfática ao Fundeb como instrumento de democratização.

“(Ele) significa professores mais preparados, material escolar atualizado, menos escolas superlotadas e mais oportunidades para que estudantes tenham acesso a tecnologia”, afirma.

“E um futuro melhor para o Brasil."

A mudança mais importante aprovada na Câmara é o aumento no aporte do governo federal ao fundo. Hoje, 10% de seus recursos vêm da União e 90% vêm de Estados e municípios — uma conta considerada injusta pelos últimos, que dizem que a União arrecada muito mais impostos.

O texto também prevê que o aporte da União aumente para 12% em 2021 e vá crescendo progressivamente até chegar a 23% em 2026.

A maior parte destes recursos adicionais vai para Estados e municípios pobres que hoje não conseguem alcançar um patamar mínimo de investimentos por aluno, mesmo que esses municípios estejam em Estados mais ricos.

Sem 'já ganhou'

Segundo o Senado, a PEC será votada "ainda em agosto".

Como prevê mudança na Constituição, a proposta precisa ser aprovada no Senado em dois turnos, com ao menos 49 votos favoráveis em cada um. Em caso de modificação, o projeto volta para a Câmara, que havia aprovado a PEC por 499 votos a 7, na primeira votação, e por 492 votos a 6, na segunda.

Todos os deputados que votaram contra fazem parte da base do presidente Jair Bolsonaro: Zacharias Calil (DEM-GO), Bia Kicis (PSL-DF), Chris Tonietto (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junio Amaral (PSL-MG) e Paulo Martins (PSC-PR).

Já no Senado, o relator Flávio Arns (Rede-PR) apresentou relatório favorável ao projeto sem qualquer alteração.

Denise Carreira diz que votação do Fundeb na Câmara é resultado de 'luta histórica da sociedade civil por uma política de Estado de educação que realmente esteja comprometida com o direito à educação de qualidade'Direito de imagemMAÍRA MARTINS/MALALA FUND
Image captionDenise Carreira diz que votação do Fundeb na Câmara é resultado de 'luta histórica da sociedade civil por uma política de Estado de educação que realmente esteja comprometida com o direito à educação de qualidade'

“Foi uma grande vitória em um contexto extremamente adverso, mas não podemos cair no já ganhou”, diz à reportagem a educadora Denise Carreira, que atua pelo Fundo Malala como defensora do direito à educação de meninas e mulheres e é coordenadora da ONG Ação Educativa.

“É preciso estar bastante atento ao Senado, porque há riscos de novos ataques ao Custo Aluno-Qualidade, por exemplo, que conseguiu ser aprovado na Câmara. Depois, o próximo desafio é a regulamentação.”

Considerado por especialistas um dos principais avanços da PEC recém-aprovada, o Custo Aluno-Qualidade (Caq) diz quanto dinheiro o país precisa investir por aluno ao longo dos anos para garantir padrões mínimos de qualidade.

O objetivo do dispositivo é aproximar o nível educacional brasileiro do visto em países desenvolvidos.

“O Brasil oferece historicamente as piores condições para os que mais precisam”, afirma Carreira. “Para os povos mais marcados pela desigualdade, em especial pelo racismo que estrutura a sociedade brasileira, a política educacional que chega é a das escolas com piores condições, professores em contratos precários e que muitas vezes têm que se dividir em várias escolas para conseguir uma carga horária mínima.”

“A votação na Câmara traz conquistas muito importantes, que têm a ver com uma luta histórica da sociedade civil por uma política de Estado de educação que realmente esteja comprometida com o direito à educação de qualidade”, diz.

Crianças educadas gerariam trilhões em riqueza

À BBC News Brasil, Malala afirma que “falhar no investimento no futuro de meninas sem acesso a escolas significa uma perda para todo o país”.

“A educação das meninas cria uma sociedade mais saudável e pacífica e uma economia mais forte”, diz Malala, com base em uma pesquisa publicada há dois anos pelo Instituto Malala e o Banco Mundial.

“Ela mostra que, se todas as meninas (do mundo) completassem 12 anos de escola, elas adicionariam US$ 30 trilhões (R$ 160 trilhões) à economia global, acabando com lacunas na força de trabalho e gerando novos empregos”, explica.

Pernas de cinco estudantes caminhando em corredor, entre meninos e meninasDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSociedade e economia são beneficiadas com uma educação mais inclusiva para meninas, diz Malala

O presidente Bolsonaro e seus representantes na esplanada dos ministérios, no entanto, têm criticado o aumento nos recursos destinados pelo governo à educação pública.

No ano passado, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, retirou o apoio do governo à proposta do novo Fundeb, afirmando que ela "feria o equilíbrio fiscal" e não era "solvente a longo prazo".

O Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, disse que não há dinheiro suficiente para elevar a participação da União. Em março, em videoconferência com prefeitos, Guedes defendeu a prorrogação do Fundeb no formato atual, em vez da aprovação da nova PEC.

“O Brasil vive uma política econômica de austeridade, considerada pela ONU a mais drástica contra direitos sociais em todo o planeta”, avalia Denise Carreira. “Ela culpabiliza o gasto social e ambiental pela crise econômica. Usa um discurso ideológico que defende ume estado mínimo em um país com desigualdade imensa e está longe de garantir as condições básicas de sobrevivência da população.”

“A experiência internacional é clara: quem quer dar um salto educacional precisa melhorar as escolas e tornar a profissão realmente valorizada e atrativa, o que não acontece no Brasil”, diz.

“E essa austeridade acaba estimulando disputa de recursos entre as áreas sociais", segue Carreira. “No contexto da pandemia, a saúde tem sido privilegiada. Mas a educação é a politica mais capilar de um país, a que chega mais no cotidiano da população. Todos os dias, milhões de famílias se organizam para que seus filhos, seus netos, possam ir a escola, um dia a dia sustentado majoritariamente por mulheres, mães, tias, avós.”

A especialista, que foi uma das criadoras do Fundeb na primeira década dos anos 2000, diz que o transporte escolar e merendas estão entre os grandes desafios do país.

“Ele é fundamental para que comunidades do campo, quilombolas, indígenas tenham direito à educação. No sertão do Piauí, crianças caminham 13 km, 15 km para chegar a escola. E quando chegam lá, têm ainda aquela alimentação precária, bolachas, enlatados e é isso.”

'Não esperem ficar adultas'

Malala acenando e sorrindo timidamenteDireito de imagemREUTERS/EDGARD GARRIDO
Image captionMalala em evento no México no ano de 2017; em entrevista à BBC News Brasil, ela destacou que há vários caminhos, diferentes da trajetória dela, para que meninas e mulheres sejam agentes transformadoras

Na entrevista à concedida à BBC News Brasil, Malala disse ter “memórias maravilhosas” do aniversário que passou no Brasil.

“Conheci garotas em todo o país e aprendi sobre sua luta pela educação e por igualdade.”

“Portanto eu sei muito bem quão fortes são as meninas brasileiras”, continua Malala.

Questionada sobre que mensagem mandaria às brasileiras que sonham, um dia, chegar aonde Malala chegou, a jovem surpreende.

“Elas não precisam ser como eu!”

Malala prossegue: “Meninas e jovens mulheres contribuem com suas comunidades de várias formas diferentes por meio de organização, tecnologia, arte, educação e outros”.

Ela encerra a entrevista com um recado.

“Meu único conselho é que vocês saibam que não precisam esperar ficarem adultas para se tornarem líderes.”

Professor Edgar Bom Jardim - PE

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Guilhotinados na Revolução Francesa




Um site que apresenta uma das mais completas listas de pessoas guilhotinadas durante a Revolução Francesa está fazendo sucesso na França e já atraiu mais de 250 mil visitantes.

“Você tem um ancestral decapitado durante a Revolução?”, é a pergunta feita na página de abertura do site Les Guillotinés (“Os Guilhotinados”), que reúne nomes de cerca de 18 mil vítimas desse período da História da França, que durou dez anos.

Para cada pessoa, é possível identificar o motivo preciso da condenação, como por exemplo, “conspirador”, “insubmisso”, “declarou esperar a volta do Antigo Regime”, “traidor da pátria” e “líder de agrupamentos”.

O site, criado por Raymond Combes, um técnico em informática, também permite constatar que não foram apenas os nobres que morreram na guilhotina, contrariamente à idéia normalmente mais difundida sobre o período.

Uma das pessoas mais famosas que morreram guilhotinadas é a rainha Maria Antonieta, morta em 1793 na Praça da Concórdia, em Paris.

Mas camponeses e operários, acusados de serem contra-revolucionários, também foram decapitados, e seus nomes podem ser localizados no site Les Guillotinés, o que vem despertando a curiosidade de muitos franceses em relação aos seus antepassados.

De acordo com o historiador Jean-Louis Beaucarnot, especialista em genealogia, cerca de 5 milhões de franceses teriam um ascendente que morreu guilhotinado durante a Revolução Francesa.

A guilhotina foi inventada pelo médico francês Joseph Ignace Guillotin para executar a pena capital. Ele esperava que o aparelho permitisse execuções menos dolorosas e “mais humanas”.

As informações reunidas no site “Os Guilhotinados” são baseadas em inúmeros livros, além de documentos realizados por ocasião do bicentenário da Revolução Francesa, em 1989, e ainda informações obtidas em diferentes regiões francesas.

O criador do site afirma que muitos nomes de pessoas guilhotinadas nunca haviam sido registrados em documentos oficiais.

Combes diz que somente acrescenta nomes na lista de decapitados se existem documentos para comprovar a autenticidade dos fatos.

O site também fornece informações históricas detalhadas sobre os dez anos da Revolução Francesa, de 1789 a 1799, quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder após um golpe de Estado.

Daniela Fernandes (BBC)
Professor Edgar Bom Jardim - PE